O Lendário Nokia N95 x Um Android de elite
No meio do ano passado meu fiel e confiável Nokia N95 deu pau. O Nokia, apesar de ter sido lançado na mesma época do iPhone, foi desenhado segundo um conceito mais antigo de smartphone - sim, ele era considerado em seu tempo um smartphone. Muita gente o considera o melhor celular de todos os tempos (antes da Apple redefinir o conceito dessas máquinas), apesar de em termos de acesso à internet não se comparar a seus contemporâneos blackberries. Cheio de recursos multimídia, com uma câmera que pela primeira vez podia substituir uma máquina fotográfica básica, o aparelho marcou época e teve comigo uma feliz convivência de dois anos. Que modelo poderia substituí-lo?
Bem, eu sabia que não queria um iPhone. Tá, eu sei, a Apple revolucionou o mercado com ele, seus produtos são de excelente qualidade, mas fazer o quê, eu odeio o iTunes. Além disso quem acompanha o blogue sabe que câmera é fundamental pra mim e antes da versão 4, o smartphone da Maçã não se distinguia pela imagem. Além disso, a arquitetura aberta do Android me parecia bastante promissora, daí resolvi partir prum Sony Ericsson Xperia X10, a melhor foto Android do mercado na época. Quais as vantagens e desvantagens do moderníssimo modelo touchscreen frente ao clássico da Nokia, a maior fabricante de celulares da época?
DESENHO
Não dá nem pro começo, o Nokia N95 é feio pra danar, parece um tijolo com traços de verde e vermelho espalhados aleatoriamente. Seu verso parece levemente emborrachado, mas ainda assim seu visual já parecia antiquado e pouco tecnológico mesmo quando de seu lançamento. Sua tela de 2 polegadas e meia com resolução de 320 x 240 era das melhores em sua época, mas as 4 polegadas com 848 x 480 pixels do Sony dão uma surra. O telefone japossueco também cabe melhor no bolso, já que, apesar de ligeiramente maior, é mais fino e levemente arredondado atrás, ao contrário do paralelepípedo finlandês, volumoso em três dimensões. O Xperia, mesmo com seu avantajado display, cabe bem melhor no bolso, graças à sua curvatura e fineza.
Repare no tamanho e no esmero da câmera do Nokia
Mas desenho industrial não é só ser bonitinho, envolve a construção, solidez e praticidade da geringonça. E aí quem leva vantagem é o Nokia. O Sony, com dois meses de uso teve que ir pra garantia (e ganhei um novo da fábrica), enquanto provavelmente poderiam ser construídos abrigos nucleares usando Nokias N95 como tijolos. Eis um caso real - afinal, aconteceu comigo - sobre a lendária robustez do celular nórdico:
Tentanto fugir de uma rua alagada durante uma tempestade, fui pular um muro e, quando saltei, o caríssimo celular que tinha comprado há dois meses voou do meu bolso e caiu dentro de uma poça de lama. Enojado, porém lembrando do preço do brinquedinho, enfiei o braço às cegas na poça, pra tentar tateá-lo. Desisti quando a água chegou quase na altura do meu cotovelo e eu ainda não tinha achado o fundo. Irritado, porém com o 13o. no bolso, dinheiro (graças a Deus) sobrando na época e já acostumado com a maravilhosa câmera e outros recursos do Nokia, fui imediatamente a uma loja e comprei outro telefone igual.
Comentando o assunto com minha mãe naquela noite, ela sugeriu que no dia seguinte eu voltasse ao lugar onde perdera o N95 e procurasse por ele. Embora eu não me animasse com a ideia por achá-la inútil, como era caminho pro trabalho, acabei passando pela poça e eis que, uma vez ela seca, encontro o tijolão todo enlameado. Botei no bolso e, ao chegar em casa, limpei-o com água da torneira. Liguei o aparelho e não é que ele acendeu e tentou dar boot? Não conseguiu carregar o sistema operacional, mas bastou desmontá-lo, lavá-lo com água doce e deixar secar que ele voltou a funcionar perfeitamente. Minha irmã herdou o sobrevivente e o usou profissionalmente durante mais dois anos, pra filmar os alunos na aula de canto e subir seus vídeos para a Internet, aproveitando a ótima qualidade de gravação de som dele. O telefone ainda sofreu outro banho, quando a Patrícia resolveu que ele estava sujo, voltando a trabalhar normalmente outra vez depois de seco, e muitas, muitas cacetadas e quedas. Diga-se de passagem, aliás, que meu Nokia ano passado deu pau, mas depois aparentemente voltou a funcionar direitinho, tanto que um amigo meu o herdou e ele continua prestando seus serviços valentemente até hoje.
Com um desenho incomensuravelmente mais moderno e anatômico, o Xperia é belo e confortável, principalmente com sua interface de toque na tela, mas o Nokia é consideravelmente mais robusto. A vantagem aqui é você quem decide. Leve em conta que o projeto mais leve da Sony torna o uso de uma capa de proteção - que atenua quedas - bem mais prático do que no aparelho finlandês, que tem uma metade que desliza e exige duas peças para envolvê-lo e, mesmo assim, não muito bem.
TELEFONE
Sim, eu sei, esses celulares fazem tanta coisa que é quase ridículo querer avaliá-los pela qualidade da chamada, mas, por Júpiter, há um motivo para que eles se chamem TELEFONE e não MEDIA PLAYER ou COMPUTADOR DE BOLSO e já que seu uso primário é esse é fundamental um bom desempenho.
O Nokia N95 possui dois alto-falantes e é estéreo, o que garante que faz muito mais esporro tocando do que o Sony. Levei um bom tempo até me acostumar a perceber quando o Xperia estava tocando no meu bolso em meio ao barulho da rua e ainda assim escolhi para campainha um blues pesado e barulhento para ter certeza de que escutaria. Por ser mais pesado e quadrado, o Nokia também é mais fácil de sentir vibrando dentro da calça (EPA!).
Os dois aparelhos têm antenas semelhantes, pegando nos mesmos lugares. O Xperia saiu da loja com uma qualidade de chamada inferior, obrigando-me claramente a ter que repetir mais alto o que estava falando e causando-me mais problemas para escutar meu interlocutor, mas esse problema praticamente desapareceu depois que saiu a atualização para o Android 2.1 e a conversação atualmente é fácil e tranquila, com o aparelho raramente cortando as falas das pessoas.
Com uma campainha mais alta, melhor vibração e uma qualidade de chamada superior original de fábrica, a vantagem aqui é novamente para o Nokia.
CÂMERA
A Nokia conseguiu enfiar no precursor do N95 a primeira câmera digna do nome. O N73, com seus dois megapixels, na era em que as câmeras compactas estavam na faixa dos cinco, foi o primeiro aparelho que permitia ao usuário dispensar sua máquina fotográfica em eventos menos importantes. Ainda assim, o N95 foi um salto quântico.
Com cinco megapixels numa época em que boa parte das câmeras compactas ainda tinha essa resolução, a câmera do N95 ainda contava com lente Zeiss e um aprimoramento no software de imagem que reproduzia as cores com uma naturalidade nunca vista antes na terra dos celulares. Tudo bem que a Zeiss não tenha projetado os vidros, mas o simples endosso ao elemento ótico de um telefone foi uma revolução e uma garantia de qualidade até então inédita.
O N95 ainda contava com um flash de led perfeitamente capaz de iluminar alguém até um metro, um metro e meio de distância, mais controles inexistentes até em algumas câmeras de verdade - estabilizador de imagem, ajuste do branco, da nitidez, do contraste e por aí vai. Em vídeo filmava na mesma resolução que cinema profissional da época - 720 x 480 (na verdade, só 640 x 480), o famoso vídeo digital. É claro que o codec (o programa para compactar o arquivo e permitir que se filme mais de 10 segundos sem estourar a memória) usado não era de grande qualidade e era bastante dado a exibir macroblocos (quando a imagem parece se dividir em grandes quadrados).
Quem acompanha o blogue sabe que a câmera do celular aqui é instrumento de trabalho, por isso o Xperia foi escolhido cuidadosamente por aparentemente ser no Brazil o aparelho capaz das melhores (1). Resenhas em revistas especializadas o elogiavam (e, tempos depois que o comprei, Cora Rónai, fã do N95, intitulou-o o telefone com a melhor máquina fotográfica de todos os tempos). Com oito megapixels e três anos de vantagem sobre o Nokia, seria provavelmente uma covardia comparar os dois.
Só que não era. Talvez covardia para o Nokia. O Sony veio com um plástico protetor na lente e mais nada, ao contrário do Nokia, que tinha um protetor deslizante, então resolvi não arrancar essa proteçãozinha. Até tirar as primeiras fotos, quando pensei que talvez fosse ela que estivesse borrando as imagens.
Mesmo com os avanços tecnológicos e maior resolução, o Xperia tira claramente fotos inferiores ao Nokia - ou não, depende do seu gosto. A maioria dos consumidores não entende muito de tecnologia e compra suas máquinas de retrato baseados em grandes números de megapixels e marcas famosas assinando o projeto. Entretanto, maior resolução não necessariamente significa maior qualidade, pois se o tamanho do sensor for o mesmo, como ele é basicamente uma célula fotoelétrica, cada ponto fica menor e mais próximo do outro, causando interferência elétrica e ruído (2). E assim aparecem aqueles pontos com cores aleatórias típicos de fotos noturnas, quando o sensor precisa de mais energia pra capturar a luz, o que leva a maiores interferências.
As fotos que saem do sensor, por motivos que em breve postarei aqui, saem com as cores desequilibradas, interferência, ruído e problemas mil. O que vai corrigir tudo isso é o software de imagem, o cérebro das câmeras digitais (o coração é o sensor). É ele quem vai determinar as cores e tirar o ruído, determinando quanto vai sair, pois quanto mais sai, mais "borrado" fica o retrato. O programa da Nokia é muito mais equilibrado, com cores mais suaves e naturais e priorizando a nitidez das formas, para tanto permitindo um nível de ruído que não atrapalha a qualidade salvo em ampliações acima das recomendadas para um celular.
Já o software do Xperia avança sobre o ruído com uma voracidade rapace. Não sobra um pontinho colorido fora do lugar. O preço a pagar, o famigerado "trade-off" de projetos industriais, é que se perde a agudeza das formas e qualquer detalhe menor desaparece, dando uma aparência borrada ao retrato. Muitas câmeras fazem isso, já que o consumidor médio preza as cores mais vibrantes e saturadas (e menos naturais) assim obtidas, mas a este nível o blogueiro nunca havia visto. Repare nas duas imagens do Pão de Açúcar, tiradas com os dois celulares. O azul do céu na Sony é mais falso e a foto do Nokia, mesmo ampliada acima de 100% para compensar a maior resolução dos nipossuecos, contém bem maior detalhamento.
O Nokia
O Sony
Tamanha é a falta de detalhamento no Xperia que, se não fosse a Sony, com um nome a zelar, assinando a engenhoca, o blogueiro apostaria que o sensor era de 2 megapixels, interpolado pra 8, como fazem os celulares chineses. E o mais surpreendente é que mesmo tendo menos detalhes com que se preocupar na hora de comprimir a imagem pro formato JPG, o arquivo dos nipossuecos é 2,5 vezes maior do que os do Nokia, apesar de ter apenas 60% a mais de informação. A menor resolução disponível é de 2 megapixels, gerando ainda assim megabytes demais pra enviar pela internet paga. E os designers deveriam ter levado em esse aspecto em consideração ao projetar um aparelho tão voltado para acesso à Web. O blogueiro, quando quer mandar uma foto pro Feicebuque, precisa antes passar por um programeto que a reduz até 1024 x 768. Enquanto isso, o N95 vem de fábrica capaz de retratar até em 640 x 480 para enviar por emeio (3).
Acima o Sony, abaixo o Nokia. O Nokia foi ampliado a 160% para compensar a maior resolução do japa (8 megapixels contra 5 megapixels) e ainda assim tem mais definição e detalhe. Repare, incidentalmente, que o finlandês parece ter uma lente mais grande angular, o que pode significar um sensor maior (e, portanto, menos ruído)
Então por que os saites externos prezaram tanto o Xperia? Há uma razão - retratos (retratos mesmo, de pessoas) tirados a cerca de um metro, um metro e meio de distância ficam magníficos. As cores saturadas dão um ar saudável e a falta de detalhamento na verdade acaba escondendo pequenas imperfeições (não à toa cinema sempre fotografou suas musas com filtros difusores) no rosto e na pele. Mas ainda assim parecia pouco. Pesquisando mais um pouco, o blogueiro chegou à conclusão de que o problema talvez não seja da Sony, mas do Android.
Retratos próximos ficam ótimos no Android
Analisando outras fotos feitas com celulares com o sistema operacional da Google, verifica-se nelas todas a falta de nitidez que tanto incomoda no Xperia. Reveladoramente, a Sony não apos no X10 a etiqueta "Cybershot", de sua linha de máquinas fotográficas, atitude que costuma tomar em seus telefones com câmera de elite. Talvez o software de processamento de imagem seja parte do Android e os japas não tenham querido ou conseguido mexer no cerne dele, em vez disso preferindo caprichar no sensor. E, assim como o tocador de MP3 do Android não tem equalizador, seu programa para retratos não tem sequer ajuste manual de nitidez, pra permitir ao usuário escolher o quanto gostaria de borrar a foto.
Aliás, os controles manuais da câmera do Xperia são muito mais limitados do que os do Nokia. Em vez disso o consumidor ganha aqueles aplicativos de reconhecimento de rostos e deteção de sorriso pra bater a foto na hora certa. Se ainda não estava claro que tipo de usuário a Sony e a Google visavam com esse programa, tal atitude explica muito. Só que o vivente sem nenhum conhecimento de informática vai brigar muito pra descobrir que tem que acessar um menu pra chegar a um submenu pra ativar o flash. Que na verdade é uma lanterna, o que ajuda na hora de enquadrar a cena no escuro e quebra um galho quando falta luz. Diga-se de passagem também que a máquina nipossueca funciona melhor do que a finlandensa em condições de luz escassa.
O Xperia sai da loja capaz de gravar vídeo à mesma resolução que o Nokia. Seus filmetes também tem o ar borrado da máquina fotográfica, mas com menos pixels usados pelo sensor, é menos perceptível. O processador quatro vezes mais rápido do que o do N95 acarreta sensivelmente menos macroblocos e interferências digitais - salvo uma. Aparentemente por causa do estabilizador de imagem, linhas retas parecem se curvar durante uma panorâmica ou um travelling.
Mas se o usuário do Xperia tiver um mínimo de disposição pra atualizar o aparelho, vai se deparar com uma evolução incomparável. Com o Android 2.1 e ligeiros melhoramentos na máquina fotográfica vem junto um programeto que eleva a resolução de vídeo para 1280 x 720, ou seja, a alta definição (não full hd, mas aquela para transmissão de eventos esportivos, como a última Copa). Rodando a 24 quadros por segundo e diminuindo a quantidade de pixels em cenas com muita coisa se movendo, a engenhoca grava filmetes que fluem suavemente e sem nenhuma interferência digital ou macroblocagem que incomodem o espectador. Aqui finalmente os nipossuecos fazem valer a diferença tecnológica entre eles e o velho finlandês.
Assim, se sua absoluta prioridade é a máquina fotográfica, fique com o N95, embora, como já explicado, o Xperia faça louváveis retratos de busto e tire fotos também de boa qualidade, com cores mais vivas. O problema é que o Nokia é melhor sob um ponto de vista mais profissional. No entanto, se a preferência for vídeo, não dá nem pra começar a discutir. Tudo, do codec de compressão à beleza da imagem, passando pela compatibilidade do arquivo, é superior no Sony.
Mas já me estendo demais e o embate prossegue em breve. Aguardem.
(1) Havia um teoricamente melhor, o Samsung Pixon, com 12 megapixels de resolução e uma qualidade de imagem excelente, de acordo com os exemplos e críticas que li na internet, mas ele tinha três desvantagens que o desqualificaram: não era Android, sequer um smartphone, pertencendo a uma geração anterior; a saída de fone dele era proprietária, o que significava que eu só poderia usar os headphones da Samsung, caros, e difíceis de achar; e, principalmente, não conseguia achar o aparelho em loja nenhuma, sempre me mandavam pra outra.
(2) Mais importante do que maior resolução é maior tamanho do sensor. A Nokia, sempre diligente com suas câmeras de celular, ao lançar seu novo modelo de ponta com 12 megapixels, equipou-o com um sensor três vezes maior do que o dos outros telefones, garantindo (nova) uma qualidade de imagem inédita nessa classe de aparelhos.
(3) Há uma vantagem em usar um programeto para reduzir as fotos antes de enviá-las: você pode tirar todos os seus retratos na maior resolução possível, evitando depois se arrepender porque a imagem não ficou com resolução suficiente pra apreciar ou imprimir.
Tamanha é a falta de detalhamento no Xperia que, se não fosse a Sony, com um nome a zelar, assinando a engenhoca, o blogueiro apostaria que o sensor era de 2 megapixels, interpolado pra 8, como fazem os celulares chineses. E o mais surpreendente é que mesmo tendo menos detalhes com que se preocupar na hora de comprimir a imagem pro formato JPG, o arquivo dos nipossuecos é 2,5 vezes maior do que os do Nokia, apesar de ter apenas 60% a mais de informação. A menor resolução disponível é de 2 megapixels, gerando ainda assim megabytes demais pra enviar pela internet paga. E os designers deveriam ter levado em esse aspecto em consideração ao projetar um aparelho tão voltado para acesso à Web. O blogueiro, quando quer mandar uma foto pro Feicebuque, precisa antes passar por um programeto que a reduz até 1024 x 768. Enquanto isso, o N95 vem de fábrica capaz de retratar até em 640 x 480 para enviar por emeio (3).
Acima o Sony, abaixo o Nokia. O Nokia foi ampliado a 160% para compensar a maior resolução do japa (8 megapixels contra 5 megapixels) e ainda assim tem mais definição e detalhe. Repare, incidentalmente, que o finlandês parece ter uma lente mais grande angular, o que pode significar um sensor maior (e, portanto, menos ruído)
Então por que os saites externos prezaram tanto o Xperia? Há uma razão - retratos (retratos mesmo, de pessoas) tirados a cerca de um metro, um metro e meio de distância ficam magníficos. As cores saturadas dão um ar saudável e a falta de detalhamento na verdade acaba escondendo pequenas imperfeições (não à toa cinema sempre fotografou suas musas com filtros difusores) no rosto e na pele. Mas ainda assim parecia pouco. Pesquisando mais um pouco, o blogueiro chegou à conclusão de que o problema talvez não seja da Sony, mas do Android.
Retratos próximos ficam ótimos no Android
Analisando outras fotos feitas com celulares com o sistema operacional da Google, verifica-se nelas todas a falta de nitidez que tanto incomoda no Xperia. Reveladoramente, a Sony não apos no X10 a etiqueta "Cybershot", de sua linha de máquinas fotográficas, atitude que costuma tomar em seus telefones com câmera de elite. Talvez o software de processamento de imagem seja parte do Android e os japas não tenham querido ou conseguido mexer no cerne dele, em vez disso preferindo caprichar no sensor. E, assim como o tocador de MP3 do Android não tem equalizador, seu programa para retratos não tem sequer ajuste manual de nitidez, pra permitir ao usuário escolher o quanto gostaria de borrar a foto.
Aliás, os controles manuais da câmera do Xperia são muito mais limitados do que os do Nokia. Em vez disso o consumidor ganha aqueles aplicativos de reconhecimento de rostos e deteção de sorriso pra bater a foto na hora certa. Se ainda não estava claro que tipo de usuário a Sony e a Google visavam com esse programa, tal atitude explica muito. Só que o vivente sem nenhum conhecimento de informática vai brigar muito pra descobrir que tem que acessar um menu pra chegar a um submenu pra ativar o flash. Que na verdade é uma lanterna, o que ajuda na hora de enquadrar a cena no escuro e quebra um galho quando falta luz. Diga-se de passagem também que a máquina nipossueca funciona melhor do que a finlandensa em condições de luz escassa.
O Xperia sai da loja capaz de gravar vídeo à mesma resolução que o Nokia. Seus filmetes também tem o ar borrado da máquina fotográfica, mas com menos pixels usados pelo sensor, é menos perceptível. O processador quatro vezes mais rápido do que o do N95 acarreta sensivelmente menos macroblocos e interferências digitais - salvo uma. Aparentemente por causa do estabilizador de imagem, linhas retas parecem se curvar durante uma panorâmica ou um travelling.
Mas se o usuário do Xperia tiver um mínimo de disposição pra atualizar o aparelho, vai se deparar com uma evolução incomparável. Com o Android 2.1 e ligeiros melhoramentos na máquina fotográfica vem junto um programeto que eleva a resolução de vídeo para 1280 x 720, ou seja, a alta definição (não full hd, mas aquela para transmissão de eventos esportivos, como a última Copa). Rodando a 24 quadros por segundo e diminuindo a quantidade de pixels em cenas com muita coisa se movendo, a engenhoca grava filmetes que fluem suavemente e sem nenhuma interferência digital ou macroblocagem que incomodem o espectador. Aqui finalmente os nipossuecos fazem valer a diferença tecnológica entre eles e o velho finlandês.
Assim, se sua absoluta prioridade é a máquina fotográfica, fique com o N95, embora, como já explicado, o Xperia faça louváveis retratos de busto e tire fotos também de boa qualidade, com cores mais vivas. O problema é que o Nokia é melhor sob um ponto de vista mais profissional. No entanto, se a preferência for vídeo, não dá nem pra começar a discutir. Tudo, do codec de compressão à beleza da imagem, passando pela compatibilidade do arquivo, é superior no Sony.
Mas já me estendo demais e o embate prossegue em breve. Aguardem.
(1) Havia um teoricamente melhor, o Samsung Pixon, com 12 megapixels de resolução e uma qualidade de imagem excelente, de acordo com os exemplos e críticas que li na internet, mas ele tinha três desvantagens que o desqualificaram: não era Android, sequer um smartphone, pertencendo a uma geração anterior; a saída de fone dele era proprietária, o que significava que eu só poderia usar os headphones da Samsung, caros, e difíceis de achar; e, principalmente, não conseguia achar o aparelho em loja nenhuma, sempre me mandavam pra outra.
(2) Mais importante do que maior resolução é maior tamanho do sensor. A Nokia, sempre diligente com suas câmeras de celular, ao lançar seu novo modelo de ponta com 12 megapixels, equipou-o com um sensor três vezes maior do que o dos outros telefones, garantindo (nova) uma qualidade de imagem inédita nessa classe de aparelhos.
(3) Há uma vantagem em usar um programeto para reduzir as fotos antes de enviá-las: você pode tirar todos os seus retratos na maior resolução possível, evitando depois se arrepender porque a imagem não ficou com resolução suficiente pra apreciar ou imprimir.
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