novembro 18, 2011

O Texto Original para a Página Logo de O Globo

Abaixo, antes que Arnaldo editasse, o texto original e maior (mas não necessariamente melhor) para a página Logo que ele me pediu. Pena que não entendi direito o que ele queria, pra que eu pudesse escrever sobre minha teoria de que as engenhocas irão tornar verdade o sonho de sermos uma única e grande mente - hoje em dia ainda precisamos de celulares para nos conectarmos à grande rede, mas no futuro viveremos nela, com um chip implantado no cérebro e todos seremos um.


Diz-se que o futuro não é mais o que era antigamente. Que nada. Pra começar, o futuro é uma invenção da modernidade. Veio junto com o progresso tecnológico. Até então as pessoas viam o tempo como cíclico: um tempo de semear e outro de colher, um de nascer e outro de morrer. As estações se repetiam e, com sorte, o mundo era exatamente o mesmo a cada equinócio. E, reforçando essa ideia, toda geração até hoje acha que tudo no tempo deles era melhor. Inclusive o porvir.

O tempo sempre fascinou a humanidade. Se, como diz Einstein, é apenas mais uma dimensão, por que só se pode caminhar em uma direção nele? Inclusive é exatamente esta propriedade que faz do tempo o que é, sua inevitabilidade (apesar das tentativas em contrário de Léo Batista e Christiane Torloni). Talvez, além de elétrons, prótons e afins, sejamos feitos também de partículas temporais que vão se perdendo com o correr dos anos, até que não haja mais nenhuma e chegue nossa hora. Talvez o futuro todo já tenha acontecido e com nossa inata unidimensionalidade não consigamos apreendê-lo, condenados a percorrer trilhas já determinadas, sinalizadas e com os desvios fechados, como os planetas a girar monotomamente em suas órbitas predeterminadas pela gravidade e pela relatividade.

Ou talvez não. Talvez o povo da física quântica esteja certo e cada momento esteja repleto de possibilidades abrindo novas dimensões e realidades dependendo da decisão tomada. Certo, pode-se pensar, por que dar ouvidos a esses físicos quânticos quando eles nem sabem dizer se um gato está vivo ou morto? Pois justamente o criador desse gato, Schrödinger, tem um livro dedicado exatamente a isso - à vida, não ao bichano.

Em "O que é a vida", Schrödinger teoriza que tudo que vive é uma máquina que se alimenta de entropia negativa. A tendência de tudo no universo é decair, mas a vida é cada vez mais pujante. Não os organismos individuais (apesar de que mesmos esses desenvolvem-se e crescem antes de envelhecerem, e há os que nunca envelhecem), mas a vida em si. Formando sistemas cada vez mais complexos, a vida é como o sujeito presente na floresta para ouvir a árvore cair: ela altera a inevitabilidade dos ciclos universais trazendo organização à esterilidade da decadência e até a livre vontade de bônus, face à inegável constatação de que somos capazes de prever a consequência de nossas ações e escolher qual a melhor.

Schrödinger não consegue acreditar que essa livre vontade simplesmente se vá com a morte, mas acha ridícula a ideia de incontáveis almas incorpóreas flutuando por aí. Acaba chegando à ideia de que o que pensamos como individualidade na verdade é apenas um aspecto da pluralidade, pois tudo que existe é uno. Uma assertiva bem perto de Deus. Aliás, Santo Agostinho, tentando provar que o tempo tinha um começo (e, portanto, um Criador), elaborou uma elegante elaboração: como o presente é a soma de tudo que já aconteceu, se o tempo fosse infinito, não haveria o presente, pois a soma do infinito é indeterminável.

Então não se tem nada que ficar cobrando das novas gerações que lutem as lutas de seus pais. Elas estão adicionando ao futuro o seu próprio presente. Elas são apenas outros aspectos de seus pais. Afinal, o próprio povo da contracultura acabou cantando que era como seus pais. Se essa garotada parece desorganizada, sem rumo ou direção, só devemos comemorar. É por isso que eles não são pedaços de minerais flutuando invariavelmente no vácuo. Eles estão vivos, eles se alimentam de caos e desordem. Eles são Anonymous. Eles são Legião. Eles ocupam Wall Street. Eles ocupam a Cinelândia. Raios, eles são o Tea Party. Eles são o novo. Eles são a vida. Eles são o futuro.

E o futuro chegou em três eixos.

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