fevereiro 07, 2012

O Massacre dos Tamoios - Parte I


Em 1567 as forças portuguesas expulsaram da Baia de Guanabara os franceses de Villegaignon. Na campanha final, o comandante luso, Estácio de Sá, foi atingido por uma flecha envenenada no rosto, vindo a morrer um mês depois. Seu legado foi a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada originalmente aos pés do Pão de Açúcar justamente para opor-se à França Antártica.

A Morte de Estácio de Sá (1911), por Antônio Parreiras

Os franceses não teriam conseguido resistir durante tanto tempo se não tivessem contado com o apoio de índios locais. Várias tribos, insatisfeitas com o tratamento dispensado pelos portugueses e mimadas com armas e apetrechos pelos invasores, reuniram-se sob a bandeira de Villegaignon. Foi a temível Confederação dos Tamoios.

Na fase final da campanha, os tamoios entrincheiraram-se no morro do Lery, hoje o Outeiro da Glória, montando com a ajuda de trinta europeus uma fortaleza de madeira que ficou conhecida como Biraoaçu-Mirim ou Uruçu-Mirim. Foi na batalha para arrasar esse reduto que se acredita que Estácio de Sá tenha sido ferido. Sua tomada marca praticamente o fim da invasão francesa à Baía de Guanabara

O outeiro da Glória  no começo do século XX, antes das reformas de Passos que aterraram a  Avenida Beira-Mar e do posterior Aterro do Flamengo, nos anos 1960

Com essa ameaça afastada, o Governador Geral, Mem de Sá, resolveu realocar a cidade, num ponto mais protegido e alto para facilitar a defesa. O ponto escolhido foi o Morro de São Januário, absurdamente derrubado nos anos 1920, mais para dentro da baía. Mas ainda assim a estratégica baía de Guanabara nunca estaria segura enquanto não se pacificasse o Cabo Frio.

Cabo Frio, hoje famosa cidade turística, conforme se dizia na época, trinta léguas ao norte da da baía da Guanabara, tinha uma posição privilegiada para dominar as rotas entre o Rio e a Europa ou mesmo com as capitanias do norte. Além disso, ocupava a entrada da Lagoa de Araruama, outro acidente geográfico estratégico para quem quisesse ocupar o Rio de Janeiro.

Com essas qualidades, era lá que os corsários franceses desembarcavam para negociar pau-brasil com os tamoios, que ocupavam essas terras. Sendo assim, era natural que os invasores que tinham conseguido escapar, bem como seus aliados indígenas da Confederação para lá se dirigissem após a derrota de suas forças.

Os portugueses entendiam, corretamente, que jamais dominariam completamente a Guanabara enquanto os corsários franceses tivessem livre trânsito naquela posição. Entre outras coisas, poderiam mesmo sentir-se tentados a uma nova invasão. E, para acabar com essa ameaça, a única maneira para os lusos era anular os tamoios.

Já em 1571 D. Sebastião autorizou a capitania a gastar anualmente até mil cruzados para batedores que trouxessem informações da região. Mas a providência que iria realmente desencadear a expedição contra o Cabo Frio foi quando a coroa resolveu dividir o governo-geral, nomeando para a Repartição do Sul, englobando Porto Seguro, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Vicente, Antônio Salema. Sua chegada à Guanabara em 1574 pressagiou o crepúsculo dos tamoios (continua)

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