dezembro 10, 2008

O Vasco na Segunda Divisão

É verdade, Eurico Miranda raspou o cofre no Vasco, mas na maioria dos clubes fazem isso. O pior dele não era a administração do clube (que era ruim), mas a administração da imagem. Daí a mídia ter feito tanta festa quando ele foi embora. Pouco promissor foi o fato de que a nova diretoria entrou graças a uma decisão da Justiça que correu mais do que o normal justamente quando entrou como governador um conhecido vascaíno inimigo do baiacu ex-deputado.

A atual diretoria está tentando assumir o Vasco faz tempo. Já foi garfada, roubada e já perdeu até mesmo honestamente. Um dos nomes dela é Olavo Monteiro de Carvalho, que foi vice-presidente de futebol em 1980, quando Calçada, ele e Eurico puseram pra fora Agathyrno Gomes e começaram um monte de contratações sem critério. O Olavo saiu em seis meses dizendo que não podia conviver com os caras e, pelo jeito, o trauma foi tão forte que ele ficou uns 20 anos sem se meter em futebol.

De uma vez eles conseguiram o apoio importantíssimo de Artur Sendas e não conseguiram se eleger, graças a um monte de manipulações do Eurico. Faltava um nome galvanizador, uma cara melhor do que o Fernandão do vôlei (da geração de prata - um vice na presidência?). E acharam no Roberto.

Quem tem menos de trinta anos não entende que Roberto ERA o Vasco. Nunca beijou o escudo, que eu me lembre, e todos sabiam que ele era torcedor do Botafogo (o Júnior, do Fla, em compensação, era vascaíno na infância; boa parte dos "ódios de torcida" a atletas por algum vínculo com outra agremiação é manipulado - depois eu conto um caso do TRT - por dirigentes e gente que quer emplacar outro jogador no lugar dele ou coisa parecida), mas ele, a camisa 10 com a faixa em diagonal, gols e as esperanças de título estavam todos interligados indissoluvelmente. Sem o assédio de fora, a maioria dos times mantinha seus ídolos e seu futuro dependia de conseguir revelá-los. O Flamengo tinha Zico. O Fluminense teve Rivelino, depois Edinho; o Botafogo, Mendonça - daí sua decadência. Não interessava o pessoal em volta. Mesmo mantendo Júnior, Tita, Adílio, Andrade, Mozer, o Fla começou a perder campeonatos e otmar goleadas depois que o Galinho foi embora. E Roberto, mesmo assessorado por Catinha, Wilsinho, Zandonaide, Marquinhos, Paulinho, Dudu, sempre levava a gente até as finais.

O problema é que, pelo que conheci dele no meu ano e meio como jornalista esportivo, lá por volta de 85, 86, ele era um sujeito muito fechado. Introvertido, calado, desconfiado, sem um senso de humor expansivo ou o cacoete de dar abraços e tapinhas nas costas imprescindível pra quem vive no meio do futebol - quanto mais picareta, melhor. Sabe Deus como ele foi se meter em política - aliás, sei sim, os vascaínos da minha geração todos votam nele (eu, não, mas recebo mala direta dele em toda eleição e penduro na geladeira). Mas embora talvez ele tenha as qualidades para ser um bom executivo sério, ele certamente não tem para ser o carismático presidente de um clube de futebol às voltas com filhos-da-puta escrotos, vigaristas e picaretas por todos os lados. Sem contar os jogadores, na maioria sujeitos pobres, que já vieram com pouca educação em casa (nada de livros, nada de filmes franceses, nada de música clássica, nada de exercícios para estimular o lado direito do cérebro), ainda largaram a escola pra se dedicar à bola e se descobriram, mesmo quando muito inteligentes (cf. Romário), sem preparo para lidar com as súbitas e instáveis fama, fortuna e bocetas caça-dotes.

E aí voltamos ao problema de imagem do Eurico. Graças aos maus-tratos a que ele submeteu a mídia (e os clubes com administrações sérias, fora do Rio, é claro), a imprensa toda o odiava e qualquer um que entrasse para substituí-lo teria amplo apoio. Quando entra o grande ídolo dos anos 70 e 80, o idolatrado Roberto, então, nem se fala. O busílis é que ele serve mais como a frente visível de um bando de até agora completos e totais desastrados.

O povo entrou e mudou o departamento de futebol todo. Foi-se o competentíssimo Paulo Angioni. Foi-se o marco da ortopedia Lídio Toledo e voltou Clóvis Munhoz. Não sei se é lucro ou prejuízo a troca, mas lembro que antes de entrar o Lídio os vascaínos se contundiam e sumiam dois meses antes de começar a voltar, tempo que passou a ser abreviado para 15 dias (fora a lenda que acompanha a grife Lídio Toledo). Entraram sujeitos que nunca estiveram perto da administração de um clube de futebol. E ainda reclamando que não tinha dinheiro em caixa. Ora, TODO O MUNDO sabia que não tinha dinheiro em caixa. Essa turma tá há anos tentando derrubar o Eurico e não tinha um reles plano de emergência além de achar que "sem Eurico, os patrocinadores vão fazer fila na porta do Vasco"? (1)

E os desentendimentos com Morais, Wagner Diniz e agora o Madson, um dos últimos que jogava bola naquele time (meio jogador, é verdade, com profundos problemas para ganhar divididas)? E a contratação de Tita como técnico, um sujeito que só treinara time pequeno - e mal? E depois o Renato Gaúcho, o treinador brincalhão. E as contratações de Pinilla, Fernando e Odvan, cujo grande feito foi tirar Leandro Amaral durante um período importantíssimo (que, aliás, como no final dos anos 90 e início do século XXI, quando Clóvis Munhoz era o médico, teve sua volta anunciada em uma semana, depois em outra, depois em outra...)? E agora anuncia-se uma mobilização para manter Leandro Amaral, justamente quando todo o mundo já viu que ele está novamente em decadência e ninguém está interessado?

Subindo quatro times por ano, não é mais aquele sufoco que Fluminense, Grêmio, Botafogo e Palmeiras passaram pra voltar e o Vasco deve reascender à primeira (e sempre que o Vasco vai da segunda divisão pra primeira é campeão), mas até agora esse povo que substituiu o Eurico está vendo que não basta professar ética superior pra gerir um time de futebol. Depois de se ver o que foi feito com Simon por não ter inventado um pênalti nos descontos pro Flamengo não perder um ponto contra o Cruzeiro, um amigo meu tricolor perguntou: "imagina se um presidente do Fla entrasse, perdesse todos os jogadores que prestavam pra clubes DO BRASIL, fosse rebaixado e contratasse Tita como técnico, será que a imprensa estaria tão festeira quanto está pro Roberto?"


(1) Dizem que é certo que ano que vem a Eletrobrás patrocinará o Vasco. Embora como vascaíno eu ache fantástico essa grana entrando, é eticamente discutível aceitar como mecenas uma empresa estatal que está negociando contratos com o governador estadual, conhecido torcedor cruzmaltino. O que a imprensa diria se Eurico anunciasse um contrato desses?

3 comentários:

Anónimo disse...

Leovegildo era tricolor ! Ele sempre repete a história de que ia ao Maracanã torcer pro Flu e que seu ídolo era o Samarone.

Anónimo disse...

Eu sempre preguei que viadagem tem cura.
Bispo Macedo.

Ave disse...

????
Ele tem uma boceta????