Sob uma ótica científica (se é que se pode chamar qualquer ramo de ciências humanas como “ciência”), o enorme valor do dinheiro é a sua conversibilidade. Conversibilidade em sobrevivência dos seus genes. Com ele se pode conseguir melhores refeições, melhor atendimento médico, melhor educação para as crias, essas coisas todas. Sem contar que você pode comprar os bons genes de uma Mulher Samambaia, Mulher Moranguinho, ou outra exibição viva e ambulante de boa genética.
Mas dinheiro não é o único e talvez não seja sequer o mais importante dos recursos conversíveis na luta humana pela sobrevivência. Os cientistas (sim, sim, eles se chamam assim) que estudam redes neurais, teoria dos jogos e afins têm um experimento muito interessante, um jogo envolvendo dois sujeitos, uma nota de 1.000 dólares e um bando de sujeitos de guarda-pó e prancheta fazendo anotações.
O jogo consiste no seguinte. Pega-se os dois viventes e entrega-se a um deles a valiosa nota. Só que pra ficar com ela, ele deve entretanto comprar o consentimento do outro. Ele pode oferecer qualquer quantia entre 1 e 999 dólares pro outro sujeito; se ele aceitar, o cara com a bufunfa solta a parte acordada da grana pro cara e embolsa o resto. Se a oferta não for aceita, nenhum dos dois fica com a nota.
Ora, dita a lógica convencional que o caboclo com a nota deve maximizar seus lucros e oferecer 1 dólar ao outro, que aceitaria a proposta porque 1 dólar é melhor do que a alternativa, zero centavos. No entanto, repetições e mais repetições deste pequeno experimento levaram à conclusão que não é bem assim. Normalmente, qualquer oferta abaixo de 20% do valor não é aceita e os dois acabam de mãos vazias e se perguntando qual mente doentia os tirou da rua e lhes ofereceu um sanduíche só pra essa babaquice.
Durante muito tempo o resultado desse jogo intrigou os cientistas (lá vamos nós de novo). Até que surgiram novas idéias na teoria dos jogos. O sujeito que recusa a oferta e acaba sem nem ao menos 1 dólar na verdade está comprando outro recurso valiosíssimo: respeito.
Respeito frente aos olhos dos outros é valiosíssimo em sociedade. A única razão pela qual ainda existe uma imprensa profissional ou por que você faz tudo o que seu médico manda. Porque você os respeita, porque eles têm credibilidade. Isso é bastante visível em jogos de futebol, quando times sem torcida ou tradição apequenam-se frente às equipes grandes. O respeito foi a razão pela qual os americanos entregaram a final da Copa das Confederações para a gente depois de estarem ganhando por 2 a 0.
Tudo isso me veio à cabeça por causa desta matéria na Wired, explicando que a Internet está desmentindo a frase lapidar de Milton Friedman, conceito angular de seu libertarianismo: “não existe almoço grátis”. Não parece ser o caso de coisas como a wikipedia, ou o “freecycle”, quando você dá uma coisa velha em vez de vendê-la ou guardá-la não implicam em nenhuma perspectiva de lucro, ao contrário de operações como o Google, que vivem de publicidade às vezes sub-reptícia, ou da Microsoft entregando o Explorer grátis com o Windows para esmagar o Netscape.
Já a Internet, de acordo com o que pensa o autor da matéria, pode ser simplesmente um dos maiores geradores de respeito, transformando-o talvez definitivamente em um bem mais comum e valioso do que dinheiro. Pense por exemplo nas legiões de nerds hackers que criam para nós valioso software grátis, como o BrOffice em que estou digitando esta postagem neste momento, ou os programinhas mil que você pode baixar realmente de graça. Eles estão construindo sua credibilidade como programadores que pode render desde um emprego a palestras, ou melhor, mulheres que se sentem atraídas por caras inteligentes e querem dar pra eles. Afinal, diz ou não a ciência que a meta final é a perpetuação dos genes?
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