maio 25, 2010
A Copa de 1962 - Um Anjo de Pernas Tortas Entorta o Mundo
A EVOLUÇÃO TÁTICA: O 4-3-3
O Brasil chegou no Chile para disputar a Copa com virtualmente os mesmos jogadores de 1958. A única diferença era a idade: Didi já tinha 33 anos, Nilton Santos 37, Zagallo 31, Zito 30. Nenhum deles aguentaria a correria exigida pelo 4-2-4. A solução foi recuar Zagallo para o meio-campo. Zagallo já ajudava o meio na Copa de 1958, mas ele era basicamente um ponta-esquerda que recuava para marcar. Em 1962 ele foi um armador que avançava para apoiar o ataque.
Apesar de não contar com um verdadeiro extrema-esquerda na competição, o Brasil não teve falta de jogadas por ali: os gols de Zito e Amarildo na final contra a Tcheco-Eslováquia, por exemplo, nasceram em jogadas do próprio Amarildo pela esquerda. Como os húngaros haviam descoberto nos anos 50, um atacante habilidoso também sabe fazer jogadas de ponta - era desperdício ter um jogador só para isso.
O Brasil demorou mais tempo para descobrir isso porque do outro lado tinha o lendário Garrincha. Mas, sinal dos tempos, o próprio Garrincha teve as melhores atuações de sua carreira no Chile jogando mais pelo meio do que pela direita. A lição era clara: um sujeito capaz de driblar todo mundo e que sabe chutar muito bem rende muito mais se tiver liberdade de se movimentar por todo o ataque. Mas os brasileiros demoraram a compreender. Eram, e continuam a ser até hoje, obcecados com o "número de atacantes". Tirar um ponta, mesmo que para escalar um meia-atacante, significava um jogo covarde, retranqueiro, defensivo. Só técnicos incompetentes e medrosos faziam tais coisas, com tanta gente boa de bola disponível.
Assim o Brasil permaneceria com o 4-3-3, chamando o terceiro homem de meio-campo de "ponta-esquerda recuado" para enganar os críticos até os anos 80. Na Europa os ponteiros foram relegados ao esquecimento. Com a mesma mobilidade do 4-2-4 e quatro homens no meio-campo, os europeus atropelariam os sul-americanos na Copa de 1966.
A COPA DE 1962 - FOI UM ANJO DE PERNAS TORTAS QUE PASSOU EM MINHA VIDA
Como já disse o jornalista Ruy Castro, em 1962 Mauro ganhou a posição de Bellini por estar em melhor forma física. O elegantíssimo capitão aceitou o banco com elegância. Orlando estava no River Plate da Argentina e na época quem jogava no exterior não era convocado. Zózimo ganhou sua vaga. Aimoré Moreira era o treinador porque Feola estava no hospital. Nílton Santos raspou o bigode. E essas foram todas as diferenças da seleção brasileira de 1958 para 1962.
Pelé sim estava diferente.
Em 1958 ele era um garoto de 17 anos extremamente promissor. Em 1962 ele era o Rei do Futebol. Ainda naquele ano ele completaria 500 gols. O mundo inteiro já conhecia o mitológico Santos. Ele não era mais o coadjuvante, era o astro da equipe, aquele que todos esperavam que fosse a grande estrela do Mundial.
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Nos estádios da Copa estava pintada a frase "Por nada termos, faremos tudo". Em 1960 o Chile havia sofrido um violento terremoto e a FIFA chegou a pensar em mudar a sede, mas o organizador Dittborn se negou a abrir mão de sediar o torneio, criando o slogan. Dittborn morreu aos 38 anos, um mês antes do jogo inaugural, devido ao estresse, mas o Mundial foi um sucesso.
Mas não foi assim na primeira partida. Como em 1950 e 1954, estréia contra o México e uma vitória não muito convincente. Os 2 x 0 só vieram no segundo tempo, quando os mexicanos cansaram. Foi uma vitória do jogo coletivo da seleção e não do brilhantismo individual. Mas era a estréia. O próximo jogo, contra a Tcheco-Eslováquia, seria diferente.
E foi. Foi empate. Outro 0 x 0. O terceiro da história das Copas. A linha de quatro zagueiros continuava funcionando, mas o ataque sofreu o terrível desfalque de Pelé. Diferente da partida contra o México, o Rei começou bem e mandou duas bolas na trave. Na segunda sofreu uma distensão. Ainda não havia substituições e ele ficou em campo fazendo número. Mesmo virtualmente com dez o Brasil ainda pressionou, mas não conseguiu mexer no placar. E ficou precisando ganhar da Espanha.
O Real Madrid tinha montado um timaço, com Di Stefano e Puskas na frente. Os dois se naturalizaram e estavam na seleção espanhola. Didi, que teve uma passagem pelo clube espanhol, culpava o argentino por seu fracasso na Europa. Mais tarde ele contou que pretendia acertar o jogador e chegou a cortar as unhas do pé de lado, para ficarem pontudas e machucarem mais.
Mas Didi não teve sua chance. Di Stefano alegou uma contusão e não entrou em campo. Mas o meia brasileiro estava obcecado em se exibir mesmo assim e jogou uma de suas piores partidas. A Espanha saiu na frente e jogava melhor. Fez 1 x 0 e Nilton Santos fez um pênalti. Imediatamente ele levantou a mão, acusando-se de ter cometido uma infração e discretamente deu um passo para a frente, saindo da área. O juiz apitou falta no lugar onde Nílton Santos estava e não onde o atacante espanhol caiu. Puskas também fez um gol de bicicleta que o árbitro anulou por "jogo perigoso", mesmo não havendo nenhum brasileiro perto do ex-húngaro. Aqueles "naturalizados" não atraíam a simpatia de ninguém para a seleção espanhola.
O Brasil continuou sem jogar bem, mas aos 27 do segundo tempo Zagallo cruzou e Amarildo, o substituto de Pelé, empatou. Alguns minutos depois foi Garrincha quem cruzou e Amarildo também de cabeça classificou o Brasil e eliminou a Espanha. Antes do jogo o técnico espanhol Helenio Herrera dissera que "sem Pelé o Brasil perde muito. Quem é Amarildo?"
No outro jogo da rodada, o México teve sua primeira vitória em Copas, contra a Tcheco-Eslováquia, mas os tchecos haviam vencido a Espanha e prosseguiram. Nos outros grupos, a Itália, com seus argentinos naturalizados, também caiu fora. A Argentina, depois de brilhar dos anos 40 ao Sul-Americano de 1957, quando não disputou nenhuma Copa, só venceu a Bulgária e também foi desclassificada. O Uruguai foi derrotado duas vezes, mais do que em toda sua história em Mundias até então, e dançou. Emocionante foi o jogo URSS x Colômbia. Os comunistas, campeões europeus em 1960, venciam por 4 x 1 até os 22 do segundo tempo e cederam o empate em 4 x 4, contando até com falhas do lendário goleiro Yashin.
Nas quartas-de-final o Brasil tinha que enfrentar a Inglaterra, pela segunda vez seguida em Copas. Pelé continuava de fora. Contra a Espanha foi preciso muita sorte para a vitória. A seleção havia se acostumado a ter Pelé como ponto de referência, a deixar o papel principal para ele e só precisar ajudar. Normalmente quando perdem suas estrelas os times ficam perdidos em campo. A não ser que apareça outro superastro. E Garrincha estava na delegação.
Jogando menos como ponta-direita do que no comando de ataque, aproveitando que Amarildo não estava em perfeitas condições, Garrincha jogou uma de suas melhores partidas. Entortou o lateral, como sempre, fez gol de cabeça, algo raríssimo em sua carreira, e de fora da área. O placar de 3 x 1 diz bem o que foi o jogo, com os ingleses correndo atrás o tempo todo.
O próximo adversário seria o anfitrião, o Chile, que nunca fora tão longe num Mundial, eliminando pelo caminho Itália e URSS. A imprensa ficou dias anunciando que os chilenos iriam comemorar a vitória com café brasileiro. No dia seguinte ao do jogo estampariam a manchete "De que planeta vem Garrincha?"
Fazendo gol de cabeça novamente e até de pé esquerdo, de fora da área, ele comandou a vitória de 4 x 2. Vavá fez os outros dois. Tentando parar o extraterrestre brasileiro, os chilenos abusaram da violência. O atacante reagiu como num desenho animado. Deu um pontapé no traseiro de seu marcador após ser derrubado mais uma vez. O bandeirinha Esteban Marino dedurou para o juiz e o brasileiro foi expulso. Os tchecos, que haviam eliminado a Iugoslávia na outra semifinal, comemoraram. O médio Nowak comentou que "sem Pelé e Garrincha o Brasil é um time normal".
Mas Garrincha jogou a final. O presidente da CBD, João Havelange, visitou o bandeirinha no hotel. No julgamento do atacante, Marino não apareceu e, sem dispor de videotapes, os juízes foram obrigados a absolver o ponta. No mesmo dia Esteban Marino foi visto em várias boates em Copacabana, gastando a rodo e muito bem acompanhado.
Mas Garrincha entrou com 38 graus de febre e não pôde repetir suas atuações. Foi a vez de Amarildo justificar sua presença na vaga de Pelé. Os tchecos abriram o placar num belíssimo lançamento de Kadabra para Masopust (e não procede a história de que na ponta pediam a bola para o meia gritando "Abre, Kadabra! Abre, Kadabra!). Dois minutos depois Amarildo chegou ao fundo pela esquerda e mandou a bola entre o goleiro e a trave. Lembrando Gigghia. O jogo continuou equilibrado até que Amarildo de novo, aos 25 do segundo tempo, fez belíssima jogada e cruzou para Zito cumprimentar e mandar para a rede. O Brasil virava outra final. Aos 33 Djalma Santos mandou a bola de qualquer jeito para a área, o goleiro Schroif foi atrapalhado pelo sol e soltou-a nos pés de Vavá, o primeiro jogador a marcar em duas finais.
Não dava mais para os tchecos. O Brasil era bicampeão mundial, invicto em 12 jogos de Copa do Mundo, tinha o Rei do Futebol, tinha Garrincha e o futuro pela frente. Parecia que o reinado verde-amarelo prosseguiria para sempre. Mas na verdade era o fim de uma época, e não só para a seleção brasileira.
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O time bicampeão: Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Amarildo (Pelé), Vavá e Zagallo.
GARRINCHA
Garrincha tinha o joelho direito virado para fora, o esquerdo virado para dentro, um deslocamento da bacia e uma perna seis centímetros mais curta do que a outra. Mas quando a bola rolava quem ficava caído no chão eram seus marcadores.
Garrincha nasceu em Pau Grande em 1933 e destacou-se nas peladas locais. Naquela época existia uma prática que ainda persiste nos clubes pequenos, a "peneira", quando amadores candidatos a profissionais recomendados por um olheiro chegavam já homens feitos aos clubes e submetiam-se a testes, algo impensável hoje num esporte que exige grande forma física, cultivada desde a puberdade, mas que revelou Nílton Santos, por exemplo.
Garrincha tentou a sorte no São Cristóvão e no Vasco, mas seus problemas físicos levaram-no a ser recusado. Conta a lenda que ao chegar no Botafogo alguém teria comentado "a que ponto chegamos, até aleijado vem treinar aqui". Mas foi escalado nos minutos finais do coletivo e logo de cara pôs uma bola entre as pernas do lateral-esquerdo da seleção brasileira, Nílton Santos, a "Enciclopédia do Futebol". Nílton foi até o técnico Gentil Cardoso e decretou: "ou vocês contratam esse garoto ou eu vou junto com ele para o clube que ele for". E assim começou a carreira profissional de Manuel Francisco dos Santos.
Carreira levada adiante por seus dribles fantásticos, sua famosa arrancada pela direita e suas anedotas. E que várias vezes foi prejudicada por seus dribles fantásticos, sua famosa arrancada pela direita e suas anedotas. É que Garrincha muitas vezes perdia-se nos lances de efeito, não soltava a bola e teimava em chutar da linha de fundo, em vez de cruzar. Aliás, o centro clássico que se esperava de um ponta, alto e no segundo pau, raramente saía dos pés do Anjo de Pernas Tortas. Sua jogada mais característica era a corrida para o fundo e um cruzamento rasteiro e forte, quase um chute. Que, pelo menos na Copa de 1958, acabava sempre encontrando o pezinho de Vavá.
Aliás, o melhor e o pior de Garrincha podem ser encontrados no Mundial da Suécia. Os fantásticos dribles que desarrumaram completamente o time da URSS, que se limitou a tentar conter os danos e abandonou a tentativa de uma vitória para simplesmente vigiar aquele demônio na extrema-direita. A resposta ao saber que o jogo contra a Suécia já tinha sido o do título, "campeonatinho curto, sô. Não tem nem segundo turno...". Os cruzamentos na decisão que viraram a partida. E, pelo lado ruim, o excesso de dribles e egoísmo no jogo contra o País de Gales, que lhe valeram uma bronca de Didi.
Aliás, foi Didi, ao lado de Nílton Santos, quem garantiu a vaga do ponta na Copa de 1958. Reprovado num teste psico-técnico, os dois companheiros do Botafogo de Garrincha convenceram o psicólogo da CBD a não deixar o atacante de fora da seleção. E tiveram que convencer Feola também, na Suécia, a escalá-lo de titular. Em um amistoso contra a Fiorentina, ele driblou toda a defesa, parou a bola na linha de gol e esperou um último zagueiro vir correndo, porque, segundo explicou mais tarde, era injusto não o driblar também. E ele fintou o defensor, fez o gol, mas perdeu a corrida para a vaga. Foi só depois de duas atuações medíocres na Copa que voltou ao time.
Garrincha era um driblador fantástico, capaz de uma arrancada fenomenal com a bola dominada, embora não fosse rápido. Numa corrida longa seu marcador acabaria alcançando-o. Também não tinha um controle de bola excepcional. Quando foi contratado pelo Coríntians, a imprensa paulista pediu para bater uma foto com ele fazendo embaixadinhas, ao que respondeu que não era muito a dele, quem era bom nisso era Nílton Santos. Mas quando matava a bola e parava em frente à defesa na ponta, ninguém conseguia pará-lo.
O apogeu de Garrincha foi na Copa de 1962. Quando Pelé se machucou, ele assumiu o manto de estrela do time. Abandonou a ponta e jogou mais pelo comando de ataque. Continuou a dar dribles e começou a marcar gols. Não aqueles seus típicos, quase sem ângulo da linha de fundo. Fez gol de cabeça, de perna direita, de fora da área. Fez cruzamento no segundo pau. Depois da semifinal contra o Chile, o prestigioso jornal local El Mercurio estampou na manchete "De que planeta vem Garrincha"?
Assim como em relação a Pelé, faltam superlativos para descrever Garrincha. Sua carreira, entretanto, foi mais curta. Em 1963 os anos de dura marcação, aliados ao desgaste nas articulações, apressado pelos seus defeitos, danificaram seus meniscos. O ponta se submeteu a várias infiltrações, tratamento emergencial, basicamente anestésico e cujo uso seguido causa muito mais danos, para terminar o campeonato. E depois não quis se submeter a uma cirurgia corretiva. O que não é tão absurdo quanto parece, já que na época não havia artroscopia, a operação era invasiva e brutal, com os joelhos sendo abertos num corte em cruz, e cuja recuperação demandava de oito meses a um ano e meio, muitas vezes encerrando a vida profissional do atleta.
A partir de então suas atuações começaram a ser mais esparsas e irregulares. Mas não a ponto de impedir sua convocação para a Copa de 1966. Na estréia fez um maravilhoso gol de falta na vitória contra a Bulgária. Foi sua última vitória com a amarelinha. Sem Pelé a seu lado, participou da derrota para a Hungria por 3 x 1, com desempenho medíocre. Foi a única vez em que perdeu jogando pelo escrete canarinho. Sacado da partida contra Portugal, nunca mais voltou a defender a seleção brasileira.
Garrincha nessa época já estava no Coríntians, mas sua irregularidade o levou para a Portuguesa, o Flamengo, o Red Star da França e o Olaria, em 1971/1972, quando então pendurou as chuteiras. Um jogo de despedida, com a renda revertida para ele, lotou o Maracanã em 1973. Mas o ponta não soube gerenciar sua vida depois do futebol e afundou no alcoolismo, até morrer em 1983 de crise hepática.
Garrincha foi um atacante genial, o maior driblador da história do futebol. Tão brilhante foi sua carreira que por causa quase que unicamente dele os brasileiros se apegaram à idéia de que todos os times precisavam ter pontas. Já quando ele surgia, Zagallo já ajudava o meio-campo. Em 1962 a maioria dos times do mundo descobria que era um desperdício ter um jogador que só atuava numa estreita faixa de campo, servindo apenas para fazer cruzamentos. Mas para a torcida no Brasil isso estava longe de fazer sentido. Como deixar um Garrincha fora de alguma equipe? Aquele era o caminho para o gol.
Não era. Era preciso um Garrincha para que aquela posição fizesse sentido em plenos anos 60. O Chaplin dos gramados, sempre disposto a tentar uma jogada engraçada, divertida, ou um drible novo e diferente, pelo puro prazer de fazê-lo. A Alegria do Povo. Ao lado de Pelé e Maradona, o maior jogador da história do futebol.
NILTON SANTOS
Tão elegante, clássico e refinado era aquele defensor que ficou conhecido como "A Enciclopédia do Futebol". Nada de chutões, bicos ou carrinhos. Uma espera pelo momento certo, um pezinho exato e a bola estava sob seu domínio, pronta para dar início a um contra-ataque que poderia acabar até mesmo com um gol dele. Sua chuteira era macia, sem pnota dura, para melhor sentir a bola. Chutava e driblava com as duas pernas. O grande craque argentino Nestor Rossi certa vez disse a um colega de seleção com dificuldades para parar o ataque brasileiro: "corra até aquele lateral e esfregue a perna na dele, pois ali está o futebol de todos os zagueiros do mundo".
Nilton Santos era originariamente atacante, mas quando chegou no Botafogo, em 1948, o presidente Carlito Rocha foi taxativo: ele era alto e os sujeitos altos jogavam na defesa. E lá foi ele para a zaga, logo depois sendo deslocado para a lateral-esquerda, posição que o consagraria. Depois de anos jogando na frente, com toda sua categoria, Nilton conhecia todos os atalhos do campo; sabia exatamente o quê o ponta adversário precisaria fazer, por onde precisaria passar. E lá estava ele fechando a porta justamente pelo único caminho.
Nilton Santos foi convocado para a Copa de 1950, mas não chegou a jogar. Foi titular em 1954 e foi expulso por revide na "Batalha de Berna" contra os húngaros, depois que um magiar sapateou em suas costas. Em 1956 participou de uma famosa derrota para a Inglaterra em Wembley, em que levou do atacante Stanley Matthews um dos dois únicos "bailes" de toda sua carreira (o outro foi do brasileiro Julinho). Matthews tinha na ocasião 41 (!!!) anos e Nilton contou sobre o episódio: "quando vi aquele velhinho com a camisa 7, comecei a rir. Só depois percebi que estava frente a frente com um dos maiores jogadores do mundo". Nilton Santos, então aos 31 anos, nem imaginava que ainda ganharia duas Copas do Mundo e só penduraria as chuteiras aos 39 anos.
Nilton Santos só teve um clube, o Botafogo. Nunca recebeu salários milionários, assinando inclusive três contratos em branco, mas não se arrepende: "tudo que sou devo ao Botafogo". Sua maior mágoa com os jogadores de hoje é outra: "invejo muito os laterais de hoje. Não pelo dinheiro que ganham, mas pela liberdade que têm para atacar". Nilton foi um dos primeiros defensores a se lançar à frente, marcando inclusive um gol na Copa de 1958. Durante muitos anos teve que dar vazão à sua vontade de partir para o ataque velada e secretamente. Somente quando João Saldanha assumiu o Botafogo em 1957 lhe deu toda a liberdade que merecia. Liberdade que ele exercia com cautela, pois a torcida não o perdoaria se saísse um gol do adversário pelas suas costas: "eu ia parar na forca", comenta.
Nilton Santos foi bicampeão do mundo aos 37 anos. Continuou jogando até 1964, quando, elogiando um zagueiro jovem que estava começando, o futuro tricampeão Brito, contaram-lhe sua história. "O quê, ele é filho do Leonídio, meu companheiro de peladas? Está mesmo na hora de parar". E ele parou aos 39 anos, com 11 gols pelo Botafogo e 3 pela seleção, números inacreditáveis para um beque na época. Não porque lhe faltasse futebol para continuar. "Sou um cara que só jogou futebol em um clube. Encerrei minha carreira com quatro meniscos, o que prova que tinha bom equilíbrio. Sou muito feliz e tenho a minha consciência tranqüila. Quando tenho sono, durmo em cinco minutos. Minha religião é não fazer mal a ninguém e, se puder, ajudar o próximo".
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