Não faz nem um mês que saiu uma página Logo minha no Globo, agora, artista multimídia que sou (hmmm...), é a vez de um vídeo (codirigido com Dario e Roger). Está hoje na revista vespertina Globo a Mais, exclusiva pra iPad, mas amanhã deve estar disponível em algum lugar no saite do jornal. Assim que eu descobrir, posto aqui. Esse aí embaixo é o e-meio que mandei pra apresentar o curta, do qual quase nada foi aproveitado (o Roger mandou um também). Bem, crianças, quem não tem um iPad, pode ter ideia do que vem por aí no blogue com o texto aí abaixo:
Pode soar incrível, mas 25 anos atrás era caro fazer vídeo. Sim,
era
inacreditavelmente mais barato do que até um super-8, mas,
por
exemplo, comprar uma das primeiras volumosíssimas câmeras VHS
que
dispensavam carregar também um gravador a tiracolo custou boa parte
do
meu primeiro ano de salário como funcionário público – ainda bem que
eu
morava com meus pais. E ainda bem que eu cobrava quase um salário
mínimo para
filmar batizados, casamentos e formaturas com ela. Era um
mundo mais selvagem
e belo.
Com uma câmera na mão e nada na cabeça, eu, Dario e Roger,
cansados da
sequência de comédias satirizando gêneros que havíamos
feito,
resolvemos mostrar que, se o negócio era vídeo cabeça, também
sabíamos
fazê-lo. Armados com um refletor de 500 watts, algumas
lâmpadas
caseiras e uma valente (e pesada) Panasonic NV-M3, capaz de
imagem
quase inacreditável para um VHS – muito inferior à de um iPhone
–
Roger adaptou um conto meu, mudando praticamente tudo e
mantendo
virtualmente apenas um duelo que na minha historinha era um sonho,
mas
na versão de nosso amigo (futuro) filósofo, era um mito da
Criação.
Sim, pois para ele somente a percepção do Outro e da
incompletitude
leva à criação. O Desejo é a o motor e a serpente do Paraíso e
é a
frustração e a negação que vão dar origem a um big bang criativo.
Ou
pelo menos era isso que ele dizia para impressionar as calouras
(éramos
todos estudantes daquela universidade da última crônica do
Arnaldo
Bloch).
Hoje em dia a chiquérrima Diesel tem slogans como
“Be
stupid”, mas nos estranhos anos 80 até roqueiros queriam
citar
filósofos existencialistas. Por algum motivo, filmes antigos –
mudos,
monocromáticos, obscuros, estrangeiros – entraram em moda com o
povo
cabeça. Expressionismo alemão, a raiz estética do filme noir
populado
por Bogart & amigos que tanto amávamos, era uma de
nossas
preferências. Daí o duelo se inspirar claramente nas
sombras
germânicas dos anos 20. Sem nenhum recurso financeiro, é
claro.
Tinhamos a ideia de que, se fizéssemos sucesso, chamaríamos ao
nosso
movimento “nadismo” - Uma câmera na mão, nada na cabeça e necas
no
bolso.
3c273 é o título da coisa. Ilhas de edição, mesmo para VHS,
eram
caríssimas e tinham que ser alugadas – e eles cobravam ainda mais
do
que eu para filmar casamento. Para reeditar esse filmete para
caber
nesse formato de iPad, usei um velho laptop, adequadamente no
meu
colo, enquanto conversava no Caralivro e assistia ao futebol na
tevê.
Esse talvez seja o meu maior arrependimento de não ter esperado uns
20
anos para nascer. Já não precisávamos pagar os tubos pela
película
(mesmo em super-8), mas VHS também não era barato de editar
e
sincronizar som era uma tremenda dificuldade num formato sem
trilha
especial para isso (daí nossa preferência por vídeos mudos). Mas
num
mundo como o de hoje, onde todo mundo (de classe média) tem em
casa
uma central de pós-produção e telefones filmam em alta
definição,
nossa turma certamente faria um longa metragem por semana. É uma
pena
que a gente não tenha tempo para tanto, mas é da frustração que
nasce
a criação e bla bla bla...
maio 18, 2012
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