Gata Malhada
15 anos
Nunca saiu de casa
Única companhia de senhora
Caiu da janela e correu assustada
Atende pelo nome de Lady
Telefone 2222 2222
Ela deve estar apavorada
Miando esfomeada
acuada por ratos de esgoto
Com frio, fome e sede
Abandonada e condenada
E sem saber o porquê
junho 27, 2012
Arnaldo Branco
Nas filmagens de DENEVA, a prequela de PIMENTÍPOLI, na Rio + 20, sendo assassinado por mim, no personagem por mim consagrado, o Homem-Robô!
Na Praça São Salvador, no mesmo dia que o aniversário do Zelig.
junho 26, 2012
junho 25, 2012
junho 24, 2012
O Assustador Mundo Deprimente e Psicótico de Jon Arbuckle
Um sujeito, após anos lendo as tirinhas do Garfield, acabou chegando à conclusão de que ela não é sobre um gato sarcástico e irônico, mas sim sobre como a solidão e a neurose estão dia a dia quebrando mais e mais Jon Arbuckle, o vivente que atende por dono do felino laranja.
Pra provar sua tese, o tal sujeito criou um saite em que ele apaga todas as aparições do Garfield, deixando o Jon sozinho nos painéis. O resultado é um retrato medonho e apavorante da lenta descida de um homem à insanidade, levado pela mão por seu fracasso e solidão. Assustador.
Veja o saite original, com toda sua coleção completa das pungentemente delirantes tiras com o Jon surtando clicando aqui. E clique nas imagens para ampliar.
Sobre Religião
Apresentação para o projeto da minha peça infantil baseada em Paraíso Perdido, de John Milton
Em “O Poder e a Glória”, de Graham Greene, quando o militar ateu confronta o padre corrupto perguntando onde estão os milagres, o sacerdote responde perguntando se ele já testemunhara um homem se levantando dos mortos. Porque ele já vira, mas numa sociedade eminentemente racional, o miraculoso rapidamente é explicado e se torna apenas um lugar-comum. Feitos que em outras eras assombrariam e maravilhariam as pessoas tornavam-se assim mais um acontecimento rotineiro num mundo racional e previsível.
Greene escreveu sua obra nos anos 30, quando a era industrial já havia chegado à guerra globalizada, mas antes das guerras Segunda e Fria. Previsivelmente, num mundo de milagres trazendo cada vez maiores incertezas quanto à sobrevivência e disparidades crescentes, a reação viria através de um irracionalismo extremado. Some-se a isso uma sociedade cada vez mais complexa e especializada, em que provavelmente as melhores mentes da geração seriam incapazes de sobreviver fora do ambiente em que cresceram, com sua inabilidade no domínio de técnicas e serviços essenciais, porém desvalorizados. O resultado é o crescimento de um pensamento religioso voltado para a magia e a submissão (não por coincidência o significado de Islã).
Sentindo-se impotentes frente a um mundo complicado demais para ser entendido e, ao mesmo tempo, rotineiro e previsível, nada mais natural que as pessoas busquem quem lhes prometa direção e magia – literalmente. Mais e mais vem crescendo as seitas voltadas a uma ideia básica de religião, repleta de ritos mágicos, exorcismos, milagres encenados, excesso de entusiasmo e, principalmente, com a promessa de um deus supremo com poderes similares ao de Papai Noel: se você for bonzinho, ao fim de sua vida, irá para o Céu; se for mau, para o Inferno, onde será castigado. Em suma, um super-heroi onipotente que, estranhamente, permanece inerte frente ao sofrimento indiscriminado de pecadores e inocentes – e que parece ter uma inegável predileção pelos mais poderosos.
Assim, para grande parte das pessoas, o milagre é algo sobrenatural, a indicação de um poder que pode ser canalizado para ajudá-las a atravessar este vale de sombras e lágrimas. E essa ideia de religião atrai o desprezo e o escárnio de qualquer pessoa mais esclarecida. E tudo isso quando nenhum dos dois lados consegue enxergar a maior das maravilhas: o simples fato de que existe alguma coisa em vez de nada.
A moderna ciência neurológica afirma que não podemos nem de longe aspirar a uma verdadeira noção da realidade (seja ela o que for – informação, um holograma, matéria e energia). Vivemos em um universo virtual criado no nosso cérebro com dados fornecidos pelos nossos sentidos. Somos então, cada um de nós, um universo ambulante. Criamos a cada pensamento todo um cosmo. A maravilha que é a existência nos permeia e nós a permeamos. Como já dizia a missa católica, como já dizia Spinoza, Ele está no meio de nós. Se o inferno são os outros, os deuses somos nós. E nossos universos são nossa responsabilidade, não de mais ninguém. Nossa responsabilidade para que eles contribuam para o todo.
E é esta a verdadeira religião. A religação com Deus – o nosso próprio universo e o todo. Não é o dinheiro que é a raiz de todos os males, é o egoísmo, o egocentrismo – que é a raiz inclusive do dinheiro. É o nosso egoísmo, o impulso de acumular prestígio, bens materiais, parceiros sexuais, que nos levam a agir contra os outros. Numa irracional corrida para preservar nossos genes e legar a eles condições para prosperarem, destruímos aqueles que poderiam nos ajudar e até o planeta. É a incompreensão de que somos todos parte de uma grande comunidade, de algo maior do que nós mesmos, que nos sobreviverá mesmo quando nossa herança genética já estiverem tão misturada e degenerada a ponto de ser irreconhecível. Qual a relevância dos genes, por exemplo, de John Milton, frente à permanência de sua obra portentosa em nossa cultura e mentalidade?
E assim, quanto mais nos afastamos do todo para buscar nossa sobrevivência, mais caminhamos rumo à destruição. O inferno não é um subterrâneo flamejante ou os outros, mas apenas a ausência de Deus. A ausência do todo. Ninguém sobrevive isolado. Ninguém vence na solidão. Como já dizia Donne, a morte de qualquer homem nos diminui, pois somos parte do gênero humano.
Religião é muito mais do que simplesmente comportar-se e esperar uma medalhinha depois que todo vigor já tiver abandonado o corpo. Não existe bem ou mal, mas caminhos que nós mesmos decidimos seguir e que poderão nos trazer prazer e satisfação ou desejos cada vez maiores e mais insaciados. Mesmo a tecnologia pode prolongar a vida e sua qualidade, mas a verdade é que ao fim até o cisne morre. E só há uma maneira de ultrapassar esta barreira de onde viajante nenhum jamais voltou.
“O Paraíso Perdido” é uma peça infantil e bem-humorada, mas mantém na essência o questionamento de John Milton. Nós somos nossos próprios guias, nós escolhemos nossos caminhos. E encontrar Deus ou a Escuridão não decorre de quantos pontos se faz na listinha dos Dez Mandamentos, mas uma consequência de como levamos nossa vida – atos, não palavras. Frente a nós, frente aos outros, frente a todos, frente ao todo. Frente a Deus.
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junho 20, 2012
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