Numa época em que o holocausto não era discutido abertamente, a EC publicou a obra-prima em quadrinhos abaixo. Eles já gostavam de polêmica - seus quadrinhos violentos e subversivos são considerados por muita gente a maior influência na garotada que iria crescer e fazer os contraculturais e rebeldes anos 60. Nas palavras de um integrante daquela geração, hoje editor e crítico de cinema, Glenn Erickson, "foram as primeiras coisas que vi mostrando que por debaixo daquela aparência perfeita, havia algo de errado em nossa cultura". Suas revistas de terror mostravam jovens mulheres, casadas com homens mais velhos (como era comum à épóca) em planos assassinos para poderem ficar com seus amantes mais jovens (sexo!). Suas revistas de suspense mostravam policiais corruptos e homicidas - numa história, uma adolescente ESTUPRADA (isso acontecia nos anos 50???) e deprimida acaba contando à mãe o que aconteceu, o que leva ao linchamento de um estranho, apenas para ficarmos sabendo no final que o CHEFE DE POLÍCIA GORDO E BEM-INTENCIONADO é o estuprador (e termina livre, ameaçando a garota: "espero que continue sem contar a ninguém quem foi"). Em outra, um homem para perto de uma mulher atropelada e é preso pela morte dela - que é a esposa de um policial. Torturado brutalmente, confessa o crime, para no final sabermos que foi o policial que matou a esposa (e torturou o pobre inocente). E saiu livre, é claro.
Suas revistas de ficção científica, como é normal na época, são misantrópicas e obcecadas com a bomba atômica. E eles chegaram até mesmo a ter uma revista sobre um analista tentando descobrir por que seus pacientes não levavam uma vida normal: PSYCHOLOGY, no melhor estilo "psiquiatra-detetive" de coisas como "Freud - Além da Alma" e "A Hora de Cinquenta Minutos".
Tão violentas e subversivas eram suas histórias que foi criado o Código de Ética dos Quadrinhos, proibindo a maior parte daqueles temas. Castradas, suas revistas não duraram muito, com exceção da igualmente subversiva MAD, que rapidamente foi transformada em um "magazine", para poder escapar da censura, e fez a cabeça de muita gente até os anos 70, quando finalmente seu humor tornou-se obsoleto. Mas antes influenciou tanta gente que François Truffaut a pôs no meio das obras-primas da literatura sendo queimadas pelos bombeiros, na adaptação cinematográfica "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury. Bradbuy, o recentemente falecido, aliás, era uma das fontes de histórias para a EC. Inicialmente ele era simplesmente plagiado, até que um dia o editor, Bill Gaines, recebeu uma carta do próprio requerendo o pagamento por suas histórias. Gaines mandou o pagamento e, a partir daí, pagou pelas histórias do escritor, que usava frequentemente.
Abaixo, como sempre à frente de seu tempo, Gaines aborda um tema que Susan Sontag o faria mais de dez anos depois. É impressionante a percepção do sujeito, completamente diferente do que poderia se esperar de alguém que gostasse de "quadrinhos de exploração e terror".
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