Meu primo fez do
conserto de computadores e auxílio informata em geral seu meio de
vida. Ele espera comprar um chalé em Gstaad no final do ano. É
quando a Microsoft lança o Windows 8. A empresa hegemônica espera
lançar todo o peso de seu monopólio nos microcomputadores sem
frutas para alavancar a venda de seus... telefones! E para isso vai
obrigar todo mundo a usar um novo sistema operacional muuuuuuuuito
diferente. Espere choro e ranger de dentes em frente a telas de
cristal líquido em todos os escritórios do mundo. Alguns irão
bater a cabeça na mesa até a inconsciência diante de sua
incapacidade – e estes serão vistos como os afortunados. Fosse o
mundo dos programas controladores de PCs repartido entre diversos
concorrentes, usuários iriam fugir para outras alternativas em
quantidades maiores do que demonstrações de maucaratismo por parte
de Steve Jobs. Mas, como cada vez mais e mais Marx parece que estava certo, a ameaça é de que o legado de Bill Gates destrua o iPhone e
o Android, a atual estrela da Google, talvez a mais interessante das
megaempresas do ramo.
A Microsoft estava
feliz da vida, crente que o Windows iria dominar para sempre o reino
dos PCs. Afinal de contas, se nem um sistema operacional redondo e
GRATUITO como o Linux conseguiu fazer sequer um amassadinho em seu
império, o que mais poderia ameaçá-la? A resposta para essa
pergunta começa lá no meio dos anos 90, quando o blogueiro, ao
ganhar a grana de um prêmio de teatro, comprou um (então caríssimo)
lepetope. Jactando-se de sua nova aquisição para os amigos, ouviu de vários deles uma indagação: “por que em vez
de fazer essas máquinas tão caras, eles não lançam algo que seja
só uma máquina de escrever portátil?” Algum tempo depois, a
internet foi adicionada a esse requerimento.
Sim, porque grande
parte dos usuários queria apenas um instrumento que pudessem levar
para digitar um texto em qualquer lugar. Eu mesmo usara como
principal desculpa para a minha compra (além de minha fascinação
por engenhocas eletrônicas) os fins de semana passados na casa em
Itaipuaçu. Datilografar um texto lá pra depois copiar pro
computador era extremamente contraproducente. Um computadorzinho com
pouca memória, tela menor, disco rígido menor e processador mais
lento poderia dar conta desses trabalhos.
Mas, vejam só, essas
empresas de informáticas cheias de nerds geniais e contratando a
peso de ouro visionários capazes de detetar as novas tendências
simplesmente não conseguiram entender essa necessidade do mercado.
Nem todos, é claro. O criador do Netscape, o primeiro navegador, o grande responsável pela popularização da internet, por exemplo, teve essa ideia. Uma vez que o
seu browser dominava nos computadores sob Windows, ele tentou a
partir daí abocanhar o mercado para sistemas operacionais. Ele
imaginou um NetPC.
O aparelho teria um
sistema operacional minúsculo e rapidamente iniciável. Ele não
precisaria de software, já que, uma vez ligado, conectar-se-ia à
internet e carregaria programas pela rede. Se parece familiar é
porque realmente é: se você já usou o Google Docs pra fazer um
texto ou uma planilha, a mecânica é exatamente a mesma.
O problema é que o
criador do Netscape tentou fazer isso em 1995. Naquela época a
imensa maioria das conexões à internet era via modem – e 57.6
kbps era privilégio de poucos. Os usuários do NetPC teriam contas
telefônicas enormes se não dispusessem de banda larga – que
naquela época devia ser minúscula.
Além disso, o preço
foi muito maior do que deveria. Muito antes da máquina realmente
aparecer, já havia rumores e eu e meus amigos já comentávamos que
a chance da coisa vender seria ter um custo bem menor do que o
verdadeiro computador para pouco uso: o PC usado. Não tinha, custava
na verdade quase tanto quanto um novo, por um motivo: vinha de
fábrica com um kit multimídia.
Numa época em que
leitores de CD-ROM eram caros (e difíceis de instalar), os
fabricantes do NetPC, preocupados que, num mundo sem redes sociais
(até tinham, mas não eram tão disseminadas como hoje), não havia
tanta gente que usasse poucos recursos do computador, resolveram
apelar para outro segmento do mercado. O CD-ROM permitiria usar o
NetPC como um videogame e atrairia os adolescentes que não
precisavam fazer planilhas ou essas coisas que adultos fazem em
computadores.
O NetPC afundou como um
helicóptero carregando Ulysses Guimarães. Ainda assim, a Microsoft,
apavorada com a possibilidade de um dia o Netscape oferecer uma
alternativa viável ao seu sistema operacional, rapidamente jogou o
peso do monopólio em um clone, o Internet Explorer, e, ajudada por
um erro estratégico do rival, varreu-o do mercado. O Netscape,
tolamente, tentou se transformar numa suíte navegador-leitor de
correio eletrônico-leitor de grupos de notícias-editor de
homepage-conector de internet e adicionou ainda toneladas de
recursos, resultando num programa com quase 100 megabytes de tamanho,
numa época em que HDs de cerca de 800 megas eram o padrão.
Levando-se em conta que o Explorer já vinha com o Windows mesmo e o
Opera ocupava menos de 2 mb, foi um tiro no pé.
Corta para dez anos
adiante. O avanço da tecnologia do monitor de cristal líquido,
impulsionado pela demanda nos celulares e nas tevês de parede, fez
essas telas baratearem. O projeto OLPC - um lepetope por criança - surgiu com o objetivo de fabricar computadores com um custo final de 100 dólares. Os fabricantes dos cérebros eletrônicos riram e desdenharam - até ver a máquina pronta e funcionando.
Além disso, na mesma época, Steve Jobs, em mais uma bela antecipação, lança o Macbook Air, um lepetope finíssimo, cujo merchandising sublinhava que “cabia num envelope A4”. O pulo do gato que permitiu encolher a trapizonda foi... retirar dele o leitor de CD e DVD (como no OLPC). A própria Apple já havia previsto alguns anos antes o fim do disquete. Sem o leitor ótico, os computadores podiam ser bem mais finos.
Além disso, na mesma época, Steve Jobs, em mais uma bela antecipação, lança o Macbook Air, um lepetope finíssimo, cujo merchandising sublinhava que “cabia num envelope A4”. O pulo do gato que permitiu encolher a trapizonda foi... retirar dele o leitor de CD e DVD (como no OLPC). A própria Apple já havia previsto alguns anos antes o fim do disquete. Sem o leitor ótico, os computadores podiam ser bem mais finos.
Mas, como tudo da
Apple, a esbelta geringonça era caríssima. A ASUS, no entanto, preocupada com a ameaça do OLPC em suas vendas, finalmente resolveu dar ouvidos àquele velho clamor lá do meio dos
anos 90. Por que não, pensaram eles, fazer uma máquina de escrever
com acesso à internet? E foi assim que, em meados da primeira década
do século XXI, enfim apareceu no mercado uma maquininha que iria
botar de vez o computador pessoal na mesa de todo mundo. O netbook
(continua)
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