novembro 08, 2012

Criatividade

Vendo um programa do Discovery ontem, me lembrei de uma história que me aconteceu quando eu tinha 10 anos. Estava na 5a. série e tinha acabado de entrar no São Bento, saído de um colégio, o Cristo Redentor, onde uma velhinha e sua irmã adaptaram a casa pra virar escola. E que não tinha nada de tempos divididos em disciplinas e coisas assim - era uma só professora pra turma toda o tempo inteiro, aquele negócio bem anos 50. Pois bem, estava eu na aula de história, no começo do ano, e o professor, o Márcio, estava explicando as eras geológicas e o surgimento da vida na Terra. Eu levantei a mão e perguntei se a vida não poderia ter vindo de outro planeta. Ele não entendeu, eu expliquei, quem sabe num meteoro? Pois o Márcio, sei lá por causa de qual frustração, resolve humilhar um garoto de 10 anos que vinha de um ambiente completamente diferente e se sentia completamente intimidado na frente da turma toda: "ah, claro, claro, os dinossauros estavam todos num asteroide, ele parou e eles saltaram todos aqui na Terra".

A história me veio à cabeça porque, como todo nerd fã de Superinteressante e Discovery sabe a esta altura, a comunidade científica chegou mais ou menos a um consenso que a vida surgiu rápido demais na Terra. E a teoria mais moderna a explicar o fenômeno é de que moléculas orgânicas - ou mesmo microrganismos - teriam chegado aqui originariamente a bordo de meteoros.

O São Bento é o melhor colégio do Brasil. O Márcio faltava muito, a ponto de, no ano em que deveria ter nos ensinado toda a Antiguidade, parar no começo dos gregos. Depois ele descobriu que eu era o melhor aluno de história da turma. No ano seguinte, ele chegou a um ponto que me pedia amigavelmente para sair da sala pra poder dar aula. Não me mandava pra Secretaria, falava pra eu ir pra biblioteca, ou jogar bola (e não aprendi até hoje!). Mesmo assim, não satisfeito em ter o pensamento completamente bitolado e incapaz de pensar por si próprio, ainda se satisfazia com assédio moral a crianças - o que hoje chamaríamos bullying.

Já no segundo grau cheguei a ter um professor que também me pagou um esporro porque perguntei algo que não fazia parte do programa da matéria - que eu estava demonstrando mera curiosidade, quando deveria me concentrar mais no estudo. É por esta e outras que hoje em dia quando vejo na internet ou no caralivro professores reclamando que hoje em dia os alunos mandam e desmandam em cima deles, eu não consigo sentir nenhuma simpatia. Muitos me foram importantes pra me ensinar a pensar, principalmente dom Irineu, que pôs já aos 10, 11 anos todos os fundamentos da lógica ao dispor do meu pensamento. Mas a parte mais fraca na relação são os alunos - era ridículo ver na caderneta a enorme lista de "Deveres do discente" e a minúscula de "direitos" dele. Entre um adulto formado e experiente e um garoto mais sensível à intimidação, ameaça e assédio moral, meu instinto em ficar do lado mais fraco me alia ao último. Afinal de contas, quem tem a cabeça mais capaz de entender o mundo em sua própria época é justamente o moleque.

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