Acima, um cano estriado; abaixo, um liso, usado hoje em dia em escopetas, que disparam metralha - cargas de bolinhas de chumbo que não têm como se "agarrar" às estrias
Até o século XIX, as armas de fogo não eram estriadas. Estrias, como todos devem saber, são canais em espiral no interior do cano. Quando as balas são disparadas, ganham um movimento giratório e, assim, têm alcance e precisão maiores. Esse fenômeno é tão conhecido que até quarterbacks de futebol americano lançam a bola fazendo-a girar. E já era estudado mesmo no século XV, quando se discutia se as qualidades balísticas superiores se deviam ao fato de que a rotação impedia que demônios montassem as balas e, com suas diabruras, as desviassem. Pacifistas, por sua vez, alegavam que, pelo contrário, os giros é que atraíam os diabinhos, que, fãs de morte e destruição, as guiavam até seus alvos (é sério).
Gira, gira, gira...
Nessa época, ainda se chamava ao armamento do infante de mosquete. Justamente por causa do cano estriado (“rifled”, em inglês), passaram a ser conhecidos como “rifles” lá fora e “fuzis” aqui, porque as estrias pareciam a linha enrolada num fuso. A tecnologia para estriar as armas era dominada há muuuuuito tempo, mas era pouco usada porque, para as balas ganharem giro, tinham que encaixar perfeitamente nas canaletas. E, com o carregamento pela boca, não havia muito como fazer isso num artefato de chumbo sem bater nele até entrar e acabar deformando-o, o que acabava anulando todos os benefícios da rotação.
Não, ao contrário do que muita gente possa pensar (como antigamente o articulista e Peter Griffin), Bond não está enquadrado pelo diafragma de uma câmera fotográfica e sim pelo cano estriado de uma arma
Assim, durante séculos, os únicos soldados a dispor de fuzis eram os batalhões de caçadores, os famosos “chasseurs”, “jaegers” e afins. O nome era porque eles eram arregimentados exatamente entre caçadores. Sujeitos que dependiam de acertar animais de dimensões compactas e fugidios necessitavam de precisão e aprendiam desde cedo a sutil arte de enfiar uma bala num cano estriado sem partir para a violência, para os impropérios e sem imitar Conan, o bárbaro, declarando que “não é jeito, é força”. Pelo contrário era essencial muito jeito, inclusive com o uso delicado de um pano oleado e de muita paciência.
Miniaturas de caçadores são muito valorizadas pelos colecionadores por seu status de tropa de elite. Aqui, quatro soldadinhos com os uniformes do exército português recebem o primer antes da pintura final
Esses caçadores formavam as tropas de elite e os francoatiradores. Sua vida civil ao lado de uma arma os ensinara a conhecer seu rifle, recarregá-lo com rapidez sem deformar a munição e a mirar com precisão e letalidade. Mas em pouco tempo essa qualificação de caçador passaria a valer menos, quando Minié inventou a bala Minié (que narcisista). continua...
Sem comentários:
Enviar um comentário