novembro 03, 2012

Fletcher Hanks

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Fletcher Hanks nasceu em 1887. Tudo que se sabe da vida pessoal dele é de uma entrevista concedida por seu filho em 2006. Durante anos e anos ele permaneceu esquecido até ser redescoberto no final dos anos 90 e ter uma antologia lançada com o título "I shall destroy all civilized planets" (legenda retirada de uma de suas historinhas), álbum que fez o doentio Robert Crumb comentar "esse cara tinha problemas..." (e completar logo em seguida que tinha que ter a obra dele em sua coleção).

Hanks desenhou 48 historinhas entre 1939 e 1941. Este é todo o trabalho dele. Ele criou dois super-heróis, o primeiro deles, o Supermago Stardust, que vive em sua estrela, e sendo "o mais destacado homem que já viveu", usa sua "ciência planetária" para "combater o crime" (???).


Hanks era um péssimo desenhista. Seu trabalho claramente é influenciado por Basil Wolverton (sim, o cara que desenhava aquelas mulheres monstruosas nos primórdios do MAD fazia quadrinhos "sérios" de aventura no início da carreira - confira aqui e aqui veja uma adaptação dele pra Bíblia - ele era um cristão devoto - muito antes do Crumb). Só que Wolverton era um tremendo desenhista, e Hanks não. Pra não falar nos dotes de escritor. com um texto inenfático e tedioso praticamente repetindo o que se vê em cada quadro.

O mais estranho de tudo é que, nessa era de ouro dos quadrinhos, os criadores que estavam fazendo aquelas histórias primitivas e simplistas eram pouco mais velhos que seu público. Bob Kane, Jerry Robinson, Bill Finger, Joe Shuster e Jerry Siegel, Will Eisner, todos eles estavam com menos de 20 anos - ou pouco mais. Hanks já tinha mais de 50 anos nas costas quando começou seu trabalho e ele soa no entanto muito mais como psicoterapia ou compensação do que a obra dos adolescentes.


Stardust, por exemplo, era uma história praticamente de justiça poética. Invencível, o mago nunca é ameaçado por qualquer inimigo. E com sua parafernália tecnológica, é virtualmente onisciente. As histórias são basicamente ele vendo os vilões cometendo suas vilanias e aparecendo para puni-los com uma retribuição simbólica. O quadrinho acima e os abaixo contam como ele detém um perigoso terrorista. E, como o vilão queria destruir os cabeças de estado, ele é reduzido a uma cabeça e atirado violentamente contra o planeta Terra lá abaixo!!!!!



Confesse, este aí acima deve ser um dos quadrinhos mais perturbadores que você já viu. E isso numa historieta pra crianças de 1939 ou 1940. E pensar que tinha gente reclamando das revistas de terror da EC Comics nos anos 50...


Aqui Stardust convoca os esqueletos das vítimas dos espiões...



Aqui o vilão cancela a gravidade na Terra e todos os habitantes do planeta são atirados ao espaço. Não, não sei que drogas ele usava ou se ele costumava tomar uns chopinhos com Henry Darger.


Aqui Stardust, depois de desbaratar uma célula comunista, transforma os comunas sujos todos em ratos, que correm para o porto, onde o mago faz eles se afogarem, com exceção de um, com cabeça humana, que ele poupa para poder entregar os outros. Eeeew...


Como Henry Darger, Hanks viveu bastante (apesar de seu filho tachá-lo de alcoólatra e abusador da esposa - dada sua obra, não é difícil duvidar disso) e teve um fim melancólico, sendo encontrado em 1977 pela polícia de Chicago congelado num banco de praça após um dia particularmente de inverno, aparentemente tendo vivido pelo menos por algum tempo como um sem-teto. Ele abandonara a família ainda em 1940 e durante os mais de 35 anos entre o fim de seus quadrinhos e o dia de sua morte ele não mais encontrara uma maneira de conjurar seus demônios pondo-os em páginas brilhantemente coloridas para entreter os pimpolhos.



No próximo capítulo, vamos ver o que ele faz quando escreve as aventuras da (possivelmente) primeira mulher a estrelar histórias de super-heróis: Fantomah.


Mesmo supermagos vingativos e onipotentes precisam descansar de vez em quando...


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