setembro 08, 2010

Quando as Mulheres Tinham Boceta

Saiu hoje a Playboy de Larissa Riquelme. E o melhor do ensaio não é o efeito 3D, mas a (re)invenção da boceta!

Faz parte do marquetím da Playboy ser classuda e classe quando se trata de vender fantasias masturbatórias significa fotos sensuais, fortemente influenciadas pelo que é considerado "in" no momento (geralmente em fotografias de moda) e, principalmente, evitar mostrar genitálias ginecologicamente, como fazem a maioria das revistas do gênero.


Que sorte que essa sombra bateu bem aí, hein, Mônica Apor? O que a está causando?


Mais! Incline-se mais!!!!


Está faltando uma coisa em mim/ lararalaia...

O problema é que de uns anos pra cá, depois do "bigodinho de Hitler" e da "brazilian wax", começou a entrar em moda a depilação total - tendência da qual o blogueiro é grande apreciador, por achar que pelo e mulheres não têm muito a ver (1). Com os pelos, os editores sempre podiam dar uma retocada, aumentar uma sombra, ou mesmo fotografar só a parte de cima da virilha e dar a impressão aos leitores de que eles tinham visto alguma coisa. Mas quando algumas moças aderiram ao visual lisinho, a coisa começou a ficar difícil.

Mas, afinal, qual o problema em se mostrar a boceta das mulheres? Mostrar uma boceta não necessariamente significa baixaria. A proposta da revista sempre foi a de que sexo era uma atividade inocente, que não deveria ser cercada de tabus e preconceitos. Certamente nos anos 50 e 60 Hugh Heffner não poderia exibir genitálias sem manter a aura de "não sujo" de seu magazine, mas em pleno século XXI?
Não vamos mostrar uma coisa sórdida e pervertida como uma boceta, mas em compensação iremos compor a foto para dar a impressão de que a Juju do Pânico está empalada sobre uma estaca a ponto de nem poder se mexer
Acho que vi alguma coisa! Tragam um microscópio!

Ser uma publicação de sexo que não pode mostrar o sexo não só é uma hipocrisia como vai contra a pretensa vocação libertária da Playboy - ela estaria promovendo a erotização da mulher assexuada, uma Barbie sem o principal instrumento biológico da atividade - bundas, peitos e lábios sem útero, sem o mistério da reprodução, sem o objeto penetrado, sem o vínculo carnal, sem a ligação animal: sem a boceta. Um fetiche ambulante de fantasias exclusivamente masturbatórias, etéreo e abstrato. Uma tremenda perversão sob um viés conservador para dar um mérito "artístico" ao que é - e sempre será - uma revista de muié pelada (2).





Essa pervertida hipocrisia da Editora Abril chegou ao ápice na edição com Karina Bacchi, em que a fetichização era despudoradamente o cerne do ensaio, totalmente focado no piercing genital da moça, mas com um hercúleo esforço para evitar mostrar a parte do corpo que ele estava ali para enfeitar. Mulher pelada sem sexo, a suprema fantasia da Censura dos anos 70, que liberava as pornochanchadas de Lando Buzzanca (as brasileiras não, muitas delas eram surpreendementemente subversivas) e proibia O Império dos Sentidos.


E provavelmente a política não é só por exigência das estrelas. Aqui temos Marion Melody (quem?), daquelas modelos que topariam qualquer coisa pra aparecer na Playboy

É por isso que é bom sinal essa edição da Larissa Riquelme. Logo em duas das quatro fotos pode se observar claramente a boceta da moça. E, quod erat demonstrandum (3), bocetas não são necessariamente sinônimo de "sujeira" e "baixaria". Para o blogueiro, a boceta de Larissa Riquelme traz bons augúrios não só para as próximas Playboy como para a cultura de nossa sociedade em geral, prenunciando uma pré-sexualidade provavelmente mais saudável nos adolescentes contemporâneos.

A não ser, é claro, que isso tudo seja uma exceção porque esta é uma revista paraguaia...


Ah, então isso é que é uma boceta? Da maneira que vocês falavam eu pensava que soltava fogo ou tinha dentes enormes...

(1) Dispenso comentários sobre infantilização da genitália e sexualidade imatura (mesmo porque sou réu confesso). A prática se propagou a partir dos filmes pornôs, onde servia pra deixar o mais explícito possível a trepada. Praticamente todas as mulheres depilam pernas - pelos não são exatamente coisas femininas.

(2) Essa ideia de que sexo é "sujo" e de que as modelos só estão ali para serem apreciadas como bonecas assexuadas é reforçada pelo visual "plastificado" e "etéreo" da maioria dos ensaios (reforçado pelas alterações no Photoshop), pela fetichização das fotos (com "temas" como câmeras, strip-teases, bordéis etc.) e por detalhes significativos: reparem como a revista há décadas não usa mulheres oleadas - suor sugere sexo e atividades biológicas!

(3) A Playboy não é a única publicação que usa de artifícios patéticos pra parecer classuda tratando de assuntos sexuais.

3 comentários:

Felipão disse...

Eu não entendo a Playboy, o que eles querem com isso? Uma revista de mulher pelada que não mostra uma bocetinha.

Excelente artigo, cara.

Anónimo disse...

Essa mensagem é a maior e melhor mensagem de utilidade pública que alguém já postou na Internet

Anónimo disse...

Parabéns pelo comentário. Uma critica honesta e construtiva! Concordo plenamente, que de não for para mostrar a moça pelada integralmente, perde a função.