O trecho abaixo é de um filme alemão de 1956, que está completamente disponível no Youtube, aparentemente recolhido de um velho VHS. "Liane, a Donzela das Selvas", mais uma das inúmeras fantasias voyeurísticas derivadas de Tarzan (com uma loooooonga história, basta lembrar Maureen O'Sullivan, no papel de Jane, comentando com Chita que, como teriam visitas, ela (Jane) teria que usar roupas à noite. E o mergulho que ela dá completamente nua (1), cena cortada durante mais de meio século da fita, porque feita antes de instalada a autocensura no cinema americano e só as primeiras exibições a mostraram (2).
Liane, a moça aí em cima, passa boa parte do filme - toda aquela localizada nas selvas - vestindo apenas uma tanguinha fio-dental (não é uma invenção brasileira; inclusive ela usa a versão tupiniquim mesmo, com o triângulo de pano puxado pra cima pra expor as nádegas, não a europeia, que é só um barbantinho e não tem triângulo). Isso mesmo, ela não usa nada pra cobrir os seios, exceto seus cabelos louros, que não estão, como os de Brooke Shields em Lagoa Azul, colados ao corpo com cola mesmo, para evitar mostrar algo que não se devia.
O interessante é que o filme é de 1956 e era censura livre. A atriz tinha 16 anos na época, o que hoje acarretaria cadeia pra todo mundo. Só o fato de ter sido filmado em cores, dada a situação do cinema europeu na época, indica que é uma fita de bom orçamento e não um lançamento marginal pura e exclusivamente para faturar em cima de fetichismo (talvez eu devesse repensar esta última sentença). Curiosamente, as cenas de nudez de "Monika e o Desejo", de Ingmar Bergman, em preto e branco, dois anos antes, num longa muito mais sério e pretensioso do que este, desencadearam a ideia mundial de que a Suécia era a capital da putaria (quem viveu nos anos de censura onde o nu frontal era proibido lembra das famosas "revistinhas de sacanagem suecas"; o filme "Vai Trabalhar, Vagabundo" tem um personagem que vive desse contrabando). No entanto, os pequenos e adolescentes seios da Marion Michael não parecem ter causado tanta comoção internacional. Provavelmente porque a produção não era do tipo que o circuito de arte americano iria exibir e a farta exibição de pele e órgãos sexuais secundários impediria seu lançamento em circuito comercial.
O filme teria duas continuações (não consegui descobrir se tão generosamente explícitas), uma delas com o astro Hardy Kruger (que fez carradas de nazistas e estrangeiros em Hollywood). A adolescente exibicionista previsivelmente teve crises de depressão nos seus vinte e poucos anos quando sua carreira não decolou. Não devia ser fácil ser conhecida como a garota dos peitos de fora nos meios artísticos dos anos 50 e 60.
Pra quem tiver paciência e quiser ver o filme inteiro:
(1) Pra quem não viu "A Companheira de Tarzan", abaixo a cena, de 1932. Coerente com o que antes comentara com Chita, a primeira coisa que Jane faz ao voltar do encontro com as visitas é se livrar das roupas - Tarzan dá uma ajudinha. Foram sequências como essa que levaram a protestos e ao Código Hays, um escritório americano de autocensura dos estúdios cinematográficos. Nenhum filme produzido por eles podia ser lançado sem essa aprovação.
Aliás, não é Maureen O'Sullivan, a mão de Mia Farrow, que vemos nua na cena, mas sim a nadadora e medalhista olímpica Josephine McKim. Como Weissmuller, o Tarzan, também era ex-medalhista olímpico, parece que filmes de selva eram reserva de mercado desse povo. Também chama a atenção que a moça de 24 anos tivesse que partir para se mostrar nua - o que na época devia ser muito menos tolerado do que hoje - pra se sustentar, dado o amadorismo do esporte da época.
(2) Hugh Heffner diz que a cena foi importantíssima pra sua vida, pois a naturalidade da nudez do casal causou-lhe uma epifania que o levaria a lançar a Playboy. Hef também se autointitula o grande arauto da Revolução Sexual, enquanto seus críticos dizem que na verdade ele é o criador do machismo típico do início dos anos 60.
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