Desde os anos 70 a inteligência artificial está à porta. Num prazo que normalmente importa em 20 anos a partir da previsão, a humanidade estará lidando com computadores realmente inteligentes. O ano 2000 vivia sendo citado (tanta coisa ia acontecer em 2000...). Mas a inteligência mostrou-se mais fugidia do que os cientistas pensavam. Não basta ter um computador com um poder de processamento pantagruélico, é preciso que ele tenha consciência - e nem exatamente sabemos o que é consciência.
O problema é que o pensamento, entre outras coisas, não é uma entidade separada do pensador. Não basta existir, é preciso querer fazer algo da existência para se dar ao trabalho de pensar. Quando surgiram as primeiras moléculas orgânicas, algumas se deram conta de que não estavam sós, que havia partículas ao seu redor que poderiam ser consumidas e elas poderiam então se reproduzir. Já outras não se deram a esse trabalho. Dependendo da sua visão de mundo, elas podem ter se mantido em harmonia com a grande perfeição celeste e ficado quietas e eternas, em estado de harmonia e integração com o todo, ou podem ter sido egocêntricas e narcisistas, incapazes de amadurecer e trazer ao mundo a imperfeição que chamamos de vida que é o que dá sentido ao Universo (qual o som de uma árvore caindo na floresta quando não há ninguém para ouvir?
O desejo, o medo da morte, a sensação de incapacidade de realmente compartilhar, coisas como essas são o motor de nossa consciência. Se as máquinas não tiverem emoções, qual o seu estímulo para pensarem? Sem isso, o máximo que se vai conseguir é fazê-las ficar até tarde assistindo Big Brother e sitcoms. O corpo é parte inseparável da mente. Sem fome, luxúria, amor, ódio, quanto duraria a sensação de "eu"? Quanto tempo um cérebro duraria mantido vivo dentro de um tubo, como naquelas ficções científicas vagabundas, sem um estímulo sensorial, sem uma possibilidade real de voltar a ter um corpo e experimentar o mundo? Alguns pensadores acreditam que simplesmente não existe possibilidade de inteligência artificial PORQUE OS COMPUTADORES NÃO SÃO CAPAZES DE SONHAR!!!! (E quando digo pensadores, é porque são cientistas e pesquisadores respeitados e não gurus de autoajuda ou blogueiros palpitando em assuntos dos quais têm vagos conhecimentos superficiais de segunda mão).
Por isso a inteligência artificial ainda tem muito que percorrer para conseguir passar no teste de Turing. Alan Turing, o homem que desvendou o código alemão na II Guerra Mundial e depois foi perseguido por ser homossexual, vaticinou que uma máquina só poderia ser certificada como artificialmente inteligente se, num diálogo com um interlocutor humano com quem não tivesse contato físico (normalmente através de chate de computador em salas separadas), pudesse passar por gente também. Até hoje ainda não surgiu aparelho capaz de tal façanha.
Mas existem vitórias isoladas. Neste artigo, por exemplo, cita-se o programa Mgonz. Mgonz não era tão sofisticado quanto o famoso (e velho) analista artificial (também citado na matéria), que tenta iludir seu interlocutor (e não realmente agir como um humano) repetindo o que ele fala em forma de pergunta e com subrotinas que disparam à menção de palavras-chave de psicanálise - "pai", "mãe", "ódio" e assim por diante (1).
Mas o Mgonz está longe dessa sofisticação. Na verdade, basicamente tudo o que ele faz é ficar insistindo numa pergunta e depois insultar o interlocutor. E, por incrível que pareça, é um dos maiores pontuadores no teste de Turing (!!!)
mgonz: when was the last time you had sex
someone at drake: yesterday.
mgonz: ok honestly when was the last time you got laid
someone at drake: i told you it was yesterday.
mgonz: you are obviously an asshole
mgonz: ok honestly when was the last time you got laid
someone at drake: ok ok it was over 24 hours ago. for you it must have been 20 years
O Roger, com quem comentei esse caso, lembrou do primeiro Exterminador do Futuro, quando ele está num hotel pardieiro qualquer consertando o olho e um vizinho (ou gerente) pergunta através da porta o que está acontecendo. Várias opções surgem para o Schwarzenegger escolher e ele decide justamente pelo insulto, o que deixa o outro sujeito satisfeito. Enfim, ou isso diz muito sobre nossa raça ou os Três Patetas são a força cultural mais importante da nossa atual sociedade. Talvez esse seja outro dos motivos pelo qual temos uma certa desconfiança automática de gente muito educada.
Insultos e ofensas também são normalmente a expressão de nossas emoções mais violentas. Ou seja, estão definitivamente ligados à nossa inteligência. Animais não insultam - fazem demonstrações de força e tamanho. Só nós é que provocamos gente maior do que nós. Que xingamos quem amamos. Que insultamos na hora do elogio. Talvez as máquinas não estejam tão erradas assim. Talvez Mgonz e o Exterminador do Futuro é que saibam das coisas.
(1) Um exemplo (em inglês) do terapeuta automático. Clique aqui para outros exemplos, inclusive uma conversa dele com um simulador de paranoico, o Parry.
young woman: Men are all alike.
eliza: In what way?
young woman: They're always bugging us about something specific or other.
eliza: Can you think of a specific example?
young woman: Well, my boyfriend made me come here.
eliza: Your boyfriend made you come here?
young woman: He says I'm depressed much of the time.
eliza: I am sorry to hear you are depressed.
young woman: It's true. I'm unhappy.
eliza: Do you think coming here will help you not to be unhappy?
young woman: I need some help, that much seems certain.
eliza: What would it mean to you if you got some help?
young woman: Perhaps I could learn to get along with my mother.
eliza: Tell me more about your family.
young woman: My mother takes care of me.
eliza: Who else in your family takes care of you?
young woman: My father.
eliza: Your father.
young woman: You are like my father in some ways.
eliza: What resemblance do you see?
young woman: You are not very aggressive but I think you don't want me to notice that.
eliza: What makes you think I am not very aggressive?
young woman: You don't argue with me.
eliza: Why do you think I don't argue with you?
young woman: You are afraid of me.
eliza: Does it please you to believe I am afraid of you?
young woman: My father is afraid of everybody.
eliza: What else comes to mind when you think of your father?
young woman: Bullies.
eliza: Does that have anything to do with the fact that your boyfriend made you come here?[7]
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