janeiro 29, 2013
Momento de Triunfo
A porta do meu guarda-roupa Chippendale despencou e o pino de encaixe quebrou e rachou. Acabo de improvisar um conserto só com as coisas que tinha em casa. Sinto-me másculo e viril. Vou sair, esmagar uns inimigos, vê-los atirados a meus pés e escutar os lamentos de suas mulheres.
janeiro 28, 2013
Terror de Verdade
Um dos mais macabros fatos da tragédia de Santa Maria foi a menina que postou no Facebook "Incêndio na KISS socorro". Em primeiro lugar, pelo sangue-frio de digitar "incêndio" em vez do curto "fogo" e pelo detalhe de ativar as maiúsculas pra escrever o nome da boate. O horror que deve ter sido, o desespero pra tentar pedir ajuda pela rede social. Só um possível efeito calmante ativado pela digitação no telefone pode explicar tal preciosismo nessa hora.
Numa hora de desespero dessas, as pessoas buscam o que lhes dá mais conforto. Clamam pela mãe, oram para seus deuses. A menina digitou no seu celular. Assim como quando estamos entediados e sacamos nossos telefones do bolso e começamos a vasculhar nossos contatos pela internet. Sem perceber, estamos nos treinando. Estamos relacionando uma sensação de aconchego, de envolvimento emocional, com nossos aparelhos conectados, com nossa rede de amigos virtuais sempre presentes para nos consolar e nos embalar. Enquanto esperamos a reunião de trabalho, a nota da prova, a fila que não anda, o resultado do vestibular, o início do show, o "sim" de quem desejamos...
Implorávamos aos deuses misericórdia em outros tempos. Hoje em dia no momento de desespero clamamos por socorro nas redes sociais. Tanto os primeiros quanto os últimos são entidades incorpóreas que pouco podem fazer para nos ajudar, a não ser quando são os pontos focais de outras pessoas em busca de um melhoramento, em busca de um objetivo comum de aperfeiçoamento de nós mesmos e do mundo. Mesmo quando cooptados por aproveitadores interessados apenas em lucrar.
Deuses e redes sociais não oferecerão a ninguém miraculosa ajuda sobrenatural na hora do desespero. Podem acalentar ou confortar, porque são os dois calcados na ideia de comunidade, no conceito de que somos apenas parte de um grande todo e a perda de nosso corpo não é uma perda total e irrevogável. A vida nos envolve mesmo quando isolados. Se alguma vida permanece, a morte não é soberana. E mesmo textos reduzidos a sinais elétricos em servidores perdidos no espaço é vida para nós. Porque somos humanos. E qualquer comunicação nos faz uma comunidade. Qualquer relacionamento nos faz imortais. Qualquer sopro de vida que resista e a morte não vencerá.
Numa hora de desespero dessas, as pessoas buscam o que lhes dá mais conforto. Clamam pela mãe, oram para seus deuses. A menina digitou no seu celular. Assim como quando estamos entediados e sacamos nossos telefones do bolso e começamos a vasculhar nossos contatos pela internet. Sem perceber, estamos nos treinando. Estamos relacionando uma sensação de aconchego, de envolvimento emocional, com nossos aparelhos conectados, com nossa rede de amigos virtuais sempre presentes para nos consolar e nos embalar. Enquanto esperamos a reunião de trabalho, a nota da prova, a fila que não anda, o resultado do vestibular, o início do show, o "sim" de quem desejamos...
Implorávamos aos deuses misericórdia em outros tempos. Hoje em dia no momento de desespero clamamos por socorro nas redes sociais. Tanto os primeiros quanto os últimos são entidades incorpóreas que pouco podem fazer para nos ajudar, a não ser quando são os pontos focais de outras pessoas em busca de um melhoramento, em busca de um objetivo comum de aperfeiçoamento de nós mesmos e do mundo. Mesmo quando cooptados por aproveitadores interessados apenas em lucrar.
Deuses e redes sociais não oferecerão a ninguém miraculosa ajuda sobrenatural na hora do desespero. Podem acalentar ou confortar, porque são os dois calcados na ideia de comunidade, no conceito de que somos apenas parte de um grande todo e a perda de nosso corpo não é uma perda total e irrevogável. A vida nos envolve mesmo quando isolados. Se alguma vida permanece, a morte não é soberana. E mesmo textos reduzidos a sinais elétricos em servidores perdidos no espaço é vida para nós. Porque somos humanos. E qualquer comunicação nos faz uma comunidade. Qualquer relacionamento nos faz imortais. Qualquer sopro de vida que resista e a morte não vencerá.
janeiro 18, 2013
Oh-Oh...
Lembra daquela postagem há coisa de quinze dias sobre como a Microsoft podia estar dando um tiro no pé obrigando as pessoas a aprender um sistema operacional todo diferente só pra poder alavancar suas vendas de telefones e tablets? Pode estar acontecendo o contrário. Os Chromebooks, pequenos lepetopes com configuração básica e que rodam programas na nuvem, usando um navegador Chrome (daí o nome) e os aplicativos do Google, com um desempenho e tamanho bem satisfatórios pra tarefas básicas e preço inigualável, assumiram esta semana a ponta nas vendas da Amazon. Depois de anos sendo a piada dos PCs. E esta semana a Lenovo acaba de anunciar que irá se juntar aos fabricantes do bichinho. O Windows touch (8, Phone, RT) subiu no telhado?
janeiro 16, 2013
Na Minha Época Episódios de Seriados Tinham Começo, Meio e Fim
Hoje em dia há confusões como Galactica, em que metade do que acontece não é explicado, outra parte é largada de lado, porque os roteiristas começam uma história SEM SABER COMO VÃO ACABÁ-LA. Desde pequeno que eu sempre escrevo histórias começando pelo fim.
Nos anos 70 isso seria como um convite pra audiência ir embora. Ninguém aguentava aquele letreiro "to be continued". Mas eu e Toinho temos uma teoria para a profusão de "continua" ao fim de cada episódio da semana. É que na época havia a Guerra Fria. Ninguém sabia se o mundo ainda estaria lá semana que vem, então tinha que terminar a historinha. Além do mais, em pouco tempo estaríamos explorando o espaço. Armas laser e foguetes de brinquedo dominavam minha infância. Eu usava uma caixinha eletrônica como se fosse meu computador de bolso, na hora de brincar de nave espacial. Mal imaginava que teria um mesmo. O futuro pode parecer interessante pra garotada da era da informática, mas o meu não tinha fronteiras físicas. Bases lunares e astronaves nos levariam a qualquer lugar. Até mesmo longe da Guerra Fria.
Nos anos 70 isso seria como um convite pra audiência ir embora. Ninguém aguentava aquele letreiro "to be continued". Mas eu e Toinho temos uma teoria para a profusão de "continua" ao fim de cada episódio da semana. É que na época havia a Guerra Fria. Ninguém sabia se o mundo ainda estaria lá semana que vem, então tinha que terminar a historinha. Além do mais, em pouco tempo estaríamos explorando o espaço. Armas laser e foguetes de brinquedo dominavam minha infância. Eu usava uma caixinha eletrônica como se fosse meu computador de bolso, na hora de brincar de nave espacial. Mal imaginava que teria um mesmo. O futuro pode parecer interessante pra garotada da era da informática, mas o meu não tinha fronteiras físicas. Bases lunares e astronaves nos levariam a qualquer lugar. Até mesmo longe da Guerra Fria.
janeiro 14, 2013
Toy Story
Aqui a refilmagem quadro a quadro do longa da Disney/Pixar - feito com brinquedos de verdade. Uma versão mais ou menos "live action" da animação computadorizada. Falta do que fazer.
janeiro 13, 2013
Agora é Oficial: Os EUA Não Vão Construir a Estrela da Morte
Como os nerds estão dominando o mundo e começando a nos fazer sentir falta dos valentões, lá na Nerdland (também conhecida como USA) eles juntaram assinaturas suficientes pra uma petição oficial requerendo a construção de uma Estrela da Morte. Isso aquela de Guerra nas Estrelas. O que gerou uma RESPOSTA OFICIAL DA CASA BRANCA (e isto não é pegadinha da internet):
- The Administration shares your desire for job creation and a strong national defense, but a Death Star isn't on the horizon. Here are a few reasons:
- The construction of the Death Star has been estimated to cost more than $850,000,000,000,000,000. We're working hard to reduce the deficit, not expand it.
- The Administration does not support blowing up planets.
- Why would we spend countless taxpayer dollars on a Death Star with a fundamental flaw that can be exploited by a one-man starship?
Leia o texto completo nesta reportagem da Wired. Dica: é um grande (e amistoso) "get a life" pros nerds.
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universo ciência filosofia de botequim
janeiro 09, 2013
A Inveja é uma Merda
Segundo este estudo americano, quem ganha 10% a menos do que seus vizinhos tem 4,5% de chances a mais de se suicidar.
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universo ciência filosofia de botequim
Por que o Windows 8 é Ameaça à Tecnologia para Todos
David Pogue tem uma abordagem interessante sobre o problema de privacidade na internet: afinal, o quê exatamente tanto tememos? Abrimos mão loucamente de nossa intimidade no Caralivro (também conhecido como Feicebuque), no VocêTubo, no Orkut, e, antes disso, nas páginas pessoais do Geocities ou do Blogger. No entanto, quando ouvimos que o Google reúne dados de buscas para fazer um perfil para lhe empurrar anúncios, a imprensa reage como se o Big Brother estivesse prestes a nos escravizar todos. Bobagem. Randall Munroe, em sua brilhante tira XKCD, já satiriza este medo. Por que o Google iria querer se tornar malévolo? Pra ganhar rios de dinheiro? Eles já ganham. Pra dizer às pessoas o que fazer e elas fazerem? Já fazem isso. Então a única opção que lhes resta é continuar sendo uma companhia tecnopublicitária que lucram os tubos.
Graças a essa bem sacada ideia de vender anúncios contextuais, o Google pode oferecer um monte de serviços de graça. Nenhum problema, a televisão e o rádio também eram gratuitos nessa base e jornais (1) e revistas assim sempre ofereceram um generoso desconto frente a seus custos. O buscador também exibe sua publicidade de forma muito mais amistosa e discreta do que, por exemplo, o Caralivro, que fica enfiando postagens de Doritos na minha Linha do Tempo, disfarçadas como de amigos, e vem aumentando cada vez mais a frequência e o mau-gosto dessas coisas. Amanhã a gente muda pro Google+ e eles reclamam.
Boa parte da paranoia sobre privacidade também é menos bem-intencionada ou oriunda de mentes progressistas e libertárias do que se supõe. Neste artigo da Wired, para os angloparlantes, o repórter expõe como esse lobby pró-intimidade é fortemente movido a grana da Microsoft, que não sabe mais o que fazer pra se manter na crista da onda. E olha que a matéria da revista é de 2009, bem antes do Android dominar o mundo.
O Android, vocês devem saber, é o sistema operacional que o Google criou para espertofones. Depois que o Blackberry botou um computadorzinho nas mãos dos executivos, e a Apple mostrou que ele podia ser divertido também, a galera do buscador resolveu investir na área também. Com uma diferença: em vez de fabricar seus telefones, como a empresa (então) do Steve Jobs e a RIM, ou vender o sistema operacional para quem quisesse enfiá-lo em seus celulares, eles resolveram dá-lo de graça. De 2009 pra cá eles saíram praticamente do zero, e de piada entre os fãs do iPhone, para dominarem 75% do mercado mundial.
O Android começou feio e ineficiente, é verdade, mas essa ideia de oferecê-lo de graça foi um lance de gênio. Os fabricantes começaram todos a lançar seus modelos e empurrar rapidamente a evolução dos produtos. Lançaram telefones baratos, telefones caros, (muitos) telefones ruins, clássicos como o Samsung Galaxy SII e novos padrões de mercado com o celular/tablet Galaxy Note (que a crítica especializada, até hoje fascinada pelo iPhone, ridicularizou e achou que não teria público). O Google pesquisa e desenvolve o sistema e o entrega a quem quiser, sem custo nenhum. Em compensação, eles têm uma loja onde vendem programetos para os consumidores, levando 30% da grana da galera que os desenvolveu (seja no preço do aplicativo ou no dos anúncios que ele exibe, quando é de graça). O Android também vem com todos os produtos do Google (Gmail, Mapas, buscador, Drive etc.), com os quais eles levantam também uma grana de publicidade (2).
E o Android segue firme e forte. Há um ano se você fosse a um show no Circo Voador, quase todo telefone que se levantasse pra filmar seria um iPhone. Hoje em dia praticamente todos são Android. Steve Jobs ficou puto com essa concorrência desleal e declarou guerra termonuclear ao Google, mas na verdade, face à enorme margem de lucro da Apple, e como ela fabrica o equipamento e fornece o sistema, mesmo que ela mantenha seus 15% do mercado ou caia um pouco mais, vai continuar atochando seu rabo de dinheiro sobremaneira.
Aliás, os produtos Apple são tão bem feitos e acabados (mesmo com o iOS ficando cada vez mais pra trás em termos de inovação e evolução) que o pessoal que começa a usar o iPhone acaba comprando um iPad (3) e, já viciado em iTunes e com dois iParelhos, quando dá um pau no computador começa seriamente a pensar em trocá-lo por um McBook ou iMac (como fez recentemente, por exemplo, Arnaldo Bloch). O mesmo poderia acontecer com um usuário de Android, se o Google tivesse um sistema pra lepetopes ou máquinas de mesa, o que ainda não acontece. Alguns fabricantes chineses enfiaram o sistema em seus netbooks, um formato moribundo, e o próprio Google lançou com a Samsung uns notebooks baratinhos (porém bonitos e práticos), sob a marca “Chromebook”, que dispensa sistema operacional, usando apenas um navegador pra funcionar (4).
Foi por isso que a Microsoft, que desde que o Bill Gates resolveu virar Madre Teresa de Calcutá, não encontra o rumo, se apavorou. O gerentão da empresa, o Steve Ballmer, que ridicularizou o iPhone e o iPad quando eles saíram, mandou a turma da engenharia da firma queimar a mufla pra fazer pra ontem um sistema operacional de telefones. E, quando ninguém se interessou por ele, eles subornaram a Nokia, que estava sendo presidida por um ex-funcionário da Microsoft (que, usando o que aprendeu nos EUA, também estava deixando o gigante finlandês sem rumo), pra construir espertofones pra eles.
Mas por que ninguém se interessou pelo Windows Phone? O Windows Mobile equipou xing-lings e Palmtops durante anos e anos e até ontem ainda era o sistema mais vendido no Brasil, por exemplo. Os saites de tecnologia adoraram a coisa (5). E o grafismo (retirado do fracassado iPod da Microsoft, o Zune) era lindo. Por que não o fabricar?
A economia, estúpido.
A Apple fabrica seus próprios aparelhos. O Google dá de graça o Android. A Microsoft, que esperava não deixar futuros consumidores de sistemas operacionais de mesa escapar, vendia o seu produto por 30 dólares. Num mercado onde as margens de lucro (tirando as da Apple) são muito pequenas, 30 dólares pode ser simplesmente a diferença entre o fracasso e o sucesso de um produto.
Mas a Microsoft conseguiu arrebanhar alguns fabricantes. Alguns deles com processos sobre patentes que o Android supostamente infringiria. Algumas marcas acordaram em pagar royalties e fabricar Windows Phones para evitar julgamento. E a Nokia foi praticamente subornada pra fabricar só Windows Phones. Até agora as duas só perderam dinheiro. A Microsoft, na verdade, ganha mais dinheiro com seus royalties sobre o Android do que com o Windows Phone.
Cobrar por um sistema operacional móvel parece ser hoje em dia um modelo de negócio completamente ultrapassado. Talvez outras considerações tenham entrado em vigor - talvez a Microsoft não quisesse oferecer o Windows Phone de graça pra evitar outros processos de monopólio como aconteceu na era do Internet Explorer. Ou talvez eles estejam tão perdidos que só consigam pensar em arrancar mais e mais dinheiro de onde puderem. Desde o Vista que eles inventaram diversas versões de produto, para poderem cobrar uma fortuna de empresas (que não costumam ter outras opções a não ser ceder à extorsão) e manter o preço relativamente baixo pro pessoal em casa. Afinal de contas, eles não querem que essa turma experimente coisas como o gratuito Linux e depois queiram levá-lo para o trabalho (incidentalmente, é por isso que a Microsoft tolera que em mercados emergentes como o Brasil praticamente todas as cópias caseiras de Windows sejam piratas) (6).
Outro exemplo é o Office. Quando ele apareceu, a cada nova versão ele trazia novidades que não podiam ser deixadas de lado. Integração com a Web, gráficos melhores, formatação mais rápida e simples... mas existe um limite pra inovação nesse segmento. Tirando um melhor grafismo e uma melhor interface, há pouco onde melhorar essa suite. Ela já é um produto maduro. Não existe nenhum motivo realmente importante pra você fazer a atualização de seu Office 2003. Então eles resolveram parar de vender cópias dele. Agora você vai ter que fazer uma assinatura anual do bicho.
Só que, pra esses planos funcionarem, eles têm que manter os consumidores longe de outros sistemas. E com o Windows Phone afundando em infâmia e fracasso, eles resolveram jogar todo o peso de seu monopólio pra obrigar as pessoas a usá-lo. Eles emendaram um Windows Phone no Windows 8 e ainda tiraram o botão “Iniciar” pra obrigar todo mundo a usar a interface com ladrilhos vivos tirada do Zune.
A interface tem que ser com ladrilhos vivos em vez de ícones porque tem que ser diferente do Android ou iOS. De preferência, tão diferente que deixe o povo com medo de usar os concorrentes. Mas eles já estão acostumados com ícones! Então tem que deixar os ícones lá.
A interface que a Microsoft amarrou ao Windows 8 é particularmente hostil ao velho computador com teclado e mouse. Feita pra touchscreens com menos poder de processamento, só exibe uma janela - e em tela cheia - por vez - e é cheia de atalhos complicados. A aposta deles é que o público de informática, que, tirando os nerds, odeia aprennder algo novo, vai ser obrigado a fazê-lo porque não vai largar os programas que já sabe usar em troca do Linux, por exemplo. Ou pelo Chromebook.
É por isso que o próximo computador que você comprar vai vir com essa “porra de quadrados coloridos”, como classificou minha prima adolescente. Não vai ser fácil pra Microsoft. Eu, como declarei, gosto de coisas gratuitas. Não uso Office há anos, prefiro o LibreOffice, o OpenOffice ou a suíte da IBM. Meu Photoshop é o Gimp. Ainda estou amarrado ao Windows porque meus computadores vieram com ele, mas quando meu lepetope ficar obsoleto, pretendo instalar nele um Linux pra ver se lhe dou uma sobrevida.
Se o Windows 8 realmente ensinar as pessoas a usarem o Windows Phone e ele se tornar o sistema dominante, vai ser uma perda pra diversidade. E pra gratuidade. O Google pode fazer o anúncio (discreto) que quiser com minhas informações de compras. Adoro sistemas operacionais gratuitos e que podem ser modificados ao bel-prazer do fabricante. Adoro a tela grande do Galaxy Note. Adoro espertofones disponíveis a 500 reais e que não são obrigados a seguir parâmetros de fabricação bem definidos da Microsoft. Outro motivo para o (até agora) fracasso retumbante de seu sistema móvel é que ninguém confia nela. O povo ainda lembra do “desenvolvimento conjunto do sucessor do Windows” entre ela e a IBM. A Microsoft largou o sistema no meio. A IBM lançou o OS2, mas como vários programas não eram compatíveis com ele, tivemos que esperar alguns anos por uma cópia inferior, que usava mais memória e mais poder de processamento, o Windows 95.
O Google pode não ser fiel ao seu famoso lema, “não seja maligno”. Pode ser prejudicial também, ao classificar tão facilmente a informação que não nos faz mais gastar horas navegando a internet e aprendendo sobre assuntos completamente disparatados, até achar (ou não) o que estávamos procurando. Pode ter atraído o ódio dos fanáticos por Apple (7). Mas sua abordagem populista é que causou o bum dos espertofones. O Blackberry era caro e para executivos. Pelo preço de um iPhone 5 (o mais barato deles) você compra um aparelho igualmente bom como o Galaxy SIII, um tablet Galaxy de 10 polegadas e ainda tem troco (tudo a preços brasileiros, é claro). Cada um tem seu nicho de mercado e seus seguidores tão hooligans quanto torcedores de futebol. Tanto Apple quanto Google são empresas visionárias, que inovaram e mudaram nossa vida, enquanto a Microsoft sempre teve um único pensamento: como extorquir mais dinheiro dos produtos que já existem?
ATUALIZAÇÃO: mais sobre essa postura da Microsoft nesta reportagem da Forbes: "Eichenwald also reveals that Microsoft had a touch-screen e-reader developed in 1998, but Bill Gatesnixed it because he “‘didn’t like the user interface, because it didn’t look like Windows,’ a programmer involved in the project recalls.” The team that developed the reader was told to stop coming up with new ideas and instead work on software for Microsoft Office that would be instantly profitable. A founder of the group says, “We couldn’t be focused anymore on developing technology that was effective for consumers. Instead, all of a sudden we had to look at this and say, ‘How are we going to use this to make money?’”
(1) Imagino se jornais fossem criados hoje em dia. Um ambicioso gerente junior numa reunião mostra o seu projeto: uma publicação de dezenas, mesmo centenas de páginas, ricas em texto e imagens coloridas, impressa diariamente e entregue na casa de todos os interessados em obtê-la RIGOROSAMENTE ANTES DAS 7 DA MANHÃ, com as notícias do dia, resultados e comentários sobre esportes, análise de todos os eventos culturais acontecendo nas redondezas, e assim por diante. O pica-grossa perguntaria qual o preço estabelecido para tal quimera, e o gerente junior responderia “50 reais por mês”, para a gargalhada geral e o fim de sua promissora carreira.
(2) Sendo o Android aberto, a Amazon o usou em seu tablet e bloqueou a loja do Google. Substituiu-a por uma própria. Mas a maioria dos fabricantes só está preocupada com hardiware e não se dá a esse trabalho. A própria Amazon apenas encomenda suas tabuletinhas a fabricantes e as revende sem lucro, esperando ganhar grana com a lojinha - de tudo, afinal ela é a maior varejista onlaine do planeta Terra.
(3) o iPad ainda tem sozinho metade do mercado de tabuletas, mas o Android também começa a avançar em progressão geométrica nessa área, levando a Grande Maçã a lançar coisas como o iPad Mini pra tentar conter a sangria. Os sinais de que a história dos desktops (contra o Windows) e dos espertofones (contra o Android) pode se repetir são bem fortes.
(4) Se você usa Google Docs - estou usando neste momento pra escrever este artigo - sabe como a coisa funciona. O seu navegador acessa um servidor que estoca o programa que você quer usar - neste caso um processador de texto - e você não precisa guardar praticamente nada no seu próprio computador. Este conceito surgiu nos anos 90 e o Netscape tentou se lançar como sistema operacional assim. Foi por isso que a Microsoft lutou furiosamente para exterminá-lo oferecendo o Internet Explorer de graça. Só que esta gratuidade não era para lucrar colateralmente, como no caso do Google. Era puro abuso de poder econômico. Bill Gates queria impedir que surgisse um novo concorrente. O Explorer, mesmo naquela época, era um programa ruim, lento, e que ocupava muito espaço em disco - mais de 60 megabytes numa época em que só HDs caríssimos chegavam a 1 gigabyte. O Netscape, no entanto, no afã de se impor à Microsoft, em sua versão 3.0 tentou ser navegador, email, FTP, leitor de grupos de notícias, editor HTML e, ocupando 100 megabytes, e igualmente lerdo, obrigava-o a escolher entre o produto que já vinha no Windows (e era difícil desinstalar) e ele. Adivinha quem ganhou. Já o WebPC, a máquina que funcionaria sem nenhum programa, ficaria tudo na internet, como o Chromebook, foi um completo fracasso. Na época do acesso discado (dominante mesmo lá fora), o conceito era impensável. Além do mais, os fabricantes acharam que o público-alvo de internet eram jovens (o que, pelo menos no Brasil, era), logo gostava de jogar, e tinha que ter um processador gráfico bom, além de um (na época) caro drive de CD, e a máquina barata acabava custando tanto quanto um PC completo porém com especificações básicas. O Google e a Samsung cometeram o mesmo erro quando lançaram a primeira geração de Chromebook, a 500 dólares (embora as máquinas fossem lindas). Eles não contavam com o surgimento do tablet, que apareceu bem no meio do desenvolvimento. Pretendiam competir contra o netbook, que foi atropelado pelo iPad e sumiu na poeira. A segunda geração tem o preço mais acessível de 250 dólares, mas na era do tablet Android a 199 dólares, só eu e outros chatos ainda fazem questão de teclado. E esse pessoal não quer um WebPC, quer uma máquina que edite fotos, vídeos, tenha bom desempenho etc. etc.
(5) A coisa não tinha multitarefa, seus ícones (os ladrilhos vivos, ou live tiles) ocupavam um espaço enorme naquelas telas pequenas, não ancorava outros aparelhos (ou seja, você não podia ligar um tablet wi-fi usando a conta de 3G do telefone), usa o Bing como buscador (você tem ideia do que seja o Bing?), não dava apoia a chips multiprocessadores, tinha problemas de bateria, desperdiçava a tela com seu grafismo (inegavelmente belo, mas que começa já a parecer meio defasado), não tinha telas de alta definição, mas todo mundo adorava. E a mesma galera que vivia reclamando que o Android tinha um mercado fragmentado e não conseguia atualizar todos os telefones achou lindo quando a Microsoft avisou que não atualizaria nenhum aparelho para o Windows Phone 8 porque eles precisavam evoluir...
(6) Foi por isso que quando os netbooks surgiram em 2007, trazendo no bojo Linux, eles ressuscitaram o Windows XP e o ofereceram quase de graça aos fabricantes. O pavor deles é que as pessoas aprendam a usar outro sistema operacional.
(7) Uma das matérias mais parciais que vi no ano passado foi de um repórter fã da Apple indignado com o Google Goggles, os óculos com monitor com informações e câmera que eles estão desenvolvenndo há algum tempo. O jornalista, furibundo, dizia que a empresa mostrava que não tinha nenhuma habilidade social, era um bando de geeks, nerds e manés, que ninguém iria gastar entre 500 e 1.000 dólares pra sair na rua parecendo um ciborgue assassino. É claro que eu sei que não sou parâmetro pra humanidade, portanto achar que um look ciborgue assassino futurista é fantástico pode ser só um gosto meu, mas consultei três amigas estilistas minhas: “você acha que existe público prum acessório hi-tech que é caro (e, portanto símbolo de status), que você pode exibir claramente (ao contrário de um iPhone, por exemplo, que pelo menos teoricamente passa a maior parte do tempo no bolso) e que a faria parecer um ciborgue assassino futurista?” e as três concordaram entusiasticamente. Também perguntei a alguns adolescentes da escola e não só eles acharam fantástico como um deles até hoje me pergunta se eu sei quando vai ser lançado.
Graças a essa bem sacada ideia de vender anúncios contextuais, o Google pode oferecer um monte de serviços de graça. Nenhum problema, a televisão e o rádio também eram gratuitos nessa base e jornais (1) e revistas assim sempre ofereceram um generoso desconto frente a seus custos. O buscador também exibe sua publicidade de forma muito mais amistosa e discreta do que, por exemplo, o Caralivro, que fica enfiando postagens de Doritos na minha Linha do Tempo, disfarçadas como de amigos, e vem aumentando cada vez mais a frequência e o mau-gosto dessas coisas. Amanhã a gente muda pro Google+ e eles reclamam.
Boa parte da paranoia sobre privacidade também é menos bem-intencionada ou oriunda de mentes progressistas e libertárias do que se supõe. Neste artigo da Wired, para os angloparlantes, o repórter expõe como esse lobby pró-intimidade é fortemente movido a grana da Microsoft, que não sabe mais o que fazer pra se manter na crista da onda. E olha que a matéria da revista é de 2009, bem antes do Android dominar o mundo.
O Android, vocês devem saber, é o sistema operacional que o Google criou para espertofones. Depois que o Blackberry botou um computadorzinho nas mãos dos executivos, e a Apple mostrou que ele podia ser divertido também, a galera do buscador resolveu investir na área também. Com uma diferença: em vez de fabricar seus telefones, como a empresa (então) do Steve Jobs e a RIM, ou vender o sistema operacional para quem quisesse enfiá-lo em seus celulares, eles resolveram dá-lo de graça. De 2009 pra cá eles saíram praticamente do zero, e de piada entre os fãs do iPhone, para dominarem 75% do mercado mundial.
O Android começou feio e ineficiente, é verdade, mas essa ideia de oferecê-lo de graça foi um lance de gênio. Os fabricantes começaram todos a lançar seus modelos e empurrar rapidamente a evolução dos produtos. Lançaram telefones baratos, telefones caros, (muitos) telefones ruins, clássicos como o Samsung Galaxy SII e novos padrões de mercado com o celular/tablet Galaxy Note (que a crítica especializada, até hoje fascinada pelo iPhone, ridicularizou e achou que não teria público). O Google pesquisa e desenvolve o sistema e o entrega a quem quiser, sem custo nenhum. Em compensação, eles têm uma loja onde vendem programetos para os consumidores, levando 30% da grana da galera que os desenvolveu (seja no preço do aplicativo ou no dos anúncios que ele exibe, quando é de graça). O Android também vem com todos os produtos do Google (Gmail, Mapas, buscador, Drive etc.), com os quais eles levantam também uma grana de publicidade (2).
E o Android segue firme e forte. Há um ano se você fosse a um show no Circo Voador, quase todo telefone que se levantasse pra filmar seria um iPhone. Hoje em dia praticamente todos são Android. Steve Jobs ficou puto com essa concorrência desleal e declarou guerra termonuclear ao Google, mas na verdade, face à enorme margem de lucro da Apple, e como ela fabrica o equipamento e fornece o sistema, mesmo que ela mantenha seus 15% do mercado ou caia um pouco mais, vai continuar atochando seu rabo de dinheiro sobremaneira.
Aliás, os produtos Apple são tão bem feitos e acabados (mesmo com o iOS ficando cada vez mais pra trás em termos de inovação e evolução) que o pessoal que começa a usar o iPhone acaba comprando um iPad (3) e, já viciado em iTunes e com dois iParelhos, quando dá um pau no computador começa seriamente a pensar em trocá-lo por um McBook ou iMac (como fez recentemente, por exemplo, Arnaldo Bloch). O mesmo poderia acontecer com um usuário de Android, se o Google tivesse um sistema pra lepetopes ou máquinas de mesa, o que ainda não acontece. Alguns fabricantes chineses enfiaram o sistema em seus netbooks, um formato moribundo, e o próprio Google lançou com a Samsung uns notebooks baratinhos (porém bonitos e práticos), sob a marca “Chromebook”, que dispensa sistema operacional, usando apenas um navegador pra funcionar (4).
Foi por isso que a Microsoft, que desde que o Bill Gates resolveu virar Madre Teresa de Calcutá, não encontra o rumo, se apavorou. O gerentão da empresa, o Steve Ballmer, que ridicularizou o iPhone e o iPad quando eles saíram, mandou a turma da engenharia da firma queimar a mufla pra fazer pra ontem um sistema operacional de telefones. E, quando ninguém se interessou por ele, eles subornaram a Nokia, que estava sendo presidida por um ex-funcionário da Microsoft (que, usando o que aprendeu nos EUA, também estava deixando o gigante finlandês sem rumo), pra construir espertofones pra eles.
Mas por que ninguém se interessou pelo Windows Phone? O Windows Mobile equipou xing-lings e Palmtops durante anos e anos e até ontem ainda era o sistema mais vendido no Brasil, por exemplo. Os saites de tecnologia adoraram a coisa (5). E o grafismo (retirado do fracassado iPod da Microsoft, o Zune) era lindo. Por que não o fabricar?
A economia, estúpido.
A Apple fabrica seus próprios aparelhos. O Google dá de graça o Android. A Microsoft, que esperava não deixar futuros consumidores de sistemas operacionais de mesa escapar, vendia o seu produto por 30 dólares. Num mercado onde as margens de lucro (tirando as da Apple) são muito pequenas, 30 dólares pode ser simplesmente a diferença entre o fracasso e o sucesso de um produto.
Mas a Microsoft conseguiu arrebanhar alguns fabricantes. Alguns deles com processos sobre patentes que o Android supostamente infringiria. Algumas marcas acordaram em pagar royalties e fabricar Windows Phones para evitar julgamento. E a Nokia foi praticamente subornada pra fabricar só Windows Phones. Até agora as duas só perderam dinheiro. A Microsoft, na verdade, ganha mais dinheiro com seus royalties sobre o Android do que com o Windows Phone.
Cobrar por um sistema operacional móvel parece ser hoje em dia um modelo de negócio completamente ultrapassado. Talvez outras considerações tenham entrado em vigor - talvez a Microsoft não quisesse oferecer o Windows Phone de graça pra evitar outros processos de monopólio como aconteceu na era do Internet Explorer. Ou talvez eles estejam tão perdidos que só consigam pensar em arrancar mais e mais dinheiro de onde puderem. Desde o Vista que eles inventaram diversas versões de produto, para poderem cobrar uma fortuna de empresas (que não costumam ter outras opções a não ser ceder à extorsão) e manter o preço relativamente baixo pro pessoal em casa. Afinal de contas, eles não querem que essa turma experimente coisas como o gratuito Linux e depois queiram levá-lo para o trabalho (incidentalmente, é por isso que a Microsoft tolera que em mercados emergentes como o Brasil praticamente todas as cópias caseiras de Windows sejam piratas) (6).
Outro exemplo é o Office. Quando ele apareceu, a cada nova versão ele trazia novidades que não podiam ser deixadas de lado. Integração com a Web, gráficos melhores, formatação mais rápida e simples... mas existe um limite pra inovação nesse segmento. Tirando um melhor grafismo e uma melhor interface, há pouco onde melhorar essa suite. Ela já é um produto maduro. Não existe nenhum motivo realmente importante pra você fazer a atualização de seu Office 2003. Então eles resolveram parar de vender cópias dele. Agora você vai ter que fazer uma assinatura anual do bicho.
Só que, pra esses planos funcionarem, eles têm que manter os consumidores longe de outros sistemas. E com o Windows Phone afundando em infâmia e fracasso, eles resolveram jogar todo o peso de seu monopólio pra obrigar as pessoas a usá-lo. Eles emendaram um Windows Phone no Windows 8 e ainda tiraram o botão “Iniciar” pra obrigar todo mundo a usar a interface com ladrilhos vivos tirada do Zune.
A interface tem que ser com ladrilhos vivos em vez de ícones porque tem que ser diferente do Android ou iOS. De preferência, tão diferente que deixe o povo com medo de usar os concorrentes. Mas eles já estão acostumados com ícones! Então tem que deixar os ícones lá.
A interface que a Microsoft amarrou ao Windows 8 é particularmente hostil ao velho computador com teclado e mouse. Feita pra touchscreens com menos poder de processamento, só exibe uma janela - e em tela cheia - por vez - e é cheia de atalhos complicados. A aposta deles é que o público de informática, que, tirando os nerds, odeia aprennder algo novo, vai ser obrigado a fazê-lo porque não vai largar os programas que já sabe usar em troca do Linux, por exemplo. Ou pelo Chromebook.
É por isso que o próximo computador que você comprar vai vir com essa “porra de quadrados coloridos”, como classificou minha prima adolescente. Não vai ser fácil pra Microsoft. Eu, como declarei, gosto de coisas gratuitas. Não uso Office há anos, prefiro o LibreOffice, o OpenOffice ou a suíte da IBM. Meu Photoshop é o Gimp. Ainda estou amarrado ao Windows porque meus computadores vieram com ele, mas quando meu lepetope ficar obsoleto, pretendo instalar nele um Linux pra ver se lhe dou uma sobrevida.
Se o Windows 8 realmente ensinar as pessoas a usarem o Windows Phone e ele se tornar o sistema dominante, vai ser uma perda pra diversidade. E pra gratuidade. O Google pode fazer o anúncio (discreto) que quiser com minhas informações de compras. Adoro sistemas operacionais gratuitos e que podem ser modificados ao bel-prazer do fabricante. Adoro a tela grande do Galaxy Note. Adoro espertofones disponíveis a 500 reais e que não são obrigados a seguir parâmetros de fabricação bem definidos da Microsoft. Outro motivo para o (até agora) fracasso retumbante de seu sistema móvel é que ninguém confia nela. O povo ainda lembra do “desenvolvimento conjunto do sucessor do Windows” entre ela e a IBM. A Microsoft largou o sistema no meio. A IBM lançou o OS2, mas como vários programas não eram compatíveis com ele, tivemos que esperar alguns anos por uma cópia inferior, que usava mais memória e mais poder de processamento, o Windows 95.
O Google pode não ser fiel ao seu famoso lema, “não seja maligno”. Pode ser prejudicial também, ao classificar tão facilmente a informação que não nos faz mais gastar horas navegando a internet e aprendendo sobre assuntos completamente disparatados, até achar (ou não) o que estávamos procurando. Pode ter atraído o ódio dos fanáticos por Apple (7). Mas sua abordagem populista é que causou o bum dos espertofones. O Blackberry era caro e para executivos. Pelo preço de um iPhone 5 (o mais barato deles) você compra um aparelho igualmente bom como o Galaxy SIII, um tablet Galaxy de 10 polegadas e ainda tem troco (tudo a preços brasileiros, é claro). Cada um tem seu nicho de mercado e seus seguidores tão hooligans quanto torcedores de futebol. Tanto Apple quanto Google são empresas visionárias, que inovaram e mudaram nossa vida, enquanto a Microsoft sempre teve um único pensamento: como extorquir mais dinheiro dos produtos que já existem?
ATUALIZAÇÃO: mais sobre essa postura da Microsoft nesta reportagem da Forbes: "Eichenwald also reveals that Microsoft had a touch-screen e-reader developed in 1998, but Bill Gatesnixed it because he “‘didn’t like the user interface, because it didn’t look like Windows,’ a programmer involved in the project recalls.” The team that developed the reader was told to stop coming up with new ideas and instead work on software for Microsoft Office that would be instantly profitable. A founder of the group says, “We couldn’t be focused anymore on developing technology that was effective for consumers. Instead, all of a sudden we had to look at this and say, ‘How are we going to use this to make money?’”
(1) Imagino se jornais fossem criados hoje em dia. Um ambicioso gerente junior numa reunião mostra o seu projeto: uma publicação de dezenas, mesmo centenas de páginas, ricas em texto e imagens coloridas, impressa diariamente e entregue na casa de todos os interessados em obtê-la RIGOROSAMENTE ANTES DAS 7 DA MANHÃ, com as notícias do dia, resultados e comentários sobre esportes, análise de todos os eventos culturais acontecendo nas redondezas, e assim por diante. O pica-grossa perguntaria qual o preço estabelecido para tal quimera, e o gerente junior responderia “50 reais por mês”, para a gargalhada geral e o fim de sua promissora carreira.
(2) Sendo o Android aberto, a Amazon o usou em seu tablet e bloqueou a loja do Google. Substituiu-a por uma própria. Mas a maioria dos fabricantes só está preocupada com hardiware e não se dá a esse trabalho. A própria Amazon apenas encomenda suas tabuletinhas a fabricantes e as revende sem lucro, esperando ganhar grana com a lojinha - de tudo, afinal ela é a maior varejista onlaine do planeta Terra.
(3) o iPad ainda tem sozinho metade do mercado de tabuletas, mas o Android também começa a avançar em progressão geométrica nessa área, levando a Grande Maçã a lançar coisas como o iPad Mini pra tentar conter a sangria. Os sinais de que a história dos desktops (contra o Windows) e dos espertofones (contra o Android) pode se repetir são bem fortes.
(4) Se você usa Google Docs - estou usando neste momento pra escrever este artigo - sabe como a coisa funciona. O seu navegador acessa um servidor que estoca o programa que você quer usar - neste caso um processador de texto - e você não precisa guardar praticamente nada no seu próprio computador. Este conceito surgiu nos anos 90 e o Netscape tentou se lançar como sistema operacional assim. Foi por isso que a Microsoft lutou furiosamente para exterminá-lo oferecendo o Internet Explorer de graça. Só que esta gratuidade não era para lucrar colateralmente, como no caso do Google. Era puro abuso de poder econômico. Bill Gates queria impedir que surgisse um novo concorrente. O Explorer, mesmo naquela época, era um programa ruim, lento, e que ocupava muito espaço em disco - mais de 60 megabytes numa época em que só HDs caríssimos chegavam a 1 gigabyte. O Netscape, no entanto, no afã de se impor à Microsoft, em sua versão 3.0 tentou ser navegador, email, FTP, leitor de grupos de notícias, editor HTML e, ocupando 100 megabytes, e igualmente lerdo, obrigava-o a escolher entre o produto que já vinha no Windows (e era difícil desinstalar) e ele. Adivinha quem ganhou. Já o WebPC, a máquina que funcionaria sem nenhum programa, ficaria tudo na internet, como o Chromebook, foi um completo fracasso. Na época do acesso discado (dominante mesmo lá fora), o conceito era impensável. Além do mais, os fabricantes acharam que o público-alvo de internet eram jovens (o que, pelo menos no Brasil, era), logo gostava de jogar, e tinha que ter um processador gráfico bom, além de um (na época) caro drive de CD, e a máquina barata acabava custando tanto quanto um PC completo porém com especificações básicas. O Google e a Samsung cometeram o mesmo erro quando lançaram a primeira geração de Chromebook, a 500 dólares (embora as máquinas fossem lindas). Eles não contavam com o surgimento do tablet, que apareceu bem no meio do desenvolvimento. Pretendiam competir contra o netbook, que foi atropelado pelo iPad e sumiu na poeira. A segunda geração tem o preço mais acessível de 250 dólares, mas na era do tablet Android a 199 dólares, só eu e outros chatos ainda fazem questão de teclado. E esse pessoal não quer um WebPC, quer uma máquina que edite fotos, vídeos, tenha bom desempenho etc. etc.
(5) A coisa não tinha multitarefa, seus ícones (os ladrilhos vivos, ou live tiles) ocupavam um espaço enorme naquelas telas pequenas, não ancorava outros aparelhos (ou seja, você não podia ligar um tablet wi-fi usando a conta de 3G do telefone), usa o Bing como buscador (você tem ideia do que seja o Bing?), não dava apoia a chips multiprocessadores, tinha problemas de bateria, desperdiçava a tela com seu grafismo (inegavelmente belo, mas que começa já a parecer meio defasado), não tinha telas de alta definição, mas todo mundo adorava. E a mesma galera que vivia reclamando que o Android tinha um mercado fragmentado e não conseguia atualizar todos os telefones achou lindo quando a Microsoft avisou que não atualizaria nenhum aparelho para o Windows Phone 8 porque eles precisavam evoluir...
(6) Foi por isso que quando os netbooks surgiram em 2007, trazendo no bojo Linux, eles ressuscitaram o Windows XP e o ofereceram quase de graça aos fabricantes. O pavor deles é que as pessoas aprendam a usar outro sistema operacional.
(7) Uma das matérias mais parciais que vi no ano passado foi de um repórter fã da Apple indignado com o Google Goggles, os óculos com monitor com informações e câmera que eles estão desenvolvenndo há algum tempo. O jornalista, furibundo, dizia que a empresa mostrava que não tinha nenhuma habilidade social, era um bando de geeks, nerds e manés, que ninguém iria gastar entre 500 e 1.000 dólares pra sair na rua parecendo um ciborgue assassino. É claro que eu sei que não sou parâmetro pra humanidade, portanto achar que um look ciborgue assassino futurista é fantástico pode ser só um gosto meu, mas consultei três amigas estilistas minhas: “você acha que existe público prum acessório hi-tech que é caro (e, portanto símbolo de status), que você pode exibir claramente (ao contrário de um iPhone, por exemplo, que pelo menos teoricamente passa a maior parte do tempo no bolso) e que a faria parecer um ciborgue assassino futurista?” e as três concordaram entusiasticamente. Também perguntei a alguns adolescentes da escola e não só eles acharam fantástico como um deles até hoje me pergunta se eu sei quando vai ser lançado.
janeiro 07, 2013
Freaks
Perscrutando a floresta
Sem pernas, mas com a faca nos dentes
Os olhos derretem perto do fogo
A baba deixa uma trilha como um caramujo
O coração clama por vingança
E os inimigos se riem em fuga
Desavisados e inadvertidos
Vulneráveis e inalcançáveis
Mas um dia seu dia irá chegar
Os Vulcanos Não Têm Emoções
Eis a prova, em glorioso "isso que os terráqueos chamam de roquenrou". Destaque também para o solo de Moog.
janeiro 06, 2013
A Invenção da Retranca - Parte II
Jarnac e Châtaigneraye num espetáculo sobre o duelo
Em 1547, Guy Chabot, o Barão de Jarnac, por obra das intrigas das amantes do rei e do delfim de França, precisava enfrentar, em um duelo de julgamento por combate, seu velho amigo François de Vivonne, Senhor de Châtaigneraye, o maior espadachim e duelista francês da época, homem mais forte, rápido, ágil e talentoso do que ele. O que fazer?
Chabot contratou como técnico particular de esgrima, seu personal trainer, o capitão Caizo, um renomado mestre italiano. Com astúcia e inteligência, os dois traçaram passo a passo a estratégia que o Barão de Jarnac deveria seguir se quisesse sair vivo de seu confronto com Châtaigneraye, já que a personalidade excessiva e vaidosa deste último costumava levar às últimas consequências os duelos em que se metia.
Como parte ofendida, cabia a Chabot, segundo as regras, escolher as armas. As escolhidas foram escudo e espada. E por espada entenda-se espada mesmo e não o veloz florete. A espada era mais pesada e se prestava tão bem para cortar o adversário quanto para estocá-lo. Não podendo ser manejada com tanta agilidade quanto o florete, já era uma vantagem para Chabot.
Somando-se à espada o escudo e mais armadura peitoral, a velocidade superior de Vivonne ficaria já bem prejudicada. Mas não teria sido só por isso que Caizo teria aconselhado seu pupilo a escolher esse equipamento. Bem protegido, o Barão de Jarnac poderia aguentar as investidas de seu adversário, ainda mais se fosse disciplinado e calmo o suficiente para se limitar à defesa, concentrando-se somente em impedir os ataques de Vivonne, usando até mesmo a espada principalmente para isso.
Vai começar o julgamento por combate
Como a personalidade e o estilo de luta de Vivonne eram bem conhecidos de Chabot, ele e Caizo sabiam que, como sói acontecer com os viventes talentosos e técnicos, o Senhor de Châtaigneraye gostava de partir para cima e tentar resolver logo o assunto. O italiano, conhecedor das técnicas de combate de espada e escudo, apostou que ele tentaria mais cedo ou mais tarde um ataque por cima que, quando bem encaixado, decidia a luta. Portanto, ele preparou seu pupilo para defletir esse movimento e surpreender o adversário com uma manobra inesperada.
Durante um mês Caizo e Chabot treinaram exaustivamente a tática desenvolvida pelo mestre italiano. Enquanto isso, fiel a sua reputação, Vivonne jactava-se de que venceria facilmente o duelo, ofereceu um banquete antes da luta em comemoração à vitória e preparou os festejos para a celebração depois do combate. Finalmente chegou o dia do confronto. De um lado, com o velado apoio do rei e franco favorito, o Senhor de Châtaigneraye, o maior espadachim da França, forte, rápido, ágil e habilidoso. De outro, o Barão de Jarnac, vítima de rumores e boatos por causa da amante real, não tão talentoso ou experiente, mas bem preparado, disciplinado e com uma estratégia preparada até o último detalhe. Estava armado o cenário para um dos duelos mais famosos da história. (continua)
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