Joseph Campbell culpa a falta de mitos e ritos de passagem em nossa sociedade pela personalidade frágil moderna e sua suscetibilidade ao estresse e às pressões, sua sensação de abandono e desamparo, seu egocentrismo e falta de rumo espiritual, aquele medo de assumir responsabilidades, enfim, sua puerilidade, sua imaturidade... Quando exatamente sabemos que não somos mais meninos? Em minha infância havia ainda muitas coisas que se podiam dizer inegavelmente de criança: balas, revistas em quadrinhos, desenhos animados, videogames, coleção de miniaturas... estão entendendo aonde eu quero chegar?
Nas sociedades mais antigas e/ou mais primitivas, a transformação do adolescente em adulto não era um processo vago e longo. Em certa idade você passava por um ritual, normalmente exaustivo e desafiador, e pronto, não havia dúvida, você era um adulto. Em Roma, por exemplo, o debutante recebia sua toga; em culturas de caça e coleta envolvia normalmente um êxtase místico, a perfuração para receber brincos ou aros, que causavam deformações em orelhas, lábios, narizes, ou então cortes nos membros e no torso, tatuagens, enfim, o adolescente era testado, era exposto à dor de crescer e saber-se mais perto da morte e era mesmo fisicamente transformado. Ao voltar de sua iniciação o seu corpo definitivamente não era mais o mesmo, você tinha marcas que mostravam que você era adulto e não iriam deixá-lo voltar a agir como criança.
Nessas culturas o indivíduo neurótico ou desajustado não durava muito. Se os adultos percebiam durante o ritual qualquer incapacidade, o adolescente se tornava um pária, era expulso da tribo ou em casos mais extremos, era morto pelos que o iniciavam. A sociedade em questão era mais vigorosa e homogênea, com um forte senso de identificação com os objetivos e finalidades das pessoas em volta.
Só que havia um preço a se pagar: a perda do pensamento original e da criatividade.
janeiro 06, 2006
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