janeiro 31, 2007
janeiro 29, 2007
janeiro 19, 2007
Minhas Poesias Favoritas
Invictus
(William Ernest Henley)
OUT of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
am the captain of my soul.
Tradução livre por mim mesmo:
Do fundo da noite que me envolve
Negra como o Inferno de um pólo ao outro
Eu agradeço aos deuses, sejam eles quais forem
Pela minha alma inconquistável
Sob as garras das circunstâncias
Não protestei e nem me encolhi
Sob os golpes do destino
Minha cabeça está ensanguentada, mas não fendida!
Além deste vale de cólera e lágrimas
Esgueira-se o horror da treva eterna
No entanto sempre a ameaça dos anos
me encontrou e me encontrará sem temor
Não importa quão estreito seja o portão
Ou ameaçadoras as maldições para quem atravessá-lo:
Eu sou o dono do meu destino
Eu sou o comandante da minha alma!
(Numa velha tira que em certa época foi um sucesso cult, FRANK & ERNEST, Frank uma vez disse: "sou o dono do meu destino! Sou o comandante da minha alma! E também sou maluco!)
(William Ernest Henley)
OUT of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
am the captain of my soul.
Tradução livre por mim mesmo:
Do fundo da noite que me envolve
Negra como o Inferno de um pólo ao outro
Eu agradeço aos deuses, sejam eles quais forem
Pela minha alma inconquistável
Sob as garras das circunstâncias
Não protestei e nem me encolhi
Sob os golpes do destino
Minha cabeça está ensanguentada, mas não fendida!
Além deste vale de cólera e lágrimas
Esgueira-se o horror da treva eterna
No entanto sempre a ameaça dos anos
me encontrou e me encontrará sem temor
Não importa quão estreito seja o portão
Ou ameaçadoras as maldições para quem atravessá-lo:
Eu sou o dono do meu destino
Eu sou o comandante da minha alma!
(Numa velha tira que em certa época foi um sucesso cult, FRANK & ERNEST, Frank uma vez disse: "sou o dono do meu destino! Sou o comandante da minha alma! E também sou maluco!)
janeiro 16, 2007
Exposições em Geral
Fotos tiradas em museus e exposições. As aí de baixo é porque voltei ao MAC este ano pra ver as estátuas de deuses gregos - e não achei lá tão grande coisa. Gostei mais do segundo andar, onde tem as cerâmicas.
Mesma paisagem da primeira foto que postei neste blog, mas agora mais escura e sem a moça pensativa.
Simone alguns momentos antes d'eu vir a saber o nome dela.
Roger com um estranho aparelho que grava imagens, mas não é capaz de mostrar como elas ficaram e que exige que você o leve a locais rituais onde extrairão as entranhas dele para, após untá-las com poções, fazer aparecer as "fotografias" capturadas (Roger é o PHD de Filosofia da turma - philosophical doctor mesmo! Especializado em Teoria dos Jogos, o link para seu site, "filosofia para quem pensa em português", está debaixo de meu perfil, na minha lista de favoritos).
Mesma paisagem da primeira foto que postei neste blog, mas agora mais escura e sem a moça pensativa.
Simone alguns momentos antes d'eu vir a saber o nome dela.
Roger com um estranho aparelho que grava imagens, mas não é capaz de mostrar como elas ficaram e que exige que você o leve a locais rituais onde extrairão as entranhas dele para, após untá-las com poções, fazer aparecer as "fotografias" capturadas (Roger é o PHD de Filosofia da turma - philosophical doctor mesmo! Especializado em Teoria dos Jogos, o link para seu site, "filosofia para quem pensa em português", está debaixo de meu perfil, na minha lista de favoritos).
Exposição Caminho de São Tiago no Museu Histórico Nacional
Sherman
Jamais um tanque fabuloso como o T-34 ou o Pantera, o Sherman no entanto era confiável, barato e fácil de produzir e seu desenho era altamente adaptável - foi usado por Israel ainda na Guerra do Yom Kippur, no modelo "Super Sherman", o qual só com uma longa olhada dava pra reconhecer como sendo este carro de combate aí em cima.
O Alto Comando Aliado calculava que eram necessários 4 Shermans - com este canhão de 75 mm, depois o de 76,2 mm melhorou as coisas - pra enfrentar um Pantera alemão. Mas o Pantera era mais caro e trabalhoso de produzir e, devido à sua mecânica complicada, quebrava com mais facilidade. Resultado: nunca havia mais de um Pantera pra enfrentar quatro Shermans. Foram produzidos mais de TRINTA MIL desses tanques. Não foi à toa que os americanos ajudaram bastante os soviéticos a vencer os alemães a II Guerra.
Foto tirada também no Museu do Exército, em São Cristóvão, em frente à Quinta da Boa Vista.
A Blietzkrieg Alemã - Parte III
Renault FT, o mais bem-sucedido tanque francês da I Guerra Mundial (e um dos primeiros), esteio do contra-ataque fulminante de Mangin que ocasionou o 8 de Agosto de 1918 (Foto tirada no Museu do Exército, em frente à Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. Surpreendentemente tem um ótimo acervo. Vale a pena visitá-lo. É de graça, gente).
Leia mais sobre o assunto aqui.
Os Não Tão Mais Belos Poemas de Amor
Nenhuma brisa
Nenhuma respiração
A casa morta
As luzes todas acesas desnudando-a
e revelando toda sua palidez cadavérica
Um lar exalado
Sem o seu bafo
Sem o seu ar
Sem a sua inspiração
Sem a sua transpiração
E o verão das ruas cobre-me de pó e suor
Nenhuma respiração
A casa morta
As luzes todas acesas desnudando-a
e revelando toda sua palidez cadavérica
Um lar exalado
Sem o seu bafo
Sem o seu ar
Sem a sua inspiração
Sem a sua transpiração
E o verão das ruas cobre-me de pó e suor
janeiro 14, 2007
Playoffs da NFL
A grande questão dos playoffs até agora é: quem vendeu a alma ao Diabo para a defesa dos Colts jogar o que está jogando?
A minha aposta é que foi o próprio Peyton Manning, que está jogando ainda abaixo do que costuma fazer em playoffs, quando sempre amarela. Ele chamou o tinhoso, executando um ritual que estudou em diversos livros sobre o assunto, e não teve muitas dificuldades em fazer a invocação, já que pantomima na convocação é com ele mesmo. Aí ele disse que queria uma defesa que o levasse a ganhar o Superbowl, só que como ele desde pequeno sempre viu muitos VTs de futebol americano em vez de ficar vendo Sessão da Tarde ou lendo HQs de terror da EC e da Warren, ou assistindo Além da Imaginação, não aprendeu que o demo sempre cumpre sua palavra, mas com um truque; no caso, o Manning vai ser campeão finalmente e todo mundo só vai falar para todo o smepre da defesa.
E o pobre Peyton, que não consegue ganhar por causa da pressão sobre si mesmo, cuja vida não terá significado se ele não for o melhor quarterback da história, enlouquecerá com a ironia, passando os restos de seus dias em um asilo.
Ele devia ter visto mais Além da Imaginação. Raios, o cara morava em Nova Orleans. Ele deveria saber que isso aconteceria.
A minha aposta é que foi o próprio Peyton Manning, que está jogando ainda abaixo do que costuma fazer em playoffs, quando sempre amarela. Ele chamou o tinhoso, executando um ritual que estudou em diversos livros sobre o assunto, e não teve muitas dificuldades em fazer a invocação, já que pantomima na convocação é com ele mesmo. Aí ele disse que queria uma defesa que o levasse a ganhar o Superbowl, só que como ele desde pequeno sempre viu muitos VTs de futebol americano em vez de ficar vendo Sessão da Tarde ou lendo HQs de terror da EC e da Warren, ou assistindo Além da Imaginação, não aprendeu que o demo sempre cumpre sua palavra, mas com um truque; no caso, o Manning vai ser campeão finalmente e todo mundo só vai falar para todo o smepre da defesa.
E o pobre Peyton, que não consegue ganhar por causa da pressão sobre si mesmo, cuja vida não terá significado se ele não for o melhor quarterback da história, enlouquecerá com a ironia, passando os restos de seus dias em um asilo.
Ele devia ter visto mais Além da Imaginação. Raios, o cara morava em Nova Orleans. Ele deveria saber que isso aconteceria.
Meus 10 Discos Favoritos de Rock Brasileiro
Já que falei do show d´OS MUTANTES que vou ver (foda-se que é com Zélia Duncan. Foda-se que o Arnaldo Baptista está pior do que o Brian Wilson no show que vi no Hollywood Rock. O Minhoca não vai a Buenos Aires pra ver um The Who com Roger Daltrey afônico, Pete Townshend surdo e os outros dois mortos? Pelo menos o DVD dos Mutantes com a apresentação na Inglaterra é ótimo!), resolvi declinar meus álbuns favoritos de rock brasileiro.
Antes que me acusem de qualquer coisa, vou logo avisando alguns critérios que escolhi: nenhuma banda com mais de um disco; a importância e a influência no que se seguiu conta pra burro e por isto a lista parece dar mais destaque aos mais antigos. Devo confessar que como é a lista dos MEUS favoritos, deixei de fora um álbum seminal para o rock brasileiro, o primeiro do Kid Abelha, que conseguiu o fabuloso feito de que TODAS as músicas foram sucesso nas rádios. Gosto de alguns trabalhos dele mais tardios, mas ainda assim não o suficiente pra pô-los na minha lista.
Então, eis aí minha seleção:
1. Ando Meio Desligado ou A Divina Comédia (Mutantes) 1970
Não, não fiquei na dúvida entre dois grandes álbuns. Já em 1970 os Mutantes, sempre mundialmente à frente de seu tempo, lançavam discos com duas capas e dois nomes diferentes, uma delas simplesmente fabulosa, uma belíssima foto preto-e-branco de Arnaldo Baptista erguendo-se de um túmulo enquanto Rita Lee como Dante e Sérgio Dias como Virgílio observam, reproduzindo uma gravura de Doré para (dã) A DIVINA COMÉDIA. A capa alternativa mostrava Rita na cama com os dois irmãos enquanto Liminha toma um cafezinho ao lado, sugerindo práticas sexuais ousadas e heterodoxas para o Brasil do AI-5.
Os Mutantes foi a melhor banda de rock que este país já teve. Pena que a gravadora tenha desistido de lançá-los internacionalmente. Descobriram o erro quando eles se tornaram famosos no mundo todo vinte anos depois de cada um seguir seu caminho. É difícil dizer qual o melhor disco, mas fico com este pelo belo apanhado do fantástico alcance deles. Da extremamente simpática ANDO MEIO DESLIGADO, que Marisa Monte regravou para se lançar e o Pato Fu botou em disco pra consolidar sua imagem de "somos os Mutantes como eles seriam hoje em dia" (mas não se pode culpar Arnaldo, Sérgio e Rita por nada disso), à sublime AVE, LÚCIFER, passando pelo deboche, literal em CHÃO DE ESTRELAS (com efeitos sonoros sublinhando a letra) e nonsense no bluesão MEU REFRIGERADOR NÃO FUNCIONA. Magnífico.
As outras grandes obras dos Mutantes: OS MUTANTES (1968), MUTANTES (1969), JARDIM ELÉTRICO (1971). Seguindo de perto, MUTANTES E COMETAS NO PAÍS DOS BAURETS (1973).
2. O Inimitável Roberto Carlos (Roberto Carlos) 1968
Parece inacreditável, mas ainda tem gente que não gosta de Roberto Carlos, ou acha que ele teve lá sua importância, ou acha gostosinhas as músicas da Jovem Guarda. Na década de 70 ele era acusado principalmente por ser alienado, cantando sobre amor e dor-de-cotovelo, o que mostra que, como sempre, sutileza não é o forte de intelectuais militantes de esquerda. A profunda melancolia que perpassa a produção do Rei, principalmente a partir de 1968 é a coisa mais parecida com o clima de falta de perspectiva de TERRA EM TRANSE já aposto em vinil. A letra de AS FLORES DO JARDIM DA NOSSA CASA parece a continuação da famosa previsão do tempo do Jornal do Brasil no dia seguinte à promulgação do AI-5 (1). Além disso, é visível um questionamento existencial - um tanto simplista, é verdade, mas valioso justamente por sua "pureza", já que Roberto não tem uma formação cultural intelectualizada e a busca sincera de um significado de tudo no misticismo (que acabaria levando a uma pobre militância católica nos anos 80), repetindo os caminhos do movimento hippie lá fora, do qual ele era considerado um antípoda, por ser caretão (um roqueiro da Tijuca dos anos 50, que tinha uma banda com Tim Maia e Erasmo Carlos, careta????). Isso, é claro, quando ele não era claro e direto em seu protesto (DEBAIXO DOS CARACÓIS DOS SEUS CABELOS, TODOS ESTÃO SURDOS?).
Foi muito difícil escolher entre os discos de 1964 a 1971 (os dos anos seguintes continuam fantásticos, mas dificilmente poderiam ainda ser classificados de rock). Fiquei com o de 1968, o primeiro após Roberto largar o programa da Jovem Guarda. Talvez por isso, assim como os Beatles depois que deixaram de dar show, com mais tempo, ele pôde refinar sua produção. O INIMITÁVEL ROBERTO CARLOS, no entanto, não guina para a psicodelia e sim para o soul e o funk, pela primeira vez escutados no Brasil. Certamente gente que conhece o cenário musical da época vai apontar precursores, mas quase ninguém deve ter ouvido. Roberto Carlos era só o maior vendedor de discos da época e aventurar-se pelo som da Motown com SE VOCÊ PENSA, CIÚME DE VOCÊ e NÃO HÁ DINHEIRO QUE PAGUE era abrir uma nova trilha por aqui. Ainda tem belíssimas baladas, como AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM, as funkeadas E NÃO VOU MAIS DEIXAR VOCÊ TÃO SÓ e a recentemente regravada EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO. Tem até uma ótima imitação de Beatles (qual o problema? Os Mutantes também cometiam as deles), NEM MESMO VOCÊ. E, no ano seguinte, o velho amigo Sebastião Maia, o Tim, iria lhe trazer NÃO VOU FICAR, cuja gravação pelo Rei nunca foi superada.
E nem vai ser. Como diz o meu amigo Zé José, é perda de tempo regravar Roberto Carlos - a versão do Rei vai ficar melhor. Imitador confesso de João Gilberto, ele levou o estilo peculiar e idiossincrático do bossanovista para o rock com resultados sensacionais. Sua divisão de sílabas é complexa, mas ele o faz com tanta facilidade que nem aparece. Confira o DVD Roberto Carlos Ao Vivo no Pacaembu: em COMO É GRANDE MEU AMOR POR VOCÊ, o público tenta cantar junto com ele, mas ele sempre atrasa ou adianta a entrada no verso, estica ou encurta as divisões e o povo simplesmente não consegue acertar uma única vez... e desiste! Ele também usa este recurso em AS CURVAS DA ESTRADA DE SANTOS, em que entra adiantado em todos os versos e deixa a banda correr atrás dele, reproduzindo musicalmente a letra que fala apenas em velocidade. E nem vou mencionar o que diz minha irmã, professora de canto e cantora: "olha, já ouvi todo mundo desafinar - Caetano, Milton, Gil, Gal, Betânia, quem você quiser. O único brasileiro que eu NUNCA ouvi desafinar foi Roberto Carlos".
Outras obras-primas de rock (os discos dos anos 70 também são campeões, mas em outro estilo): ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA, ROBERTO CARLOS 1969, ROBERTO CARLOS 1970, ROBERTO CARLOS 1966, É PROIBIDO FUMAR, ROBERTO CARLOS CANTA PARA A JUVENTUDE.
3. Gita (Raul Seixas) 1974
Outra difícil escolha. O primeiro álbum, KRIG-HA, BANDOLO!, é o primeiro, tem MOSCA NA SOPA, a melhor síntese de forró e rock de sua carreira (estilo que faria a carreira dos Raimundos) e OURO DE TOLO, além do hino METAMORFOSE AMBULANTE. Mas o segundo, mais influenciado pelo hippie seguidor de Aleister Crowley, Paulo Coelho, não é só uma sucessão de negativas para o sistema ou de slogans da contracultura - são mostrados os caminhos alternativos, seja na SOCIEDADE ALTERNATIVA, seja na declaração de princípios de MEDO DA CHUVA, ou no misticismo da melhor música de Raul Seixas e certamente uma das dez mais: GITA, uma magnífica composição, música e letra (que infelizmente Raul não era capaz de apresentar no palco e já vi Jerry Adriani ao vivo servir-se de um papelzinho para cantá-la) transcendendo o formato e a época para aparecer viva e enigmática até hoje.
Qualquer outro disco dele é bom.
4. Legião Urbana (Legião Urbana) 1985
Eu estava em casa à toa fumando na cama (parei há nove anos) ouvindo a Fluminense FM no receiver de minha aparelhagem Polyvox, quando entrou uma fita demo de uma banda cantando AINDA É CEDO. "Ei", pensei, "isso é bom!". Depois ouvi as outras demos que a Maldita tinha deles: A DANÇA (o COMO NOSSOS PAIS dos anos 80 (2)) e o hino da minha geração pós-64: GERAÇÃO COCA-COLA, a música que melhor caracteriza a cabeça da gente nascidos na segunda metade dos 60 e adolescente/jovem nos 80. Aí soube que eles iam dar um show no Circo Voador (vindo depois de Ojeriza e abrindo para o onicircovoador Celso Blues Boy), vi a extraordinária performance de Renato Russo no palco pela primeira vez e fiquei tremendamente impressionado com a canção que fechava o set, SOLDADOS. O disco saiu uns oito meses depois e a produção de algumas músicas era até pior do que a das fitas demo, mas quem ligava? Não tinha nada tão bom na época.
Qualquer outro disco deles também é sensacional, mas o primeiro foi o primeiro e por isso o escolhido.
Ah, e invejem-me: eu gravei a versão demo deles da rádio, digitalizei e tenho até hoje A DANÇA (com a letra original) e AINDA É CEDO.
5. Cabeça Dinossauro (Titãs) 1986
É chato dizer isso de um disco tão influente e marcante, mas, no fundo, no fundo, CABEÇA DINOSSAURO é só um álbum de punk rock bem produzido (podia ter se chamado também OS TITÃS ENCONTRAM LIMINHA), que lançou o "punk-pop" que iria dominar a cena a partir de então. É claro que nem toda banda punk pop iria ter Arnaldo Antunes revoltado depois de ser preso por porte de heroína e disposto a botar pra quebrar nas letras. Nem tanto lirismo e inteligência nas canções expressivas e incisivas. Nem tanto swing na cozinha, tornando o ritmo quase irresistível pra dançar. Não foi à toa que quase toda banda dessa época até a eleição do Collor (e a morte do RPB dos anos 80, que assistiu à ascensão do sertanejo e do pagode) foi de alguma forma influenciada por este álbum. Parece fácil de repetir, mas era tão complicado que nem mesmo os Titãs nunca mais conseguiram igualar o resultado (só em partes de JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS). Depois o Arnaldo Antunes ficou experimental demais, ele saiu, eles reverteram a um punk mais básico (num disco injustamente vilipendiado) e finalmente eles se tornaram paulistas balzaquianos fofinhos, indistinguíveis de publicitários yuppies.
E até hoje tem banda de rock brasileira tentando emular o pop punk de CABEÇA DINOSSAURO.
A outra grande obra deles é o JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS.
6. Da Lama ao Caos (1994) Chico Science e Nação Zumbi
Quem hoje em dia não está tentando (ainda) imitar CABEÇA DINOSSAURO, está tentando imitar o mangue bit (que ficou erradamente conhecido como mangue beat) que foi apresentado ao mundo neste CD. Tão tamanha e imediata foi sua influência que nem parece que se passou pouco mais de uma década desde que foi lançado. A quantidade de gente procurando emular a genial mistura de Chico Science e sua banda, misturando rock, ritmos nordestinos, música eletrônica e hip hop é gigantesca e inclui até mesmo a Nação Zumbi. Todos os outros discos aqui listados, por mais brilhantes que sejam, mostram os sinais da idade. Não este. E não é por ser o mais recente - ouvir CABEÇA DINOSSAURO, por exemplo, em 1998, já era viajar no tempo, enquanto vídeos de shows do Sex Pistols até hoje soam contemporâneos. O som deste álbum é tão à frente de seu tempo e tão revolucionário que ainda vai permanecer moderno e atual provavelmente por um longo tempo. Provavelmente a melhor fusão de rock com música regional brasileira já realizada.
O disco seguinte, Afrociberdelia, é talvez até melhor, mas não foi tão surpreendente quanto este.
7. Revolver (Walter Franco) 1975
OU NÃO?, o primeiro disco, com sua famosa mosca, provavelmente é melhor, mas é radical demais, é quase inaudível. REVOLVER é mais condescendente com os pobres mortais que iriam ouvi-lo.
Walter Franco provavelmente é o mais desconhecido dos caras desta lista, mas todo mundo a quem apresento acha fantástico. Roqueiro pesado, às vezes quase metaleira (FEITO GENTE, CANALHA), balança com um misticismo zen e experimentalismo concretista nas letras, é o maior e mais talentoso expoente do rock contracultural do começo dos 70. Tão estranho (e brilhante) é o seu som que praticamente nunca fez sucesso (VELA ABERTA andou tocando nas rádios no final dos 70, início dos 80), embora fosse figurinha fácil em festivais. Ouvi-lo é uma viagem no tempo e um achado.
Outros grandes discos: OU NÃO? e VELA ABERTA
8. Secos & Molhados (1973) Secos & Molhados
Nem sei se este disco deveria estar aqui. Certamente não é MPB, mas será que é rock? Hippie certamente é. Tem tinturas de modinhas, toadas, fados, música mineira e, certo, tá bom, rock progressivo. Mas não o progressivo sinfônico, mais o progressivo do Traffic ou Blind Faith.
Na época eles chamavam MUITA atenção por causa do homossexualismo explícito pelo menos do Ney Matogrosso, as caras pintadas, as plumas e paetês e O VIRA fez muito sucesso como música para dançar. Conseguiram estourar as paradas com seu som tão contracultural. O segundo disco, sem nenhum single dançante para puxá-lo, embora talvez fosse até melhor do que o de estréia, não repetiu o desempenho de vendas, prejudicado também pela saída de Ney, notícia divulgada junto com o lançamento. Ele sabia que sua voz masculina de soprano era o maior trunfo da banda e que eles provavelmente não sobreviveriam ao enterro daquelas coisas todas de hippie, paz e amor e contracultura que 1975 e os anos seguintes trariam, embalados pelo som disco. Mas pelo menos o grupo deixou o melhor exemplo de rock progressivo (será?) nacional.
Eles só lançaram dois discos. Tentaram uma volta com outro cantor de voz fininha no final dos anos 70 e tiveram moderado sucesso com o single AONDE FORAM TODAS AS CORES? Seu grande problema sempre foram as letras, repletas de imagens que deveriam remeter a viagens de ácido e alucinações, mas que na maioria das vezes soam apenas ridículas.
9. O Rock Errou (1985) Lobão
Em 1985, depois do Rock in Rio, depois que a Globo começou a bancar megashows de rock nas praias do Rio, depois que as rádios caretas começaram a tocar rock e que as bandas, famosas, deixaram de fazer shows no Circo Voador, Parque Lage e até Morro da Urca, a popularização do RPB acabou sugando-lhe a vitalidade. Embora não parecesse na época, começava a decadência. As grandes bandas todas já tinham aparecido (haveria ainda o RPM, mas seria um fenômeno de um disco - e outro ao vivo - só, e pouco acrescentaria no aspecto qualitativo). O final da década seria dominado pelos dinossauros e os álbuns clássicos estavam todos já para trás. Lobão, depois dos ótimos CENA DE CINEMA e LOBÃO E OS RONALDOS, casou com uma prima gostosa de 17 anos, ficou trancado com ela durante dois meses em casa e, não satisfeito, ainda fez questão de mostrar pra todo mundo quem estava comendo, pondo-a nua na capa deste LP que foi o primeiro a perceber que o sonho tinha acabado.
Melancólico toda a vida, anunciava que o rock tinha errado (dã) e que ele nem queria mais nenhuma chance. A idéia de uma contracultura irônica, cética e bem-humorada não funcionara. O mundo de novo não mudara e o surgimento do yuppie atestava isso. A garotada que ouvia o RPB dos anos 80 iria crescer para lotar shows acústicos dessa turma nos anos 90, embalados em nostalgia e incapacidade de apreender novos tipos de música. Já Lobão enveredaria por tentativas de fundir rock e samba (não deu muito certo) e música eletrônica num esplêndido (e pouco divulgado) CD vendido em banca.
10. As Aventuras da Blitz (1982) Blitz
Eu sei, eu sei, pelos critérios que disse que iria usar, este disco aqui deveria estar logo na frente da Legião Urbana, pelo cândido motivo que a Legião Urbana simplesmente nunca teria gravado um LP se não tivesse havido a Blitz, que, pura e simplesmente, detonou o RPB, o Rock Popular Brasileiro, o rock dos anos 80 que se tornou o símbolo da década e a irritante nostalgia que dura até hoje.
Quem não estava lá não tem idéia do estrondoso sucesso que VOCÊ NÃO SOUBE ME AMAR teve. Diferente de tudo que se ouvia nas rádios - pelos poderes de Greyskull, a gente ouvia Supertramp na época! - foi quem levou todo mundo a querer saber o que era essa tal de "new wave" e quem eram os expoentes daquele tal de "rock inglês". As gravadoras saíram correndo, cada qual atrás da "sua" Blitz, e foram buscar João Penca e Seus Miquinhos Amestrados (do qual sairia Léo Jaime), Kid Abelha & os Abóboras Selvagens (banda obscura que saiu no disco ROCK VOADOR e que promovia eleições sazonais na Fluminense FM para escolher quem seria o novo Kid Abelha - o líder - da banda), Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Kid Vinil e muitos outros e subitamente Circo Voador, Morro da Urca e Mamão com Açúcar estavam ditando as palavras de ordem para a garotada oitentista, enterrando de vez as batas (estão voltando), cabelos compridos (voltaram), sandálias de couro (agora se chamam papeete) e bolsas de couro (ainda não voltaram). O visual disco começou a parecer brega. Moderno e contemporâneo eram topetes, cores ácidas e berrantes, blazers com ombreiras, calças de pregas com cós alto, saias balonê e tudo aquilo que a gente vê hoje em filmes da época e acha ridículo.
E eles fizeram tudo isso virtualmente sozinhos, já que Júlio Barroso caiu de sua cama suicida e deixou os precursores, a Gang 90 & as Absurdetes, sem pai nem mãe. Eles fecharam de vez o caixão da contracultura hippie e trouxeram de volta o rockabilly básico dos anos 50. Roberto Carlos e Elvis Presley foram resgatados. O Brasil inteirou ouviu rock. E tudo graças à Blitz.
Mas eu não gosto até hoje de rock new wave. B-52s, Go-gos, Blitz, Kid Abelha, nada disso me emociona. E esta é a MINHA lista, por isso este décimo lugar para um álbum tão absurdamente importante.
Antes que me acusem de qualquer coisa, vou logo avisando alguns critérios que escolhi: nenhuma banda com mais de um disco; a importância e a influência no que se seguiu conta pra burro e por isto a lista parece dar mais destaque aos mais antigos. Devo confessar que como é a lista dos MEUS favoritos, deixei de fora um álbum seminal para o rock brasileiro, o primeiro do Kid Abelha, que conseguiu o fabuloso feito de que TODAS as músicas foram sucesso nas rádios. Gosto de alguns trabalhos dele mais tardios, mas ainda assim não o suficiente pra pô-los na minha lista.
Então, eis aí minha seleção:
1. Ando Meio Desligado ou A Divina Comédia (Mutantes) 1970
Não, não fiquei na dúvida entre dois grandes álbuns. Já em 1970 os Mutantes, sempre mundialmente à frente de seu tempo, lançavam discos com duas capas e dois nomes diferentes, uma delas simplesmente fabulosa, uma belíssima foto preto-e-branco de Arnaldo Baptista erguendo-se de um túmulo enquanto Rita Lee como Dante e Sérgio Dias como Virgílio observam, reproduzindo uma gravura de Doré para (dã) A DIVINA COMÉDIA. A capa alternativa mostrava Rita na cama com os dois irmãos enquanto Liminha toma um cafezinho ao lado, sugerindo práticas sexuais ousadas e heterodoxas para o Brasil do AI-5.
Os Mutantes foi a melhor banda de rock que este país já teve. Pena que a gravadora tenha desistido de lançá-los internacionalmente. Descobriram o erro quando eles se tornaram famosos no mundo todo vinte anos depois de cada um seguir seu caminho. É difícil dizer qual o melhor disco, mas fico com este pelo belo apanhado do fantástico alcance deles. Da extremamente simpática ANDO MEIO DESLIGADO, que Marisa Monte regravou para se lançar e o Pato Fu botou em disco pra consolidar sua imagem de "somos os Mutantes como eles seriam hoje em dia" (mas não se pode culpar Arnaldo, Sérgio e Rita por nada disso), à sublime AVE, LÚCIFER, passando pelo deboche, literal em CHÃO DE ESTRELAS (com efeitos sonoros sublinhando a letra) e nonsense no bluesão MEU REFRIGERADOR NÃO FUNCIONA. Magnífico.
As outras grandes obras dos Mutantes: OS MUTANTES (1968), MUTANTES (1969), JARDIM ELÉTRICO (1971). Seguindo de perto, MUTANTES E COMETAS NO PAÍS DOS BAURETS (1973).
2. O Inimitável Roberto Carlos (Roberto Carlos) 1968
Parece inacreditável, mas ainda tem gente que não gosta de Roberto Carlos, ou acha que ele teve lá sua importância, ou acha gostosinhas as músicas da Jovem Guarda. Na década de 70 ele era acusado principalmente por ser alienado, cantando sobre amor e dor-de-cotovelo, o que mostra que, como sempre, sutileza não é o forte de intelectuais militantes de esquerda. A profunda melancolia que perpassa a produção do Rei, principalmente a partir de 1968 é a coisa mais parecida com o clima de falta de perspectiva de TERRA EM TRANSE já aposto em vinil. A letra de AS FLORES DO JARDIM DA NOSSA CASA parece a continuação da famosa previsão do tempo do Jornal do Brasil no dia seguinte à promulgação do AI-5 (1). Além disso, é visível um questionamento existencial - um tanto simplista, é verdade, mas valioso justamente por sua "pureza", já que Roberto não tem uma formação cultural intelectualizada e a busca sincera de um significado de tudo no misticismo (que acabaria levando a uma pobre militância católica nos anos 80), repetindo os caminhos do movimento hippie lá fora, do qual ele era considerado um antípoda, por ser caretão (um roqueiro da Tijuca dos anos 50, que tinha uma banda com Tim Maia e Erasmo Carlos, careta????). Isso, é claro, quando ele não era claro e direto em seu protesto (DEBAIXO DOS CARACÓIS DOS SEUS CABELOS, TODOS ESTÃO SURDOS?).
Foi muito difícil escolher entre os discos de 1964 a 1971 (os dos anos seguintes continuam fantásticos, mas dificilmente poderiam ainda ser classificados de rock). Fiquei com o de 1968, o primeiro após Roberto largar o programa da Jovem Guarda. Talvez por isso, assim como os Beatles depois que deixaram de dar show, com mais tempo, ele pôde refinar sua produção. O INIMITÁVEL ROBERTO CARLOS, no entanto, não guina para a psicodelia e sim para o soul e o funk, pela primeira vez escutados no Brasil. Certamente gente que conhece o cenário musical da época vai apontar precursores, mas quase ninguém deve ter ouvido. Roberto Carlos era só o maior vendedor de discos da época e aventurar-se pelo som da Motown com SE VOCÊ PENSA, CIÚME DE VOCÊ e NÃO HÁ DINHEIRO QUE PAGUE era abrir uma nova trilha por aqui. Ainda tem belíssimas baladas, como AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM, as funkeadas E NÃO VOU MAIS DEIXAR VOCÊ TÃO SÓ e a recentemente regravada EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO. Tem até uma ótima imitação de Beatles (qual o problema? Os Mutantes também cometiam as deles), NEM MESMO VOCÊ. E, no ano seguinte, o velho amigo Sebastião Maia, o Tim, iria lhe trazer NÃO VOU FICAR, cuja gravação pelo Rei nunca foi superada.
E nem vai ser. Como diz o meu amigo Zé José, é perda de tempo regravar Roberto Carlos - a versão do Rei vai ficar melhor. Imitador confesso de João Gilberto, ele levou o estilo peculiar e idiossincrático do bossanovista para o rock com resultados sensacionais. Sua divisão de sílabas é complexa, mas ele o faz com tanta facilidade que nem aparece. Confira o DVD Roberto Carlos Ao Vivo no Pacaembu: em COMO É GRANDE MEU AMOR POR VOCÊ, o público tenta cantar junto com ele, mas ele sempre atrasa ou adianta a entrada no verso, estica ou encurta as divisões e o povo simplesmente não consegue acertar uma única vez... e desiste! Ele também usa este recurso em AS CURVAS DA ESTRADA DE SANTOS, em que entra adiantado em todos os versos e deixa a banda correr atrás dele, reproduzindo musicalmente a letra que fala apenas em velocidade. E nem vou mencionar o que diz minha irmã, professora de canto e cantora: "olha, já ouvi todo mundo desafinar - Caetano, Milton, Gil, Gal, Betânia, quem você quiser. O único brasileiro que eu NUNCA ouvi desafinar foi Roberto Carlos".
Outras obras-primas de rock (os discos dos anos 70 também são campeões, mas em outro estilo): ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA, ROBERTO CARLOS 1969, ROBERTO CARLOS 1970, ROBERTO CARLOS 1966, É PROIBIDO FUMAR, ROBERTO CARLOS CANTA PARA A JUVENTUDE.
3. Gita (Raul Seixas) 1974
Outra difícil escolha. O primeiro álbum, KRIG-HA, BANDOLO!, é o primeiro, tem MOSCA NA SOPA, a melhor síntese de forró e rock de sua carreira (estilo que faria a carreira dos Raimundos) e OURO DE TOLO, além do hino METAMORFOSE AMBULANTE. Mas o segundo, mais influenciado pelo hippie seguidor de Aleister Crowley, Paulo Coelho, não é só uma sucessão de negativas para o sistema ou de slogans da contracultura - são mostrados os caminhos alternativos, seja na SOCIEDADE ALTERNATIVA, seja na declaração de princípios de MEDO DA CHUVA, ou no misticismo da melhor música de Raul Seixas e certamente uma das dez mais: GITA, uma magnífica composição, música e letra (que infelizmente Raul não era capaz de apresentar no palco e já vi Jerry Adriani ao vivo servir-se de um papelzinho para cantá-la) transcendendo o formato e a época para aparecer viva e enigmática até hoje.
Qualquer outro disco dele é bom.
4. Legião Urbana (Legião Urbana) 1985
Eu estava em casa à toa fumando na cama (parei há nove anos) ouvindo a Fluminense FM no receiver de minha aparelhagem Polyvox, quando entrou uma fita demo de uma banda cantando AINDA É CEDO. "Ei", pensei, "isso é bom!". Depois ouvi as outras demos que a Maldita tinha deles: A DANÇA (o COMO NOSSOS PAIS dos anos 80 (2)) e o hino da minha geração pós-64: GERAÇÃO COCA-COLA, a música que melhor caracteriza a cabeça da gente nascidos na segunda metade dos 60 e adolescente/jovem nos 80. Aí soube que eles iam dar um show no Circo Voador (vindo depois de Ojeriza e abrindo para o onicircovoador Celso Blues Boy), vi a extraordinária performance de Renato Russo no palco pela primeira vez e fiquei tremendamente impressionado com a canção que fechava o set, SOLDADOS. O disco saiu uns oito meses depois e a produção de algumas músicas era até pior do que a das fitas demo, mas quem ligava? Não tinha nada tão bom na época.
Qualquer outro disco deles também é sensacional, mas o primeiro foi o primeiro e por isso o escolhido.
Ah, e invejem-me: eu gravei a versão demo deles da rádio, digitalizei e tenho até hoje A DANÇA (com a letra original) e AINDA É CEDO.
5. Cabeça Dinossauro (Titãs) 1986
É chato dizer isso de um disco tão influente e marcante, mas, no fundo, no fundo, CABEÇA DINOSSAURO é só um álbum de punk rock bem produzido (podia ter se chamado também OS TITÃS ENCONTRAM LIMINHA), que lançou o "punk-pop" que iria dominar a cena a partir de então. É claro que nem toda banda punk pop iria ter Arnaldo Antunes revoltado depois de ser preso por porte de heroína e disposto a botar pra quebrar nas letras. Nem tanto lirismo e inteligência nas canções expressivas e incisivas. Nem tanto swing na cozinha, tornando o ritmo quase irresistível pra dançar. Não foi à toa que quase toda banda dessa época até a eleição do Collor (e a morte do RPB dos anos 80, que assistiu à ascensão do sertanejo e do pagode) foi de alguma forma influenciada por este álbum. Parece fácil de repetir, mas era tão complicado que nem mesmo os Titãs nunca mais conseguiram igualar o resultado (só em partes de JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS). Depois o Arnaldo Antunes ficou experimental demais, ele saiu, eles reverteram a um punk mais básico (num disco injustamente vilipendiado) e finalmente eles se tornaram paulistas balzaquianos fofinhos, indistinguíveis de publicitários yuppies.
E até hoje tem banda de rock brasileira tentando emular o pop punk de CABEÇA DINOSSAURO.
A outra grande obra deles é o JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS.
6. Da Lama ao Caos (1994) Chico Science e Nação Zumbi
Quem hoje em dia não está tentando (ainda) imitar CABEÇA DINOSSAURO, está tentando imitar o mangue bit (que ficou erradamente conhecido como mangue beat) que foi apresentado ao mundo neste CD. Tão tamanha e imediata foi sua influência que nem parece que se passou pouco mais de uma década desde que foi lançado. A quantidade de gente procurando emular a genial mistura de Chico Science e sua banda, misturando rock, ritmos nordestinos, música eletrônica e hip hop é gigantesca e inclui até mesmo a Nação Zumbi. Todos os outros discos aqui listados, por mais brilhantes que sejam, mostram os sinais da idade. Não este. E não é por ser o mais recente - ouvir CABEÇA DINOSSAURO, por exemplo, em 1998, já era viajar no tempo, enquanto vídeos de shows do Sex Pistols até hoje soam contemporâneos. O som deste álbum é tão à frente de seu tempo e tão revolucionário que ainda vai permanecer moderno e atual provavelmente por um longo tempo. Provavelmente a melhor fusão de rock com música regional brasileira já realizada.
O disco seguinte, Afrociberdelia, é talvez até melhor, mas não foi tão surpreendente quanto este.
7. Revolver (Walter Franco) 1975
OU NÃO?, o primeiro disco, com sua famosa mosca, provavelmente é melhor, mas é radical demais, é quase inaudível. REVOLVER é mais condescendente com os pobres mortais que iriam ouvi-lo.
Walter Franco provavelmente é o mais desconhecido dos caras desta lista, mas todo mundo a quem apresento acha fantástico. Roqueiro pesado, às vezes quase metaleira (FEITO GENTE, CANALHA), balança com um misticismo zen e experimentalismo concretista nas letras, é o maior e mais talentoso expoente do rock contracultural do começo dos 70. Tão estranho (e brilhante) é o seu som que praticamente nunca fez sucesso (VELA ABERTA andou tocando nas rádios no final dos 70, início dos 80), embora fosse figurinha fácil em festivais. Ouvi-lo é uma viagem no tempo e um achado.
Outros grandes discos: OU NÃO? e VELA ABERTA
8. Secos & Molhados (1973) Secos & Molhados
Nem sei se este disco deveria estar aqui. Certamente não é MPB, mas será que é rock? Hippie certamente é. Tem tinturas de modinhas, toadas, fados, música mineira e, certo, tá bom, rock progressivo. Mas não o progressivo sinfônico, mais o progressivo do Traffic ou Blind Faith.
Na época eles chamavam MUITA atenção por causa do homossexualismo explícito pelo menos do Ney Matogrosso, as caras pintadas, as plumas e paetês e O VIRA fez muito sucesso como música para dançar. Conseguiram estourar as paradas com seu som tão contracultural. O segundo disco, sem nenhum single dançante para puxá-lo, embora talvez fosse até melhor do que o de estréia, não repetiu o desempenho de vendas, prejudicado também pela saída de Ney, notícia divulgada junto com o lançamento. Ele sabia que sua voz masculina de soprano era o maior trunfo da banda e que eles provavelmente não sobreviveriam ao enterro daquelas coisas todas de hippie, paz e amor e contracultura que 1975 e os anos seguintes trariam, embalados pelo som disco. Mas pelo menos o grupo deixou o melhor exemplo de rock progressivo (será?) nacional.
Eles só lançaram dois discos. Tentaram uma volta com outro cantor de voz fininha no final dos anos 70 e tiveram moderado sucesso com o single AONDE FORAM TODAS AS CORES? Seu grande problema sempre foram as letras, repletas de imagens que deveriam remeter a viagens de ácido e alucinações, mas que na maioria das vezes soam apenas ridículas.
9. O Rock Errou (1985) Lobão
Em 1985, depois do Rock in Rio, depois que a Globo começou a bancar megashows de rock nas praias do Rio, depois que as rádios caretas começaram a tocar rock e que as bandas, famosas, deixaram de fazer shows no Circo Voador, Parque Lage e até Morro da Urca, a popularização do RPB acabou sugando-lhe a vitalidade. Embora não parecesse na época, começava a decadência. As grandes bandas todas já tinham aparecido (haveria ainda o RPM, mas seria um fenômeno de um disco - e outro ao vivo - só, e pouco acrescentaria no aspecto qualitativo). O final da década seria dominado pelos dinossauros e os álbuns clássicos estavam todos já para trás. Lobão, depois dos ótimos CENA DE CINEMA e LOBÃO E OS RONALDOS, casou com uma prima gostosa de 17 anos, ficou trancado com ela durante dois meses em casa e, não satisfeito, ainda fez questão de mostrar pra todo mundo quem estava comendo, pondo-a nua na capa deste LP que foi o primeiro a perceber que o sonho tinha acabado.
Melancólico toda a vida, anunciava que o rock tinha errado (dã) e que ele nem queria mais nenhuma chance. A idéia de uma contracultura irônica, cética e bem-humorada não funcionara. O mundo de novo não mudara e o surgimento do yuppie atestava isso. A garotada que ouvia o RPB dos anos 80 iria crescer para lotar shows acústicos dessa turma nos anos 90, embalados em nostalgia e incapacidade de apreender novos tipos de música. Já Lobão enveredaria por tentativas de fundir rock e samba (não deu muito certo) e música eletrônica num esplêndido (e pouco divulgado) CD vendido em banca.
10. As Aventuras da Blitz (1982) Blitz
Eu sei, eu sei, pelos critérios que disse que iria usar, este disco aqui deveria estar logo na frente da Legião Urbana, pelo cândido motivo que a Legião Urbana simplesmente nunca teria gravado um LP se não tivesse havido a Blitz, que, pura e simplesmente, detonou o RPB, o Rock Popular Brasileiro, o rock dos anos 80 que se tornou o símbolo da década e a irritante nostalgia que dura até hoje.
Quem não estava lá não tem idéia do estrondoso sucesso que VOCÊ NÃO SOUBE ME AMAR teve. Diferente de tudo que se ouvia nas rádios - pelos poderes de Greyskull, a gente ouvia Supertramp na época! - foi quem levou todo mundo a querer saber o que era essa tal de "new wave" e quem eram os expoentes daquele tal de "rock inglês". As gravadoras saíram correndo, cada qual atrás da "sua" Blitz, e foram buscar João Penca e Seus Miquinhos Amestrados (do qual sairia Léo Jaime), Kid Abelha & os Abóboras Selvagens (banda obscura que saiu no disco ROCK VOADOR e que promovia eleições sazonais na Fluminense FM para escolher quem seria o novo Kid Abelha - o líder - da banda), Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Kid Vinil e muitos outros e subitamente Circo Voador, Morro da Urca e Mamão com Açúcar estavam ditando as palavras de ordem para a garotada oitentista, enterrando de vez as batas (estão voltando), cabelos compridos (voltaram), sandálias de couro (agora se chamam papeete) e bolsas de couro (ainda não voltaram). O visual disco começou a parecer brega. Moderno e contemporâneo eram topetes, cores ácidas e berrantes, blazers com ombreiras, calças de pregas com cós alto, saias balonê e tudo aquilo que a gente vê hoje em filmes da época e acha ridículo.
E eles fizeram tudo isso virtualmente sozinhos, já que Júlio Barroso caiu de sua cama suicida e deixou os precursores, a Gang 90 & as Absurdetes, sem pai nem mãe. Eles fecharam de vez o caixão da contracultura hippie e trouxeram de volta o rockabilly básico dos anos 50. Roberto Carlos e Elvis Presley foram resgatados. O Brasil inteirou ouviu rock. E tudo graças à Blitz.
Mas eu não gosto até hoje de rock new wave. B-52s, Go-gos, Blitz, Kid Abelha, nada disso me emociona. E esta é a MINHA lista, por isso este décimo lugar para um álbum tão absurdamente importante.
janeiro 13, 2007
janeiro 01, 2007
Tommy x The Wall: dois filmes-ópera-rock para uma mesma história
(Este artigo pressupõe conhecimento dos filmes TOMMY, baseado na ópera-rock de Pete Townshend e The Who, e THE WALL, que segue o álbum conceitual de Roger Waters e Pink Floyd. Ambos estão disponíveis em DVD).
Estive de folga semana passada e acabei revendo TOMMY e THE WALL, dois disquinhos ótimos pra se brincar de home-theater, com suas imagens esfuziantes e excelente música em 5 canais. Vê-los lado a lado ressalta o que eles têm de comum além de serem, senão as únicas, as mais importantes óperas-rock da história do cinema (tá, eu sei, The Wall não é exatamente uma ópera-rock, mas não conheço outro adjetivo tão curto para "longa-metragem em que a história é narrada através de canções de rock'n'roll"). Os dois filmes contam praticamente a mesma história e explicam a ascensão (e queda) do rock'n'roll e da swinging London, sob a ótica de quem estava à frente do movimento, fazendo aquilo tudo acontecer, só para desacontecer nos anos 70.
TOMMY foi escrita por um moleque bagunceiro de 23 anos; THE WALL o foi por um balzaquiano melancólico e não tão talentoso. Os sintomas da idade estão presente em ambas as óperas: a primeira é mal-comportada, caricatural e simbólica. A juventude de Pete Townshend não só não tem ainda maturidade emocional para lidar com seus problemas de forma sutil como também precisa disfarçar seus dados autobiográficos, com medo de se expor tão completa e abertamente. Em compensação tem ainda toda a energia da adolescência, com sua busca incansável de revolucionar, exibindo uma originalidade e uma inventividade arrebatadoras. Mesmo com o distanciamento resultante da pouca complexidade das personagens, a intensidade e sinceridade dos sentimentos de Tonwshend conseguem atravessar as alegorias e conquistar-nos com sua pungência, como no recorrente pedido de Tommy (“see me, feel me”) ou no emocionante final.
THE WALL demonstra que seu autor possui muito mais domínio da linguagem artística e é populada por personagens muito mais reais do que quase todas as que povoam TOMMY, o que nos deixa muito mais próximos de seus problemas, criando uma empatia mais profunda do que na obra de Townshend. Em compensação, Roger Waters não é tão brilhante quanto o moleque do THE WHO. Sua madura técnica de poeta do rock está a serviço das mesmas angústias e preocupações adolescentes que afligiam Townshend, mas sem a sinceridade juvenil deste. Aos 35, 36 anos, Waters já deixara aquela fase da vida bem para trás e escrevia sobre ela de memória e não como um correspondente etário enviando seus despachos diretamente para o mundo exterior. No lugar da intensidade emotiva do rapazola Townshend, ele exibia a autocomplacência e autoindulgência típicas de uma crise de meia-idade, muito mais próxima à sua condição balzaquiana.
Mas mesmo com essa separação de mais de dez anos no tempo, tanto real quanto psicológico de seus autores, as duas óperas contam aproximadamente a mesma história. Um garoto nasce na Segunda Guerra e nem chega a conhecer seu pai, que morre no conflito. No mundo caótico do pós-guerra é criado com sacrifícios pela mãe, desenvolvendo uma relação fortemente edipiana e isolando-se do exterior – Tommy fica cego, surdo e mudo; Pink constrói um muro à sua volta. Por causa disto, suas relações com mulheres são problemáticas e centradas na relação sexual: Tommy com a rainha do ácido, Pink com a groupie e sua esposa, com quem não consegue se comunicar.
Desesperadamente solitários e carentes, os dois garotos só conseguem se expressar artisticamente, Pink com o microfone e Tommy com a máquina de flipper, cujos predicados – diversão juvenil, coisa de quem não tem o que fazer, de marginais, sem importância – revelam-na uma metáfora para o rock'n'roll como enxergado pelo establishment na época.
Aí a história difere. Mas nem tanto assim. Tommy consegue superar seu narcisismo, atravessando simbolicamente o espelho onde conseguia se enxergar. Cura-se de sua cegueira-surdez-mudez elevando-se espiritualmente, preocupando-se com o mundo em volta. Supera, pelo menos em parte, seus conflitos edipianos (não por coincidência, o espelho é quebrado quando a mãe o empurra violentamente para longe), e está pronto para usar sua arte para levar a iluminação ao mundo, surgindo como um messias com uma mensagem de paz e amor. Pink é traído pela esposa e mergulha de vez num edípico poço profundo de autopiedade e carência. E ressurge, não como o salvador Tommy, mas como o anticristo nazista. Ao seguir para o palco, a mensagem que leva é de ódio e amargura, rancor e ressentimento contra o mundo que não o fez feliz mesmo depois de transformá-lo em superstar rico e casado com uma bela mulher.
E as duas óperas apresentam o público, aquele povo que estava comprando os discos de seus autores, fazendo suas fortunas e fornecendo-lhes uma agitada vida sexual, pois é, justamente aquela galera, como um bando de retardados sem ideologia, alienados e manobráveis, cheios de rancor e ódio. Tommy ascendeu espiritualmente e não consegue se comunicar mais com seus seguidores, o que os leva a atacá-los. Pink desceu de vez ao inferno edipiano e leva junto sua platéia num surto infantil de destruição, exibindo todo o ressentimento e rancor contra o mundo normal.
TOMMY é muito mais metafórico. Além da máquina de pinball, metáfora do rock, temos a cegueira-surdez-mudez do garoto, alegoria para seu isolamento emocional, o correspondente ao muro na história de Waters. O assassinato acidental do pai pelo namorado da esposa (1), o evento que deixa Tommy cego, surdo e mudo, também não deve ser tomado literalmente, mas como o jeito que Townshend encontrou para retratar como um menino entenderia a mãe na cama com outro sujeito que não seu progenitor, morto como herói defendendo o país na guerra.
O filme TOMMY foi feito no auge do glam rock, do glitter rock, quando os roqueiros todos usavam paetês e lantejoulas e casacos angorá e coletes com plumas e afins. Um exagero só. E Ken Russell, cineasta visualmente esfuziante, embarca vigorosamente nessa onda. A película é sobrecarregada por todos os lados. Começa calmamente, é verdade, quase pastoral, mostrando um casal namorando num cenário lindíssimo – tão lindo, na verdade, que John Boorman o usou em ZARDOZ e EXCALIBUR. O casal volta à cidade e um pesado e antigo lustre pairando sobre eles, enquanto dançam sozinhos, as expressões bem mais carregadas, pressagia o peso do destino prestes a atingi-los. O homem embarca em seu bombardeiro para uma missão de guerra. A mulher volta a seu trabalho – encher granadas de artilharia com shrapnel, balins de aço, arma antipessoal.
Está armado pela guerra o cenário que deflagraria a imensa carência dos garotos das duas óperas e do mundo do rock'n'roll. O pai ausente lutando – e morrendo – na guerra e a mãe na rua, trabalhando. A rainha do lar, a dona de casa, começaria a desaparecer nessa época e as crianças, num mundo de guerra fria, avanços tecnológicos que aumentavam a transmissão de informação, acabando com uma era de certa inocência analfabeta, iriam se transformar nos delinquentes juvenis, adolescentes-problema ou juventude liberada dos anos 50 (2). Nora está no trabalho – uma linha de montagem somente com mulheres, que na geração anterior estariam todas em casa – quando chega uma motociclista militar com uma mensagem. A motociclista também é uma jovem, e a fuligem em seu rosto desenha os óculos de proteção que ela estava usando para dirigir – dando a aparência de que ela tem um bigode! Ken Russell também sabe criar sutis metáforas visuais! A mensagem é um telegrama informando a Nora que seu marido morreu.
E nasce Tommy, e Nora conhece seu namorado numa colônia de férias e se muda com ele. Até aí o longa desenvolve-se de forma relativamente convencional. É a partir da cegueira-surdez-mudez de Tommy que ele se transforma numa caricatura, numa enorme alegoria. Talvez para que experimentemos a realidade distorcida onde Tommy mergulha. Seu isolamento do mundo exterior aguça seu universo interior e desenvolve seus dotes artísticos, subentendemos. É o que nos narra a música AMAZING JOURNEY (Sickness takes his mind to places where it usually doesnLt go – a doença leva sua mente a lugares aonde usualmente elas não vão. Venha, siga esta surpreendente jornada e aprenda tudo que há para saber). Nem tudo, aliás. Ele terá depois que vencer o isolamento que despertou sua consciência artística, para realmente amadurecer e ter o que dizer.
De qualquer forma, é depois do assassinato do pai que o filme se torna caótico e esfuziante até demais. As personagens se tornam caricaturas. É difícil imaginar que a apaixonada Nora do começo do filme vire aquela mulher vã que sai com o amante e deixa o garoto indefeso nas mãos de um tio que abusa dele sexualmente e de um primo valentão da escola que abusa dele fisica e psicologicamente. A ainda gostosa Ann-Margret se defende bem no microfone, mas Oliver Reed canta desagradavelmente e fere nossos ouvidos. TOMMY, o filme, é falho, anacrônico e representa apenas superficialmente sua época. Apesar de contar com trama e música superiores, THE WALL funciona melhor como cinema.
Alan Parker, ótimo diretor, contou com a ajuda do desenhista Gerald Scarfe para iconografar a ópera-rock autopiedosa de Roger Waters. Graças à incisividade dois dois primeiros, a platéia não fica o tempo inteiro pensando durante a fita “por que esse sujeito rico, bem-sucedido, astro do rock e jovem está chorando tanto por ser tão infeliz?”. Parker também contou com os novos negativos que surgiram no final dos anos 70 e início dos 80, capazes de uma maior riqueza de tons e superior sensibilidade à luz (3), para criar uma atmosfera de claro-escuro e luzes constrastantes que dá ao longa uma aparência muito mais atual do que a iluminação plana de TOMMY, que lhe dá aquele visual obsoleto e barato.
A edição de videoclipe, à frente de seu tempo, a riqueza da direção de arte, e a intensidade da raiva de Parker resgatam THE WALL. Apesar de toda a obviedade de sua trama e sua letra, o filme é visualmente hipnótico. Um então desconhecido Bob Geldorf, antes de orquestrar o Live Aid e virar Sir, empresta seu rosto (à época) anônimo para a crise do roqueiro Pink. Sem pai e sem família além da mãe, ele se isola num infernal paraíso edipiano, tornando-se um poço de profunda carência, a mesma carência de afeto que leva Tommy a implorar atenção recorrentemente (“see me, feel me, touch me, heal me”). Mas como Pink não ultrapassa seu narcisismo, seu pedido por atenção é a ameaça de suicídio (“good-bye, cruel world” e todo o subtexto de grande parte das letras).
As flores que viram uma piroca e uma boceta, sendo que esta devora a primeira, é tão pouco sutil quanto qualquer coisa na fita de Ken Russell, mas a beleza dos desenhos animados de Gerald Scarfe, antes dos computadores, faz-nos perdoar sua pretensão. A marcha dos martelos é simplesmente inesquecível. Todo o ressentimento reprimido de Pink irá explodir quando sua esposa o trair, afastada que foi pela incapacidade de Pink de se preocupar com alguém além dele mesmo, e levá-lo depois definitivamente à loucura, ao contrário da iluminação que Tommy alcança, mesmo quando todos seus seguidores o abandonam.
Assim, os dois filmes narram a formação do zeitgeist da Swinging London. Explica por que aquele povo todo aderiu à rebeldia do rock'n'roll. São, a seu modo, um TERRA EM TRANSE britânico, mostrando as preocupações e a educação sentimental dos poetas do país e a encruzilhada em que se encontravam, bem como por que a turma dos anos 60 simplesmente acabou um dia e deu lugar à galera dançante dos anos 80, preocupada em resgatar a simplicidade do rockabilly da década de 50, e depois à música eletrônica. Iluminados e resolvidos, ou loucos, talvez até mortos de overdose, os roqueiros da contracultura haviam se esgotado. Eles não conseguiam mais se comunicar com seu público. Sua música dependia da juventude para não se mostrar uma patética exibição de autopiedosa crise de meia-idade. Não sobreviveria à idade, a não ser sob o preço de um messianismo fascista. Como Townshend já dizia bem antes de compor TOMMY, sua ideologia pressupunha morrer antes de envelhecer. Muito tempo depois, já quase cinquentão, perguntaram ao velho Pete, “mas e aí, cara, você não preferia morrer a envelhecer?” e o coroa respondeu, inteligentemente, “mas eu AINDA quero morrer antes de ficar velho”.
(1) Na ópera-rock original, o pai voltava e acabava matando, junto com a esposa e sem intenção, o namorado dela. O pai voltando e acabando assassinado sem querer foi detalhe original do filme. A montagem teatral da Broadway dos anos 90 retoma a trama do álbum e mantém o pai vivo, matando o amante.
(2) Confira a obra-prima da década de 40 de William Wyler, OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS, quando Fredric March, voltando ao lar depois de anos na guerra, vê surpresa a filha que não viu crescer saindo para a rua à noite sob o olhar complacente da mãe, Jane Wyman. Quando March pergunta que independência é essa da adolescente, Wyman explica que a garota trabalhou como enfermeira voluntária e já viu no hospital mais coisas até do que eles mesmos, deixando subentendido que talvez ela sequer seja mais virgem – e a mãe nem liga!!!! O já citado John Boorman, em seu filme dos anos 80, ESPERANÇA E GLÓRIA, também mostra uma mãe conformando-se com a precoce e solteira vida sexual da filha. Afinal, explica ela, talvez a garota nem esteja viva amanhã. É melhor aproveitar enquanto é tempo.
(3) No final dos anos 60, o sistema de cor Technicolor, que dava maior riqueza de tons e saturação de cores, foi abandonado por sistemas muito mais baratos e de cores muito mais chapadas. Filmar a cores também exigia intrinsecamente mais luz do que com película monocromática. Guardo como lembrança o fotômetro de meu falecido pai, que tem marcações diferentes para fotografar a cores ou em preto-e-branco, mesmo quando a sensibilidade nominal é a mesma. Como resultado disso tudo, o cinema dos anos 70 tem aquele indisfarçável sabor de produção para a tevê ou de seriado, com uma iluminação plana, sem subtons, sem contrastes, sem contraluzes. Filmes como O PODEROSO CHEFÃO apresentam maior textura e riqueza de cor, mas graças a uma técnica desenvolvida por Vittorio Storaro e outros diretores de fotografia: expor rapidamente o negativo, para velá-lo parcialmente, antes de começar a filmar. A imagem final ficava mais rica e texturizada, com muito mais subtons, mas em compensação tinha uma granulação bem maior, perdendo bastante nitidez. Se você acha que não, é porque assistir ao longa numa tela de tevê, bem menor que a de cinema, resolve em parte o problema. A outra parte foi resolvida na transcrição para DVD, quando os grandes estúdios normalmente “limpam” digitalmente qualquer ruído desagradável da fita. No final dos anos 70 foram introduzidas novas emulsões coloridas, com maior sensibilidade e riqueza de detalhes. Os cineastas imediatamente começaram a brincar com elas, resgatando o filme noir e o claro-escuro e dando aos anos 80 aquele ar dark e gótico.
Estive de folga semana passada e acabei revendo TOMMY e THE WALL, dois disquinhos ótimos pra se brincar de home-theater, com suas imagens esfuziantes e excelente música em 5 canais. Vê-los lado a lado ressalta o que eles têm de comum além de serem, senão as únicas, as mais importantes óperas-rock da história do cinema (tá, eu sei, The Wall não é exatamente uma ópera-rock, mas não conheço outro adjetivo tão curto para "longa-metragem em que a história é narrada através de canções de rock'n'roll"). Os dois filmes contam praticamente a mesma história e explicam a ascensão (e queda) do rock'n'roll e da swinging London, sob a ótica de quem estava à frente do movimento, fazendo aquilo tudo acontecer, só para desacontecer nos anos 70.
TOMMY foi escrita por um moleque bagunceiro de 23 anos; THE WALL o foi por um balzaquiano melancólico e não tão talentoso. Os sintomas da idade estão presente em ambas as óperas: a primeira é mal-comportada, caricatural e simbólica. A juventude de Pete Townshend não só não tem ainda maturidade emocional para lidar com seus problemas de forma sutil como também precisa disfarçar seus dados autobiográficos, com medo de se expor tão completa e abertamente. Em compensação tem ainda toda a energia da adolescência, com sua busca incansável de revolucionar, exibindo uma originalidade e uma inventividade arrebatadoras. Mesmo com o distanciamento resultante da pouca complexidade das personagens, a intensidade e sinceridade dos sentimentos de Tonwshend conseguem atravessar as alegorias e conquistar-nos com sua pungência, como no recorrente pedido de Tommy (“see me, feel me”) ou no emocionante final.
THE WALL demonstra que seu autor possui muito mais domínio da linguagem artística e é populada por personagens muito mais reais do que quase todas as que povoam TOMMY, o que nos deixa muito mais próximos de seus problemas, criando uma empatia mais profunda do que na obra de Townshend. Em compensação, Roger Waters não é tão brilhante quanto o moleque do THE WHO. Sua madura técnica de poeta do rock está a serviço das mesmas angústias e preocupações adolescentes que afligiam Townshend, mas sem a sinceridade juvenil deste. Aos 35, 36 anos, Waters já deixara aquela fase da vida bem para trás e escrevia sobre ela de memória e não como um correspondente etário enviando seus despachos diretamente para o mundo exterior. No lugar da intensidade emotiva do rapazola Townshend, ele exibia a autocomplacência e autoindulgência típicas de uma crise de meia-idade, muito mais próxima à sua condição balzaquiana.
Mas mesmo com essa separação de mais de dez anos no tempo, tanto real quanto psicológico de seus autores, as duas óperas contam aproximadamente a mesma história. Um garoto nasce na Segunda Guerra e nem chega a conhecer seu pai, que morre no conflito. No mundo caótico do pós-guerra é criado com sacrifícios pela mãe, desenvolvendo uma relação fortemente edipiana e isolando-se do exterior – Tommy fica cego, surdo e mudo; Pink constrói um muro à sua volta. Por causa disto, suas relações com mulheres são problemáticas e centradas na relação sexual: Tommy com a rainha do ácido, Pink com a groupie e sua esposa, com quem não consegue se comunicar.
Desesperadamente solitários e carentes, os dois garotos só conseguem se expressar artisticamente, Pink com o microfone e Tommy com a máquina de flipper, cujos predicados – diversão juvenil, coisa de quem não tem o que fazer, de marginais, sem importância – revelam-na uma metáfora para o rock'n'roll como enxergado pelo establishment na época.
Aí a história difere. Mas nem tanto assim. Tommy consegue superar seu narcisismo, atravessando simbolicamente o espelho onde conseguia se enxergar. Cura-se de sua cegueira-surdez-mudez elevando-se espiritualmente, preocupando-se com o mundo em volta. Supera, pelo menos em parte, seus conflitos edipianos (não por coincidência, o espelho é quebrado quando a mãe o empurra violentamente para longe), e está pronto para usar sua arte para levar a iluminação ao mundo, surgindo como um messias com uma mensagem de paz e amor. Pink é traído pela esposa e mergulha de vez num edípico poço profundo de autopiedade e carência. E ressurge, não como o salvador Tommy, mas como o anticristo nazista. Ao seguir para o palco, a mensagem que leva é de ódio e amargura, rancor e ressentimento contra o mundo que não o fez feliz mesmo depois de transformá-lo em superstar rico e casado com uma bela mulher.
E as duas óperas apresentam o público, aquele povo que estava comprando os discos de seus autores, fazendo suas fortunas e fornecendo-lhes uma agitada vida sexual, pois é, justamente aquela galera, como um bando de retardados sem ideologia, alienados e manobráveis, cheios de rancor e ódio. Tommy ascendeu espiritualmente e não consegue se comunicar mais com seus seguidores, o que os leva a atacá-los. Pink desceu de vez ao inferno edipiano e leva junto sua platéia num surto infantil de destruição, exibindo todo o ressentimento e rancor contra o mundo normal.
TOMMY é muito mais metafórico. Além da máquina de pinball, metáfora do rock, temos a cegueira-surdez-mudez do garoto, alegoria para seu isolamento emocional, o correspondente ao muro na história de Waters. O assassinato acidental do pai pelo namorado da esposa (1), o evento que deixa Tommy cego, surdo e mudo, também não deve ser tomado literalmente, mas como o jeito que Townshend encontrou para retratar como um menino entenderia a mãe na cama com outro sujeito que não seu progenitor, morto como herói defendendo o país na guerra.
O filme TOMMY foi feito no auge do glam rock, do glitter rock, quando os roqueiros todos usavam paetês e lantejoulas e casacos angorá e coletes com plumas e afins. Um exagero só. E Ken Russell, cineasta visualmente esfuziante, embarca vigorosamente nessa onda. A película é sobrecarregada por todos os lados. Começa calmamente, é verdade, quase pastoral, mostrando um casal namorando num cenário lindíssimo – tão lindo, na verdade, que John Boorman o usou em ZARDOZ e EXCALIBUR. O casal volta à cidade e um pesado e antigo lustre pairando sobre eles, enquanto dançam sozinhos, as expressões bem mais carregadas, pressagia o peso do destino prestes a atingi-los. O homem embarca em seu bombardeiro para uma missão de guerra. A mulher volta a seu trabalho – encher granadas de artilharia com shrapnel, balins de aço, arma antipessoal.
Está armado pela guerra o cenário que deflagraria a imensa carência dos garotos das duas óperas e do mundo do rock'n'roll. O pai ausente lutando – e morrendo – na guerra e a mãe na rua, trabalhando. A rainha do lar, a dona de casa, começaria a desaparecer nessa época e as crianças, num mundo de guerra fria, avanços tecnológicos que aumentavam a transmissão de informação, acabando com uma era de certa inocência analfabeta, iriam se transformar nos delinquentes juvenis, adolescentes-problema ou juventude liberada dos anos 50 (2). Nora está no trabalho – uma linha de montagem somente com mulheres, que na geração anterior estariam todas em casa – quando chega uma motociclista militar com uma mensagem. A motociclista também é uma jovem, e a fuligem em seu rosto desenha os óculos de proteção que ela estava usando para dirigir – dando a aparência de que ela tem um bigode! Ken Russell também sabe criar sutis metáforas visuais! A mensagem é um telegrama informando a Nora que seu marido morreu.
E nasce Tommy, e Nora conhece seu namorado numa colônia de férias e se muda com ele. Até aí o longa desenvolve-se de forma relativamente convencional. É a partir da cegueira-surdez-mudez de Tommy que ele se transforma numa caricatura, numa enorme alegoria. Talvez para que experimentemos a realidade distorcida onde Tommy mergulha. Seu isolamento do mundo exterior aguça seu universo interior e desenvolve seus dotes artísticos, subentendemos. É o que nos narra a música AMAZING JOURNEY (Sickness takes his mind to places where it usually doesnLt go – a doença leva sua mente a lugares aonde usualmente elas não vão. Venha, siga esta surpreendente jornada e aprenda tudo que há para saber). Nem tudo, aliás. Ele terá depois que vencer o isolamento que despertou sua consciência artística, para realmente amadurecer e ter o que dizer.
De qualquer forma, é depois do assassinato do pai que o filme se torna caótico e esfuziante até demais. As personagens se tornam caricaturas. É difícil imaginar que a apaixonada Nora do começo do filme vire aquela mulher vã que sai com o amante e deixa o garoto indefeso nas mãos de um tio que abusa dele sexualmente e de um primo valentão da escola que abusa dele fisica e psicologicamente. A ainda gostosa Ann-Margret se defende bem no microfone, mas Oliver Reed canta desagradavelmente e fere nossos ouvidos. TOMMY, o filme, é falho, anacrônico e representa apenas superficialmente sua época. Apesar de contar com trama e música superiores, THE WALL funciona melhor como cinema.
Alan Parker, ótimo diretor, contou com a ajuda do desenhista Gerald Scarfe para iconografar a ópera-rock autopiedosa de Roger Waters. Graças à incisividade dois dois primeiros, a platéia não fica o tempo inteiro pensando durante a fita “por que esse sujeito rico, bem-sucedido, astro do rock e jovem está chorando tanto por ser tão infeliz?”. Parker também contou com os novos negativos que surgiram no final dos anos 70 e início dos 80, capazes de uma maior riqueza de tons e superior sensibilidade à luz (3), para criar uma atmosfera de claro-escuro e luzes constrastantes que dá ao longa uma aparência muito mais atual do que a iluminação plana de TOMMY, que lhe dá aquele visual obsoleto e barato.
A edição de videoclipe, à frente de seu tempo, a riqueza da direção de arte, e a intensidade da raiva de Parker resgatam THE WALL. Apesar de toda a obviedade de sua trama e sua letra, o filme é visualmente hipnótico. Um então desconhecido Bob Geldorf, antes de orquestrar o Live Aid e virar Sir, empresta seu rosto (à época) anônimo para a crise do roqueiro Pink. Sem pai e sem família além da mãe, ele se isola num infernal paraíso edipiano, tornando-se um poço de profunda carência, a mesma carência de afeto que leva Tommy a implorar atenção recorrentemente (“see me, feel me, touch me, heal me”). Mas como Pink não ultrapassa seu narcisismo, seu pedido por atenção é a ameaça de suicídio (“good-bye, cruel world” e todo o subtexto de grande parte das letras).
As flores que viram uma piroca e uma boceta, sendo que esta devora a primeira, é tão pouco sutil quanto qualquer coisa na fita de Ken Russell, mas a beleza dos desenhos animados de Gerald Scarfe, antes dos computadores, faz-nos perdoar sua pretensão. A marcha dos martelos é simplesmente inesquecível. Todo o ressentimento reprimido de Pink irá explodir quando sua esposa o trair, afastada que foi pela incapacidade de Pink de se preocupar com alguém além dele mesmo, e levá-lo depois definitivamente à loucura, ao contrário da iluminação que Tommy alcança, mesmo quando todos seus seguidores o abandonam.
Assim, os dois filmes narram a formação do zeitgeist da Swinging London. Explica por que aquele povo todo aderiu à rebeldia do rock'n'roll. São, a seu modo, um TERRA EM TRANSE britânico, mostrando as preocupações e a educação sentimental dos poetas do país e a encruzilhada em que se encontravam, bem como por que a turma dos anos 60 simplesmente acabou um dia e deu lugar à galera dançante dos anos 80, preocupada em resgatar a simplicidade do rockabilly da década de 50, e depois à música eletrônica. Iluminados e resolvidos, ou loucos, talvez até mortos de overdose, os roqueiros da contracultura haviam se esgotado. Eles não conseguiam mais se comunicar com seu público. Sua música dependia da juventude para não se mostrar uma patética exibição de autopiedosa crise de meia-idade. Não sobreviveria à idade, a não ser sob o preço de um messianismo fascista. Como Townshend já dizia bem antes de compor TOMMY, sua ideologia pressupunha morrer antes de envelhecer. Muito tempo depois, já quase cinquentão, perguntaram ao velho Pete, “mas e aí, cara, você não preferia morrer a envelhecer?” e o coroa respondeu, inteligentemente, “mas eu AINDA quero morrer antes de ficar velho”.
(1) Na ópera-rock original, o pai voltava e acabava matando, junto com a esposa e sem intenção, o namorado dela. O pai voltando e acabando assassinado sem querer foi detalhe original do filme. A montagem teatral da Broadway dos anos 90 retoma a trama do álbum e mantém o pai vivo, matando o amante.
(2) Confira a obra-prima da década de 40 de William Wyler, OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS, quando Fredric March, voltando ao lar depois de anos na guerra, vê surpresa a filha que não viu crescer saindo para a rua à noite sob o olhar complacente da mãe, Jane Wyman. Quando March pergunta que independência é essa da adolescente, Wyman explica que a garota trabalhou como enfermeira voluntária e já viu no hospital mais coisas até do que eles mesmos, deixando subentendido que talvez ela sequer seja mais virgem – e a mãe nem liga!!!! O já citado John Boorman, em seu filme dos anos 80, ESPERANÇA E GLÓRIA, também mostra uma mãe conformando-se com a precoce e solteira vida sexual da filha. Afinal, explica ela, talvez a garota nem esteja viva amanhã. É melhor aproveitar enquanto é tempo.
(3) No final dos anos 60, o sistema de cor Technicolor, que dava maior riqueza de tons e saturação de cores, foi abandonado por sistemas muito mais baratos e de cores muito mais chapadas. Filmar a cores também exigia intrinsecamente mais luz do que com película monocromática. Guardo como lembrança o fotômetro de meu falecido pai, que tem marcações diferentes para fotografar a cores ou em preto-e-branco, mesmo quando a sensibilidade nominal é a mesma. Como resultado disso tudo, o cinema dos anos 70 tem aquele indisfarçável sabor de produção para a tevê ou de seriado, com uma iluminação plana, sem subtons, sem contrastes, sem contraluzes. Filmes como O PODEROSO CHEFÃO apresentam maior textura e riqueza de cor, mas graças a uma técnica desenvolvida por Vittorio Storaro e outros diretores de fotografia: expor rapidamente o negativo, para velá-lo parcialmente, antes de começar a filmar. A imagem final ficava mais rica e texturizada, com muito mais subtons, mas em compensação tinha uma granulação bem maior, perdendo bastante nitidez. Se você acha que não, é porque assistir ao longa numa tela de tevê, bem menor que a de cinema, resolve em parte o problema. A outra parte foi resolvida na transcrição para DVD, quando os grandes estúdios normalmente “limpam” digitalmente qualquer ruído desagradável da fita. No final dos anos 70 foram introduzidas novas emulsões coloridas, com maior sensibilidade e riqueza de detalhes. Os cineastas imediatamente começaram a brincar com elas, resgatando o filme noir e o claro-escuro e dando aos anos 80 aquele ar dark e gótico.
Praia de Botafogo em 1930
O edifício grande no centro da foto colorida à mão é o Pimentel Duarte. Ficava na esquina da Marquês de Olinda, rua onde morei por mais de vinte anos. Quebrei o braço saltando seu murinho com uma cambalhota. Quando o conheci, ele já estava decadente e semiabandonado, embora ainda morasse gente lá. Sua portaria com mármores e bronzes ainda era imponente e ele tinha uma mureta que circundava em curva a esquina, por isso que a pulávamos para cortar caminho pelos jardins dele. Soube recentemente, no fotolog de onde tirei esta foto (e para o qual há um link em meu perfil, sob o título de Centenas de Maravilhosas Fotos do Rio de Janeiro) que foi o primeiro prédio de apartamentos da Zona Sul. Foi construído nos anos 20, uma jóia de art-decô.
Mexendo nesse fotolog descobri que os primeiros edifícios de apartamentos de Copacabana foram o OK e o Petrônio, na Praça do Lido. Os dois AINDA estão lá, nos números 21 (esquina com Atlântica) e 55 da Ronald de Carvalho. O Petrônio, particularmente, se não fosse por sua pintura horrível, tem uma aparência extremamente moderna. Não imaginava que se construísse coisa assim nos anos 20 por aqui. Se forem lá ver, não deixem de visitar o Edifício Guahy, uma obra-prima de art-decô, com ziguezagues criando faixas de luz e cor, também na Ronald de Carvalho, quase esquina com Barata Ribeiro.
O prédio da praia de Botafogo da foto, o Pimentel Duarte, foi demolido nos anos 80 e deu lugar ao edifício da Caemi, que usou ainda outro terreno e botou abaixo também um suspeito sobrado onde funcionava um tal de Hotel Hiedra - Hotel Familiar, do lado do finado Andrews.
A ECO - Minha Faculdade - em 1865
Os Não Tão Mais Belos Poemas de Amor
Por que fiquei com você?
Foi o que você falou assim que me viu
Apreciou meu corpo, minhas pernas, meus seios
Mas falou da beleza de meu rosto
e da inteligência em minha expressão
e das emoções que via em mim
Desvendou a meus olhos o que eu era aos seus olhos
Fez-me sua mulher numa única frase
Tomou meu corpo e o infundiu
com o espírito e a personalidade
que criou para ele
Eu sou muitas
Eu sou todas
e só me entregarei àquele
que souber me fazer uma só
Aquele que souber me fazer aquela que seja sua
Aquele que me conquistar
(Fielmente baseado num diálogo do roteiro de ÓDIO CEGO)
Foi o que você falou assim que me viu
Apreciou meu corpo, minhas pernas, meus seios
Mas falou da beleza de meu rosto
e da inteligência em minha expressão
e das emoções que via em mim
Desvendou a meus olhos o que eu era aos seus olhos
Fez-me sua mulher numa única frase
Tomou meu corpo e o infundiu
com o espírito e a personalidade
que criou para ele
Eu sou muitas
Eu sou todas
e só me entregarei àquele
que souber me fazer uma só
Aquele que souber me fazer aquela que seja sua
Aquele que me conquistar
(Fielmente baseado num diálogo do roteiro de ÓDIO CEGO)
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