agosto 03, 2008

Aviões de Combate Parte II

Ok, você já leu sobre os bombardeiros. Agora é hora de ler sobre seus caçadores, os

Interceptadores

Desde que foi inventado por volta do século XIII, até a metade do século XIX, o canhão não mudou muito. Era um tubo oco e grosso de bronze, fechado numa das extremidades, apoiado num suporte, geralmente com rodas, para facilitar o transporte. Os artilheiros jogavam a pólvora lá dentro, socavam, punham a bala, socavam, substituíam e acendiam uma mecha que se comunicava com o interior do cano, a qual deflagrava uma explosão que, contida, pelas paredes metálicas, impulsionava o projétil - e empurrava toda a peça de artilharia vários metros para trás também, o famigerado recuo ou coice, que obrigava os soldados por perto a pularem na hora do tiro. Uma vez disparada, a arma tinha que ser recolocada no lugar certo, limpada e o ciclo reiniciava.

Algumas mudanças nas técnicas de fundição, nos metais usados e na fabricação dos projéteis, entre outras coisas, aumentaram o alcance e a confiabilidade da artilharia através dos séculos, mas os procedimentos para o tiro continuavam sendo os mesmos. No entanto, com a Revolução Industrial, a arma mudou radicalmente. A pólvora negra foi substituída pela mais potente nitrocelulose, sem fumaça. O avanço na metalurgia permitiu à carga ser feita pela culatra (traseira) e não mais pela boca - a cápsula metálica ajudava a selar a explosão e tornava desnecessário despejar pólvora e bala separadamente. E, finalmente, em 1897 os franceses inventaram um suporte hidropneumático amortecedor para o recuo da peça. Isso significava que o canhão não se movia durante o tiro e acarretava várias consequências importantíssimas:

- A mira podia ser mais perfeita, já que uma vez definida a posição da peça, ela não mais se moveria e, pelo menos em teoria, dispararia sempre no mesmo local. A precisão era ajudada também pelos novos canos estriados, ou seja, com raias espiraladas no interior; a bala, uma vez disparada, engata nelas e gira enquanto percorre o caminho até a boca, ganhando um movimento giratório que aumenta o alcance e a capacidade de acertar o alvo;

- Com a cápsula metálica e a carga pela traseira, um canhão podia ser recarregado enquanto o cano avançava lentamente de volta à sua posição original; como o suporte não se movia, os artilheiros podiam ficar calmamento do lado da arma, um abrindo a culatra, outro introduzindo o projétil e outro fechando tudo com um giro de 1/4 de volta, num destro movimento de punho. Por este motivo esses canhões ficaram conhecidos à época como "canhões de tiro rápido";

- E, como os soldados ficavam parados quietos do lado da peça, o suporte podia incorporar uma chapa de aço à prova de balas, que tornava os artilheiros quase invulneráveis a armas portáteis.

Já em 1870, o uso de canhões de aço com cano estriado pelos alemães ajudou a arrasar os franceses. Com a invenção do suporte hidropneumático então, a artilharia passou a ser a principal arma no campo de batalha. A produção de aço media a capacidade bélica de uma nação. E foi com essa mentalidade que toda a Europa entrou na I Guerra Mundial.

E, por consequência, o grande papel do recém-inventado avião (nem uma década de idade ainda!) era sobrevoar o campo inimigo e localizar os alvos para a precisa e mortal artilharia de longa distância (1). E também, claro, observar os movimentos de tropas inimigas.

Na verdade não era realmente um desperdício de uma grande arma. Os aparelhos da época tinham pouca potência e carregar metralhadoras ou bombas era complicado. Também era considerado muito complicado prum sujeito pilotar o avião, perseguir as aeronaves inimigas e ainda ter que fazer mira. E onde pôr a arma? Foi tentado em cima da asa superior, mas era difícil para recarregar e para acertar os tiros, já que envolvia um cálculo de paralaxe. O ideal seria uma arma bem na frente, alinhada com a visão do piloto e o eixo central da máquina, mas a hélice impossibilitava tal posição.

Assim os estados-maiores ficaram satisfeitos em usar aviões para observar alvos de artilharia e os projetaram para esta tarefa. Ou eles tinham dois lugares, com o segundo sendo ocupado por um observador, ou então, como o B. E. 2 inglês, eram desenhados com tanta estabilidade inerente que o piloto podia até tirar ambas as mãos dos controles e ficar desenhando o que via lá de cima. Sim, desenhando, pois não havia máquinas fotográficas que se prestassem a este papel. Saber desenhar era requisito para admissão na força aérea inglesa (que ainda não era a RAF). Os rádios d'antanho também não cabiam naqueles frágeis biplanos construídos com estrutura de madeira e recobertos de lona. Quando os generais precisavam de informações dinâmicas, eles subiam um balão cativo bem alto e, pelo cabo de amarração, corriam um fio de telefone para que o observador na cesta dissesse o que se passava além das linhas inimigas, lááááá longe no horizonte.

Os exércitos não gostavam de ter seus movimentos observados e nem que o inimigo soubesse onde estavam todas as suas baterias e seus alvos vitais e logo começou a se buscar uma maneira de abater aqueles observadores aéreos. Alguns aviões bipostos ou biplace (de dois lugares) ganharam uma metralhadora para o observador. Outros monopostos (de um lugar) receberam aquela arma em cima da asa. Mas tais improvisações não funcionaram bem. O aparelho que assumiria esse papel de matador viria de uma idéia de Anthony Fokker para instalar uma arma bem em frente ao piloto.

Numa guerra que se caracterizou pela falta de idéias criativas não é de se estranhar que alguém levasse tanto tempo para se tocar que podia fazer um interruptor que impedisse a metralhadora de disparar quando a hélice estivesse na frente dela. Roland Garros, o piloto que deu nome ao torneio de tênis que o Guga ganhou três vezes, chegou mesmo a blindar a hélice para poder disparar através dela, achando emocionante o zumbido das balas rebatidas que passavam perto (lembrava bolas de tênis?). Garros foi derrubado e os alemães, inspecionando seu avião, pediram a Fokker que fizesse algo parecido pra eles. O engenheiro, entretanto, sonhou que estava atirando pedras através das pás de um moinho de vento e pensou em um mecanismo de interrupção, um gatilho que girava junto com a hélice e, quando esta passava em frente à mira, travava momentaneamente a metralhadora. Instalado o dispositivo num monoplano relativamente rápido, o Eindecker (Gaivota), ele ajudou a criar a fama do aparelho como o Flagelo Fokker, tamanha a quantidade de naves inimigas que derrubou sem resposta. O primeiro interceptador.

O Eindecker não era um caça de combate aproximado, pois não tinha a agilidade e velocidade necessárias para tanto. Embora tenha varrido dos céus qualquer oposição, não era um caça de superioridade aérea, já que só existia um tipo de avião nos céus além dele, os de observação, e nenhum outro caça que ele tivesse que bater. Quando os aliados conseguiram criar um adversário para ele, ele saiu rapidamente de cena, vítima de suas vulnerabilidades. O aparelho lançado contra ele ainda não tinha mecanismo interruptor, era um biplano impulsionador, ou seja, a hélice ficava atrás da nacele do piloto, empurrando a aeronave, ao invés de puxá-la, como nos mais tradicionais modelos tratores. Assim, com o motor virado pra trás, a metralhadora não tinha nada na frente para impedir o tiro.

Mas durante dez meses o Eindecker fez a festa. O B. E. 2, por exemplo, com sua estabilidade inerente, era quase incapaz de manobrar. Praticamente um patinho numa galeria de tiro. E, além disso, os ingleses tinham problemas em casa, longe do campo de batalha na França. Embora os aviões da época fossem incapazes de levantar uma carga de bombas significativa, os alemães tinham os enormes zepelins, que pairavam mais alto, iam mais longe e carregavam mais tonelagem do que qualquer outra aeronave da época.

Os zepelins realizaram alguns bombardeios que tiveram mais efeito moral do que material (com exceção, é claro, das famílias dos poucos infelizes vitimados pelas explosões), mas ainda assim seu potencial alarmava os governantes e não havia nenhum avião que pudesse atingi-lo à altura em que ele flutuava. Até que os britânicos começaram a envenenar os motores de seus caças, tirar todo o peso excedente e armá-los com balas incendiárias. Como os dirigíveis eram na verdade enormes sacos cheios de hidrogênio inflamável...

O Eindecker e esses aviões foram os primeiros modelos de interceptador - um caça projetado especialmente para derrubar outros tipos de aviões de combate, não outros caças. Manobrabilidade, altos ângulos de ataque, leveza, nada disso é essencial para o interceptador. Ele precisa de alta velocidade de cruzeiro para chegar logo ao alvo antes que cause maiores danos, seja observando a artilharia, atacando o solo ou executando bombardeios estratégicos. Precisa ser bem armado, para derrubar máquinas enormes, cheias de motores e blindagem. E precisa ser capaz de aguentar o fogo defensivo de suas presas. O tamanho das armas e a estrutura sólida normalmente fazem do interceptador o maior dos caças, mesmo que grande alcance seja secundário, já que ele normalmente atuará apenas na defesa do território.

Com o desenvolvimento da aviação, muitos caças eram apropriados para múltiplas tarefas. O Spitfire, o melhor caça de combate aproximado europeu no começo da II Guerra, também funcionou à perfeição como interceptador na Batalha da Inglaterra, embora o mais lento e menos manobrável Hurricane fosse considerado uma melhor plataforma de armas, por mais pesado e estável. Ambos os modelos, no entanto, beneficiaram-se da ausência de bombardeiros estratégicos na Luftwaffe, a força aérea alemã. Tanto o Junkers Ju 88 quanto o Heinkel He 111 eram aeronaves pouco blindadas e com leve armamento defensivo (o 88 ainda seria bastante aperfeiçoado durante o decorrer das hostilidades). Os americanos, entretanto, com sua filosofia de pegar um enorme motor, cercá-lo de blindagem e armamento, e mandá-lo para a batalha, não tiveram resultados tão bons na multitarefa. O pesadão P-47 Thunderbolt, esplêndido interceptador, conseguia escoltar os B-17 quando eles iam atacar a Alemanha, mas se enrolava todo ao entrar em combate aproximado com os caças germânicos que iam interceptar os quadrimotores estadunidenses. Os ianques só conseguiriam seu caça de escolta de longo alcance ao encher todos os espaços vazios do Mustang P-51 com tanques de combustível.

Se os americanos tiveram problema em usar seus interceptadores como escolta, os alemães tiveram que se virar para fazer seus caças de superioridade aérea derrubar os quadrimotores aliados. Blindados e bem armados, esses bombardeiros exigiram que os aparelhos germânicos fossem adaptados para carregar canhões extras em gôndolas, além de armas de maior calibre no lugar das metralhadoras habituais. Tais adaptações diminuiram obviamente o desempenho dos aviões e os deixou em desvantagem quando os Mustangs começaram a conseguir acompanhar os ataques ao território alemão e ilustram bem a diferença entre caças e interceptadores.

Então, como vimos, os interceptadores da II Guerra eram grandes, pesados, bem armados e velozes. Daí a serem improvisados como caças-bombardeiro e aviões de ataque ao solo foi um pulo. A FAB fez sua fama destruindo trens na Europa com seus P-47 Thunderbolt. O P-40 Hawk já estava obsoleto quando os EUA entraram na guerra, mas sua robustez tornava-o difícil de ser derrubado pelos superiores Zero. Aproveitando sua alta velocidade de mergulho, sua blindagem e seu armamento, os Tigres Voadores, uma unidade de elite de americanos na China, deram uma surra nos japoneses. Essas mesmas qualidades o fizeram ótima arma de ataque ao solo.

Com o fim da II Guerra Mundial e o alvorecer da guerra eletrônica, os interceptadores ganharam sua última característica peculiar: o vínculo com o sistema de defesa de terra. Os ótimos caças MIG, por exemplo, com seus motores a jato de primeira geração que queimavam muito combustível, tinham pouquíssimo alcance. Eram guiados pelas estações de radar até o inimigo, disparavam suas armas e voltavam (incidentalmente, o curto raio de alcance, aliás, servia também para evitar que os pilotos fugissem para o Ocidente). Na década de 50 os americanos desenvolveram o Delta Dart, inesquecível para quem cresceu nos anos 70, no meio ainda da mania da era espacial, pois foi o primeiro supersônico com aquele característico perfil de asa em delta, sem cauda. Assim como o MIG ele era levado pelas torres de controle até o alvo, só que não era guiado pelos operadores, e sim diretamente pelos computadores de bordo em comunicação com o equipamento em terra. O Delta Dart é considerado por muita gente o melhor interceptador jamais construído.

Mas, como dizem, depois do ápice vem a decadência. E os anos 60 trariam o ocaso do interceptador. À medida em que o transistor ia expulsando a válvula da eletrônica e trazendo consigo a miniaturização, o alto comando americano começou a acreditar que as manobras aéreas e o combate aproximado estavam com os dias contados. A luta nos ares se resumiria a quem tivesse o radar mais poderoso, capaz de localizar o inimigo antes, ainda bem longe do alcance visual, e o melhor míssil, capaz de vir lááááááá dos cafundós e buscar a aeronave adversária. Pra comandar todo o complicado e computadorizado sistema de armas, o ideal seria ter um segundo tripulante e, pra isso, era necessário um avião grande, com um motor enorme e, já que estamos falando de tudo grande mesmo, capaz de efetuar missões de bombardeio.

Foi com essa filosofia em mente que surgiram o Phantom e o Thunderchief, dois enormes aparelhos pesadões, Mach 2. O Phantom nem canhão tinha. O que ninguém tinha levado em conta, entretanto, era que a eletrônica nos anos 60 não estava tããããão desenvolvida assim. Tão pouco confiável ela era, na verdade, que determinou-se que a identificação do adversário tinha que ser confirmada visualmente pra ninguém derrubar um colega ianque. E, a curta distância, perseguindo Migs de duas gerações atrás, ágeis e pequenos demais pra serem um bom alvo, a velocidade e os mísseis não eram vantagens tão boas assim.

Face aos primeiros resultados da luta aérea no Vietnã, a filosofia de combate nos ares dos americanos mudou toda. Os Phantom ganharam canhões improvisados e flapes especiais que aumentavam o tamanho da asa, o que lhe possibilitava curvas mais fechadas e capacidade de manobrar com o inimigo. O Thunderchief foi deslocado para missões de bombardeio - normalmente ele bombardeava as estações de radar e de mísseis antiaéreos, aproveitando ser um aparelho mais discreto e rápido do que os bombardeiros convencionais. E, mais importante, as especificações para as próximas aeronaves passaram a incluir requerimentos de alta manobrabilidade e capacidade de combate aéreo aproximado, gerando aviões como o soberbo caça de superioridade aérea F-15 Eagle e o jato que reinou um bom tempo como melhor caça de combate aproximado do mundo, o F-16 Fighting Falcon.

Com os soviéticos também encolhendo sua frota de bombardeiros e o grande desenvolvimento dos mísseis antiaéreos, mais do que capazes de buscar e derrubar alvos grandes, os interceptadores foram perdendo sua razão de ser. No mundo dos caças para múltiplas funções dos anos 70, que enfatizavam a agilidade, eles não tinham espaço. O Delta Dart foi repensado para o combate aproximado e, para surpresa de todo o mundo, revelou-se uma excelente aeronave neste papel, o que é completamente inesperado para aparelhos de asa delta sem cauda, pois os ailerons da asa precisam desempenhar seu papel e o daqueles da cauda (na verdade, seu desempenho é tão diferente do aileron de asa normal que ele é chamado de elevon).

É sintomático que, mesmo ganhando essa sobrevida e sendo uma máquina magnífica, o F-106 Delta Dart nunca tenha entrado em ação, nunca disparando suas armas contra inimigos de verdade, mesmo sendo contemporâneo da mais longa guerra travada pelos americanos. As novas lutas que os EUA travariam pelo mundo não seriam conflitos finais nucleares, mas confrontos limitados contra inimigos menos dotados tecnologicamente, sem acessos a equipamentos tão caros como bombardeiros. Não havia lugar no Vietnã para o melhor interceptador de todos os tempos, assim como não houve no Iraque, na América Central ou nos Bálcãs. O interceptador só se justificava quando existiam nos ares monstros de metal de mais de 100 toneladas, carregando o Armaggedon no ventre. Extintos os dinossauros, seus predadores seguiram o mesmo caminho, abrindo caminho para os mamíferos dos jatos, os
caças de múltiplas funções.

2 comentários:

janilsonlima.com disse...

Muito legal seu artigo, cara. Adorei.

Anónimo disse...

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