setembro 26, 2009

Quando o Rio de Janeiro foi Reconstruído

Foi um monte de vezes, mas o que nós conhecemos é este cheio de arranha-céus e de onde foram banidas as casas dos bairros do Centro pra Zona Sul. Botafogo, que ainda tinha muitas em bom estado, está sendo posto abaixo neste momento. Desde que me mudei para a rua Fernandes Guimarães (uma das primeiras daqui!), perto da rua da Passagem, já vi subir oito prédio nos quarteirões adjacentes. Mais dois vão ser construídos.


Às vezes, vendo fotos nem tão antigas assim, do rio até os anos 50, mesmo anos 60, a cidade, apesar de grande, tinha outro perfil (lembrem-se que estou falando da área mais valorizada da cidade - os subúrbios ainda têm muitas casas, mas, embora sua densidade populacional ainda seja bem menor, elas estão sendo substituídas por prédios, ainda que mais baixos em suas contrapartes mais caras). Vendo fotos de prédios históricos ou bonitos ou mesmo tão alienígenas quanto o do Elixir de Nogueira (no cartão postal obviamente fora de escala), sempre ficamos pensando como puderam derrubar tais verdadeiros monumentos.

Pois é fácil descobrir o porquê: acabo de assistir ao blu-ray (chique, hein?) do épico em Cinerama (a imagem é espetacular, mesmo com as distorções de perspectiva) A CONQUISTA DO OESTE. Após seguir a saga de uma família, termina mostrando a terra prometida aonde o progresso nos levou: vias expressas cheias de automóveis e uma megalópole cheia de arranha-céus colados uns nos outros. Estávamos na era áurea do sonho americano - bigger is better. Acreditávamos no carro como o grande salvador e criamos Brasília como um monumento a esta máquina poluidora e egoísta. E ainda a transplantamos para a Barra.

O progresso iria nos levar a morar em torres altas cercadas de amplas áreas ajardinadas e o automóvel venceria essas distâncias para nos levar aonde quiséssemos em avenidas largas e sem sinais, pois não haveria pedestres. Tente caminhar de um condomínio para o outro na Barra. Logo de cara cria-se um fetichismo pelo automóvel que vai acabar descambando para o materialismo. Sem falar no isolamento, na falta de contato com pessoas de outras classes, credos, maneiras de viver e encarar a vida... Gente como Jane Jacobs começou a mudar esse jeito de ver as urbes nos anos 60, como em sua grande obra MORTE E VIDA DAS GRANDES CIDADES, onde aponta que os urbanistas que criaram esse conceito viveram nas horrorosas metrópoles do século XIX movidas a cavalo, fedendo a merda de cavalo, que se transformava na onipresente e malcheirosa lama. Esses sujeitos na verdade odiavam a vida metropolitana - a diversidade, a multiplicidade, as oportunidades, os encontros casuais - e foram eles que vieram com a ideia da cidade perfeita.

E é assim que a visão otimista e futurista de um filme dos anos 60 termina com uma vista aérea de uma horrorosa metrópole, depois de mostrar homogêneas e intermináveis planícies aradas sem viv'alma à vista e minas escavadas nas belezas naturais da terra. Bigger is better e parecia que nada poderia deter o homem. A não ser a destruição do planeta, os ecologistas e os neomalthusianos.

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