outubro 10, 2009

Vizinhança IV



Uma casa típica botafoguense (e carioca) de fins do século XIX, início do XX. Botafogo, construído em cima de vários rios, sempre foi propensa a inundações durante chuvas, por isto as moradias costumavam ter sua entrada elevada. Também porque o principal meio de transporte era o cavalo. Suas fezes, misturadas com a chuva e a terra, ou ressecadas e espalhadas como poeira para também virarem lama quando chovia, eram presenças constantes nas cidades da época, que, calçadas com paralelepípedos e macadame, nem ao menos absorviam organicamente as coisas.

Incidentalmente, foi a tentativa de se livrar desta lama porca e malcheirosa, onipresente e dominante na urbe, que levou os urbanistas a abraçarem tão fervorosamente o automóvel quando ele surgiu e projetarem a cidade do futuro com amplas e largas ruas para dar vazão ao carro particular, o remédio tão aguardado para os detritos equinos. Foi também a sujeira que levou à ideia da cidade-jardim, amplos conjuntos habitacionais semiautônomos e postados no meio de amplos espaços. Típicas desta concepção são a Barra da Tijuca e Brasília. Os amplos espaços tornaram-se desertos e o desestímulo ao pedestre esvaziou as calçadas desses lugares, tornando-os áridos e pouco afeitos à presença humana.

Como diz Jane Jacobs, no monumental "Vida e Morte das Grandes Cidades", os criadores da cidade-jardim simplesmente odiavam tudo que fazia uma cidade: a concentração de serviços, postos de empregos, atividades, opções de lazer, gente a ser conhecida etc. etc. Somente nos anos 60 (lá fora) e 80 (por aqui) é que voltou-se a valorizar a comunidade de prédios pequenos, com comércio no térreo, todos próximos um do outro, dando vida às calçadas e aos bairros.

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