O ET de Varginha eclipsou um evento ufológico brasileiro muito mais misterioso do que a lenda urbana do interior de Minas. Segundo Zé José, enviado especial da Manchete pra apurar o que estava acontecendo naquela cidade mineira, teve um temporal, os bombeiros saíram muito por causa das chuvas e, tendo umas garotas visto algo de relance, os ufólogos logo começaram a alegar que as saídas dos bravos soldados do fogo eram para resgatar a espaçonave e o alienígena.
Mas, uma década antes, acontecimentos bem mais palpáveis haviam reposto o Brasil no mapa estelar. Nossa terra já é famosa por ter sido o cenário do primeiro contato imediato de quarto grau; sim, o primeiro sujeito a transar com xenóbios foi um brasileiro - tinha que ser, né? - chamado Antônio Villas-Bôas em 1957. Tudo bem que fosse antes da Revolução Sexual e as meninas não davam antes de casar, mas esse realmente pelo jeito paquerava qualquer coisa. Mas o caso de Villas-Bôas (parece que este sobrenome está destinado a abrir canais de comunicação com outras culturas), apesar de ter inaugurado uma tendência toda própria da ufologia, ainda assim depende apenas de seu testemunho. Em 1986, essas plagas foram invadidas por algo até hoje inexplicável.
Em 19 de maio de 1986 o Brasil estava se preparando para assistir pela segunda vez a uma Copa do México pela tevê. O plano cruzado havia, pelo menos momentaneamente, elevado a autoestima do país, que estava eivado de fervor patriótico. Eram tempos estranhos e pra combinar com eles, nada melhor do que uma invasão de discos-voadores, narrada virtualmente ao vivo pelos telejornais, a partir do momento em que as telas do Cindacta, o sistema de radar brasileiros, começaram a pipocar com sinais de origem desconhecida.
O primeiro sinal foi no sudeste, por volta de 19 horas. O coronel Ozires Silva, aviador militar, presidente da Embraer e depois da Petrobrás - ou seja, uma testemunha de respeito - recebeu uma mensagem do cindacta para verificar se estava vendo alguma coisa em torno de seu avião, já que a tela do radar acusava um contato próximo. Ozires procurou e encontrou uma luz, depois outra, e mais outra, na altura de Sorocaba.
Recebendo a confirmação visual de um objeto desconhecido nos céus, o comando da FAB mandou os F-5 da Base Aérea de Santa Cruz para a interceptação. Guiados pelo Cindacta, houve confirmação visual do contato por um dos pilotos, que ligou o pós-queimador e ultrapassou a barreira do som, mas seu alvo simplesmente mudou de direção e foi se afastando e subindo até o caça ter que desistir da perseguição por falta de combustível, que se esgota rapidamente em velocidade supersônica. O aviador informou ainda aos controladores que seu radar de bordo havia também detetado o misterioso intruso.
Mas esse foi apenas o começo da noite. Os radares do Cindacta logo depois captaram outros sinais em suas telas, desta vez em Anápolis. Por coincidência ou não, é nesta região que fica sediado o OUTRO dos dois grupos de interceptadores brasileiros, composto em Goiás pelos Mirage, aparelhos Mach 2. Os Mirage decolaram e partiram para a interceptação, e novamente um dos pilotos obteve confirmação visual, observando uma luz avermelhada, mas desta vez sem a clareza do F-5. Como o voo era noturno, ele não podia ter certeza que fosse alguma coisa sobre o mar e mesmo após ultrapassar a barreira do som não conseguiu se aproximar da estranha luminosidade, que parecia se afastar sempre à mesma velocidade que ele.
Os múltiplos contatos finalmente sumiram das telas do Cindacta e com os retornos das esquadrilhas às suas bases sem que alguma ameaça fosse detetada, a calma começou a voltar ao comando aeronáutico brasileiro. Até que às 3h00m um 707 de carga, fazendo o trajeto Guarulhos-Galeão, comandado pelo sujeito que depois se tornaria o piloto-chefe da Varig, recebeu um chamado da torre de comando indagando se estava vendo alguma coisa por perto. O aviador, Geraldo Souza Pinto, respondeu que não, mas a torre insistiu, dando a posição. Quando ele estava prestes a desistir, uma luz, segundo Geraldo, piscou como se estivesse ouvindo a comunicação pelo rádio.
Com um radar de bordo programado para detetar tempestades e não outras aeronaves, o 707 não conseguiu contatar o objeto, mas a torre o guiou o tempo todo, informando que o contato mantinha uma distância deles variando entre 40 e 50 milhas, até que se afastou a uma velocidade que os operadores calcularam ser Mach 5 - cinco vezes a velocidade do som!!!! - e os pilotos do cargueiro tiveram novamente uma visão dele, afastando-se com um rastro luminoso, lembrando um meteorito.
O caso causou tanta comoção na época que o Ministro da Aeronáutica, o Brigadeiro Moreira Lima, convocou uma entrevista coletiva para, fato inédito nos anais da ufologia, declarar que, sim, era verdade, a FAB e o Cindacta haviam passado a noite em claro caçando contatos visuais e de radar que se deslocavam a velocidades impraticáveis para objetos construídos pelo homem e, sim, eles admitiam que não tinham a menor ideia do que pudesse ter causado tanta confusão.
Entre as testemunhas dos acontecimentos da noite que tiveram visão dos contatos, estavam dois pilotos de caça - a elite de qualquer força aérea - um aviador militar que se tornaria presidente da Petrobrás e um futuro piloto-chefe da então maior companhia aérea brasileira. Nada de malucos com problemas psicológicos dando palestras sobre a chegada de Hologábulo. A única explicação plausível, sem o envolvimento discos-voadores, terra oca, Atlântida, Triângulo das Bermudas, anjos e demônios e afins, seria a de que uma potência estrangeira estivesse testando algum sistema de interferência eletrônica em condições reais, mas mesmo assim seria difícil encaixar as confirmações visuais.
Estranhamente, este robusto e extremamente bem documentado caso de avistamento de Objetos Voadores Não-Identificados, com múltiplos contatos confirmados de primeiro e segundo grau, hoje em dia está quase esquecido, apesar da comoção que causou na época. Em seu lugar, em primeiro na lista de eventos arquivo-x brasileiros, está o risível caso do ET de Varginha. Os acontecimentos de 19-20 de maio de 1986 não foram explicados como balões meteorológicos, testes secretos, gás dos pântanos, anomalias magnéticas (1) e afins, foram simplesmente admitidos e permanecem misteriosos até hoje, mas pouca gente parece se interessar pelo assunto. Será resultado de um acobertamento? Porque em algum lugar aí, não é possível, tem que haver uma teoria da conspiração.
Leia mais sobre o assunto: Arquivos Matrix
Arquivo em PDF sobre os acontecimentos
março 01, 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário