março 29, 2010

A História da Copa do Mundo III

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FRIEDENREICH

Arthur Friedenreich nasceu em 1892, mas Charles Miller teve tempo de popularizar o esporte o suficiente para que aquele garoto humilde pudesse crescer jogando futebol na várzea. Sua mãe era mulata e seu pai alemão, o que lhe deu pele clara e olhos verdes e permitiu frequentar os clubes da elite e tornar-se jogador de futebol numa época em que o amadorismo servia para mascarar o racismo - acreditava-se que os brancos eram superiores aos negros em qualquer atividade. Mas com o esporte profissional os negros poderiam treinar o dia inteiro, enquanto os brancos, mais inteligentes, com empregos melhores que não poderiam abandonar par ajogar bola, ficariam em desvantagem. É claro que isso é uma completa e absurda bobagem, mas no começo do século XX o governo estimulava a vinda de italianos para o Brasil porque o problema do país era a falta de europeus (!!!) Por conta dessa absurda tolice Friedenreich passou a maior parte de sua carreira alisando o cabelo por duas horas no vestiário antes de cada jogo para que os espectadores não percebessem que ele tinha ascendência negra.

Friedenreich foi o introdutor no futebol brasileiro do drible curto e da finta de corpo. Antes dele os atacantes apenas estavam preocupados em chutar a gol e, para se livrarem dos marcadores, basicamente jogavam a bola na frente e corriam atrás dela, dando um corte de repente. A idéia de fintar o adversário frente a frente nasceu no Brasil com "Fried", como era chamado. Também a ele são creditados os primeiros chutes de efeito (intencional) vistos por aqui.

Friedenreich tornou-se famoso internacionalmente em 1919, quando a seleção ganhou sua primeira competição internacional, o Campeonato Sul-Americano, decidido nas Laranjeiras, quando marcou o gol da vitória de 1 x 0 sobre os uruguaios, que reconheceram o talento do centroavante e apelidaram-no "El Tigre". Ainda em sua época foi considerado o melhor atacante já surgido no Brasil. Em 1925 Friedenreich excursionou pela Europa com seu time, o Paulistano, e venceu nove dos dez jogos, levando a imprensa a chamá-lo de "melhor do mundo".

Friedenreich jogou pelo Germânia (atual Pinheiros), Mackenzie, Ypiranga, Paulistano, São Paulo FC e Flamengo, onde encerrou a carreira aos 43 anos. Ele também foi um dos primeiros jogadores a ter seus gols contabilizados, primeiro por seu pai e depois pelo amigo Mário de Andrada. Em 1962, Mário de Andrada procurou a imprensa e avisou que tinha as anotações completas provando que "El Tigre" assinalara em sua carreira 1.239 gols em 1.329 jogos, marca à época inédita e hoje só superada por Pelé. Infelizmente Mário morreu dias depois, antes que pudesse entregar as fichas dos jogos, e uma pesquisa só conseguiu apurar 554 gols em 561 jogos, ainda assim números extremamente respeitáveis.

Friedenreich nunca se profissionalizou e faleceu em 1969. Após abandonar o futebol ele empobreceu e morava numa casa cedida pelo São Paulo.

A ORGANIZAÇÃO DA PRIMEIRA COPA:

Sete países europeus - Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Suécia e Suíça - fundaram a FIFA em 1904, graças aos esforços do Presidente da União de Sociedades Francesas de Esportes Atléticos, Robert Guérin. Que se tornou também o primeiro presidente da FIFA. Imediatamente começaram os planos de um campeonato mundial.

A entidade realizou vários congressos entre 1904 e 1913, aumentando sempre o número de afiliados, mas ninguém se animava a promover um torneio mundial. As viagens transcontinentais eram lentas, caras e complicadas. Não dava para os times de futebol organizarem uma pequena baderna e paquerarem as aeromoças no 14-bis. Como se pode ver pelas fotografias da época, nem as cores haviam sido inventadas ainda.
Após uma pausa em suas atividades entre 1914 e 1918, por causa de um pequeno detalhe chamado Primeira Guerra Mundial, e um novo presidente, Jules Rimet, a FIFA começou a levar mesmo a sério a história de montar uma competição internacional. Em 1924, depois das Olimpíadas, Rimet reuniu vários presidentes de federações nacionais para mostrar que o torneio olímpico de futebol reunira 25 participantes de vários continentes e dera milhares de francos de lucro. Havia condições para organizar um certame mundial do bárbaro esporte bretão.

E a chance apareceu em 1928, após Rimet rodar a Europa tentando convencer os sujeitos que mandavam nas federações nacionais a levar a história adiante. Na Olimpíada daquele ano vários dos principais países do futebol não puderam participar porque já estavam se profissionalizando e os Jogos Olímpicos ainda eram teoricamente para amadores. Além do mais, a FIFA lutava com o Comitê Olímpico Internacional pelo controle do esporte a nível mundial. Num congresso naquele ano eles decidiram que "futebol internacional não mais pode ser confinado aos limites de uma Olimpíada, e muitos países onde o profissionalismo é organizado e reconhecido não podem mais ser representados pelos seus melhores jogadores". Até hoje o Comitê Olímpico e a FIFA brigam pelo controle do futebol olímpico.

O vice-presidente da FIFA, Rodolfe Seedrayers, propôs que o país que tivesse a honra de organizar a Copa pagasse, em ordem de prioridade, pelo transporte e acomodações de juízes, membros da FIFA e delegações. Como já explicado, na época ainda não existia desconto por reservas de vôo pela Internet, então tudo sairia muito caro. Quem se interessaria em sediar o torneio?

Teria que ser um país que estivesse comemorando o centenário de sua independência, pois o governo estaria disposto a pagar por vários tipos de comemorações e eventos. Um país que estivesse animado com o bárbaro esporte bretão por ter sido bicampeão olímpico, em 1924 e 1928, sendo considerado o melhor time (não-inglês) da época. Um país chamado Uruguai.

Que ficava do outro lado do mundo para os europeus. Mas que ainda assim levou tudo adiante e tornou a Copa uma realidade. O futebol teria seu torneio internacional.

BOX

Jules Rimet mandou pessoalmente forjar a Copa do Mundo, que dava nome à competição, em ouro maciço. O regulamento previa que o país que fosse campeão três vezes ficaria com o troféu permanentemente. Após a morte de Rimet, a taça foi rebatizada com seu nome.

Um futebol já bem diferente daquele oficializado em 1863, pois com a mudança da regra do impedimento em 1866 os times começaram a pensar em organização tática. E em 1925 a regra mudou novamente, levando a uma revolução que estava apenas começando na época da primeira Copa do Mundo. A revolução do WM.

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