É provável que você já tenha brincado com uma dessas. Você a posiciona contra um objeto ou uma parte do corpo (epa!) e os pinos sobem através de orifícios, criando um volume quase semelhante à coisa original. Quase porque obviamente os pinos são em número limitado e não podem recriar cada curva, detalhe e nuance.
Em compensação, com uma boa iluminação lateral a pinscreen pode dar uma textura muito mais rica do que o original, já que cada pino projeta sua própria sombra. Mesmo no brinquedinho aí em cima o efeito é visível e dá uma aparência de estranheza à mão fazendo o símbolo do paz & amor. O que aconteceria então se fosse usada uma tela com muito mais pinos e maior resolução? O video da vernissage de inauguração da maior do mundo aí embaixo dá uma demonstração:
Largest Pin Screen from Thomas Hofer on Vimeo.
Nos anos 30, o animador Alexander Alexeieff, junto com sua esposa Claire Parker, teve essa ideia e resolveu dedicar-se à "menos popular e mais cara maneira de se fazer animação", segundo suas próprias palavras. E isto em um meio onde antes da invenção do computador eram usadas as mais exaustivas e arcanas técnicas possíveis para se dar vida a rabiscos, massa de modelar, objetos domésticos, barbantes, fios, em suma, qualquer coisa que não fosse inamovível.
Os primeiros esforços de Alexeieff usavam uma tela de 600 x 400. Parece uma baixa resolução, menos que VGA, mas leve-se em conta que são 240.000 pinos! Para cada quadro da animação os pinos eram movidos um a um ou em grupos, utilizando-se ferramentas especialmente desenvolvidas pelo casal de celerados. Não havia acetatos transparentes para se por em cima de cenários pintados ou personagens movendo-se em planos diferentes - fundo, primeiro plano, segundo plano, tudo tinha que ser animado simultaneamente. Cada frame tinha que ser planejado com antecedência e não se podia mudar nada na sequência - era impossível refazer um desenho depois que ele era desmontado. Além do mais, com uma pinagem prateada projetando sombras sobre uma tela branca, qualquer filmete seria inapelavelmente monocromático.
Com tantas dificuldades e limitações, por que então sequer tentar alguma coisa com essas malditas telas de pinos? A resposta é justamente a textura da luz. Trabalhando com sombras ao invés de linhas de contorno, o animador podia criar ilustrações em claro-escuro com muito mais profundidade e realismo do que qualquer artista traçando uma linha em volta de um desenho. O artista da pinscreen trabalhava com massas de cor, como um pintor, não como um desenhista, ainda que a cor fosse somente tons de cinza. O efeito é fascinante e remete a águas-fortes e gravuras (que seriam ainda mais impraticáveis do que essa insana técnica).
No curta acima, baseado no famoso conto O NARIZ, de Gógol (1) (que nos anos 90 saiu sozinho em um livreto aqui no Brasil, entre inúmeras edições), Alexeieff usa uma pinscreen com uma quantidade ainda maior de pinos, mais de um milhão, o que tornava além de tudo as telas caras e difíceis de confeccionar. Tão exaustiva era a técnica que Alexeieff em quatro décadas de atividade fez apenas seis filmetes assim. Como todo animador maluco, Alexeieff trabalhou para o National Film Board do Canadá (a casa de Norman Mclaren). O resultado é que o único artista que ainda faz animações assim hoje em dia é de lá, Jacques Drouin. Existem também sujeitos que programaram computadores para simular o resultado. É óbvio que não fica a mesma coisa e nem sequer nos fascina pela paciência e pelo esforço investidos na obra.
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