setembro 29, 2008

Festival de Cinema do Rio 2008

A Revista Zé Pereira mudou. Agora é online, quer dominar o mundo e para isso chamou megalômanos paranóicos de toda a Web para colaborar. Fui chamado para cobrir o Festival do Rio 2008 e vou publicar simultaneamente aqui e lá tudo a que eu for assistir.

A Festa da Menina Morta

Ontem RINHA veio dizer que a abundância e a riqueza numa sociedade miserável (ou semi-miserável, afinal a classe C agora compra computadores) transformam o sujeito, por trás de um verniz de sofisticação e elegância, numa besta-fera, presa de deus desejos. Hoje A FESTA DA MENINA MORTA veio mostrar que a miséria transforma as pessoas em bestas-feras, presas de seus desejos. Sobrou pra classe média acuada dos dois lados fazer filmes denunciando seus predadores antes que sua predação contumaz acabe transformando-a numa besta-fera, presa de seus desejos.

Tudo bem, estou sendo meio injusto com A FESTA DA MENINA MORTA. Antes de se transformarem definitivamente em bestas-feras, os miseráveis de Lá Onde o Afilhado de Crisma do Judas Perdeu as Botas agarram-se à religião para sobreviverem. Não exatamente, religião, mais a variante supersticiosa do cristianismo. Vinte anos atrás, um vira-lata sarnento trouxe na mão de um moleque o vestido rasgado de uma linda menina desaparecida e as pessoas (ou talvez o próprio menino) disseram que foi uma intervenção do sobrenatural e hoje o garoto é cultuado como milagreiro, tanto que nem tem mais um nome, sendo conhecido apenas como Roque Santeir... oooops, Santinho (e seu pai, como... Pai; a menina, revela-se no final, chamava-se Maria; assim pelo jeito sobra para Tadeu ser o Espírito Santo).

Homem feito, Santinho usa há vinte anos como traje o vestido da menina morta e a responsabilidade de ser a única esperança de um comunidade sem perspectivas, onde a única edificação de alvenaria parece ser a igreja, transformou-o num monstro egoísta, homossexual e incestuoso (desculpe se estou estragando a surpresa contando algo que só é mostrado com trinta segundos de filme). Ainda assim, Pai e Filho são hipócritas o suficiente para promoverem aquilo que dá nome à fita, lucrando com vendas de bebidas, comidas e até mesmo propaganda e show de música (paupérrimo, remetendo a BYE BYE BRAZIL).

O Zé já comentou algumas postagens abaixo que teve gente que se sentiu enganada, achando que ia ver um filme do Mateus [AUTOTEXTO] e acabou vendo um do Cláudio Assis, mas [AUTOTEXTO] opta por um ritmo ainda mais lento. As cenas “de ação” usam câmera na mão; as de “diálogo” são muitas vezes rígidas e formalistas. A edição entra nas sequências antes do começo da ação e saem depois e os ângulos escolhidos deixam personagens que falam ou acontecimentos fora de quadro, deliberadamente buscando um clima tão arrastado quanto a vida daqueles interioranos. O problema com essa estética é que exige uma concisão narrativa absoluta, sob as penas da Teoria da Relatividade: o tempo se estica e os minutos tornam-se horas. E o roteiro de FESTA DA MENINA MORTA não consegue resistir a ser um tanto redundante ao mostrar os ataques de fúria injustificada do Santinho com suas beatas e sua hipocrisia. A história “fatia-da-vida”, em que a maioria das pessoas que aparece não passa por um arco dramático completo, mas é mostrada como é, também colabora um pouco para aumentar a vagareza do longa. Felizmente os belos visuais do filme – cor, fotografia, iluminação, composição, sem falar nas uniformemente excelentes atuações – distraem o espectador nesses momentos.

Em suma, FESTA DA MENINA MORTA mostra a interligação entre miséria, conformismo e religião. Alguns personagens não têm fé no Santinho, mas vão pedir sua bênção porque, afinal de contas, “não custa nada”. Outros, como suas tias beatas, agarram-se a ele como única esperança numa vida vazia e sem sentido; a santidade dele torna não só o garoto especial, mas, por extensão, também elas e, por isso elas suportam seu egoísmo e suas inseguranças (às vezes até com o roteiro forçando a barra um pouco). Jackson Antunes, como o Pai, tem talvez a melhor atuação; mesmo com sua hipocrisia, explorando a venda de cervejas no ponto onde o pai da menina morta costumava ficar e esticando faixas com patrocinadores, é tão sedutor e charmoso que leva todo mundo a perdoar seus defeitos. No final, a festa é o grande momento, onde pode por um momento escapar-se da realidade de uma existência paupérrima. Enquanto o Santinho fala, abalado por um acontecimento que esse não, eu não vou falar qual é, vemos na multidão as moças do show, um garoto que gosta de dançar break (ou sabe-se lá que nome tem isso hoje em dia), envoltos pela transcendência do momento, ainda que talvez tudo aquilo seja falso e que quem mais comemore sejam o Pai e o Vendedor de Cerveja. Nesse momento [AUTOTEXTO] mostra algum entendimento do que é o misticismo cristão, além de toda a hipocrisia, comercialismo, superstição e vícios dos quais é acusado. O nome da menina é revelado e o Santinho mergulha na água, porque, no começo dos tempos, o Espírito de Deus caminhava livremente sobre as águas.

P. S.: Eu sei, eu sei, eu tinha prometido que não faria piadinhas óbvias com o nome de Mateus [AUTOTEXTO], mas não resisti. .

setembro 28, 2008

Festival de Cinema 2008 - RINHA

A Revista Zé Pereira mudou. Agora é online, quer dominar o mundo e para isso chamou megalômanos paranóicos de toda a Web para colaborar. Fui chamado para cobrir o Festival do Rio 2008 e vou publicar simultaneamente aqui e lá tudo a que eu for assistir.

O primeiro e até agora melhor longa de ficção da Première Brasil tem um careca esquisito que adotou um porco, mas não é OS SIMPSONS – O FILME.


Antes da sessão, o diretor Marcelo Galvão explicou que há três anos está tentando levantar recursos para fazer o filme que realmente queria fazer, sobre um menino com síndrome de Down. Não tendo conseguido até agora, decidiu então juntar os amigos e com recursos próprios fazer um longa que ganhasse dinheiro suficiente para o seu projeto pessoal. Entretanto, assistindo ao extremamente bem-cuidado RINHA, o espectador fica imaginando que, se a outra fita vai ser tão mais cara, no mínimo o moleque problemático se envolve com um arqueólogo às voltas com extraterrestres, bombas atômicas e cientistas loucos querendo dominar o mundo.

É claro que não, é tudo mérito de "Marcelo Galvão e equipe", como RINHA é assinado. Com inteligência e boas escolhas, alguns smokings, vestidos de noite e uma casa talvez não em seus melhores dias dão uma aparência de orçamento muito maior ao longa. As boas escolhas começam com a câmera tremida na mão e a montagem nervosa, recurso hoje em dia usado até em novela das oito, mas que no caso disfarça a aparição de qualquer detalhe que mostre que a festa não se passa num lugar tão luxuoso assim, a falta de continuidade dramática de algumas cenas e personagens e a inexperiência de alguns atores, esta também suavizada pela decisão de filmar quase todos os diálogos em inglês, o que ainda por cima ajuda a posicionar a fita no mercado mundial - por isso pode-se perdoar seu uso como metáfora óbvia, de uma burguesia que nem sequer fala a língua de seu país, ainda mais por soar irônica num filme tão cheio de claras influências do cinema anglófono.

Assim, ajudado por excelentes iluminação e direção de arte, RINHA envereda por uma estética moderninha um tanto gasta, mas que justamente por isso não tem dificuldade em prender a atenção da platéia. O principal defeito da fita é o roteiro, com influências aparentes que vão desde o já citado SIMPSONS até CÃO DE BRIGA. A preocupação maior é em alinhavar detalhes bizarros, cínicos, irônicos e violentos, sem lhes dar continudade dramática. Manias esquisitas não substituem uma personalidade de verdade e nenhum dos personagens decola. O sujeito que faz a narração em off virtualmente só aparece na história para UMA cena. A maioria dos playboys e patricinhas da festa são tão intercambiáveis que o espectador tem dificuldade em distinguir um do outro e seguir suas histórias. O longa abre com uma violenta e bizara cena do anfitrião, que em seguida quase desaparece do enredo. Até o careca que adotou um porco desaparece completamente depois de cinco minutos de projeção. Parte do problema pode ter sido a vontade de mostrar os ricos como criaturas tão abjetas e elitistas que acabaram transformando-nos em caricaturas - não por acaso os melhores personagens são os garotos de classe média baixa que tentam várias vezes penetrar na casa. A falta de sinceridade é agravada pela escolha da direção de se afastar das cenas de maior voltagem emocional, que ocorrem em grande parte fora de cena, o que costuma indicar um certo de medo encarar a tarefa por pouca experiência.

RINHA foi feito com poucos recursos, confessadamente para ganhar dinheiro. Moderninho, cínico e violento, tem grandes qualidades para o mercado mundial, nem que seja no segmento "direct-to-video", o que leva a perdoar-se a inexperiência e a obviedade em certas áreas, até mesmo no tema – num mundo em que o Vale-Tudo e as lutas em jaulas viraram uma mania mundial, têm canais de tevê exclusivos e um episódio de Jornada nas Estrelas, OCTAGON, contra a violência, virou nome de programa de porradaria, burgueses elitistas insensíveis se comprazendo com seus lutadores proletários brigando até a morte não soam tão chocantes assim. A única coisa realmente imperdoável na fita, completamente dispensável, é a cena final em câmera lenta, sem diálogos, com personagens reencontrando sua humanidade ao som de uma escandalosa música emo. Instintivamente fica se esperando o anúncio do Sony Channel anunciando a próxima atração.

setembro 27, 2008

Festival de Cinema 2008

A Revista Zé Pereira mudou. Agora é online, quer dominar o mundo e para isso chamou megalômanos paranóicos de toda a Web para colaborar. Fui chamado para cobrir o Festival do Rio 2008 e vou publicar simultaneamente aqui e lá tudo a que eu for assistir. A primeira crítica é do documentário sobre cegueira SENTIDOS À FLOR DA PELE:

É uma cena que passa meio desapercebida. Antony Moraes, o pai do editor e roteirista Marcelo Moraes, assiste em casa a um documentário do National Geographic. Não há ironia nenhuma na cena, nenhum humor negro. A imensa maioria desses programas pode ser acompanhada apenas pelo áudio, ainda mais agora que os reality shows invadiram os Discoverys e afins da tevê a cabo. Foram-se quase todos aquelas trabalhosas filmagens mostrando em close a larva do cabefistão dourado esperando durante 16 anos a passagem de uma joaninha-do-pé-vermelho para imobilizá-la com sua cusparada paralisante e lentamente moer seus espiráculos traqueais para poder pôr seus ovos (um amigo meu dizia preu não acreditar em nada disso, obviamente eles pagavam os bichinhos todos pra fingir isso em frente à câmera). Com os novos formatos de hoje em dia, meu primo era capaz de acompanhar Mythbusters sem pagar um tostão – a TVA bloqueava a imagem, mas o som era liberado e ele só sentia falta de saber a cara do Buster.

E é esse justamente o problema de Sentidos à Flor da Pele – a imagem é desnecessária na maior parte do tempo. O longa se desenrola como um programa do GNT, feito para as pessoas acompanharem sem completa dedicação, conversando com alguém, zapeando de vez em quando ou levantando pra pegar um pouco de arroz integral com ricota na geladeira. A câmera exibe o entrevistado durante seus depoimentos sem outro propósito que não ilustrar a voz do sujeito. A intenção do filme é mostrar como eles conseguiram se ajustar e levar uma vida normal, o que virtualmente exclui a chance de momentos de grande emotividade; num filme sobre cegueira é curioso justamente a parte visual ser tão pobre. Compare-se-o com o curta que o precede, Dreznica, em que cenas de velhos super-8 decaídos para uma dominante magenta se contrapõem às declarações dos cegos, questionando a relação entre ver, sonhar e existir, bem como entre visão e alma. Um brilhante curta, que, por uma incrível e não-relacionada coincidência, é da produtora que patrocina este saite.

E, já que falamos de documentários de tevê a cabo, seja por coincidência ou por estarmos viciados no formato, na marca de 60 minutos a fita começa também a soar redundante. Os entrevistados são aparentemente todos de classe média e bem ajustados à sociedade e cada novo personagem pouco acrescenta, com exceção do curto segmento de Ethel e seu cão-guia Gem, que acabaram levando à lei do cão-guia e a um cachorro de smoking no Municipal – enfim um pouco de humor na solenidade do documentário!

Desenrolando-se como um documentário educativo, Sentido à Flor da Pele é por demais preocupado em parecer respeitoso e solene e por isso abre mão de imagens ou montagens mais experimentais e ousadas. Competente e profissional, gasta seu tempo sem aborrecer o espectador, embora também sem o conquistar. A grande ironia final é que, dada a preocupação do diretor em mostrar a normalidade da vida de seus sujeitos, a imagem mais impressionante da fita acaba sendo a dos claros e grandes olhos da bela cantora Giovana, que remetem inescapavelmente a soturnas bonecas antigas de biscuit com seus brilhantes olhos de vidro e sugestões de mansões vitorianas mal-assombradas.

setembro 22, 2008

Urgente!!!!

De: Jorge Antônio Lourenço Pontes [mailto:pontesjal@hotmail.com]


Assunto: SANCIONARAM LEI MUNICIPAL NO RIO EXTINGUINDO O PARQUE NATURAL DO MENDANHA!!!!!!

Pessoal:

Fui tomado de surpresa!!!!!

Acredite se quiser. Foi sancionada a Lei Municipal 4.899/08 e publicada no Diário Oficial da Cidade do Rio de Janeiro no dia 18/08/08, após ser sancionado pelo Prefeito César Maia, que extingue o Parque Ecológico do Mendanha (atual Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha - renomeado devido ao SNUC), para transformá-lo em uma Área Especial de Interesse Social. Esta categoria se destina a dar títulos de propriedades e para implantar programas sociais, tais como: conjuntos habitacionais, favela bairro, etc.

Este Unidade de Conservação era a mais bem preservada do município e uma das raras com a situação fundiária resolvida. Ela é coberta com a Floresta Ombrófila Densa mais bem conservada da Cidade do Rio de Janeiro e de toda a Região Metropolitana do Estado do RJ. E por incrível que pareça só agora está sendo estudada, inclusive com a descoberta de uma nova espécie de anfíbio (ainda em descrição).

A área precisaria de reassentamentos (ou redelimitação) e até de ampliação, para proteger o restante da floresta que está fora do parque e para excluir uma área rural (veja foto).

Toda a Secretaria de Meio Ambiente foi tomada de surpresa, pois uma consulta havia sido realizada e todos foram contra o projeto, totalmente sem propósito. Mas ao apagar das luzes de um mandato, o VEREADOR JORGE FELIPPE (gravem este nome!!!) submeteu um projeto que vai na corrente contrária da conscientização ambiental mundial. Pior é que a Câmara de Vereadores aprovou e o Prefeito sancionou.

E agora como fica a preservação da área???? E o dinheiro público investido até então???? E as pesquisas em andamento?????

Peço à todos que enviem mensagens de repudio para a câmara, para o prefeito e para o indigníssimo vereador (jorge.felippe@camara.rj.gov.br). Mas também divulguem, pois não podemos ficar de braços cruzados e entregar uma área pública que tem vocação para a preservação, ecoturismo e fins científicos, que foi solicitada por iniciativa popular ficar sem uma proteção mais restritiva, como um Parque Natural.

Agradeço, desde já a atenção e qualquer ajuda possível.

Obrigado.

setembro 21, 2008

1999




A última vez em que vi Bagaceira. Foto tirada com a minha avançadíssima Casio Digital com resolução de 320 x 240. Nesta noite um amigo nosso presente bebendo com a gente, depois de vários telefonemas para uma moça, deu a seguinte declaração: "putz, tenho que comer uma mulher e não tô nem um pouco a fim", antes de virar-se pra mim, "Ei, Uruba, quer comer uma mulher perto da tua casa? Mais gostosa que a tua namorada!" (mentira, se fosse ele não teria a minima falta de vontade).





Depois do Fim

Para Lívia, Cláudia, meu pai


E quero dormir
o tempo todo


Em meus sonhos
Estamos juntos


outra vez


*Não é por nada não, mas acho que a versão em inglês soa melhor, mas é colonizado demais escrever poesia anglófona.

Virei História





Uma garotada de 19 anos que estuda atualmente na ECO contactou o Arnoque porque queria conversar com alunos de 20 anos atrás da divertida faculdade. O tempo não perdoa ninguém, quando olhamos para o lado já somos dinossauros. Assim, numa quarta-feira chuvosa, fomos ao Pavão Azul (vende Anísio Santiago!) tomar umas e outras e (finalmente!) recontar velhos causos pra gente QUE NUNCA TINHA OUVIDO AQUELAS HISTÓRIAS.
E o detalhe: a garotada saiu por volta de meia-noite, enquanto eu, Bello e Zé José continuamos bebendo, porque eles "tinham que trabalhar no dia seguinte". Marconi e Bagaceira se reviraram no túmulo ouvindo isso.

E, pra comprovar como somos velhos mesmo, a gente na passeata das Diretas em 1984. Eu estou debaixo do "a" em "na" (de "na veia"). Clique na imagem para ampliá-la.







setembro 19, 2008

Furtivo e Covarde

Primeira Versão

Tudo que está morto torna-se pai
Tudo que vive é o filho

Nunca devorei a carne dos inimigos caídos
Para herdar sua coragem

Nunca brindei bebendo nos crânios
dos inimigos por mim abatidos
por sua valentia que me enobrecia

Nunca amei
Nunca amei de verdade
Amei como nos ensinam a matar
nas escolas nas creches no emprego no governo na tevê

Amei furtivamente
A sangue-frio
Amei pelas costas
Covardemente

Mantendo o colarinho os punhos o paletó
impecáveis

Amamos como vivemos
Vivemos como matamos
Pois tudo que está morto torna-se pai
E só o filho está vivo

setembro 18, 2008

Aftermath

Pra Livia, Cláudia, meu pai

And I want to sleep
All the time

In my dreams
You come
True

setembro 17, 2008

Grandes Frases de Amigos

Importante não é o primeiro, é o último

(Minha mãe, vendo um filme em que uma moça se despedia - eles nunca mais se encontrariam - do sujeito com quem perdera a virgindade e dizia: "você sempre será meu primeiro")

setembro 16, 2008

Eagles x Cowboys

Foi um jogão, mas mesmo tendo jogado pra burro e também driblado alguns pressionadores (1), o McNabb mostrou que não é mais o kamikaze maluco que queria resolver tudo com as próprias pernas. É a idade e o medo de levar outra traulitada que o deixe de fora outra meia temporada (ou inteira, como em 2006, quando sua ausência ressuscitou a carreira de Jeff Garcia).

Michael Vick está preso por matar cachorro a grito, mas mesmo antes da prisão ele nunca cumpriu a promessa de genialidade que levou os Falcões a apostarem tudo nele. E ainda tem histórico de contusões sérias e perna quebrada. O Daunte Culpepper foi outro que destrambelhou o joelho e nunca se recuperou direito, acabando por se aposentar este ano. Steve McNair, que não era um sujeito tão dado a correr com a bola como esses, mas ainda assim gostava de dar suas escapulidas, encerrou a carreira com 34 anos - prematuramente para um armador (2). E Vince Young perdeu a vaga de titular nos Titans para o medíocre veterano Kerry Collins. Sumiu na segunda-feira passada umas horas e o seu time e família ligaram para a polícia, porque ele já tinha mencionado suicídio com a sua psicoterapeuta (!!!!).

Os armadores simplesmente não aguentam levar as cacetadas que os corredores (3) levam. Os corredores são baixos, troncudos e atarracados, musculosíssimos. Os armadores são protegidíssimos pelas regras justamente por causa disso, já que são o cérebro do time. Talvez por causa do Steve Young - que não cheguei a ver jogando - chegou-se a acreditar no sucesso desse híbrido armador-corredor, do qual o Vick era o exemplo mais extremado. Todos eles foram quebrados ou mostraram-se pouco mais do que um efeito especial. Mobilidade é ótima para fugir dos saques, mas não dá pra fugir da defesa toda, a toda hora. Melhor só lançar a bola e deixar o resto com quem tem o corpo (movido a hormônios ilegais) pra isso.

(1) pass rusher - normalmente os defensive ends.
(2) quarterback, dã.
(3) running back, dã.

setembro 14, 2008

Grandes Poemas

Bukowski declama seu poema GENIUS ON THE CROWD (gênio na multidão):



Aqui, a tradução das legendas:

há bastante traição, ódio violência, absurdo, no homem
médio para todo um exército, a qualquer hora ou momento

e os melhores na matança são os que pregam contra ela
e os melhores no ódio são os que pregam o amor
e os melhores na guerra são finalmente aqueles que pregam a paz

(Esta parte não está na leitura:
aqueles que pregam deus, precisamm de deus
aqueles que pregam paz não têm paz
aqueles que pregam paz não têm amor

cuidado com os pregadores
cuidado com os eruditos
cuidado com aqueles que estão sempre lendo livros
cuidado comaqueles que ou detestam a pobreza
ou têm orgulho dela
cuidado com aqueles sempre prontos a elogiar
pois precisam de elogios em troca
cuidado com aqueles sempre prontos a censurar
eles têm medo do que não conhecem
cuidado com aqueles que gostam das multidões
pois eles não são ninguém quando sós

(o vídeo continua aqui)
cuidado com o homem médio a mulher média
cuidado com seu amor, seu amor é médio
procura a média

mas há gênio em seu ódio
há gênio suficiente em seu ódio para matar você
para matar qualquer um
não querendo solidão
eles vão tentar destruir tudo
que divirja deles
não conseguindo criar arte
eles não entenderão arte
e considerarão sua falha como criadores
como uma falha do mundo
não sendo capaz de amar completamente
acreditarão que seu amor é incompleto
e então vão odiar você
e seu ódio será perfeito

como um cegante diamante
como uma faca
como uma montanha
como um tigre
como uma erva venenosa

sua grande arte

Um Bêbado e Sua Mulher


Quem leu MULHERES e HOLLYWOOD ou pesquisou na net sabe que o Bukowski, lá pelos seus cinquenta e poucos anos arrumou uma quase adolescente - segundo ele, virgem - bonitinha e natureba. Ele escreveu um dos mais belos poemas de amor pra ela, Yes Yes, mas sendo ele um velho bêbado e irascível, isso não o impedia de ser um tanto... indelicado com a Linda Lee de vez em quando. O vídeo acima estava no Youtube e não faço a mínima idéia de por que alguém estaria filmando (com som e cor) um casal discutindo em casa, mas os dois eram malucos, logo...

setembro 13, 2008

Como um Relógio Marcando a Implacável Passagem do Tempo

Um Ídolo da Juventude


Pro Marquinhos ainda teve coisa melhor do que andar de trem - ele encontrou seu ídolo de juventude, o Edinho, sentado atrás da gente. Eu e ele não tínhamos caneta, então ofereci o celular pro Marcos poder tirar uma foto pro sujeito que o encheu de alegria até 1982. Começou a contar que era vizinho do Cristóvão, que no campeonato de 1980 foi lá em casa me sacanear, que fomos à festa do Cristóvão (onde também estava Pintinho, do time perdedor)... quase falei que vinte e dois anos atr[as, nos meus tempos de jornalista esportivo, fiz uma entrevista de página inteira com ele (enquanto ele, fascinado, brincava com sua mini-câmera de vídeo, que trouxera da Itália, na época em que essas coisas só entravam aqui por contrabando). Mas a tecnologia avançou muito de lá pra cá e câmeras no telefone portátil acabam trazendo melhores recordações do que um autógrafo.

Se Maomé Não Vai à Boate, a Boate Vai à Maomé



Bem que sempre disseram que os jogadores da seleção brasileira são obcecados com boates e noitadas, mas não pensei que a CBF chegaria ao ponto de montar uma tenda-boate dentro do Engenhão pra mantê-los felizes!!!!

(A tenda-boate é de verdade, tinha até um mestre-sala e uma porta bandeira evoluindo do lado de fora)

Engenhão 2008






Eu e meu amigo Marcos fomos ver o jogo do Brasil naquele estádio que parece de brinquedo. O bicho realmente é bonito, mas o jogo foi tão terrível que nem ao menos tivems ânimo de tomar o chopinho que tínhamos combinado com Sílvio e Suzy.

Eu Viajei de Trem

Eu e meu amigo Marcos pagamos 100 pratas por cabeça (e, logo, um mico) pra ver o Brasil x Bolívia no Engenhão. Pelo menos perdi o cabaço no trem da Central. Viagem rápida e confortável, deixou a gente na porta do estádio. Agora eu sou um carioca. Em homenagem, a letra da lindíssima VIAJEI DE TREM, de Sérgio Sampaio.

Fugi pela porta do apartamento
Nas ruas, estátuas e monumentos
O sol clareava num céu de cimento
As ruas, marchando, invadiam meu tempo

Viajei de trem
Viajei de trem
Viajei de trem
Viajei de trem, eu vi...

O ar poluído polui ao lado
A cama, a dispensa e o corredor
Sentados e sérios em volta da mesa
A grande família e o dia que passou

Viajei de trem, eu viajei de trem
Eu viajei de trem, mas eu queria
Eu viajei de trem, eu não queria...
Eu vi...

Um aeroplano pousou em Marte
Mas eu só queria é ficar à parte
Sorrindo, distante, de fora, no escuro
Minha lucidez nem me trouxe o futuro

Viajei de trem
Viajei de trem
Viajei de trem
Viajei de trem, eu vi...

Queria estar perto do que não devo
E ver meu retrato em alto relevo
Exposto, sem rosto, em grandes galerias
Cortado em pedaços, servido em fatias

Viajei de trem
Eu viajei de trem
Mas eu queria
É viajar de trem
Eu vi...

Seus olhos grandes sobre mim
Seus olhos grandes sobre mim

setembro 09, 2008

Brett Favre nos Jets

E enfrentando logo Chad Pennington, o cara que ele substituiu e que atualmente joga nos Dolphins.

O primeiro jogo que vi com o gamepass que comprei pra temporada.

Chad Pennington é o quarterback com o maior percentual de passes certos DA HISTÓRIA da NFL. É técnico e inteligente, mas a torcida sempre reclamou que ele tem um braço fraco, incapaz de mandar uma bomba lá embaixo, e que lhe falta sangue.

Na segunda série de sua estréia, Brett Favre fez um TD num lançamento longo que rendeu 56 jardas. Logo em seguida, frente a uma quarta-e-13, rifou desequiibrado e quase sacado uma bola que rendeu um TD a 22 jardas de distância.

Foi por isso que o elegante Pennington perdeu lugar pro maluco do Green Bay.

Detalhe: muita gente criticou o segundo TD do Favre, rifando uma bola que tinha toda a probabilidade de ser interceptada. Ora, ele só etava fazendo o lançamento porque estavam sem o kicker/punter, momentaneamente fora de combate por uma contusão. Já que o time ia perder a bola mesmo de qualquer jeito, por que não tentar uma maluquice pra ver se dá certo? Chad Pennington jamais cometeria tal insensatez.

Mas a notícia da semana foi mesmo a contusão de Tom Brady, o melhor jogador da liga do ano passado e indubitavelmente um dos dois melhores deste século (ao lado de Peyton Manning ou, na minha opinião, um pouquinho atrás). Rompeu os ligamentos do joelho e a dúvida é se acabou a temporada ou a carreira dele com a porrada que levou. Um leitor do saite da ESPN diz que parece que encontraram este bilhete no meio das coisas dele:

MEMO

De: Satanás
Para: T. Brady
Assunto: Re: Pacto

A minha parte já foi cumprida, falta a sua. Se possível, alertar Bill Belichick que passarei para coletar a alma dele logo depos que pegar a de Archie Manning.



P. S.: Manning foi o maior motivo preu começar a acompanhar a NFL. Com essa contusão de Brady, a decadência dos Colts e o fim de carreira de Favre, está começando a parecer a NBA quando os Bulls do Jordan, Pippen, Longley, Kukoc e Rodman desbandaram, Magic Johnson e Larry Bird tinham parado pouco antes, Barkley e Malone entravam em seus anos de decadência e eu quase nunca mais acompanhei o basquete americano...

Update

Meu coração continua partido.

Apagão!


O governo adverte: Mantenha uma vela sempre à mão.

ALERTA VERMELHO!

Sempre ouvi que fornos de microondas eram seguros, que não havia vazamento de radiação, que ele não iria nos causar câncer ou nos assar aos poucos com as microondas que escapassem porque era muito bem blindado e protegido.

Acabo de descobrir que minha rede sem fio não funciona quando eu ligo o forno de microondas. E agora? Ah, tanto faz, amanhã ligam o Large Hadron Collider e vão criar um big bang que vai sugar a existência mesmo...

Sobre Denílson e a Beleza das Mulheres

Denílson é aquele ponta-esquerda mesmo, acho que está no Palmeiras agora. Quando ele surgiu no São Paulo em 96, 97, qualquer atleta um pouquinho mais dotado no clube já recebia a pecha de gênio e grande promessa (geralmente não cumprida). Desde Bernardo (que apareceu em 86 e estava sendo preparado já para a Copa de 90, segundo a diretoria) a Grafite, passando por Elivélton, Zé Carlos, Silas, Vítor, Palhinha, Mário Tilico, França. Mesmo aqueles que conseguiram uma bela carreira como Raí, Juninho Paulista, Muller, Dodô e Luís Fabiano ficaram muito aquém do que projetados quando no começo. Minha enorme resistência inicial a achar que Kaká fosse craque vinha desse histórico.

Mas digressiono, o que é a vantagem de escrever num blogue com espaço ilimitado. Denílson apareceu como um furacão, driblando pela esquerda. Foi levado para a seleção e vendido como craque, já que era habilidosíssimo nos dribles. E nada mais. Galvão Bueno e Casagrande exaltavam seu talento, mas não os culpemos, pois a maioria dos torcedores concordava com eles. Ele foi vendido por um preço récorde para a Espanha e começou a não mostrar muita utilidade com a amarelinha, indo parar na reserva.

Mesmo no clube, acho que o Bétis, começava a ser questionado. Atrasava as jogadas com firulas desnecessárias e sempre pensava primeiro na finta e nunca no passe rápido que poderia dar origem ao contra-ataque. Quando criticado, dizia que fora driblando que chegara à seleção e assim continuaria. Perdeu a vaga na seleção, acabou na reserva e até chegou a campeão mundial. Sua função era pegar a bola e ficar rodando com ela matando o tempo quando faltavam uns dez minutos. Exemplar foi o jogo contra a Bélgica. Denílson entrou e em três ou quatro contra-ataques pela esquerda, fintou, fintou e fintou até perder a bola. Kléberson entrou e no primeiro contra-ataque pela direita, simplesmente rolou a bola para o Fenômeno completar sozinho, matando a partida e selando a classificação. Kléberson não saiu mais do time.

Agora, aos 30 anos, ele voltou ao Brasil e finalmente se disse arrependido e entendeu que jogou sua carreira no lixo. Talvez se ele fosse menos habilidoso, não tivesse tanta facilidade de driblar, tivesse se dedicado mais a aprender tática, estratégia, a passar de primeira, a ajudar na marcação. Um amigo meu costumava dizer que, se tivesse metade da habilidade do Denílson, seria um dos cinco melhores jogadores do mundo. Provavelmente se o Denílson mesmo tivesse tido metade do talento com que nasceu pra jogar bola também teria sido um atleta bem superior.

O que nos leva à beleza das mulheres. No famoso filme CIDADE NUA todo mundo lembra da frase dita em off - "Nova York tem cinco milhões de histórias. Esta é apenas mais uma delas". A outra cena que todo mundo lembra é quando os pais do interior vêm reconhecer o corpo da filha assassinada. Ela era tão atraente que largou sua cidade e foi tentar a vida de modelo na cidade grande, caindo no mundo das drogas, festas e marginalidade. Os pais a reconhecem e a mãe se lamenta, "por que ela tinha que nascer tão bonita?"

Mulheres bonitas têm um poder sobre os homens que podem levá-las - enquanto a beleza e a juventude durarem - a subir de vida com uma facilidade inacreditável para quem acredita que importante é a beleza interior. Ao mesmo tempo, como o talento de Denílson, podem arrasar sua carreira. Como um executivo cercado de sicofantas incapazes de dizer "não", podem ir de decisão errada em decisão errada ladeira abaixo.

Em Natal conheci uma menina de 22 anos, de família com grana. Ela tinha um filho que morava com a mãe dela ("já ouviu falar de crianças criando crianças? Por isso que ele fica com a minha mãe"). Morava sozinha num apartamento meio vazio. Por que meio vazio? Porque alguns meses antes ela cheirara tudo que tinha em casa - uma tevê de 33 polegadas (uma fortuna naquela época), uma aparelhagem de som, um DVD... ela parara com as drogas depois que o noivo e a mãe a internaram numa clínica de recuperação e estava feliz que a mãe confiara nela o suficiente para lhe dar uma tevê de 20 polegadas.

Mas não confiava o suficiente para lhe dar mais dinheiro do que o estritamente necessário para as despesas. Se ia precisar pegar um ônibus, ela dava o dinheiro da passagem e mais nada. Quando nos conhecemos, ela me pediu uma grana pra comprar um pouco de maconha e, olhando praquele corpão (e ainda por cima inteligentíssima, o tipo da mulher que amedronta muitos homens e com certeza me amedrontaria nos meus 22 anos), como dizer não? Ainda tentei racionalizar usando o argumento dela, de que "maconha não é droga", mas a verdade é que eu queria comê-la e não iria discutir o que achava que fosse melhor pra ela.

E esse era o problema. Fomos a uma praia onde ela encontrou um sujeito mais velho e conhecido dela que imediatamente lhe ofereceu drogas ("volta aqui semana que vem que vai chegar um ácido"). Ele provavelmente não falava isso pra todos os amigos dele, mas com certeza para todas as meninas gostosas que ele conhecesse. Em quanto tempo aquela garota, numa cidade em que não se tinha nada pra fazer, iria cair de novo no seu problema?

Outro exemplo foi uma menina muito bonita, inteligente e talentosa que namorei anos atrás (suspiro - por que mulheres inteligentes normalmente são problemáticas? Por que pessoas inteligentes normalmente são problemáticas. Ora, seu idiota, é o contrário, pessoas problemáticas acabam tornando-se inteligentes). Na mesma época, como sói acontecer, ela terminou um casamento de dez anos e encontrou-se desempregada (a vida é assim - meses e meses se passam sem que nada aconteça e de repente então tudo ao mesmo tempo agora. Tenho uma peça premiada sobre o assunto) e quando ficamos juntos ela estava fazendo seus planos para o futuro, o que incluía fazer uma faculdade. Minha sugestão foi que ela fizesse Direito (na verdade, uma sugestão também não muito boa, já que ela não tinha a menor afinidade com isso, mas eu estava pensando em termos práticos), mas ela queria fazer jornalismo. Tendo eu feito jornalismo, expliquei pra ela que ela entraria na faculdade aos 30 anos e se formaria aos 34 e que numa carreira em que as vagas de verdade são muito poucas e mal pagas, ninguém que realmente valesse a pena iria contratar uma foca ou estagiária de 34 anos. A resposta foi, "mas tenho um amigo jornalista que acha que eu tenho tudo pra dar certo como jornalista!" Sim, ela era talentosa, mas é óbvio que qualquer macho heterossexual iria concordar com ela quando ela perguntasse algo assim. Quantas vezes eu mesmo já concordei com coisas que iam diametralmente contra o que eu pensava apenas para me aproximar de uma mulher bonita?

Algumas mulheres bonitas sobem na vida usando seu poder sobre os homens. Quantas promoters, produtoras culturais, modelos e marias-chuteira não vieram do nada cavalgando apenas sua esplêndia aparência? Outras deixam-se enredar justamente por esse tremendo poder(principalmente quando de famílias com recursos que lhes permitam sonhar com objetivos maiores do que ganhar o pão de cada dia), tão coisa mais maior de grande que ele é. Pergunta pra gente como Gene Tierney ou Veronica Lake (1).

(1) Lendo sobre a vida de Gene Tierney, a LAURA do famoso filme noir, chocou-me saber que o marido a traía desbragadamente. O primeiro pensamento é "por que alguém casado com a Gene Tierney iria querer dormir com outra mulher?" No entanto, ela não foi a única a sofrer por um marido bem menos famoso que a corneava, embora ela fosse perdidamente apaixonada por ele. Um pouco de raciocínio lógico, entretanto, esclarece a questão. A imensa maioria dos mortais fica intimidada com mulheres lindíssimas, ricas e famosas. O único tipo capaz de cair matando em cima de uma presa dessas é aquele sujeito meio canalha, meio mulherengo, com muita fé em seu taco. O tipo de cara que faz da traição e da poligamia um princípo de vida. Não faz sentido?

setembro 08, 2008

Terei eu ao menos posto minhas terras em ordem?

Aniversário de Ivan, Calígula e Ana Sílvia




A Vingança dos Sith

Há dois meses Daniel Dantas foi preso e o Jorge chegou a anunciar que o Darth Vader brasileiro finalmente tinha ido pra cadeia. De lá pra cá o delegado e o assistente que cuidaram do inquérito foram afastados, os jornais vêm publicando denúncia atrás de denúncia contra eles e o juiz De Sanctis, que ordenou a prisão, o diretor da Abin, que deu suporte à operação, foi afastado, e uma CPI está se armando em cima de um suposto grampo contra Gilmar Mendes, que soltou o indigitado. Dentre os requerimentos iniciais, a quebra de sigilo das operações Satiagraha e Chacal, que deram início aos processos contra Dantas.

O Terra Magazine publicou uma matéria um ou dois dias depois que Dantas foi preso dizendo que o banqueiro teria, na confissão, dito que iria entregar tudo. O Luís Nassif, por exemplo, foi um dos que se animou com o bom rumo que a coisa iria tomando, o que só prova que ele nunca viu muito filme de gangster e não sabe que quando o bandidão quer ser libertado logo de uma vez, avisa que vai confessar tudo.

No dia seguinte ele ganhou o segundo habeas-corpus e todos os seus acusadores estão tendo todo o seu passado levantado pela empresa. E há dias e dias Dantas saiu do noticiário.

Se este blogue sair do ar nos próximos dias, vocês já sabem o porquê.

Reclamações dos Leitores

E-mail recebido pelo RioShow para a seção "Programa Furado", com reclamações dos leitores sobre lugares a que eles foram e que por razões óbvias não foi publicado:

De: orlando danilo paes [mailto:ksaldany49le42@ibest.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 5 de setembro de 2008 11:40
Para: Rio Show - O GLOBO
Assunto: FESTA 18A - DE MENTIRA (PROGRAMA FURADO)

PROMOVIDA 5@ FEIRA PARA CASAIS SWINGER, AFIRMAM (ESTA NO SITE) A PRESENÇA DE MAIS DE 100 CASAIS E POUCOS SOLTEIROS. O QUE VIMOS FOI MAIS DE 100 HOMENS E 20 MULHERES GORDAS OU VELHAS. KSAL DANY49LE42@IBEST.COM.BR

Detalhe 1: O casal que reclama que só tinha velhas tem 49 e 42 anos;
Detalhe 2: Reclamam com razão. Olhem abaixo as fotos de um suposto casal frequentador:



(clique para mais fotos dela na praia, na rua e na estrada)

setembro 04, 2008

Em Breve Seremos Seres de Pura Energia

É claro que existe um universo metafísico - pelo menos no mundo virtual dos computadores. Um monte de gente conversando sem estar ali e se vendo e trocando idéias e o fato de que a Wikipedia está virando extensão do seu cérebro - você nem precisa mais de um computador, se morar em Copa, por exemplo, basta um celular wi-fi; quanto tempo até não precisar de aparelho nenhum e os dados serem hotwired em seu cérebro?

Essas coisas me vieram à cabeça porque estava lendo sobre o projetado substituto do Blu-Ray (o substituto do DVD). O Blu-ray guarda cerca de 50 gigabytes de dados, contra os 8.5 do DVD. O HVD pode guardar até 3.900 gigabytes (3,9 terabytes), pra isso usando apenas o mesmo disquinho prateado que o CD (0,7 gigabytes ou 700 megabytes). Só que dessa vez, não é um avanço na tecnologia de gravação de zeros e uns no disco que possibilita o aumento na capacidade, é um novo conceito.

O CD guarda dados digitalmente, ou seja, todos transformados em zeros e uns (depois eu explico como em outro artigo, mas tente pensar como se fossem as palavras transformadas nos pontos e traços do código Morse). O disco funciona assim: de um lado tem um espelho e em cima desse espelho tem uma máscara com alguns furinhos. Um laser de baixa intensidade é disparado contra o disco. Se houver um furinho na máscara, o raio vai até o espelho, é refletido de volta e marca um UM; caso contrário, o aparelho marca um zero. O DVD e o blu-ray usaram basicamente lasers mais finos pra apertarem mais dados no mesmo espaço. O HVD não faz nada disso. Ele guarda nele apenas um holograma.

Isso mesmo, o que tem gravado nele é um holograma de um disco bem mais espesso, com várias e várias camadas de dados, como se fossem vários discos empilhados. O LASER ENTÃO LÊ OS DADOS GRAVADOS NO HOLOGRAMA COMO SE OS DISCOS ESTIVESSEM REALMENTE LÁ.

Isso não é assustador? A realidade está um passo mais longe. Em vez de ler dados codificados digitalmente, você lê um holograma codificado digitalmente de dados codificados digitalmente. Quanto tempo pro computador inteiro ser um holograma? E nós? Como já dizia um dos muitos ditados colhidos no livro A LEI DE MURPHY, alta tecnologia está cada vez mais indistinguível de magia.

Recomeça a NFL

Daqui a pouco vou encontrar a Suzy pra gente ver como ficaram os Gigantes depois do título, com a saída dos seus dois pressionadores superestrelas da linha defensiva (Michael Strahan se aposentou e Osi Umenyora se machucou na pré-temporada) e quais os efeitos da brilhante jogada-que-decidiu-o-Superbowl na carreira de Eli Manning, The Youngest Brother of Eli Manning (os dois campeões e escolhidos o melhor jogador da final em dois anos seguidos). Infelizmente o Trazoshort não se manifestou e minha irmã está trabalhando, sendo eles o resto do pessoal que conheço que segue futebol americano.

Como não consigo acompanhar times que não joguem no Sunday ou Monday Night Football, não entendo o que todo mundo vê nos Vikings de Minnesota. Nem os Jaguares me parecem tão favoritos tampouco. Os Potros de Indianápolis (Indianapolis Colts) continuam tendo o melhor jogador do mundo, um grande técnico e um time inteligente, mas estão cheios de confusões e o técnico está treinando em meio expediente. E os Jatos, os New York Jets? Como vão ser com o Brett Favre, que vai colecionando mais despedidas que Frank Sinatra, Dorival Caymmi, Sílvio Caldas JUNTOS?

Com todos esses dados (completo desconhecimento do que se passa nos campos de treinamento ou quem sejam 99% dos jogadores das equipes) à minha disposição, posso dizer que sou completamente neutro, então vão aí embaixo meus chutes pra temporada que começa:

1 - Os Gigantes não vão jogar tão mal quanto todo mundo pensa; Eli Manning pode ter tido uma epifania na pós-temporada passada após lançar tão brilhantemente nos jogos finais e dar vazão a todo o talento que ficava à sombra do irmãozão Peyton;
2 - Os Patriotas vão ficar bem aquém do ano passado;
3 - Favre vai ser melhor do que se pensava nos Jatos;
4 - Os Vikings vão ficar aquém do que se pensa, assim como os Jaguares;
5 - Os Potros mal e mal vão chegar na pós-temporada; se o fizerem relativamente inteiros, cuidado! - o negócio deles é ser o azarão;
6 - Os Denver Broncos vão botar pra quebrar.

É isso aí. Tenho que adiantar o trabalho porque daqui a pouco tenho que ir.
Vai, Eli!

setembro 02, 2008

Vocês têm certeza de que querem deixar cuidando disso nerds sem amigos, sem mulheres e que acabaram de saber que Lost está na última temporada?

... já que falei de colisão de hádrons na postagem abaixo, vale lembrar que a União Européia vai inaugurar esta semana o maior Acelerador de Partículas jamais construído, o LARGE HADRON COLLIDER. Segundo a Organização Européia para Pesquisa Nuclear, ativar o acelerador não será "uma ameaça para a Terra ou o Universo". O Universo ameaçado por uma organização européia? Tomem isso, marcianos de merda!

Agora falando sério, a revista Science Daily publicou recentemente um artigo declarando que se o Large Hadron Collider produzir um microburaco negro, provavelmente não causará nenhum problema. Provavelmente? Por algum motivo, eu não fiquei nem um pouco tranquilo com essa declaração.

Neste linque você pode ver a ativação do acelerador de partículas. Cuidado: se aparecerem faíscas e tudo que a câmera mostrar parecer estar afunilando e sumindo rumo a um ponto no centro da tela, pode não ser uma animação em flash maneira. É melhor dar uma conferida mesmo, afinal de contas, se os seus átomos começarem a decair em quarks e hadrons você pode pelo menos querer saber o porquê.

(tudo bem, chupei esta postagem do genial comentarista de futebol americano, Gregg Easterbrook. Se eu tivesse uma coluna esportiva gostaria que fosse parecida com a dele: epistemologia do esporte, política, mulher gostosa, ficção científica e filosofia).
Já que na postagem abaixo eu falei sobre o Verhoeven e Tropas Estelares, resolvi postar este adendo: Verhoeven é PhD em Física e Matemática. Levando-se em conta que o Dolph Lundgren é PhD em Química, não seria engraçado imaginar os dois num projeto de filme, com os malhadores todos indo ver achando que ia ter muita porrada e descobrindo que é sobre a vida de Heisenberg ou que a única porradaria na fita é uma colisão de hádrons?

Starship Troopers

Outro dia mesmo revi o TROPAS ESTELARES. Cheguei a passar um trecho pro pessoal que veio ao debate sobre Robocop (linque no alto à esquerda), principalmente pro Sílvio, que depois de velho e filósofo, deu pra ficar meio reacionário. O livro, como tudo do Heinlein em geral, é altamente provocante e praticamente a única coisa que entrega que o autor não está endossando o pensamento militar fascista é o paralelo entre a sociedade dos insetos e os "Soldados do Espaço" (título da obra na Coleção Nebulosa de Portugal, que comprei num sebo), em que existem os soldados, os operários e toda uma sociedade de castas, dando a pista de que a humanidade estaria avançando para se tornar um enorme formigueiro (1). O filme é muito, muito mais escancarado.

Como diz um amigo meu, nenhum filme que começa com a total e completa obliteração de Buenos Aires pode ser ruim, mas pelo menos lá fora a crítica caiu de pau em cima do longa. A aparição de um dos heróis do filme num uniforme que lembra o dos SS lá pelo final os indignou, pois se o mocinho gente-boa inteligente da história veste aquilo, o diretor só poderia estar endossando o fascismo! Além de terem perdido os uniformes nazistas desde o treinamento, perderam as miríades de ironias da fita. Desde toda a eugenia na high school globalizada (argentinos, americanos e quetais todos misturados, porém com todos parecendo americanos) ao oficial recrutador aleijado ("A infantaria estelar fez de mim o homem que sou hoje" - no livro, mais sutil, o sujeito reaparece depois com próteses, andando normalmente na rua, e explica que só vai todo mutilado pro escritório para separar os homens dos meninos no alistamento).

Mesmo os personagens que parecem inimigos no começo, como o piloto que quer comer a Denise Richards, por quem nosso herói suspira, e o louro que quer ser o líder do esquadrão a qualquer custo, revelam-se amigos e camaradas depois. As atuações são um capítulo à parte: muita gente reclamou da inexpressividade dos protagonistas nas críticas, mas isso era justamente o que Verhoeven desejava: em uma das cenas, Denise Richards, no auge de sua beleza, com seu sorriso de anúncio de pasta de dente, pilota o manche como se estivesse fingindo dirigir, exatamente como se fôra uma daquelas marionetes dos Tracy pilotando os Thunderbirds.

O crítico Glenn Erickson, em sua análise, entretanto, oferece uma tese bastante plausível: os filmes de ação aos quais estamos acostumados desde o segundo Rambo são tão fascistóides e caricatos que a maioria das pessoas só se dá conta da glorificação militarista fascista na hora do uniforme SS. Trezentos de Esparta está pros jiujidocas como Star Trek ou Senhor dos Anéis para nerds. O dramaturgo João Bethencourt já ensinava que não adiantava fazer sátiras a programas do Chacrinha, do Sílvio Santos ou à ralé dos programas religiosos - tudo que já é engraçado naturalmente não tem graça satirizado. E foi essa a grande falha do Verhoeven.

Glenn Erickson é pai de adolescentes e, em algum canto de seu saite que eu não achei agora pra botar o linque, mostra os prospectos que vem recebendo das Forças Armadas desde que seus filhos completaram 14 anos (o alistamento nos EUA é voluntário). Um deles mostra uma festa na praia com vários casais jovens e atraentes - "Guarda Nacional - Sim, você pode". Outro é um sujeito esquiando numa foto radical, com alguma coisa dizendo que você se junta aos Fuzileiros e conhece o mundo (provavelmente em algum canto, com letras miúdas está escrito que a foto apenas implica que o alistado poderá ser enviado para qualquer clima extremo, tanto frio quanto quente, como, por exemplo, o Iraque).

E o filme é exatamente assim, um almanaque de jovens atraentes de cabo a rabo. Parece que a cena do chuveiro misto deixou também muita gente constrangida e achando que era apelação. A cena na verdade remete a um vestiário misto que aparece ao fundo em uma cena de Robocop, com uma policial trocando de roupa (e exibindo os seios) em meio a um monte de machos e remete à supressão e ao controle do sexo - os sujeitos perderam sua sexualidade (e individualidade) a tal ponto que um chuveiro cheio de gente bonita e heterossexual (implicitamente) e sem roupa convive normalmente. Note que o Casper van Diem vai receber mais tarde uma autorização do Michael Ironside para comer a morena loura de cabelos encaracolados. Totalitarismo é isso aí.


(1) Será que Godard tinha lido STARSHIP TROOPERS quando em Alphaville põe um personagem dizendo que estamos virando uma sociedade de cupins e formigas - e que os cupins e as formigas, em tempos imemoriais, já tinham tido também seus artistas, seus poetas, seus escritores..