A Revista Zé Pereira mudou. Agora é online, quer dominar o mundo e para isso chamou megalômanos paranóicos de toda a Web para colaborar. Fui chamado para cobrir o Festival do Rio 2008 e vou publicar simultaneamente aqui e lá tudo a que eu for assistir.
O primeiro e até agora melhor longa de ficção da Première Brasil tem um careca esquisito que adotou um porco, mas não é OS SIMPSONS – O FILME.
Antes da sessão, o diretor Marcelo Galvão explicou que há três anos está tentando levantar recursos para fazer o filme que realmente queria fazer, sobre um menino com síndrome de Down. Não tendo conseguido até agora, decidiu então juntar os amigos e com recursos próprios fazer um longa que ganhasse dinheiro suficiente para o seu projeto pessoal. Entretanto, assistindo ao extremamente bem-cuidado RINHA, o espectador fica imaginando que, se a outra fita vai ser tão mais cara, no mínimo o moleque problemático se envolve com um arqueólogo às voltas com extraterrestres, bombas atômicas e cientistas loucos querendo dominar o mundo.
É claro que não, é tudo mérito de "Marcelo Galvão e equipe", como RINHA é assinado. Com inteligência e boas escolhas, alguns smokings, vestidos de noite e uma casa talvez não em seus melhores dias dão uma aparência de orçamento muito maior ao longa. As boas escolhas começam com a câmera tremida na mão e a montagem nervosa, recurso hoje em dia usado até em novela das oito, mas que no caso disfarça a aparição de qualquer detalhe que mostre que a festa não se passa num lugar tão luxuoso assim, a falta de continuidade dramática de algumas cenas e personagens e a inexperiência de alguns atores, esta também suavizada pela decisão de filmar quase todos os diálogos em inglês, o que ainda por cima ajuda a posicionar a fita no mercado mundial - por isso pode-se perdoar seu uso como metáfora óbvia, de uma burguesia que nem sequer fala a língua de seu país, ainda mais por soar irônica num filme tão cheio de claras influências do cinema anglófono.
Assim, ajudado por excelentes iluminação e direção de arte, RINHA envereda por uma estética moderninha um tanto gasta, mas que justamente por isso não tem dificuldade em prender a atenção da platéia. O principal defeito da fita é o roteiro, com influências aparentes que vão desde o já citado SIMPSONS até CÃO DE BRIGA. A preocupação maior é em alinhavar detalhes bizarros, cínicos, irônicos e violentos, sem lhes dar continudade dramática. Manias esquisitas não substituem uma personalidade de verdade e nenhum dos personagens decola. O sujeito que faz a narração em off virtualmente só aparece na história para UMA cena. A maioria dos playboys e patricinhas da festa são tão intercambiáveis que o espectador tem dificuldade em distinguir um do outro e seguir suas histórias. O longa abre com uma violenta e bizara cena do anfitrião, que em seguida quase desaparece do enredo. Até o careca que adotou um porco desaparece completamente depois de cinco minutos de projeção. Parte do problema pode ter sido a vontade de mostrar os ricos como criaturas tão abjetas e elitistas que acabaram transformando-nos em caricaturas - não por acaso os melhores personagens são os garotos de classe média baixa que tentam várias vezes penetrar na casa. A falta de sinceridade é agravada pela escolha da direção de se afastar das cenas de maior voltagem emocional, que ocorrem em grande parte fora de cena, o que costuma indicar um certo de medo encarar a tarefa por pouca experiência.
RINHA foi feito com poucos recursos, confessadamente para ganhar dinheiro. Moderninho, cínico e violento, tem grandes qualidades para o mercado mundial, nem que seja no segmento "direct-to-video", o que leva a perdoar-se a inexperiência e a obviedade em certas áreas, até mesmo no tema – num mundo em que o Vale-Tudo e as lutas em jaulas viraram uma mania mundial, têm canais de tevê exclusivos e um episódio de Jornada nas Estrelas, OCTAGON, contra a violência, virou nome de programa de porradaria, burgueses elitistas insensíveis se comprazendo com seus lutadores proletários brigando até a morte não soam tão chocantes assim. A única coisa realmente imperdoável na fita, completamente dispensável, é a cena final em câmera lenta, sem diálogos, com personagens reencontrando sua humanidade ao som de uma escandalosa música emo. Instintivamente fica se esperando o anúncio do Sony Channel anunciando a próxima atração.
setembro 28, 2008
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3 comentários:
ae maluco...vo chamar o Montanha pra te pegar...
pegou pesado na critica hein...
Peguei? Jura? Pensei que tivesse achado um filme bem-feito, e bom dentro de sua proposta de ganhar dinheiro.
Ave, sou o fotografo do filme e queria dar os parabéns por uma crítica tão bem estruturada.
Enfim, alguém expões claramente o que gosta e o que não gosta na fita.
Não acho ruim receber críticas negativas, se elas são bem justificadas. Fico chateado ao receber uma crítica negativa sem a menor explicação, apenas com sarcasmo. E está cheio de críticos que quando não gostam dos filmes se negam ou não sabem expressar o porque. Isso não ajuda ao filme e nem aos leitores.
Obrigado pela crítica produtiva. abraço,
Rodrigo Tavares
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