junho 29, 2011
junho 26, 2011
Por Que Desconfiamos de Polidez?
Sexta-feira o Dapieve em sua coluna comentou que não sabe o porquê de em nossa cultura ocidental a polidez ser vista com desconfiança, ao contrário do que acontece no Japão, por exemplo. Não tenho grandes experiências com orientais, mas nos anos 90 trabalhei com o Luiz Carlos Maciel num projeto com a Lucélia Santos pra tevê chinesa (que nunca saiu do papel, quer dizer, parece que virou um filme, mas também não sei se chegou a ser exibido em algum lugar). Trocar e-mails com os viventes do outro lado do mundo era uma experiência curiosíssima: aquelas caricaturas racistas que a gente vê em filmes e quadrinhos americanos de outrora não são tão exageradas assim. Só faltava eles nos chamarem de honorável (ou melhor, honolável) senhor Luiz. A cada crítica nossa, eles se desculpavam insistente e repetidamente. E depois continuavam suas vidas como se não tivessem ouvido nada do que faláramos. Quando alguns estiveram no Brasil, num jantar oferecido pela Lucélia, um deles, que aprendera português em São Paulo, elogiava meu texto e minhas tramas e, assim que eu virava as costas, começava a paquerar minha namorada. E não, eu não estava em crise de ciúme, a própria Fernanda é que veio depois me falar, “você sabia que aquele chinês que ficou lá conversando com você estava dando em cima de mim?”.
Basicamente, o problema com a polidez é que ela envolve palavras e gestos excessivamente floreados e ritualizados - e esse formalismo treinado esconde com perfeição as verdadeiras intenções das pessoas. Não necessariamente alguém educado e elegante está sendo insincero, mas o fato é que age como se assim fosse. Alguém que escolhe cuidadosamente suas palavras parece ter algo a esconder, ou que está criando uma história enquanto a conta. Ou pretende que seu efeito no interlocutor seja maior do que o conteúdo.
Setenta por cento da comunicação interpessoal é não-verbal (é por isso que interação digital via redes sociais jamais poderá realmente substituir o vis-à-vis). Ao bater um olho num vivente, você analisa inconscientemente seu gestual, seu modo de falar, sua gramática, seu modo de vestir. Se, no entanto, tudo isso está encoberto por um rígido formalismo impessoal, seu instinto básico é manter-se em guarda - daí a desconfiança.
O colunista do Globo também ressalta que sentiu-se tão à vontade no Japão quanto na Inglaterra por causa da polidez de ambos. E, não por coincidência, os dois são os únicos países desenvolvidos do mundo onde a monarquia ainda é uma presença simbólica fortíssima. O formalismo ajuda a hierarquizar as pessoas. Gestos e roupas são obrigatórios para indicar as classes a que os indivíduos pertencem. Bom exemplo são as pragmáticas da coroa portuguesa para manter a colônia em seu devido lugar, proibindo o uso de joias e sedas pelos nativos brasileiros e de sapatos pelos escravos. Quem essa gentinha pensa que é?
Portanto, há um bom motivo pra que nós, que herdamos pelo menos a ilusão de que somos todos iguais desde os gregos (explica isso pros escravos deles), termos desconfiança do excesso de polidez. Pros americanos, por exemplo, era a lembrança viva da nobreza inglesa e seus princípios antidemocráticos. Pra nós, normalmente, hoje em dia, é principalmente a separação do pensamento da ação. Ficamos desorientados, não temos como saber se o cavalheiro está sendo gentil, é gay ou está jogando o maior caô pra cima da gente. Seus gestos não o traem e cada palavra é cuidadosamente escolhida como um escritor forjando uma trama.
Fictícia.
Basicamente, o problema com a polidez é que ela envolve palavras e gestos excessivamente floreados e ritualizados - e esse formalismo treinado esconde com perfeição as verdadeiras intenções das pessoas. Não necessariamente alguém educado e elegante está sendo insincero, mas o fato é que age como se assim fosse. Alguém que escolhe cuidadosamente suas palavras parece ter algo a esconder, ou que está criando uma história enquanto a conta. Ou pretende que seu efeito no interlocutor seja maior do que o conteúdo.
Setenta por cento da comunicação interpessoal é não-verbal (é por isso que interação digital via redes sociais jamais poderá realmente substituir o vis-à-vis). Ao bater um olho num vivente, você analisa inconscientemente seu gestual, seu modo de falar, sua gramática, seu modo de vestir. Se, no entanto, tudo isso está encoberto por um rígido formalismo impessoal, seu instinto básico é manter-se em guarda - daí a desconfiança.
O colunista do Globo também ressalta que sentiu-se tão à vontade no Japão quanto na Inglaterra por causa da polidez de ambos. E, não por coincidência, os dois são os únicos países desenvolvidos do mundo onde a monarquia ainda é uma presença simbólica fortíssima. O formalismo ajuda a hierarquizar as pessoas. Gestos e roupas são obrigatórios para indicar as classes a que os indivíduos pertencem. Bom exemplo são as pragmáticas da coroa portuguesa para manter a colônia em seu devido lugar, proibindo o uso de joias e sedas pelos nativos brasileiros e de sapatos pelos escravos. Quem essa gentinha pensa que é?
Portanto, há um bom motivo pra que nós, que herdamos pelo menos a ilusão de que somos todos iguais desde os gregos (explica isso pros escravos deles), termos desconfiança do excesso de polidez. Pros americanos, por exemplo, era a lembrança viva da nobreza inglesa e seus princípios antidemocráticos. Pra nós, normalmente, hoje em dia, é principalmente a separação do pensamento da ação. Ficamos desorientados, não temos como saber se o cavalheiro está sendo gentil, é gay ou está jogando o maior caô pra cima da gente. Seus gestos não o traem e cada palavra é cuidadosamente escolhida como um escritor forjando uma trama.
Fictícia.
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junho 21, 2011
Aí, Marquinhos...
Certo, você não é um nerd, estava apenas passando em frente ao computador, viu este blogue de história aberto e resolveu olhar para ver o que estava acontecendo. No entanto, se você fosse e tivesse já a sua tabuleta eletrônica da Apple, com certeza adoraria este programinha desenvolvido pelo History Channel, infelizmente apenas para quem lê o idioma de Shakespeare. Formatado como um jornal da época, o aplicativo todo dia vem atualizado com as manchetes relativas à guerra na mesma data, só que 150 anos atrás. Não é recomendado para os impacientes, já que não tem como o usuário adiantar algumas edições para saber como a batalha descrita irá acabar (spoiler: o Norte vence no final), mas as edições anteriores podem ser consultadas à vontade, já havendo dois meses no arquivo.
A ideia de apresentar a história como num periódico da época costuma render bons resultados e o pedigree do History Channel (apesar da atual profusão de reality shows vendidos como documentários) ajuda, o que torna o programeto uma obrigação para os fãs de guerra que não briguem com o inglês, ainda mais pela importância seminal da Guerra Civil, a mãe de todas as guerras modernas. O aplicativo custa 8 dólares na App Store, o que está de excelente tamanho levando-se em conta que serão 4 anos de épicas batalhas e brilhantes movimentos estratégicos. Sem contar a possibilidade de encontrar Vivian Leigh.
junho 20, 2011
junho 19, 2011
Amor Elementar
Conte-me uma chuva
Macia, fina
Um pouco melancólica
E envolvente
Beije-me uma tempestade
Um temporal de verão
O sabor da grama molhada
O cheiro do ozônio
Os raios estourando
O ar abundando de água
Até que a terra encharcada
Seja uma lama indistinta de nossos pés
Uma úmida pasta de pó, planeta
E restos de mortos enterrados
E nós o fogo
Macia, fina
Um pouco melancólica
E envolvente
Beije-me uma tempestade
Um temporal de verão
O sabor da grama molhada
O cheiro do ozônio
Os raios estourando
O ar abundando de água
Até que a terra encharcada
Seja uma lama indistinta de nossos pés
Uma úmida pasta de pó, planeta
E restos de mortos enterrados
E nós o fogo
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Residência de Alto Nível com Transporte na Porta de Casa...
Parece que fazendo obras numa calçada desenterraram trilhos do bonde, não?
ERRADO!
Essas grades de ferro aí foram postas não porque carros estacionados na calçada atrapalhariam pedestres, mas sim a LINHA DO TREM! Sim! Isto é uma linha de trem e está ativa!!!!
E olha a que distância do prédio está! Isso é que é ter uma linha de trem na porta de casa. Imagino o que os pais de crianças pequenas devem achar disso.
Esse inacreditável ramal ferroviário fica em Fortaleza, perto da Praia do Futuro. O Tardin me levou lá já de madrugada, quando lembrou desta bizarrice, depois de vários chopes, daí não ter fotos de dia e muito menos do trem passando. E pensar que todo mundo riu e achou graça na aparentemente improvável cena do informante em POR ALGUNS DÓLARES A MAIS que tinha uma casa do lado da linha de trem.
Submissão
Um beliscão, diz a tradição:
a dor acorda o sonhador
Mostra a ele que o mundo existe
A queimadura do cigarro
o câncer do pulmão
a bronquite, o enfisema
são a prova de que a chama arde
dentro do seu corpo
A morte é a prova de nossa vida
A lápide a evidência inegável
Por isso no fundo não acreditamos
em beijos e poemas de amor
Preferimos a discussão, o ciúme
o rancor, o ressentimento
A penetração profunda, o peso desconfortável
O bafo asfixiante o cabelo desgrenhado
E o orgasmo lubrificado
da irritação das mucosas.
a dor acorda o sonhador
Mostra a ele que o mundo existe
A queimadura do cigarro
o câncer do pulmão
a bronquite, o enfisema
são a prova de que a chama arde
dentro do seu corpo
A morte é a prova de nossa vida
A lápide a evidência inegável
Por isso no fundo não acreditamos
em beijos e poemas de amor
Preferimos a discussão, o ciúme
o rancor, o ressentimento
A penetração profunda, o peso desconfortável
O bafo asfixiante o cabelo desgrenhado
E o orgasmo lubrificado
da irritação das mucosas.
1915
Robert Graves
* Como sempre, minha tradução nas coxas, sem respeitar rimas ou métricas, vem abaixo do original
* Como sempre, minha tradução nas coxas, sem respeitar rimas ou métricas, vem abaixo do original
I’ve watched the Seasons passing slow, so slow,
In the fields between La Bassée and Bethune;
Primroses and the first warm day of Spring,
Red poppy floods of June,
August, and yellowing Autumn, so
To Winter nights knee-deep in mud or snow,
And you’ve been everything.
Dear, you’ve been everything that I most lack
In these soul-deadening trenches—pictures, books,
Music, the quiet of an English wood,
Beautiful comrade-looks,
The narrow, bouldered mountain-track,
The broad, full-bosomed ocean, green and black,
And Peace, and all that’s good.
Eu assisti às estações passando lentmente, tão lentamente
Nos campos entre La Bassée e Bethune;
Prímulas e o primeiro dia quente da primavera,
Inundações das vermelhas papoulas de junho,
Agosto e o amarelecido outono, e assim
Para as noites de inverno enterrado até o joelho na lama e na neve,
E você, você tem sido tudo
Querida, você tem sido tudo de que mais sinto falta
Nestas asfixiantes trincheiras - livros, retratos,
Música, a quietude de uma mata inglesa,
O olhar de uma bela camarada,
A estreita, pedregosa trilha nas montanhas,
O amplo e envolvente oceano, verde e negro,
E Paz, e tudo que é bom.
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junho 18, 2011
junho 17, 2011
junho 13, 2011
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