julho 29, 2011

Mais Animações Analógicas de Jones

Jones, vendedor de móbiles e cineminhas de papel como aqueles de antigamente, que bate ponto no Aterro nos fins de semana ensolarados, exibe aqui mais alguns de seus trabalhos, incluindo suas visões de discos voadores, do Cometa de Haley e o atentado às Torres Gêmeas.



Frescobol

julho 22, 2011

Filmes que Moldaram os Anos 80

O Selvagem da Motocicleta

Anteriormente: Blade Runner




Pois é, aquele sujeito que hoje em dia faz aqueles vilões grotescos sem maquiagem já foi símbolo sexual. Ele também aparentemente tinha algum problema na garganta que o impedia de falar mais alto do que um sussurro, problema que pelo menos hoje já foi solucionado. Mas se ele parece tão convincente em “O Lutador” falando que os anos noventa foram uma merda e os oitenta é que mandavam, é porque não é só o personagem se manifestando ali. A década de 80 foi a década de Mickey Rourke e ele reinava supremo entre o povo cabeça. E aqui, em “O Selvagem da Motocicleta”, começa seu pontificado. Aqui é o marco zero do epíteto ultracool do personagem típico oitentista. Rick Deckard pode tê-lo trazido à tona, mas é aqui que ele é definitivamente formatado. Tão exageradamente hipercool que obviamente não duraria muito tempo sem se tornar uma autocaricatura - mas, enquanto o ridículo de seu superlativismo não se tornava claro, reinou supremo.

“Rumble Fish”, como também era conhecido, não tinha só o galã da década a seu favor. A aparição inicial de seu personagem era cópia da icônica foto de Marlon Brando em “O Selvagem”, remetendo a fita aos filmes clássicos dos anos 50 e aos rebeldes sem causa de então - sutileza não era o forte do longa. Pra não dar nome pro Mickey Rourke, ele era conhecido como “Motorcycle boy”, um apelido realmente curtinho, que todo mundo com certeza iria preferir usar ao nome dele. Quem fazia o papel do pai dele era Dennis Hopper - outro sujeito que ficou famoso nas telas numa motocicleta, também como um alienado da sociedade em busca de algo indefinível. O irmão do garoto da moto, Enferrujado - digo, Rusty - James, começa a história com uma briga de gangues claramente remetendo à juventude transviada de “West Side Story”. E, se o espectador ainda não tiver alcançado qual o tema do longa, ainda tem um dono de lanchonete meio figura paterna interpretado por Tom Waits, aquele músico com toda uma atmosfera marginal em volta.

Essas referências todas com certeza já localizariam firmemente “O Selvagem da Motocicleta” na década de 80. Foi quando, pelo menos no Brasil, a garotada que cresceu realmente bombardeada pela televisão chegou à adolescência e início da idade adulta. Pela primeira vez uma geração tinha uma visão de mundo forjada de alto a baixo por uma cultura de massa globalizada e globalizante. Nos anos 70 o Rio de Janeiro ainda não era uma metrópole cosmopolita: quem era criança nessa época ainda conheceu mesmo na Zona Sul o comércio de bairro, o leiteiro que deixava o leite na porta de casa, as portarias e garagens abertas a todo mundo, as mães que ainda queriam que as filhas casassem virgens, essas coisas todas que hoje em dia a gente relaciona com o universo de Nelson Rodrigues. Mas a televisão daria uma cabeça diferente a essa criançada. E não à toa tanto vivente dessa geração não ficou deslumbrado e passou a se sentir acima dessa brasileirice terceiro-mundista toda - o famoso e típico sentimento “eu não sou estrangeiro, eu não sou brasileiro, sou de lugar nenhum, sou de nenhum lugar”, que explicavelmente predominou mais em São Paulo do que no Rio. Somado isso ao fracasso do milagre econômico, que encheu na infância esse povo de sonhos de grandeza só pra frustrá-los depois, à perda da Copa de 82 - não dá pra exagerar o golpe que isso deu na autoestima brasileira na época - e à decepção com as primeiras eleições diretas pra governador, criou-se o ambiente pedante que marcou a era, o de que o Brasil não tinha jeito, a única saída era o aeroporto, tudo no Brasil funcionava errado... o Ultraje a Rigor capturou bem isso com “Inútil”.

A frustração em “Rumble Fish” era mais com a falência das ideologias mesmo, dos hippies, da contracultura, e com a vitória do consumismo, mas serviu direitinho pra juventude oitentista projetar seus próprios sentimentos. E ainda tinha o estilo! Era em preto e branco, o que, como já vimos, era relativamente popular nos anos 80. Tinha peixes de briga coloridos (realmente não era nada sutil). Tinha ângulos estranhos. Tinha uma edição tão cool quanto Mickey Rourke. E o Mickey Rourke, daltônico e meio surdo, mais uma metáfora nada sutil para a alienação do sujeito em busca de algo indefinível. Depois de largar seu papel como líder de gangue (uma das falhas da fita - não dá pra acreditar em nenhum momento em Rourke como um chefe de bando de adolescentes marginais), ele sai em busca da mãe, não tendo nenhuma revelação ao encontrá-la e (spoiler adiante) morrendo na sarjeta tentando libertar aqueles peixes de briga coloridos porque, se eles tiverem mais espaço, talvez não lutem até a morte.



Entre as outras sutilezas da produção há um relógio elétrico em primeiro plano avançando enquanto Tom Waits faz um monólogo como um dia você se descobre com trinta anos - trinta verões, caramba, quanta coisa! - e um jovem Nicolas Cage traindo um igualmente jovem Matt Dilon pra ficar com a namorada dele e depois explicando ao sujeito que ele é um mané e que o mundo é assim mesmo, dos mais espertos. Mas tudo isso com uma fotografia lindíssima, direção de arte hiperelegante e a grife Coppola, em seu último filme relevante. Em suma, um hit irresistível entre a galera cabeça e sua indefinível busca por algo mais, enquanto o resto do universo permanece insensível e sem sentido. Sei, isso parece mensagem de fita do Woody Allen, mas serve direitinho aqui também.

Na verdade, todo esse estilo cenográfico já tinha sido experimentado muito mais radicalmente em “O Fundo do Coração”, o filme que afundou a carreira do Coppola, mas cuja direção de arte e concepção foram extremamente influentes na década. Está tudo lá: a vida percebida como referências da cultura pop, a direção de arte artificial, a emulação da Hollywood clássica (e os valores americanos pré-guerra) como um ideal perdido, a banalidade da existência... só que os espectadores tiveram muita dificuldade em se projetar nos medíocres personagens interpretados sem inspiração e carisma por Teri Gar e Frederic Forest. Todo mundo preferia o ultracool ultraelegante claramente superior Garoto da Motocicleta. Mas não se pode negar que “One from the Heart” desbravou um dos principais caminhos que o cinema da década seguiria, deixando sua influência em coisas de “Querelle” a “E la Nave Va”.

Mas todo esse artificialismo proposital tinha data de validade. O próprio superlativismo do gênero acabou relegando-o ao esquecimento alguns anos depois. levando junto o título que epitomizou a tendência. Se existe uma fita “datada” é “Rumble Fish”. Assim como o estilo de atuar de Mickey Rourke, que ainda renderia alguns relativos sucessos, principalmente em um longa que misturava um monte de ingredientes irresistíveis para a época: film noir, o demônio, Robert de Niro e o então conceituadíssimo Alan Parker numa trama misteriosa com uma solução óbvia de doer. Mas obviedade era o forte dessa turma, talvez por isso mesmo eles tivessem tanto seguidores. Até que, como diz Randy “The Ram” Robinson em “The Wrestler” chegaram os anos 90, muito mais sujos, deselegantes e sem pretensões cool intelectualoides e sumiram com Mickey Rourke, filmes preto e branco e românticos alienados em busca de um paraíso edipiano uterino perdido.

Um Celular com Câmera no Catumbi











Jones no Aterro











Há anos no Aterro, nos fins de semana sem chuva, até por volta do meio da tarde, quem caminhar ali pela Praia de Botafogo vai encontrar o Jones. Oriundo do sul, ele vende por módicos preços seus móbiles e caixinhas rotatórias que servem para exibir seus desenhos num tipo primitivo de animação. Entre seus "curtas", a cena clássica de Chaplin entre engrenagens de Tempos Modernos e afins, mas o que ele curte fazer mesmo é contar os seus - e os de pessoas que ele conheceu - encontros com discos voadores e alienígenas. Este é um de seus trabalhos, em que ele exibe uma visão assustadora que teve há anos, com uma astronave se transformando em deus egípcio.

Em breve, mais trabalhos de Jones neste blogue.
É morrendo que se nasce para a vida eterna e é empatando que se ganha uma vaga na final (San Francisco Paraguayo)

Um Celular com Câmera na Tijuca









Na boa, me convence que os sujeitos que fizeram isto aí estavam com outra coisa na cabeça, achando que era só uma abstraçãozinha art nouveau...

Um Celular com Câmera no Catumbi II

Na rua em frente ao prédio d'O Globo, ecos da velha cidade num galo passeando altaneiro...









Ricardo Bahia


O recordista de prender a respiração debaixo d'água é brasileiro. Encontrei-o enquanto caminhava no Aterro. Ricardo Bahia tem o patrocínio da Fun Dive e sua especialidade é só ficar sem respirar - seu corpo não resiste bem a pressões e ele está fora da turma que mergulha em apneia a profundidades impressionantes, récorde que pertenceu ao saudoso Américo Santarelli.

Três Poemas de Aviadores de Guerra

De quando os poetas não só eram artistas sensíveis como machos!

A Morte do Artilheiro da Torreta Ventral
Randall Jarrel


From my mother's sleep I fell into the State,
And I hunched in its belly till my wet fur froze.
Six miles from earth, loosed from its dream of life,
I woke to black flak and the nightmare fighters.
When I died they washed me out of the turret with a hose.

Tradução instantânea minha:

Do colo de minha mãe caí nas mãos do Estado
E me acocorei em seu ventro até que meu pelo molhado congelasse
Acordeu ao som da negra artilharia antiaérea e dos pesadelares caças
Quando eu morri eles me lavaram da torreta com uma mangueira


Um Aviador Irlandês Prevê sua Morte
William Butler Yeats


I know that I shall meet my fate
Somewhere among the clouds above;
Those that I fight I do not hate,
Those that I guard I do not love;
My country is Kiltartan Cross,
My countrymen Kiltartan's poor,
No likely end could bring them loss
Or leave them happier than before.
Nor law, nor duty bade me fight,
Nor public men, nor cheering crowds,
A lonely impulse of delight
Drove to this tumult in the clouds;
I balanced all, brought all to mind,
The years to come seemed waste of breath,
A waste of breath the years behind
In balance with this life, this death.

Tradução instantânea:

Eu sei que devo encontrar meu destino
Lá em cima em algum lugar
Aqueles que combato não odeio
Aqueles que defendo não amo
Minha terra é Kiltartan Cross
Meu povo os miseráveis de Kiltartan
Nenhum fim que tivesse lhes causaria perda
Ou os deixaria mais felizes
Nem o dever nem a lei me fizeram lutar
Nem os homens públicos nem a multidão a delirar
Um solitário impulso de prazer
Trouxe-me a este tumulto nas nuvens
Eu pesei tudo, trouxe tudo à mente
Os anos por vir me soaram vazios
Vazios os anos passados
Em comparação com esta vida, esta morte!

Artilheiro
Randall Jarrel


Did they send me away from my cat and my wife
To a doctor who poked me and counted my teeth,
To a line on a plain, to a stove in a tent?
Did I nod in the flies of the schools?
And the fighters rolled into the tracer like rabbits,
The blood froze over my splints like a scab --
Did I snore, all still and grey in the turret,
Till the palms rose out of the sea with my death?
And the world ends here, in the sand of a grave,
All my wars over? How easy it was to die!
Has my wife a pension of so many mice?
Did the medals go home to my cat?

Tradução porca:

Eles me afastaram de meu gato e minha esposa
Para um médico que me cutucou e contou meus dentes
Para uma fila numa planície, um forno numa tenda?
Será que acedi nos voos da escola?
E os caças rolavam por dentro das traçadoras como coelhos
O sangue congelou sobre minhas feridas como uma crosta
Será que ronquei, imóvel e cinza na torreta,
Até que o mar se ergueu com minha morte?
E o mundo termina aqui, na terra da sepultura,
Todas as minhas guerras acabadas?
Como foi fácil morrer!
Será que minha esposa tem uma pensão de quantos ratos?
Será que minhas medalhas foram para meu gato?

Descontração














Jericoacoara 2011









Um Celular com Câmera no Aterro





julho 06, 2011

Intruso em Casa Right Now.

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Caralivro

O Feicebuque devia ter um botão "indignar-se", Assim, quando alguém repetisse a manchete de um jornal (pro caso d'eu não ter visto em nenhum saite, telejornal, banca ou escutado no rádio) falando de corrupção, Sarney, greve dos bombeiros, Chávez, desrespeito ao consumidor ou coisa similar, era só clicar e pronto: "Paulo Matos e mais três pessoas indignaram-se com seu link". E aí todo mundo podia ir dormir em paz com a consciência tranquila.

julho 05, 2011

Bipolar

(início de alguma coisa que ainda vou pensar o quê)


Os fantasmas são os piores. Porque eles existem, eu sei, mas o resto das pessoas não sabe, então eu não posso chegar pra minha médica e dizer que ultimamente tenho me sentido pior porque os fantasmas andam me seguindo pra tudo que é lado, até quando eu tô trepando - e alguns não entendem porra nenhuma das cordas e dos prendedores de mamilo - aí é que ela ia me internar mesmo, mas não é isso, não é a cabeça, eles estavam por perto muito antes do resto, eles já estavam por perto quando eu era garota, eu só não sabia quem eles eram, eles sim, eles é que sempre souberam quem eu era, sempre, mesmo que eu, eu mesma, eu mesma não saiba até hoje.
São três dias, três dias já, nunca levou tanto tempo, nem em nenhuma menstruação, nem daquela vez que o Gusta me cortou com a faca, nem quando eu perdi a virgindade e eu nem sei, já nem sei do que eles estão atrás, de que sangue eles estão atrás, que sangue eles querem, qual sangue, se eles querem meu sangue, terão o meu sangue, verão o meu sangue só no fim, já até joguei as agulhas fora, mas eles continuam me seguindo, não, não é verdade, eles não vêm me seguindo, eles só pairam, só ficam por aqui, aqui pelo prédio, rodando pelo prédio, pelos corredores, pela escada, no elevador, no hall, na entrada do apartamento, na sala, no banheiro, no quarto, no meu quarto, sobre a minha cama, sobre a minha cama na hora de dormir, não é a hora de dormir, não, não é, eu não durmo, eles não deixam, eu não durmo, eles só ficam olhando, olhos nos olhos, abertos ou fechados, não adianta eu fechar que eles continuam olhando, eu continuo olhando, eu continuo olhando mesmo com os olhos fechados, sem dormir, sem sonhar, sem alucinar.

Só vendo aqueles fantasmas.

Teoria da Evolução





Submissão (Segunda versão)

Um beliscão, diz a tradição:
a dor acorda o sonhador
lembrando-o que o mundo existe

A queimadura do cigarro
o câncer do pulmão
a bronquite, o enfisema
provam que a chama arde
dentro do corpo

A morte é a prova da vida
A lápide a evidência inegável

Por isso ao fim não acreditamos
em beijos e poemas de amor
E sim na discussão, no ciúme
no rancor, no ressentimento:
A penetração profunda, o peso desconfortável
O bafo asfixiante o cabelo desgrenhado

E o orgasmo lubrificado
da irritação das mucosas.

Gênio de Marketing



julho 02, 2011

Humor dos Anos 50

Você sabe que cometeu um erro quando as baratas é que têm medo da sua mulher.

Um Celular com Câmera no Largo de São Francisco


Nossa, você fica um gato com esses óculos...