O enviado especial Antônio Rogério da Silva achou as composições reminiscentes da era pré-som e não gostou da história, por isso que achou que o filme teria sido melhor se mudo, ainda que visualmente esplêndido. É que ele esqueceu que cinema é uma arte visual e se o visual é bom, metade do caminho já foi.
E quando se fala que o visual de “A canção de Baal” é muito bom, não se está querendo dizer que “a fotografia é bonita”, famosa frase que corresponde ao beijo da morte, como muito bem definiu o cartunista e resenhista deste grande saite (e do dele, é claro), Arnaldo Branco. Não, a fita não só tem bela fotografia e iluminação como conta com excelentes enquadramentos, ótima direção de arte e grandes locações, a maioria aparentemente no meio do mato. Ah, sim, e ainda tem belas e muitas mulheres bonitas sem roupa e carinhosamente fotografadas (para as moças e alternativos, tem também éfebo pelado).
E, se você realmente saiu de casa para ir ao cinema ver a estréia na direção de Helena Ignez, grande musa do cinema udigrudi, viúva do brilhante Rogério Sganzerla, certamente sabia no que estava se metendo. Um ar contracultural anos 70, Brecht, Einstein e um hippie velho ao mesmo tempo fracassado e bem-sucedido, genial e farsante, amoroso sedutor e perverso pústula. Arte não sobrevive sem crueldade e é impossível amar sem magoar e quando o poeta e cantor Baal com sua voz roufenha ataca suas canções, revela todas as suas facetas, incluindo o lado negro da Força.
Os diálogos não têm nenhum realismo e a narrativa nenhuma linearidade, mas conhecemos e entendemos os personagens (e as personagens! Sem roupa!) e o filme é extremamente fiel e bem-sucedido em sua proposta contracultural udigrudi hippie alternativa easy rider marginal de mimeógrafo. De tão retrô a fita é até capaz de agradar os moderninhos cínicos negativistas materialistas céticos. Já pra quem já é chegado na coisa, vai dar uma vontade terrível de juntar os amigos e se mandar pra São Pedro da Serra, pra ficar tomando cachaça, ouvindo música e planejando como mudar o mundo.
P. S.: Pouco antes da projeção, alinhou-se frente à tela a equipe de produção e algumas das belas atrizes que iriam encantar a fita logo depois. Entre as muitas jovens, uma chamava a atenção por ser extremamente parecida com a Beth Goulart. Bastou rolar os créditos para se perceber que não era só parecença, era a própria, embora por todos os cálculos lunares e solares ela devesse ter mais de 40 anos e não apenas os vinte e poucos que levou ao cinema. Não foi só Christiane Torloni que descobriu o segredo da eterna juventude. Pena que ela não se juntou à turma depois no Verdinho da Cinelândia.
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