outubro 08, 2008

Festival de Cinema do Rio 2008

O Pódio da Première Brasil


E agora o pódio da ZÉ PEREIRA (da qual este blogueiro faz parte) dos melhores filmes da mostra competitiva da Première Brasil deste ano. De se notar que, à exceção de “Festa da Menina Morta”, praticamente todos os outros longas da competição parecem abordar mais o universo de referências pop e culturais dos autores do que o universo de seu cotidiano real. “Rinha”, “Vingança”, “Verônica”, “Apenas o fim” e, de certa forma, “Se nada mais de certo” abdicam de sinceridade e preferem mostrar um mundo estilizado filtrado por seu amor ao cinema, aos quadrinhos e aos seriados de tevê com o qual cresceram, uma tendência que, para o bem e para o mal, moldou a produção brasileira dos anos 80 e que volta agora com força total depois de um período mais regionalista e engajado. "Juventude" escapa desta fórmula, mas cai na do próprio Domingos de Oliveira, que usa o formato confessional desde "Todas as mulheres do mundo" e principalmente depois que adaptou os diários de sua filha para o megahipersucesso teatral "Confissões de adolescente".

1. Festa da Menina Morta

O ritmo lentíssimo e a rigidez formal vão levar boa parte do público a urrar em agonia, mas, ao contrário de muitas fitas onde tais atributos têm apenas a função de conferir solenidade e intimidar o público, Mateus [AUTOTEXTO] tem um objetivo aqui – refletir a miséria e a ritualização religiosa da vida no Alto Cafundó do Judas. Com a temática mais original e complexa da mostra este ano, abordando religião (e, por extensão, a arte), messianismo (e, por extensão, a estrela) e miséria, o filme ainda apresenta a belíssima fotografia de Lula Carvalho. O grande senão para o imenso quadro de críticos especializados deste saite é o incesto homossexual, no qual nenhum dos nossos muitos especialistas viu qualquer outra função a não ser a de chocar.


2. Se nada mais der certo

Jornalista de classe média meio marginal - e paulista! - pode soar redundante e um enorme risco, ainda mais juntando a isso pequenos traficantes, travestis, personagens deprimidos e um discurso contra vender-se ao sistema (e ainda por cima com câmera tremida, desfocada e edição nervosa). Só sair ileso dessa premissa é um feito e tanto, mas José Eduardo Belmonte vai além e consegue prender a atenção do público mostrando sinceridade nas relações afetivas dos carentes personagens principais e verossimilhança nessa misturada de referências culturais pop típica dos anos 80.

3. Vingança
Rinha

“Vingança”, “Rinha”, “Verônica” e “Apenas o fim” radicalizam o que se comentou acima e mostram a tremenda influência das referências culturais de seus autores. “Verônica” trafega por terreno delicado ao usar realidade brasileira como pano de fundo para um thriller e perde para os outros por ter contado com imensamente maiores recursos de produção. “Apenas o fim” tem grandes cenas e diálogos, mas contou com zero recursos de produção (é um projeto de um estudante de cinema de 19 anos!) e isso é visível. O nosso descomunal quadro de críticos portanto acabou se dividindo entre o esfuziante “Rinha”, com uma proposta mais abarcante, e o conciso e pequeno “Vingança”. Ambos às vezes escorregam nos clichês, mas a maior precisão deste e a menor quantidade de recursos (grana, sempre a grana) o fazem empatar com a visualmente mais interessante e movimentada fita sobre festas, violência, humor negro e jiujutecas.

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