A Revista Zé Pereira mudou. Agora é online, quer dominar o mundo e para isso chamou megalômanos paranóicos de toda a Web para colaborar. Fui chamado para cobrir o Festival do Rio 2008 e vou publicar simultaneamente aqui e lá tudo a que eu for assistir.
Rapaz, estava falando ainda outro dia, na crítica do “Vingança”, do povo que cresceu nos anos 80 vendo filme noir, lendo Bukowski, então sendo lançado aqui pela Braziliense, e colecionando as primeiras “graphic novels” a aparecer nestas plagas, e de como suas tentativas de contar histórias transpondo o herói sensível, cínico e ultra-romântico que eles tanto admiravam para as telas trouxe resultados aquém do esperado. Pois não é que 20 anos depois finalmente eles estão conseguindo?
E a influência desses ícones aí em cima no “Se nada mais der certo”, de José Eduardo Fonseca, é tanta que em dado momento os personagens se embebedam com a ajuda da “vodka Bukowski”. O velho Buk não tinha simpatias por povo de classe média metido a ser verdadeiro marginal, como o jornalista duro protagonista do longa, mas a coisa (quase) toda é tão bem feita que consegue desviar-se da auto-exaltação e da auto-piedade, as armadilhas escondidas na folhagem de quem resolve contar uma história seguindo com esse tipo de herói.
Sim, porque o jornalista que Cauã Reymond defende bem é claramente alter ego dos criadores e figura de identificação da platéia. Vez por outra o roteiro escorrega em seu romantismo ético, como quando deixa claro que ele não se deita com nenhuma das duas mulheres de quem passa o filme cuidando, uma delas inclusive morando com ele, uma moça bem neurótica, e não é pra menos, o sujeito por quem ela obviamente sente atração não toma nenhuma atitude...
Mas isso é detalhe. Usando a hoje em dia já tradicional câmera de vídeo tremida e desfocada e edição nervosa, a fita segue a vida de alguns personagens que se encontram por acaso – a moça de sexualidade duvidosa que faz alguns aviões, um taxista depressivo, o jornalista duro, e como eles formam uma família postiça. O jornalista volta e meia mostra romantismo e dignidade demais, como quando faz um discurso contra se vender à sociedade de consumo (felizmente de apenas umas duas linhas) ou não consegue desempenhar quando um amigo patrocina uma ida ao bordel, mas a vontade dele de fazer amizade com todo mundo e a óbvia alegria que ele e os outros habitantes da fita sentem em companhia um dos outros conseguem nos vender esse universo fílmico de desajustados felizes por encontrar seus iguais.
Como sói acontecer nos filmes noir e graphic novels que influenciaram os criadores de “Se nada mais der certo”, a história acaba descambando para crimes, aventuras e armadilhas do destino. A trama é bem recheada de incidentes e não se detém muito em nenhum deles a ponto de nos fazer pensar em sua verossimilhança ou se são tão importantes, mantendo nosso interesse e atração. E, importante, mantém o ar regional, escapando de outro erro normal nesse tipo de fita, a exposição da alienação do artista, incapaz de se libertar da influência da cultura americana, presente o tempo todo, é claro, mas filtrada por olhos de metrópole do terceiro mundo.
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