setembro 27, 2010

Festival de Cinema do Rio: A Bailarina de Vermelho, curta de Alessandra Colasanti e Samir Abujamra


Se você está lendo esta materinha neste saite muito provavelmente é, dá uns apertos em ou conhece aquele povo que faz faculdade de jornalismo, letras, psicologia, essas coisas que não servem muito pra ganhar dinheiro, mas dá pra tirar o atraso legal e se divertir à larga com aquele povo muito engraçado. Ou que pelo menos se acha engraçado, você deve saber o tipo, aquela calourada que acabou de entrar e ainda está fascinada com palavras novas como "significante" e "significado" e por estar cercado por um monte de gente que sabe quem é Degas, Andy Warhol e Debussy, em vez daquelas antas do 2o. grau que só pensavam em vestibular e Lady GaGa. Da maneira como hoje em dia é moleza fazer um vídeo essa garotada que acabou de entrar na faculdade e se acha toda muito inteligente acaba se juntando e fazendo um pra mostrar pra todo mundo seu talento e humor.

Pois é, "A Bailarina de Vermelho" corresponde direitinho a essa descrição, exceto que teve muito mais grana e amigos de responsa participando do que a calourada da PUC. O clima de fascinação com conceitos culturais impressiona sobremaneira levando-se em conta o sobrenome Colasanti envolvido - puxa, a Marina (que inclusive faz uma ponta) apresentando aquelas mesas-redonda de clássicos mudos do expressionismo alemão e depois de clássicos em geral na TVE fez a cabeça deste pseudo-intelectual digitando esse troço e sempre imaginei que na casa dela todo mundo lesse um Joyce e um Dostoievski antes do café da manhã e visse essas coisas com a mesma acostumada naturalidade com que os adolescentes internautas veem a genitália da Britney Spears.

O curta conta uma fictícia história sobre uma mulher, uma bailarina sempre de vermelho, que inspirou todos os movimentos artísticos do século XX. Interpretada pela diretora-produtora-roteirista-atriz principal Alessandra Colasanti, a protagonista parece mais uma fantasia de onipotência daquelas calouras bonitas e inteligentes (ainda mais com o tom condescendente com que ela se dirige ao público em seus vídeos no YouTube). O humor não vai muito mais além desta concepção e em um de seus momentos mais juvenis não resiste a fazer trocadilho com o Picasso. O pessoal envolvido claramente se divertiu - a própria adorável Marina parece em vários momentos estar pronta a rir - e os amigos desse povo devem ter achado o maior barato, mas com tantos sobrenomes de responsa envolvidos, esperava-se mais do que uma fita tão universitariamente autocongratulatória.

setembro 26, 2010

Festival de Cinema do Rio: Estigmas, de Adán Aliaga


A novela gráfica "Estigmas", coautorada por Mattotti (com Piersanti), não está entre as melhores obras do desenhista, contando, estranhamente sem emocionar, a história de redenção de um bêbado misantropo. O melhor do álbum é, como quase sempre, o traço de Mattotti, sujo, claustrofóbico e esquizofrênico. A grande dúvida do Zé José, por exemplo, era saber como alguém conseguiria transferir a obra pro cinema quando o grande destaque era justamente a arte tão pessoal, incapaz de ser recriada digitalmente na tela grande como virou moda depois de Sin City.

Pois quanto a isso o valente editor da Zé Pereira pode ficar tranquilo: o diretor espanhol Adán Aliaga ressuscita o preto e branco anamórfico, cujos amplos espaços monocromáticos reforçam a solidão dos personagens desde "Se meu apartamento falasse", e recorta a tela com altos contrastes, interiores atulhados e exteriores fantasmagóricos pra transmitir o mesmo clima dos quadrinhos de Mattotti. Visualmente a fita, mesmo projetada digitalmente, é hipnótica. Entretanto, Aliaga descarta a narração em off do protagonista, bem como quase todos os seus diálogos. O resultado é que a produção ganha um tom extremamente lento e solene, para que fique claro aos espectadores desde o início que eles estão vendo algo I-M-P-O-R-T-A-N-T-E. O próprio bêbado isolado, agressivo e solitário não é tão completamente solitário e desde o início é deixado bem claro que, no fundo, ele é gente boa, inclusive sendo amigo de crianças, a quem vende lagartas. Sim, lagartas, isso mesmo, uma das metáforas que Aliaga usa para deixar bem clara a relevância do filme. Afinal, lagartas se transformam em borboletas e uma menina pergunta ao estigmatizado se aquelas larvas sofrem muito quando fazem sua metamorfose.

Mas existe outro motivo para Aliaga descartar a narração em off - ele inverte a ordem de alguns episódios e, curiosamente, para quem se deu ao trabalho de levar quadrinhos pra tela prateada laboriosamente criando com sua cinematografia um clima semelhante ao da história original, não compartilha da ideia da possibilidade de redenção através do amor a toda a humanidade. Mais cínico e niilista, Aliaga parece em alguns momentos perder a compreensão do cerne da história, e escorregar alguns personagens para velhos clichês, não só no protagonista menos misantropo como na namorada dele: na obra original Lorena é uma menina meiga e relativamente ingênua, enquanto na fita ela descamba para a velha fantasia de diretores de cinema, a linda mulher jovem, atirada, independente, sexualmente agressiva, anticonvencional e inteligente, estranhamente dedicada a reformar homens esquisitos e retraídos.

Com belos visuais, um ator que é os cornos do protagonista do quadrinhos e um ritmo bem mais lento do que o do gibi, mas nem por isso entediante, Aliaga comete mesmo seu grande erro no final, ao negar a redenção do estigmatizado, tornando praticamente a história toda sem relevância, pois, afinal, qual o crescimento que os estigmas proporcionam ao sofrido bêbado se ele não descobre que nenhum homem é uma ilha, completo em si mesmo, mas parte de um continente maior?

Ao fim, o diretor espanhol Adán Aliaga conjura belíssimas imagens (principalmente Marieta Orozco) com um orçamento aparentemente modesto, mas mostra a mesma incompreensão que na história acarreta o desastre ao estigmatizado, antes que ele reconsidere sua percepção do mundo e alcance sua redenção. Como o protagonista, Aliaga avançou, mas ainda terá que cumprir um longo ciclo de expiação antes que alcance a paz iluminada.

setembro 25, 2010

É Duro Ser Durão


Não deu pra chamar o Michael Madsen pra porrada, mas como ele mesmo disse, é duro ser durão. E olha que ele desde pequeno o pai dele o ensinou a se virar e ainda teve que bancar o irmão mais velho defendendo a irmã na juventude - uma boa garota, a Virginia, segundo o Michael, e justamente por isso ele teve que “estar à altura” pra salvaguardar a moça. Numa entrevista que precisou de tradutor só por causa do Zé José, o durão confirmou que está duro e que dever uma grana pro Tarantino é uma ótima maneira de garantir vaga nos filmes dele. Mas desde a época de Bogart todo mundo sabe que esses caras no fundo são uns sentimentais e o poeta Madsen, no dia de seu aniversário, contemplando o Rio ao pé da estátua do Cristo com os braços abertos, pensando em tudo que já passou na vida, nos bons e maus momentos, enfim, teve uma epifania e descobriu, enfim, como ele é feliz. Ainda mais que a comemoração pela passagem de mais um ano vai ser na cama, ao lado da esposa, já que em casa a molecada não os deixa quietos. O sujeito é coerente - a mulher dele, essa dona aí em cima, realmente parece uma daquelas louras a quem ele estaria abraçado naqueles pés-sujos com neons da Budweiser num filme dele.

Mas essas foram as perguntas que eu e o Zé fizemos. Quem quiser saber mais sobre assuntos de cinema e afins, deve esperar pelas postagens do Pedro Henrique e do Zé José na Zé Pereira, cujo linque está aí do lado nos favoritos. Até lá.

setembro 21, 2010

O Demônio Tem 100 Milhões de Cabeças

A turma da oposição continua martelando a noção de que o Lula está se fazendo graças aos "analfabetos manipuláveis" (como define Arnaldo Jabor). A popularidade de Lula está batendo os 80% - e se temos esse nível de analfabetos no país certamente os 20% alfabetizados não fizeram um bom trabalho esses anos todos. Mas, o que fazer? A culpa é sempre externa. Já que o artigo do Jabor é sobre igrejas, lembremos que as carismáticas, evangélicas-show e similares se criaram explicando às pessoas que elas não são o problema, o problema é o diabo ou outra causa externa. A oposição também está cada vez mais convencida de que o problema não é com ela. É com o povo.
"Tão intenso que poderia ser confundido com ódio - o amor de Deus. Ele incendiou a sarça, rasgou tumbas à noite e levantou os mortos no deserto. Eu correria uma milha para me afastar, se pressentisse a presença desse amor." (O padre sem nome em "O Poder e a Glória", de Graham Greene)

Um Celular com Câmera na Uruguaiana





Fazendo par com o manequim da rua da Alfândega...

setembro 20, 2010

Se Eu Escrevesse Poesia Pra Comer Mulher nos Anos 70 Seria Mais ou Menos Assim:

Te ver
É se envolver

Tu és tentacular
Tentação

Amor fantástico
e metastático

A onda de choque
E a radiação instantânea
Da Bomba A
Disparando a fusão nuclear
Da Bomba H

Disparando o gatilho
De teus lábios
Teu corpo
Tua alma
Tua fissão
Fusão
Coração

setembro 18, 2010

Pro Que Essas Mulheres Estão Treinando?



Pra tirar as dúvidas: não, isso é um comercial de verdade e esse produto realmente existe...

setembro 16, 2010

Serginho e Paulinha na Festa do Ivan


Vinte anos de casados hoje. Segundo o Serginho, bodas de porcelana. Felicidades, casal!!!

Estamos em Setembro, Mas Já é Natal na Saara






Clicando na última você poderá ver em detalhe as árvores de Natal na tradicionalíssima Casa Cruz, que já se recuperou do incêndio no final de 2007. Segundo um vendedor da veneranda loja, a ideia por trás de tanta antecipação é que as pessoas podem se animar a comprar os enfeitos natalinos parceladamente e assim ter mais dinheiro no fim do ano pra comprar presentes. Será que o povo que precisa parcelar uma árvore de Natal (em vez de guardar a do ano passado) realmente fará tanto impacto assim nas vendas? Deve ser a tal de classe C que agora manda no Brasil e vai eleger a Dilma (que nem acredito que faça um bom governo, depois explico o porquê, mas pelo menos vai deixar claro quem manda nessa porra pra grande imprensa, yes!..)

Um Celular com Câmera na Saara







Tentando Deter o Naufrágio do Titanic com um Balde

Quanto à minha opinião sobre o assunto, clique aqui para ler a minha primeira página Logo em O Globo, em 2007

Polícia Civil fecha “xerox” na Praia Vermelha
Qua, 15 de Setembro de 2010 08:32
Diretora da Escola de Serviço Social reage com indignação ao acontecimento

Uma operação da Polícia Civil no campus da Praia Vermelha, na noite do último dia 13, causou espanto na comunidade acadêmica. Movidos por uma denúncia anônima de violação a direitos autorais, os policiais foram a uma loja copiadora da Escola de Serviço Social, apreenderam todo o acervo (inclusive as pastas com o material pedagógico deixado pelos professores daquela Unidade) e detiveram o proprietário da copiadora, que foi encaminhado para a Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), na Lapa. O rapaz, identificado apenas como Henrique, foi indiciado e responderá ao processo em liberdade.

Diretora da ESS reage com indignação
“Inadmissível!”. Foi com essa palavra que a diretora da ESS, professora Mavi Pacheco, classificou a operação policial. Para ela, em um país extremamente desigual como o Brasil, onde a produção e o acesso ao conhecimento estão na mão de poucos, a popular “xerox” é um pedaço da realidade em todas as universidades. Mavi acredita que a situação se torna ainda mais grave quando se considera a renda média dos estudantes do curso de Serviço Social: “É inadmissível que tenhamos sido objeto de uma ação da Polícia Civil, dentro de uma universidade pública, e, sobretudo, motivada por isso”, criticou. A dirigente acredita que o que está por trás de uma operação desse tipo é o interesse das grandes editoras em resguardar os direitos autorais, em contraposição aos estudantes empobrecidos que querem ter acesso ao conhecimento.

A diretora conta que não estava na Unidade quando os policiais chegaram, mas retornou assim que possível e atuou no sentido de serenar os ânimos dos presentes. A delegada responsável pela operação falava abertamente sobre a intenção de prender o rapaz da xerox: “Os estudantes estavam muito revoltados, porque o Henrique foi homenageado em uma cerimônia de colação de grau, no sábado”, contou.

Segundo um papel exibido pelos policiais, que não pôde ler mais detalhadamente, a diretora viu o registro, datado de 26 de maio deste ano, por volta de uma da manhã, através do Disque-denúncia, afirmando que havia uma copiadora na Escola de Serviço Social onde um funcionário desrespeitava direitos autorais.

Mavi explicou que o local ficou fechado durante todo o dia seguinte e que, agora, os professores do curso devem pensar em resoluções imediatas e de médio prazo para o problema: “Ficavam lá as pastas de todos os docentes, programas das disciplinas, tudo, tudo! Agora, temos que pensar um caminho que não nos exponha a essa brutalidade e garantindo o acesso à leitura. Isso é um direito que temos de assegurar; a universidade, o Estado brasileiro”, observou.

Diretoria acredita em quebra da autonomia universitária
“Estamos aterrorizados com esta situação. Entrada da polícia civil na universidade pública fere sua autonomia. Nós não podemos deixar isso ocorrer como fato natural, independentemente de discutir a questão da lei. Não podemos achar que isso é um problema meramente legal, é problema político. A universidade tem que defender sua autonomia e o direito ao acesso ao conhecimento. Não pode tornar natural um fenômeno como esse”, analisou.

setembro 13, 2010

Liberdade, Liberdade

É claro que liberdade política é um direito básico, mas não é a única liberdade. De que adianta poder chamar o governo (ou a oposição) de ladrão se na prática você não pode porque o seu patrão não deixa? Liberdade vai muito além de liberdade política, também inclui a econômica (Pelo Direito de Poder Dizer que o Chefe é um Idiota), mas sempre que se fala em liberdade é em relação ao Estado - principalmente se ele for governado pelo seu inimigo político.

Estamos vivendo no Rio na prática um Estado de Sítio. Intimações em favelas não são mais entregues pela Justiça. O correio deixa na mão da Associação de Moradores e os Oficiais de Justiça não as entregam, em vez disso devolvendo o mandado com uma certidão informando que o local é perigoso. Mas a preocupação é sempre com a liberdade política e, pra dizer a verdade com o PT. Afinal, qual liberdade que perdemos nesses oito anos?

A mesma coisa aconteceu durante décadas com direitos humanos. A carta da ONU prevê como direitos alienáveis o direito a trabalho, moradia e constituir família, mas sempre que os americanos falavam de direitos humanos era quanto a liberdade política. Que é fundamental, mas os outros também existem.

Liberdade é mais do que isso. Nâo é uma calça velha azul e desbotada.

Guerra de Atrito (Primeira Versão)

Os anos passam
Como soldados recrutados às pressas
Partindo para a linha de frente
Rumo a uma batalha desesperada
E dos quais nunca mais ouvimos falar.

Descontração





Plástico de Carro

Gastei quase toda minha fortuna com mulheres, bebidas e apostas. O resto eu desperdicei (George Best)

E, Por Falar em Nostalgia...

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Todo mundo tem saudade do tatuí, que fora um revival no final dos anos 80, está fora das praias do Rio desde os anos 70 (1), mas parece que ninguém sente falta do besourinho de praia. Você aí, que frequenta Ipanema, quando foi a última vez que viu esse bichinho?


Tudo bem, o tatuí era comestível e famílias enchiam garrafas plásticas de água mineral com eles na época de sua volta às areias escaldantes, mas o besourinho foi por muito mais tempo um personagem bem mais frequente. Será que a poluição o expulsou? Ou foram os pombos, aqueles ratos voadores, que tomaram a orla na mesma época do começo da decadência desses artrópodes?


Uma das mais tradicionais diversões da praia era cavar um buraco, jogar o besourinho lá dentro, tapar com alguns grãos de areia e ver o coleóptero de cerca de 3 mm valentemente abrir caminho para fora como de fora um zumbi reanimado.



Inseparável companheiro era essa larvinha que parecia queimar quem ficasse muito tempo deitado na areia - mas agora lendo na Internet descobri que a criatura acima era realmente ligada ao besourinho: era a larva dele. E a queimadura não era queimadura, era uma mordida! Ô bichinho invocado e metido! Onde foram parar?

Um Celular com Câmera no Inverno do Aterro


Um Celular com Câmera no TRT

Estou saindo pra almoçar e descubro que vai ter uma apresentação de um coral da Justiça Federal no hall do prédio do TRT. Obviamente tinha que ter um amigo meu metido nesse mico...

A Lendária Philco Amazonas


Essa daí foi a primeira tevê transistorizada do Brasil. Lembro dos anúncios de página inteira no jornal anunciando "inteiramente transistorizada", com um "splash" mostrando o tal do transístor - pra mim parecia um banquinho de cozinha. Ela era minúscula, uma tela de 10 polegadas (ou 12, não medi) e quase nada em volta - na época os televisores eram cercados por um enorme chassis cheio de válvulas. Na minha postagem sobre televisões pleistocenas um guia pra compra explicava que o comprador de um desses avançadíssimos e excitantes aparelhos que trariam o mundo para sua casa precisava levar em consideração os custos de manutenção: devido à sua tremenda complexidade, elas teriam mais afinidades com os intrincadíssimos radares militares do que com rádios, com os quais qualquer entusiasta de eletrônica caseira poderia lidar. Elas chegavam a ter 17 válvulas!!!!

Frente e Verso

O comercial de tevê enfatizava a portabilidade da traquitana: um sujeito, no meio do nada, saltava do carro e assistia a um jogo de futebol, gritando goooooool feito um louco, sozinho no meio de uma imensa planície. O carro era porque as baterias de níquel-cádmio ainda eram um distante sonho, monitores de cristal líquido uma utopia e o voraz tubo de imagem dela precisava ser alimentado pelo menos por uma bateria de automóvel.

Um design modernista clássico, típico dos anos 70. Não era com certeza aquela década de 50 ou 60 dos seus pais...

E essa tevê também foi muito importante culturalmente. O final dos anos 60, começo dos anos 70 foi a época em que o aparelho realmente tornou-se onipresente na classe média, incluindo a baixa. Meus pais compraram sua primeira quando eu tinha cerca de 1 ano. Quando eu tinha uns 7 o preço baixo advindo da tecnologia do transistor - bem como o pequeno tamanho mesmo - tornou viável a compra de um SEGUNDO televisor, por vários motivos: o monstrengo usado que minha família tinha vivia queimando válvula e precisávamos ficar dias sem ela normalmente, a Philco podia funcionar como substituta; e as emissoras tornaram-se modernas e competentes o suficiente pra apresentarem programas concurrentes com qualidade suficiente para rachar os lares - eu quero ver isso, eu quero ver aquilo! - numa época sem as reprises dos canais por assinatura e vídeo-cassete. A Amazonas foi não somente a primeira televisão de muita gente graças a seu baixo custo, como também inaugurou nos lares não tão abastados assim o hábito da "segunda tevê".

A tela nem um pouco plana tornava difícil ver alguma coisa nela um pouco mais de lado...

Com a televisão colorida lançada logo depois, em pouco tempo as tevês em preto e branco estariam relegadas aos quartos das crianças e até das empregadas. A Philco Amazonas foi demovida a terceiro aparelho da casa pouco depois e a nossa terminou seus dias sendo dada prum parente que estava internado num hospital. Já nessa época tínhamos o clássico tevezão colorido, mais uma monocromática pra cada filho - a minha era uma Telefunken que tinha um chassis bem maior do que a Amazonas e não era portátil - embora eu nunca tenha me aproveitado da portabilidade da bichinha a não ser em 1982, quando a levei pra faculdade pra assistirmos a alguns jogos no CA. E vou te contar - de portátil aquele troço não tinha nada, vai carregar ela até o ponto de ônibus...

Os botões low tech analógicos costumavam quebrar com facilidade - principalmente o seletor de canais, que tinha uma trava de mola. Os botões de vertical e horizontal ficavam atrás, pra manter o visual limpo. Quem tem menos de 30 anos não deve fazer a menor idéia do que estou falando, "vertical" ou "horizontal". Pois imaginem então que o anel em volta do seletor era para a "sintonia fina"

Não sendo valvulada, a Philco Amazonas era extremamente mais robusta do que suas congêneres contemporâneas. Mesmo as primeiras tevês coloridas (a nossa foi uma Colorado RQ - Reserva de Qualidade. Minha mãe um dia deu um ataque de consumismo e levou meu pai numa terça - as lojas de Copacabana fechavam mais tarde nas terças e sextas - pra comprar uma. Ele se endividou todo pra isso, coitado. Pra aumentar a nostalgia, compramos a bichona no Rei da Voz) ainda eram eivadas do que os maus tradutores de hoje chamam de "tubo de vácuo". Um tributo à sua durabilidade foi que a última vez em que a vi foi no meio dos anos 90, em Iriri, no ES, mais de 20 anos depois de encerrada sua produção, numa barraca que vendia batidas, ligada a uma bateria de carro. Na época já era difícil ver televisores monocromáticos e aparelhos dos anos 70 nem de longe tinham a resistência a quebras que os simples chassis das máquinas de hoje apresentam. Valente, democrática e lendária, a Philco Amazonas marcou seu lugar no imaginário da minha geração.