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(...) Então eu encontrei, numa festa ontem à noite, o Sócrates, puto porque eu esculhambei a figura dele na minha peça As Nuvens - e aí, vendo que eu já tinha abusado do vinho, ele me chamou de comediógrafo bêbado. “É”, eu disse, “e sua mulher Xantipa é um tribufu. Mas amanhã eu vou estar sóbrio!” (risos) Na verdade ele fez beicinho por eu ter insinuado na peça que ele e os sofistas eram tudo farinha do mesmo saco, e queria que eu me desculpasse pelo xingamento. Falei na hora: “Ué, tudo bem. Traz algum sofista aqui e eu me desculpo na hora por ter xingado eles de socráticos!” (risos) Mas eu entendo perfeitamente essa ziquizira dele: acordar todo dia e olhar pra cara da Xantipa? Eu preferia mil vezes uma taça de cicuta. (risos) Falando sério - os filósofos reclamam de eu me achar superior a eles, mas vejam se eu não tenho razão: os pitagóricos vivem se metendo com triângulos, mas quem freqüenta os círculos do jet set ateniense sou eu; a turma do Heráclito vive tentando ver se dá pra entrar no mesmo rio duas vezes, enquanto eu uso a ponte; esse rapaz, o Platão, vive falando no mito da caverna, e eu já realizei o sonho da casa própria! (risos) Aliás, o Platão é um caso à parte. Dia desses, num banquete, o Diógenes, só pra sacanear ele – por ele ter dito que o homem é um bípede sem plumas –, depenou um galo e jogou na roda, dizendo “Eis o homem de Platão!” E eu, pensando cá comigo: “Neca de pitibiriba. Toda Atenas já sabe quem é o homem de Platão...” (risos) Aliás, falam também que eu meto o pau no Diógenes porque o cara é pobre, mas quando eu digo que ele não tem onde cair morto é porque, morando naquele barril apertado, o coitado vai morrer é em pé, mesmo! (risos) Bom, pra terminar, semana que vem eu vou estrear uma peça nova, Lisístrata, sobre uma greve de mulheres atenienses. Apesar de tratar de temas adultos como política, sociologia e estratégia militar, ela vai ser totalmente liberada pra menores: não rola nada de sexo! (risos) E agora há pouco, enquanto eu vinha pro afiteatro, um renomado crítico me perguntou se na minha peça As Rãs os atores apareceriam coaxando. Eu respondi que esse papel a crítica teatral já faz, quando comenta minhas estréias. (risos) Aliás, vocês sabem a diferença entre um crítico, um espartano e um texugo? (...)
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