Os alemães nazistas e os soviéticos podem ter sido duas terríveis ditaduras, mas não eram farinha do mesmo saco. Ultimamente os vencedores da Guerra Fria e difusores do Pensamento Único tentam vender esta versão e vão acabar convencendo todo mundo disso. Reproduzi algumas postagens abaixo uma matéria do Sindicato dos Jornalistas falando sobre uma história do apartheid de que nunca tinha ouvido falar porque, apesar do que possamos ouvir em contrário, a propaganda pró-americana deixa a maioria das pessoas ignorante sobre muita coisa da história. A maioria das pessoas acha até hoje que foram os ianques que venceram os nazistas e que o fronte russo foi uma frente secundária; existe um bom número de fãs da II Guerra que sabe que esta é uma idéia absurda, mas mesmo entre estes fãs pouquíssimos sabem que, antes da URSS celebrar um pacto de não-agressão com a Alemanha (sempre mencionado como o gatilho que deu origem ao conflito), ela tentou MUITO assinar um tratado semelhante com a França e a Grã-Bretanha, que a refutaram, acreditando que sua força militar fosse desprezível e que era melhor deixar aqueles comunistas e nazistas sujos se estrangularem uns aos outros. Churchill, anticomunista, porém pragmático, bateu-se por esta aliança, mas foi ignorado pelo Parlamento, que preferiu entregar a Tcheco-Eslováquia a Hitler.
Agora a onda é dizer que os nazistas eram socialistas. Afinal, tinham a palavra "socialista" no nome (cuidado, gente. Os tucanos também têm a palavra "social" no nome! São perigosos socialistas!!!!) e o Estado intervinha na economia. Assim, matam-se dois coelhos de uma só cajadada: vende-se a idéia de que Estado intervindo na economia e idéias de igualdade social, assim como o nazismo, são muito RUINS.
Marx acharia curiosíssimo que justo esse pessoal encampasse sua idéia de análise econômica da história; entretanto, intervenção estatal tem-se nos mais diversos lugares, desde a China até a Noruega, o que não torna nenhum desses dois países parceiro ideológico de Hitler, até porque o nazismo era uma variante do fascismo e, como os leitores deste blogue bem sabem, a palavra vem de fáscio, um machado romano em que finas hastes amarradas dão sustento a uma lâmina metálica, e deveria simbolizar a sociedade civil dando suporte ao guerreiro, ao homem resoluto e de ação, pois a democracia era um câncer na sociedade.
O fascismo tem inclusive origens ideológicas nos mesmos pais do liberalismo do século XIX, apoiando-se em interpretações equivocadas de Darwin, os chamados darwinistas sociais. Essa era a sua idéia central, uma idéia feudal, de uma elite guerreira (1), de homens capazes de comandar, em antagonismo àqueles fracos e decadentes intelectuais que punham mictórios em museus e borrões em telas (2). Não por acaso Himmler tinha planos de restaurar a religão pagã; o regime tinha uma casta de humanos superiores, cuidadosamente escolhidos e preparados, os SS, e o Exército era uma organização perfeita, com soldados soberbamente treinados e equipados. Além do mais, ninguém nunca ouviu falar das fazendas coletivas nazistas ou de que todo o sistema industrial tenha sido desapropriado. Segundo o Spielberg, qualquer um podia chegar com sua grana e montar uma fábrica de esmaltados.
O socialismo tem como pressuposto básico justamente a busca da igualdade. Os homens são todos iguais, merecem oportunidades iguais. Indústrias, bancos, fazendas e demais bens de produção PERTENCEM ao Estado, ao invés de seguirem seus regulamentos e orientações. A idéia de uma casta superior, geneticamente destinada ao comando, é estranha ao sistema. É só comparar o exército russo ao alemão: os soviéticos iam para o combate mal treinados, mal equipados, semianalfabetos e montados em cima de tanques correndo, morrendo aos borbotões.
Nazistas e comunistas foram dois partidos violentos e genocidas, mas tinham características bem diferentes. Economicamente, é inegável que desenvolveram seus países além das mais fantásticas previsões, o que só prova que desempenho econômico não mede coisa alguma. Talvez o socialismo, com toda a produção controlada pelo Estado, o que exigiria grande participação política de cada cidadão, tenha realmente uma tendência à corrupção (e, consequentemente, à crueldade). Mas, como no caricatural filme de Costa-Gavras, O CORTE, o nosso nível de corrupção pessoal tem crescido muito nos últimos tempos: estamos vendendo nossas crenças, nosso tempo de lazer, até nossa fé, pelos nossos empregos.
(1) Quase toda cultura tem um certo elitismo envolvendo uma casta guerreira. A origem história dessa tendência começou com o surgimento da agricultura, quando os povos que aravam a terra começaram a enriquecer e ter fartura de alimento, enquanto os que continuaram como caçadores-coletores e pastores, em seu estilo de vida nômade, continuavam na fronteira da miséria. Os lavradores, com excedentes de alimento, podiam se dar ao luxo de destacar trabalhadores para trabalhos burocráticos, de construção, de serviços etc., criando intelectuais, escribas, religião organizada e cidades grandes cheias de pessoas bem vestidas. Aos olhos dos bárbaros pastoris, esse pessoal afeminado e preguiçoso das cidades era uma presa gorda e fácil e saquear seus bens poderia resolver sua vida. Os bárbaros atacariam e atacariam e atacariam até que um dia conseguiriam conquistar os agricultores. Sua turma seria a que mandaria e subjugados artistas pouco viris seriam obrigados a cantar em prosa e verso a superioridade das habilidades marciais másculas dos conquistadores. Logo se espalharia entre a sociedade a idéia de que os guerreiros eram seres superiores e honrados, destinandos a comandar e governar. A idéia permaneceria mesmo depois que essa turma chegada a uma batalha já tivesse sido assimilada e passasse seus dias em palácios enfeitados, fazendo caçadas cheias de rituais ajaezados para simular combates e deixassem suas espadas perderem o fio. Enquanto isso, do lado de fora das muralhas da sociedade, bárbaros semi-nômades olhariam para eles e pensariam que aqueles sujeitos obesos, lassos e patéticos dariam uma boa presa...
(2) Lá pelo início dos anos 90, os museus novaiorquinos fizeram uma mostra com obras e artistas modernos que os nazistas perseguiram, alguma coisa como OS MODERNISTAS QUE HITLER NÃO CONSEGUIU CALAR. Obviamente as exposições estavam cheias de cubistas, fauvistas, não-figurativos em geral. Paulo Francis, que ao contrário de seus patéticos imitadores neocons, era um sujeito que valia a pena ler, comentou cinicamente que, se pusessem em salas ao lado as telas e esculturas figurativas, realistas e hiper-realistas endossadas pelo nazistas, emulando um vazio neoclassicismo, a maioria das pessoas iria preferi-las. Sinto ser obrigado a dizer que acho que é a mais pura verdade.
março 28, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Muito bom o texto.... pararbens... muito conexo e sensato... mas Paulo Francis era um idiota.
Abraxxx
Enviar um comentário