Vez por outra ouço alguém falando da beleza da milenar cultura japonesa. Milenar em termos, já que ela é mais recente do que a cultura cristã ocidental. Os nativos das ilhas nipônicas são os ainos, um povo com filiação aos caucasianos e que foram aniquilados pelos asiáticos que colonizaram o território pouco antes da era cristã. Impelidos ao mar pela situação geográfica de sua pátria, os japas sofreram tremenda influência da China, esta sim uma civilização antiquíssima, até que lá pelo século II oficializaram através de uma missão de boa vontade chinesa que pertenciam à esfera de influência do Império do Meio.
Os rituais muitas vezes poéticos também são motivo de admiração para muita gente que se impressiona facilmente e que esquece que eles servem a uma cultura feudal, guerreira e hierarquizada. Os refinamentos culturais garantiam a superioridade da casta dominante sobre as demais e os exercícios militares a punham na prática. Os japoneses conseguiram até mesmo apagar de sua história a pólvora, esta grande equalizadora (1) da Europa cristã. Mantiveram toda a sua ritualização e admiração por formas artísticas fortemente formalizadas e estilizadas. A apreciação destas requeria estudo, tempo disponível e garantia que a aristocracia, até mesmo por sua "maior inteligência", manter-se-ia por cima. Isto, aliás, não é exclusividade nipônica - os senhores feudais e os aristocratas europeus também se valeram de tal artifício e até hoje sentimos seus reflexos quando a classe média alta esnoba a cultura de massa e valoriza fenômenos midcult como Marisa Monte e Paulo Coelho.
Mas, voltando ao assunto, outro equívoco quanto aos nipo-japas é sua harmonia com a natureza. Hoje saiu nos jornais que os chilenos proibiram a pesca de baleias. Quem mais esperneou foram os japoneses. Tão poéticos, tão harmônicos, tão zen, tão bem alimentdos e não vivem sem comer carne de animais em extinção. Para driblar a moratória de pesca dos cetáceos gigantes, os japoneses dizem que as caçam apenas para pesquisas científicas e, acabadas estas, já que aquela carne toda tá ali dando mole, por que não vender e comer? Agora até mesmo tal recurso já é insuficiente, a idéia é uma "caça controlada". Some-se a isto a mania deles de comer barbatanas de tubarão e jogar o resto do peixe fora.
Japoneses têm belos rituais e formalização, interessante religião, mas são cheios de defeitos como eu e você - talvez pior, lembra o que eles fizeram na Coréia e na Manchúria na II Guerra Mundial e que eles não admitem até hoje. Enquanto isso, é cobrado do Vaticano toda semana um novo pedido de desculpas (e com esse novo Papa, eles vão ficar no débito cada vez mais). Pense nisso da próxima vez em que vir um bonsai e sair dizendo como os japoneses são culturalmente superiores. Sem contar que o Nakata não joga nada.
(1) Com o advento da pólvora, ter dinheiro pra comprar cavalo, armadura e espada não fazia de ninguém melhor guerreiro. Qualquer um que soubesse disparar um mosquete (e antes da invenção do fuzil de pederneira era meio complicado) podia encarar o maior espadachim da Europa montado em seu viçoso garanhão e protetegido em seu ajaezado peito d'armas. Ao mesmo tempo, a estrela do campo de batalha tornou-se a caríssima artilharia. Em pouco tempo apenas armadas que pudessem contar com vários canhões tornaram-se plausíveis nas plagas européias e os governos feudais pulverizados se extinguiram. Com a Revolução Francesa, a idéia de armar os cidadãos para criar exércitos nacionais enormes se popularizou e, para isso, foi preciso dar-lhes direitos civis (até porque reis impopulares tornaram-se bem menos estáveis com a população armada). Em suma, a pólvora foi talvez a maior responsável pela democratização da civilização cristã ocidental.
junho 24, 2008
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