Tudo bem, postei logo aí embaixo que desconfio do carisma à Collor do Obama, mas antes um Collor de esquerda do que o McCain.
Paul Krugman outro dia em seu blogue lembrava que depois de Reagan, com os neocons conseguindo quase instituir a crença no pensamento único, o povo careta da América passou a considerar praticamente ilegítimo um governo democrata. Desde que o Clinton entrou sua legitimidade foi de todas as formas contestada - ele foi acusado desde de ter mandado matar um assessor a ter ganho grana num investimento imobiliário e chegou ao absurdo de correr o risco de impeachment porque disse que não tinha comido a Monica Lewinski e a mocréia feia e rancorosa apareceu com um vestido esporrado da estagiária gordinha. Enquanto isso o W. mente o tempo todo, desmascara agentes secretas, diz qaue vai escutar ilegalmente quantos telefones quiser, e ninguém faz nada. Até porque os democratas são bundões preguiçosos.
Mas estranhamente na última semana comecei a ler artigos conservadores garantindo que a eleição ainda não estava perdida. E o blogue do Scott Adams, o psicopata que autora a grande tira Dilbert, começou a tocar no assunto também, imaginando os tumultos que uma vitória de McCain poderiam acarretar. Esse papo todo tá me soando muito estranho, cheira a Proconsult.
Pra quem não se lembra, a Proconsult, em 1982, era a empresa que totalizava os votos no estado do Rio. Brizola, odiado pelo regime militar, estava um monte de pontos à frente do candidato dos gorilas, o Moreira Franco. Na época se votava escrevendo à mão e, pra dificultar as coisas pra oposição, criou-se o "voto vinculado" - todos os candidatos, do governador (não se elegia presidente, esqueceu?) ao deputado estadual, todos tinham que ser do mesmo partido.
A apuração levava mais de uma semana. Meu primeiro emprego sem ser na loja dos meus pais foi nessas eleições. O Globo contratava estudantes de Comunicação pra ficarem nas Juntas Eleitorais, copiarem prum formulário do jornal as contagens das urnas e um motoqueiro passava de vez em quando pra catar a papelada. Assim, os noticiosos conseguiam ser mais rápidos do que o TRE.
Estranhamente, a contagem do JB e a própria totalização do PDT, o partido do Brizola começaram a dar resultados diferentes daqueles divulgados pela Proconsult. O pessoal do PDT foi procurado pelo presidente da Proconsult que disse que as contas e projeções deles não levavam em conta o "diferencial delta" - que os eleitores do Briza, ao contrário dos mais informados votantes no Moreira Franco, preenchiam o voto errado. "Carioca vota em Brizola, Márcio Braga e Xuxa", explicou o Arcádio Vianna (ou Vieira, não me lembro bem), dono da empresa de informática. "No interior, o pessoal leva tudo mais a sério, a eleição é um acontecimento".
Vendo que estavam tentando convencê-los de que habitantes do interior eram pessoas mais bem-informadas que gente da capital cultural (à época, inquestionável) do país, os próceres do partido botaram a boca no trombone, ameaçaram pedir recontagem e em pouco tempo os números do Arcádio começaram a mostrar uma recuperação do Brizola. A Proconsult e Arcádio V., que fundamentou sua explicação no seu "currículo de 16 páginas", sumiu.
Aqui reverteram o roubo. Lá em cima, não o fizeram em 2000. Eu me lembro que todas as projeções dos canais de notícias davam a Flórida pro Gore, mas toda entrevista com republicanos mostrava-os falando que contar a Flórida pros democratas era apressado. E à medida em que os números avançaram, os jornalistas mudaram de idéia e descontaram a Flórida. O resto acho que todo mundo lembra. O estado era governado pelo irmão do Bush. A juíza que decidiu fechar questão tinha sido nomeada por ele. O Gore não recorreu federalmente. Deu no que deu.
E nos últimos dias as declarações dos republicanos têm soado muito como aquelas dizendo que a Flórida não estava decidida ainda.
novembro 01, 2008
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