Uma dessas revistas moderninhas de cinema fez uma lista de 50 melhores finais de filmes de todos os tempos, obviamente quase todos americanos e quase todos dos anos 70 pra cá. Eu ando listando os MEUS finais de filme favoritos e esqueci um clássico, assim como eles. Impossível alguém em sã consciência deixar essa fita de fora:
O FUGITIVO, de Mervin LeRoy
(I am a Fugitive from a Chain Gang)
Paul Muni é mandado pra cadeia por um crime que não cometeu e é mandado para aqueles serviços forçados, com os prisioneiros todos quebrando pedras acorretandos à beira de estradas, com um xerife gordo tomando conta com uma escopeta e chibatando uns presos de vez em quando porque ninguém é de ferro e é preciso um pouco de diversão depois de todo aquele tempo sob o sol inclemente e causticante.
Mas Paul Muni foge, vai para outro estado na época em que nos EUA um sujeito que só era culpado no estado em que cometeu o crime, começa uma bela carreira de arquiteto e arruma uma noiva bonita, gostosa e inteligente. Tão famoso ele se torna, aliás, que o estado onde ele foi preso pede sua extradição (isso mesmo, lá em cima levavam muito a sério essa história de república federativa). Querido que se tornou em sua comunidade, ninguém quer mandá-lo de volta pro estado cujo nome não é declinado (que na verdade todo mundo sabia que era a Geórgia), logo este sugere um acordo: o Muni volta, cumpre um período simbólico numa prisão de segurança mínima e está livre de qualquer dívida para com a sociedade. Contra alguns conselhos, ele aceita apenas para descobrir, ao cruzar a fronteira, que o pactuado era uma mentira e logo ele está novamente acorrentado.
Mais uma vez Paul Muni foge e perde-se seu rastro. Sua ex-noiva, um ano depois, está guardando o carro na garagem quando ele sai das sombras, o olhar arregalado, completamente paranóico, assustando-se com todos os ruídos que ouve, barbado e esfarrapado. A garota tenta conversar com ele, mas ele apenas quer vê-la mais uma vez e um barulho maior o faz ir recuando, ainda com os olhos esgazeados e a boca tremendo de medo. Antes dele se mandar de vez, a moça pergunta, "mas como você faz pra viver, pra comer?" enquanto o rosto dele, em close, perturbado e completamente alquebrado, some nas sombras e apenas a voz dele se ouve: "I steal" (eu roubo). Muito mais chocante visto do que contado, esse final foi um dos grandes motivadores da abolição dos trabalhos forçados acorrentados no estado sem nome, digo, a Geórgia. Quem o viu nunca o esqueceu e preferir Bruxa de Blair a isso é um absurdo. Um dos marcos do cinema social dos anos 30 de Hollywood, uma especialidade da Warner que desaguaria no film noir uma década mais tarde.
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