novembro 22, 2008

Mais um Melhor Final de Filme de Todos os Tempos

Uma dessas revistas moderninhas de cinema fez uma lista de 50 melhores finais de filmes de todos os tempos, obviamente quase todos americanos e quase todos dos anos 70 pra cá. Eu ando listando os MEUS finais de filme favoritos e esqueci um clássico, assim como eles. Impossível alguém em sã consciência deixar essa fita de fora:


O FUGITIVO, de Mervin LeRoy
(I am a Fugitive from a Chain Gang)

Paul Muni é mandado pra cadeia por um crime que não cometeu e é mandado para aqueles serviços forçados, com os prisioneiros todos quebrando pedras acorretandos à beira de estradas, com um xerife gordo tomando conta com uma escopeta e chibatando uns presos de vez em quando porque ninguém é de ferro e é preciso um pouco de diversão depois de todo aquele tempo sob o sol inclemente e causticante.

Mas Paul Muni foge, vai para outro estado na época em que nos EUA um sujeito que só era culpado no estado em que cometeu o crime, começa uma bela carreira de arquiteto e arruma uma noiva bonita, gostosa e inteligente. Tão famoso ele se torna, aliás, que o estado onde ele foi preso pede sua extradição (isso mesmo, lá em cima levavam muito a sério essa história de república federativa). Querido que se tornou em sua comunidade, ninguém quer mandá-lo de volta pro estado cujo nome não é declinado (que na verdade todo mundo sabia que era a Geórgia), logo este sugere um acordo: o Muni volta, cumpre um período simbólico numa prisão de segurança mínima e está livre de qualquer dívida para com a sociedade. Contra alguns conselhos, ele aceita apenas para descobrir, ao cruzar a fronteira, que o pactuado era uma mentira e logo ele está novamente acorrentado.

Mais uma vez Paul Muni foge e perde-se seu rastro. Sua ex-noiva, um ano depois, está guardando o carro na garagem quando ele sai das sombras, o olhar arregalado, completamente paranóico, assustando-se com todos os ruídos que ouve, barbado e esfarrapado. A garota tenta conversar com ele, mas ele apenas quer vê-la mais uma vez e um barulho maior o faz ir recuando, ainda com os olhos esgazeados e a boca tremendo de medo. Antes dele se mandar de vez, a moça pergunta, "mas como você faz pra viver, pra comer?" enquanto o rosto dele, em close, perturbado e completamente alquebrado, some nas sombras e apenas a voz dele se ouve: "I steal" (eu roubo). Muito mais chocante visto do que contado, esse final foi um dos grandes motivadores da abolição dos trabalhos forçados acorrentados no estado sem nome, digo, a Geórgia. Quem o viu nunca o esqueceu e preferir Bruxa de Blair a isso é um absurdo. Um dos marcos do cinema social dos anos 30 de Hollywood, uma especialidade da Warner que desaguaria no film noir uma década mais tarde.

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