junho 30, 2009

Michael Jackson

Uma grande (grande mesmo) mensagem do fórum de mensagens dos ex-alunos da ECO, a Panelinha, de autoria do Luiz Henrique Romanholli, sobre a carreira do falecido:

Duas ou três coisas que sei de Michael Jackson.

Se tiverem saco de ler...

A parada é a seguinte. Michael Jackson era um menino quando começou a carreira. Eles gravaram por selos independentes antes de estourar na Motown. Quando o Jackson 5 foi lançado pela Motown, as quatro primeiras músicas lançadas em compacto chegaram ao topo da parada americana. Numa enfiada só. De uma hora pra outra, aos 11 anos, ele era um "femônemo", aparecendo direto na TV. Ora, como um moleque de 11 anos faria arranjos e dirigiria a concepção musical da própria carreira. Ainda mais na Motown, que era uma linha de produção inspirada na Ford e onde quem decidia tudo eram os arranjadores e produtores? Stevie Wonder e Marvin Gaye levaram anos para ter autonomia lá dentro.

Quando o Jackson 5, já como The Jacksons foi pra Epic (selo da CBS), foi gravar com Gamble & Huff, da gravadora Philadelphia International, àquela altura responsável pelo som "novo" do momento, um estilo que daria na disco music. Foi por ali que ele começou a fuçar com produção e entendeu que precisaria ser dono do próprio nariz (coisa que ele levaria a um extremo infeliz).

Em 1979, ele lançou "Off the wall". O disco levou o MJ para um novo patamar de popularidade. Ele ficou satisfeito com o resultado, prinicipalmente musical, mas decidiu que queria ser mais, queria ser um ícone. Queria ser igual aos Beatles e a Elvis. A conclusão foi que ele precisaria "se fabricar". Entre "Off" e "Thriller" (82), ele passou por uma reformulação. Fez plástica. Passou a ter aulas de dança com o Jeffrey Daniels, cantor e dançarino do Shalamar. Daniels fez parte do Electric Boogaloos, grupo de dança de rua que ficou famoso no começo da cultura hip-hop e do break dance. Foi o Daniels que ensinou o "moon walk" pro MJ. Aliás, ele conta que "moon walk" era o nome que batizava outro passo de dança. O nome correto do passo era "slide". O MJ rebatizou. Daniels conta que o MJ ficava horas praticando e filmava suas coreografias, aperfeiçoando cada movimento. Paralelamente a isso, ele mudou o visual. Notem que ele pegou emprestado o visual de dois caras que estavam bombando no momento: Prince e Rick James. Some-se a isso os movimentos do break reempacotados e o movimento de perna de Elvis adaptados e temos uma coisa absolutamente nova. E, claro, amarrado dentro do conceito dos clipes.

Do ponto de vista musical, "Thriller" bebeu muito de Prince, Rick James e Junior ("Mamma used to say" é citada por ele em "Billy Jean", se não me falha a memória). Esses três misturavam funk com rock. Aqui vale um parênteses. Michael Jackson era um cantor de funk, não de soul. Sua divisão rítmica é de funk. É um estilo mais agressivo, menos suave, sem arestas aparadas. Ele canta baladas muito bem, mas arrebenta mesmo cantando funk. The Jacksons era um grupo de funk. Assim como a sua dança: ele dançava "dentro" da música, como se fosse um instrumento a mais, resultado de James Brown + break dance. Junte a isso tudo o talento do cara para compor hits, a genialidade do Quincy Jones e uma estratégia de marketing perfeita e temos algo comparável, sim, a Beatles e Elvis. Não à toa, ele comprou os direitos das músicas do primeiro e casou com a filha do segundo. Sintomático. Michael "Thriller" = Beatles + Elvis + James Brown + Motown + Jackie Wilson + new wave.

Uma historinha que amarra mais ainda essa relação entre ele e Elvis e Beatles. Esses dois foram protagonistas de momentos marcantes na história da televisão, da música e da cultura pop: suas aparições no Ed Sullivan Show pararam e chocaram (no caso de Elvis) o país. Michael também teve o seu momento. Foi no show de 25 anos da Motown, em 1983. Ele já era da Epic e a Motown pediu para liberá-lo para o show, transmitido pela NBC (se não me engano) e visto por 47 milhões de pessoas. A CBS respondeu: só se ele puder cantar uma música do disco novo. A Motown topou. O que se viu foi um espanto: pela primeira vez a coreografia de "Billy Jean", com direito a "moon walk", luvinha branca, calça pescando e todos os passinhos. Ninguém tinha visto porque o clipe não tinha saído ainda. O primeiro compacto de "Thriller" foi "The girl is mine", cujo clipe não tinha nada de dancinha. Ele e a gravadora esperaram o momento certo para lançar. No dia seguinte a apresentação foi notícia nos EUA.

Por último: para entender Michael Jackson, James Brown, Beyoncé, Prince, aquela presepada no palco, é preciso entender o circuito chitlin americano e a tradição dos shows de vaudeville dos negros do começo do século XX. É só assistir a "Cotton club". Tá tudo lá, com uma música diferente.

A Fronteira Final - A Primeira Temporada de JORNADA NAS ESTRELAS - A série clássica



Corte Marcial

Anteriormente: A Licença


Um dos motivos pelo qual “Jornada nas Estrelas” tanto encantou os nerds foi o seu universo amplo e coerente. A maioria dos programas da época se limitava a uma fórmula seguida semanalmente e facilmente intercambiável. Certa vez o analista de roteiros Luiz Carlos Maciel, falando do megassucesso dos anos 70, “Kung Fu”, explicou que qualquer episódio se limitava a Caine encontrando alguém que precisava de ajuda e sendo maltratado o tempo todo, até que, pra defender o amigo, ele entraria em uma luta no segundo ato. Em seguida a situação se desenrolaria com mais e mais maus tratos e provocações até a luta do confronto final – ou seja, a tão cultuada série na verdade tinha a estrutura dramática de um desenho do Popeye, semana após semana.

Já a série criada por Gene Roddenberry é bem mais flexível e coerente, e desde o início os roteiristas tentaram variar bastante a fórmula copiada de “Planeta Proibido” de investigação planetária de mistério beirando filme de terror. Em “Corte Marcial” o universo trekkie é expandido para mostrar uma base da Frota Estelar, outros oficiais e tripulantes de outras astronaves, uma antiga amante de Kirk e referências ao tempo de cadete do nosso capitão favorito.

Na verdade, “Corte Marcial” tem a estrutura de um seriado de tribunal, seguindo a fórmula Perry Mason ao pé da letra, com evidências surpresa e testemunhas chave aparecendo no último momento, quando tudo parecia perdido. Mistura-se ao bolo algumas cenas clichê de filme de guerra – daquelas do piloto de bombardeiro que está sob suspeita de negligência numa missão e seus colegas recusam-se a dar papo ou beber com ele porque ele pode ter causado a morte de um ou mais tripulantes – e está pronto mais um episódio inesperado prum show de ficção científica.

É claro, esquecemos de mencionar a mulé-gostosa da vez, uma longilínea loura ex-amante de Kirk (como diz McCoy a ela, “todos os meus amigos se parecem com médicos e todos os amigos do capitão se parecem com você”). Os melhores diálogos do programa são justamente os galanteios baratos de Kirk pra moça. Justamente por serem baratos se adequam perfeitamente à personalidade conquistador canastrão de nosso herói (aliás, a maioria dos grandes comedores o são justamente devido à sua canastrice e cara de pau). A título de melodrama, a jovem balzaca que não vê Kirk há quatro anos, sete meses, um número ímpar de dias e algumas horas (“não que eu esteja contando”) é a promotora de seu caso.

A historinha ainda embrulha no pacote mais uma corte multicultural, presidida por um negro (interpretado com o devido ar de autoridade) e com um indiano e um hispânico, a própria promotora mulher e um advogado de defesa interpretado pelo ator mais famoso a aparecer até então na série, Elisha Cook Jr., o sobrinho surfista do Homem Gordo em “Relíquia Macabra” (hoje conhecido como “Falcão Maltês”) e o fazendeiro assassinado por Jack Palance em “Os Brutos Também Amam” (botar linque aqui pro blogue sem lei do filme).

Elisha Cook dá uma ótima atuação, mas seu advogado supostamente genial na verdade não faz nada a não ser esperar que Spock tenha uma ideia brilhante. Originalmente seria Cook quem daria um toque no vulcano pra achar o meio de inocentar o nosso capitão predileto, mas os produtores, depois da passividade demonstrada pelo povo da Enterprise nos primeiros episódios, quando são resgatados por providenciais semideuses alienígenas, haviam decretado que qualquer solução deveria ser encontrada pelos nossos heróis. Assim o rábula de defesa fica praticamente sobrando, desperdiçando o talento do veterano astro convidado.

Assim como provavelmente os escritores de “Perry Mason” ou “Law and Order” não seriam os mais indicados pra fazer uma historinha de alienígena numa nave, a galera de “Jornada nas Estrelas” faz um drama de tribunal caidinho, cheio de clichês e uma filha do tripulante morto que nos deixa na dúvida quem é pior: se a personagem, a atriz, ou seu figurino. O único personagem do episódio com personalidade é o tripulante pivô do caso. Embora interpretado exageradamente demais, fica patente seu medo de responsabilidade. Tendo permanecido como instrutor na Academia muito além do normal, prejudicou sua carreira, mas, sempre incapaz de encarar seus próprios defeitos, culpa Kirk, que conseguiu tudo que ele queria, por ter relatado um gravíssimo erro cometido pelo sujeito quando ambos eram cadetes na mesma nave.

“Corte Marcial” está longe de ser um episódio memorável, mas é relativamente bem dirigido e expande o universo de “Jornada nas Estrelas”, aumentando sua cumplicidade com os nerds, ajudando a criar a lenda que persiste até hoje. E ainda tem uma interessante mulé-gostosa cheia de poder e tesão pelo Kirk – que obviamente, sugere-se, dá uma bimbadinha de despedida antes de sumir por mais cinco anos da vida da moça. Este é o nosso capitão!

Digno de nota:

- Contagem de corpos: quantos terão realmente morrido?
- As testemunhas não juram mais sobre a Bíblia, mas depõem com a mão direita sobre detetores de mentiras e, em vez de documentos, apresentam à Corte cartões de memória com suas informações pessoais. Embora grandes demais para nossos padrões, foram um dos acertos futuristas da série.

A Seguir: Roger Filósofo e Jornada nas Estrelas esmiuçam a vontade própria humana em "O Punhal Imaginário"

junho 27, 2009

O mais legal da fotografia digital é a abundância. Quando eu viajava durante dez dias, achava uma extravagância tirar 300 a 400 fotos. É bem verdade que já nessa época tinha uma câmera digital primitiva Casio, com uma resolução de 0,08 megapixels (não estou brincando, era 320 x 240) pra auxiliar. Mas, por exemplo, no fim de semana abaixo, no primeiro dia, emprestei pros filhos da Cláudia meu celular com câmera (com espaço para cerca de 400 fotos) e uma câmera digital vagabunda, porém submarina (como quem acompanha este blogue conhece) com espaço para mais umas 500 fotos. Depois de uma hora e meia de viagem de carro e outra meia hora no balneário, eles já tinham esgotado a memória das máquinas. Isso dá uma ideia por que ainda tenho tantas fotos do Uruguay por aqui.

Mas, voltando ao assunto, finalmente saí de Montevideo. Adivinhem onde estou?

Colonia del Sacramento foi fundada por portugueses para controlar o acesso do Prata a Buenos Aires. É daqui que se toma uma barca para chegar à Argentina e de onde vêm os portenhos pra jogar nos cassinos orientais.

A cidade foi a primeira a ser construída no Uruguay. Para controlar o contrabando que tinha Colonia como centro é que foi ordenada a fundação de Montevideo.

No século XVIII Colonia voltou às mãos dos espanhóis e, sem propósito, ficou meio largada, daí a preservação da arquitetura.

Hoje em dia é um balneário turístico, com um centro velho e preservado e uma cidade em volta, uma espécie de Paraty uruguaia.









Sua arquitetura colonial foi preservada e a cidade foi tombada pela Unesco como monumento da humanidade, coisa que Paratii ainda está esperando.

Mais Montevideo


O Rio da Prata visto da Cidade Velha. Cadê a &@##$!!#@!!! da outra margem?????

Os intermináveis monumentos art-decô de Montevideo

Confesso, fiquei fascinado pelo Palácio Salvo. Um dos baixos de Montevideo é ficar bebendo (e fumando cigarro que passarinhoa não fuma, como já expliquei, porque lá é liberado) na grama da praça em frente. Com essa paisagem, pra que mais?

O Salvo visto da Cidade Velha. Embaixo da foto, o portal de entrada pra própria Ciudad Vieja

O Salvo ao crepúsculo
A filha de Cláudia também fotografa a fonte em frente ao Salvo
O Palácio Salvo se destaca visto do outro lado da Cidade Velha
O Palácio Salvo visto de frente da Cidade Velha
Em frente ao Salvo, um monumento ao art-nouveau Colado ao Salvo, outra obra-prima do nouveau. Montevidéo está cheia delas.

Um Celular com Câmera na Lapa




A Fronteira Final - A Primeira Temporada de JORNADA NAS ESTRELAS - A série clássica


Anteriormente: O Amanhã é Ontem

Gene Roddenberry confessadamente inspirou-se em “Planeta Proibido” para criar “Jornada nas Estrelas”. O longa dos anos 50 tinha um disco voador terráqueo explorando pacificamente o espaço, uma formalidade militar atípica da década cheia de naves com radarscópios e volantes de direção, alusões a animação suspensa e hiperespaço para explicar viagens interestelares, um capitão espada e matador (Leslie Nielsen como autêntico galã!), grande amigo do médico de bordo, mais um engenheiro capaz de realizar consertos miraculosos, envolvidos numa trama que começa um estranho mistério e deságua numa instigante metáfora intelectualizada. E tudo isso embrulhado pra parecer uma historinha de aventura cheia de ação (pra época).

Depois de aproveitar a ambientação toda da fita dos anos 50, Roddenberry, ainda não satisfeito, recauchutou a própria trama do longa pra fazer “A Licença”. Infelizmente, enquanto a transcrição para a tela pequena tornou a astronave mais realista e mostrou-se um veículo perfeito para o positivismo utópico do criador da série, a trama, quando adaptada por Theodore Sturgeon, infantilizou-se e perdeu sua agudeza. O planeta que concretiza sonhos deixa de ser o incômodo – e mortal – lembrete de que por trás de todas as conquistas racionais da humanidade permanecem os instintos básicos reptilianos e se torna literalmente um parque de diversões para a tripulação da Enterprise, sendo o único detalhe a lembrar a trama original Finnegan, o valentão da Academia da Frota Estelar.

O episódio começa numa divertida nota, com Kirk e Spock reconhecendo que os últimos três meses (o tempo em que a série estava em exibição) haviam sido muito cansativos. Localizando um planeta agradabilíssimo, igual à Terra, só que sem vida animal, parte da tripulação, incluindo o capitão, desce, e começa a dar de cara com coisas inesperadas, a começar pelo (boa sacação) coelho branco de Alice.

A partir daí, tudo que nossos heróis desejam torna-se realidade. Uma das muitas ordenanças gostosas à disposição da Enterprise pensa que numa paisagem tão bonita uma moça só precisava de Don Juan e imediatamente um galante aventureiro a assedia. Sulu encontra um 38 em perfeitas condições e descobrimos que também gosta de colecionar armas. E, no momento mais revelador do episódio, Kirk encontra o valentão que o sacaneava sempre na Academia da Frota Estelar... apenas para ser por ele sacaneado novamente.

Como se deve ter cuidado com o que se deseja, as fantasias da turma de terra vão se tornando perigosas. Don Juan quase estupra a moça, um avião que aparece para um fã de Segunda Guerra Mundial o metralha, um tigre ataca um casal, uma fantasia de princesa e cavaleiro andante tem consequências aparentemente trágicas. E Kirk é constantemente provocado por Finnegan, levando a uma longa luta entre os dois, com o gozador lembrando ao capitão que ele é um homem velho, enquanto Finnegan ainda tem vinte anos.

Após várias peripécias, Kirk, todo machucado, finalmente consegue vencer Finnegan e confessa a Spock que se sentiu bem, pois durante uma década e meia o capitão estelar, apesar de todo seu sucesso profissional (para não falar da vida amorosa) guardou um inexplicável rancor pelo cadete sacana. Spock conclui que o planeta na verdade está concretizando os desejos das pessoas e, dito e feito, aparece o Zelador, um sujeito de uma das providenciais raças de semideuses que povoam o universo de Roddenberry e explica que aquilo é um parque de diversões e ninguém se machucou – McCoy reaparece dizendo que foi “reparado” em oficinas subterrâneas.

Enquanto em “Planeta Proibido” a ativação da máquina que realizava desejos destruiu a raça avandíssima que a criou porque também deu vida a todos os secretos rancores e perversões subconscientes, em “A Licença”, Kirk e Spock argumentam que, uma vez alertados sobre como a coisa funciona, os tripulantes vão se divertir à larga. O ponto é coerente com a visão utópica de Roddenberry, de triunfo da razão sobre os instintos - como em “Um Gosto de Armageddon”, onde Kirk declara que podemos reconhecer sermos todos bárbaros assassinos, e que não mataremos hoje - mas rouba o programa de maior relevância, sem nenhuma ideia tão forte quanto o Monstro do Id, a pesadelar encarnação dos desejos incestuosos de Morbius pela filha, capaz de atravessar aço krell como se não existisse.

Típico da tibieza do episódio é o final, quando Kirk resolve passar os dias da licença no planeta ao lado de um construto encarnando uma grande paixão de adolescência dele. Finnegan revela ao espectador um rancor irracional de Kirk que explica boa parte de sua personalidade, a qual já conhecemos a esta altura da série o suficiente pra saber que ele não se entregaria de tal forma a uma reconhecida – ainda que gostosa - ilusão. Quem melhor se dá mesmo é McCoy, que troca dois construtos de coristas alienígenas por uma gostosíssima ordenança. Afinal, em alguns dias acaba a folga e como o doutor já não está tão na flor da idade quanto o capitão e nem tem sua facilidade com mulheres, é melhor um pássaro de mãozinhas dadas do que duas ilusões abraçadas.

Digno de nota:

- A produção de “Jornada nas Estrelas” tinha o hábito de reutilizar atores em papéis diferentes, como pode se ver pelas múltiplas funções que o tenente Leslie (Eddie Paskey) parece desempenhar. Aqui, Barbara Baldavin reaparece como tripulante e é chamada pelo capitão Kirk de “Teller”, o nome que constava do roteiro. Só que alguém lembrou que ela já tinha feito um personagem de destaque como a moça que iria casar-se com o único tripulante morto na batalha de “Equilíbrio do Terror” e, por isso, nas cenas restantes de “A Licença” ela atende novamente por “Angela Martine”, como no episódio anterior. Só que pega mal pacas, já que, apesar de filmados com uma certa distância, os dois shows foram ao ar em seguida e parece que a mulher, uma semana depois da morte do quase marido, já arrumou namorado e está feliz da vida.

- Contagem de corpos: a ex-noiva Angela e McCoy parecem morrer, mas são “reparados” nas oficinas subterrâneas do planeta. Por que a Federação não tenta obter essa tecnologia não é explicado.

- Finalmente Sulu tem uma fantasia com um samurai, ao contrário de “Tempo de Nudez”, onde esgrima ocidental o fascina mais. Mas prossegue a tese de que os escritores faziam um monte de piadinhas herméticas com a orientação sexual do japa: ele é o único, além da ordenança gostosa, a desejar a aparição de um sujeito com uma espada enorme correndo atrás dele.

- Avistamentos de Tenente Leslie: Ele está no leme, no começo do episódio, substituindo Sulu, que está fazendo a sondagem do planeta.

- William Shatner originalmente pretendia uma cena em que Kirk se atracasse com o tigre que persegue alguns tripulantes, mas foi convencido de que talvez não fosse exatamente uma boa ideia.

A Seguir: Jornada nas Estrelas em dia de Law & Order: "Corte Marcial"

Homens se casam com o que precisam. Eu caso com você

John Ciardi


Homens se casam com o que precisam. Eu caso com você,
a cada manhã, a cada dia, a cada noite
E cada casamento faz este casamente novo outra vez

No desvelado nome do paraíso, na luz
que estilhaça o granito, junto à praia espumante
no ar que salta e pinoteia como uma pipa

Eu caso com você eternizando-a e uma grande porta
se fecha e permanece fechada contra vento, mar e pedras
queimaduras e aguaceiros. E lar uma vez mais

dentro de nossos muros de pele e vigas de osso
homem-mulher, mulher-homem, e cada um o outro
Eu caso com você por toda a treva e todo alvorecer

e aprendo a a deixar o tempo correr. Por que me aborrecer
com as moscas em volta de mim? Deixe-as zumbir e ser
Homens casam-se com sua rainha, sua filha ou sua mãe

com nomes eles o provam, mas um sutil zumbido reclama:
quando a razão se multiplica em razões, a causa é verdadeira
Homens se casam com o que precisam. E eu caso com você.

(Tradução esquisita de Luiz Henriques Neto; abaixo, como sempre, o original:)


Men Marry What They Need. I Marry You

Men marry what they need. I marry you,
morning by morning, day by day, night by night,
and every marriage makes this marriage new.

In the broken name of heaven, in the light
that shatters granite, by the spitting shore,
in air that leaps and wobbles like a kite,

I marry you from time and a great door
is shut and stays shut against wind, sea, stone,
sunburst, and heavenfall. And home once more

inside our walls of skin and struts of bone,
man-woman, woman-man, and each the other,
I marry you by all dark and all dawn

and learn to let time spend. Why should I bother
the flies about me? Let them buzz and do.
Men marry their queen, their daughter, or their mother

by names they prove, but that thin buzz whines through:
when reason falls to reasons, cause is true.
Men marry what they need. I marry you.

junho 24, 2009

Sinopse para a Fábrica de Dramaturgia em 1997

Em 1997 o Planetário fez uma oficina de teatro com três temas, Violência Policial, Desemprego e Saúde Pública. Ao cabo, as melhores sinopses sobre um desses assuntos classificaria seus autores para serem montados num espetáculo coletivo e foi assim que tive uma peça dirigida por Domingos de Oliveira.

Eu levava fé no projeto, acreditava que temática social estava para entrar em moda e escrevi o texto abaixo em duas horas, pois foi na mesma semana em que meu pai morreu e eu estava muito reflexivo sobre responsabilidade pessoal e desintegração da sensação de pertencer a uma coletividade que é a base da civilização. Daí a temática da minha história.

O texto envelheceu demais em doze anos, atropelado pelo vídeo digital, pela Internet (eu era visto como um supernerd à época por ter uma página pessoal e uma câmera digital de resolução de 0,3 megas). Mas acho que em essência, ainda é bastante atual. Ei-lo ai:

Renato era cinegrafista, numa emissora de tevê. Roubando fitas usadas de U-MATIC e material obsoleto, pretendia abrir sua própria produtora. Mas seu chefe o despediu para contratar outro câmera por quem estava apaixonado. Sem perspectivas no ramo, lembra-se da batida que viu certa vez no morro onde comprava drogas e resolve filmar uma dessas ações policiais, para pôr seu nome em evidência. A fita, no entanto, alcança repercussão muito maior do que esperava e, em vez de encontrar trabalho, acaba se tornando um fugitivo, traído por seus amigos e perseguido pela polícia. Assim explica ele na abertura da peça a Marcelo, um morador da favela onde está refugiado, o que faz ali, aos cuidados de Tomé, um traficante em ascensão maquele morro emergente.

Entra Tomé. Os outros traficantes, explica ele, não esconderiam Renato porque mexer com a polícia não lhes interessa. Os policiais sempre sabem o que está acontecendo. Aonde. Como. Mas estão tão sob controle dos criminosos quanto os criminosos sob o deles, nenhum dos lados desejando romper as fronteiras delimitadas de custo/benefício. Somente Tomé, que busca prestígio, aceita abrigar Renato e até mesmo fornecer-lhe os meios para se estabelecer em outro estado e abrir sua produtora. Desde que Renato faça um vídeo sobre Tomé e sua boca de fumo. Renato aceita a proposta e a ação pode começar.

Vai sendo montada uma ilha de edição improvisada na casa onde Renato se esconde. A gravação revela a cabotinice do traficante ao propagandear sua boca de fumo e suas canhestras tentativas de fazê-la parecer apenas um negócio: papelotes com logotipos grosseiros, ofertas especiais e até um computador para registrar transações. Clientes depõem para o vídeo - de costas, é claro. Entre eles, Vera, ex-namorada de Renato, que passa a visitá-lo, algo atraída e excitada pela situação em que o câmera se encontra.

Tomé recebe Pereira, um policial corrupto sob suas ordens. Reconhecendo Renato, ele passa a frequentar a boca de fumo e o câmera pode ouvir suas conversas com o traficante, tentando convencê-lo do erro que é dar guarida ao câmera e como isso vai arruiná-lo.

As gravações prosseguem, irritando-se Renato com a tentativa de Tomé de encenar no vídeo a história de amor entre ele e Rose, que deseja ser atriz. O irmão dela é Marcelo, que opera o computador da boca de fumo e toma lições com Renato sobre edição. Ele explica ao câmera que sabe que o reino de Tomé é temporário, que o traficante não tem real idéia daquilo com que está lidando. Dois dos erros dele, o computador e a filmagem, foram na verdade sugestão de Marcelo, que sabe que assim diminui as chances do pretenso cunhado, mas aumenta as dele, ao aprender outros ofícios. Acabam-se os trabalhos da noite e Marcelo sai. Renato recebe então a visita de Pereira. O policial quer convencê-lo a se entregar. O fato dele estar vivo desequilibra toda a balança de poder estabelecido. Arrisca os ganhos e a vida de Pereira. Uma completa aberração. No auge da fúria, entra Vera. O policial vai embora, aconselhando dubiamente Renato a ficar alerta. O casal faz amor ao som de balas da boca de fumo festejando uma vitória do Flamengo.

Eles são acordados no meio da noite por um dos moradores da favela. Sabendo que Renato trabalhou na televisão, ele quer que o rapaz o acompanhe a um hospital próximo, onde o filho dele que sofreu um acidente ainda não foi atendido. O homem acha que uma câmera pode intimidar os funcionários. Renato e Vera discutem se é seguro para ele ir ou não, mas chega Marcelo e avisa que o garoto morreu. Marcelo vinha buscar o equipamento para ele mesmo fingir que era jornalista e leva o homem embora. Pouco depois chega Tomé, revoltado. Inteirado do que ocorreu, vai liderar a favela num apedrejamento ao pronto-socorro e quer que Renato filme. Vera fica sozinha e Marcelo volta para levar o equipamento de edição. Ele sabe que este é o fim do ciclo de Tomé. O pronto-socorro era uma importante obra política. A história que será espalhada é que o rapaz que morreu era traficante e por isso o apedrejamento. A polícia será acionada e desta vez não irá respeitar acordos e subornos. Ele vai, levando seu tesouro e avisando Vera para salvar sua pele e não esperar pelo seu amado. Ela vai embora também.

Voltam Tomé e Renato. Tomé está eufórico com a destruição e sentindo-se um glorioso salvador, enquanto Renato está trêmulo e assustado com as sirenes que ouve. O traficante é avisado pelo celular que a polícia está subindo. Renato tenta fugir, mas Tomé o obriga a ficar e filmar o tiroteio - o clímax do vídeo que estão fazendo. Começa a troca de tiros e Tomé vai se tornando cada vez mais enlouquecido. Pereira, que se encontrava no morro quando começou a batida, entra na casa, disposto a matar o câmera, que ele culpa pelo desatino de seu empregador. Tomé o impede e os dois lutam. Renato se apossa da arma. Tomé pede a ele que atire no policial. O tiroteio continua lá fora. Renato dispara e mata Tomé, seu protetor. Pereira, livre, tenta atacá-lo. Renato diz a ele que o policial só sairá vivo se lhe abrir caminho para sair dali. A polícia entra na casa. Pereira diz que Renato o salvou e estava lá continuando sua série de reportagens. Ele agora tem uma fita da heróica ação policial que libertou o morro do criminoso que os forçou a destruir seu pronto-socorro recém-reformado. Os policiais saem, deixando o corpo de Tomé aos cuidados de seu colega Pereira. Chegam Rose e Marcelo. Rose chora a morte de seu amado. Entra Vera. Enquanto Pereira e Marcelo conversam reservadamente num canto, com o primeiro pedindo o auxílio do segundo para assumir a boca de fumo sem dono, Rose cobra Renato pelo que fez e vai embora, levando o irmão, que no entanto parece ter aceito a proposta do policial. Vera pergunta reservadamente a seu namorado porque afinal tinha matado Tomé e ele confessa que na verdade não sabe atirar e não tinha um alvo definido. "Eu arrumaria uma saída, Vera, fosse quem fosse que caísse. Mas se eu não matasse ninguém, eu estaria perdido". Cortina. Fim.

Estrañando Uruguay

Safety First

Futebol Uruguaio Fora do Centenario

O Estádio Centenário é um mito do futebol mundial, construído em 1930 pra primeira Copa do Mundo, quando os uruguaios tinham o melhor futebol do planeta, já bicampeão no mundial de então, a Olimpíada. Mas num país que tem meia população do Rio de Janeiro, ele é tão superdimensionado que sobra pouco do resto. Os dois times mais tradicionais e populares da República Oriental (depois dos lendários Peñarol e Nacional), o Danúbio e o Racing, enfrentaram-se no campo deste, pertinho da casa da Claudia e eu paguei os 100 pesos uruguaios (10 reais) pra ver o confronto. Horroroso. Só quem jogou alguma bola foi o marrento 10 do Racing, cujo nome esqueci. O Racing dominou as ações e ganhou por 2 x 0, mas o que mais chamou a atenção mesmo foi a pobreza do estádio. Bariri parece um Maracanã perto disto.


Acomodações para a imprensa devem ser levadas de casa, portanto nada melhor do que dobrar como estojo de lentes.

o reforçado policiamento para conter a turba de torcedores. Aliás, é impressionante a quantidade de policialas no Uruguay. Altíssimo o percentual de mulheres.

Embora Claudia e a prima constantemente me lembrassem que o Uruguay é um país pobre, a cidade inteira parece ser de classe média. Dificilmente se via pobres em Montevideo. E até a torcida de um jogo paupérrimo como este vai relativamente elegante prestigiar os jogadores.


As acomodações para a imensa torcida organizada do time visitante.


Uma passada desatenta pela porta do estádio e ninguém nem percebe que tem um estádio. O que me atraiu foram os muitos carros (carro é coisa rara num país que não fabrica automóveis) e os até então não observados flanelinhas.

Um evento desta magnitude não podia ficar sem transmissão.

junho 21, 2009

A Grande Dúvida

Moça, você pode correr
Mas não pode se esconder
E a enorme mão dele a pegará
E falará palavras doces sobre nunca a esquecer
E como foi grande o amor dele por você

E a levará até a geladeira
E a porá com cuidado em um lugar ainda vazio
Entre o molho branco já vencido,
o iogurte também já vencido,
o patê que ele provou e não gostou,
a maionese pela metade
e a berinjela que ele pretende um dia fazer
restos arqueológicos
presentes em todas as geladeiras

E o pior é quando você finalmente descobre
Que a luz da geladeira apaga quando a porta fecha

A Fronteira Final - A Primeira Temporada de JORNADA NAS ESTRELAS - A série clássica



O Amanhã é Ontem

Anteriormente: O Fator Alternativo



Tensão numa sala de radar militar americana! Um disco voador foi detetado! Mandem os caças! Interceptar! E então, quando o F-104 Starfighter se aproxima do objeto voador não identificado, os espectadores veem quem? O orgulho da Frota Estelar do século XXIII - a Enterprise, meio trôpega, com um ar culpado, quase como se falando “oooops”.

“O amanhã é ontem” é outro episódio relaxante da série. Cômico, sem grandes perigos ameaçando os personagens e, dada a disparidade tecnológica, as figuras com quem nos identificamos estão por cima praticamente o tempo inteiro. O radar só os detetou porque eles estavam sem os defletores: eles foram capturados pela gravidade de um buraco negro (conceito ainda novo na época) e, pra fugir, dispararam os motores à toda; quando se soltaram, chegaram a uma velocidade tal que além do espaço, dobraram o tempo (1).

Parece o final de “Tempo de Nudez” e, como já falado lá, este deveria ter sido um episódio de duas partes - a volta no tempo do primeiro, em vez de ser de apenas 3 dias, seria de 300 anos e jogaria nossos heróis em 1969, a poucas semanas do primeiro voo tripulado para a Lua. Para evitar o “continua na próxima semana” tão temido na época e que hoje faz a alegria dos enlatados de tevê, decidiu-se partir a história em duas. Até porque dois episódios cômicos seguidos poderiam dar uma ideia errada aos espectadores, ainda mais no primeiro mês da série.

Num raro erro do capitão Kirk, que não segue o conselho de Spock, o Starfighter é destruído pelo raio trator – quem mandou a USAF enviar um caça de combate aéreo pra fazer papel de interceptador? - e o piloto transportado a bordo. O capitão da Enterprise, sem pensar nas consequências, mostra a nave toda pra ele, visivelmente pra se exibir, num clima meio “olha como o nosso mundo futurista é maneiro”. Depois de ter visto tudo que viu o sujeito não pode mais voltar pro século XX. O que fazer com ele então?

A partir daí, com sua divertida premissa “os alienígenas somos nós”, o povo da Frota Estelar fica brincando de invadir e se evadir da base americana pra pegar os registros de sua presença. Numa dessas o capitão é capturado e Shatner faz uma cena de interrogatório tão engraçada com tão pouco material que ficamos tentando adivinhar porque levaram tanto tempo pra descobrir que ele seria perfeito pra papéis de autoparódia ou semicômicos, como atualmente no “Justiça sem Limites”. Sua cara de assustado – ainda mais sendo ele o grande Kirk – quando seu captor joga o phaser 1 (aquele que não parece uma pistola) pro ajudante tem o tempo perfeito. Ele se livra pouco depois, numa luta bem dirigida pros padrões televisivos de então, mantendo o nível geral do episódio que, até pelo assunto, não abusa dos closes paradões típicos do programa.

Ao final, depois de cinquenta minutos moderadamente engraçados, tudo se encaixa, como num vaudeville. Os militares transportados pra nave voltam pra seus postos sem lembrarem de nada (num artifício mal explicado) e todos os registros da presença da Enterprise no século XX são apagados. Outro episódio cômico pra aumentar a familiaridade do espectador a personagens tão fora do comum da tevê da época. Só que, ao contrário de “Tempo de Nudez” ou “A Licença”, entretanto, aqui não se revela muito sobre a personalidade do povo da Frota Estelar, além de que o capitão Kirk é narcisista e gosta de tirar onda. Mas, bem, ora bolas, isso a gente já sabia, né?

Digno de nota:

- Contagem de corpos: relaxa, é um episódio cômico.
- Os roteiristas ainda não haviam criado a Federação dos Planetas Unidos. Kirk diz ao piloto que a Enterprise é da Agência de Exploração Espacial da TERRA UNIDA (o que Spock faz lá?).
- A voz sensual e paqueradora do computador com defeito é de Majel Barret, que também faz a voz normal de todos os cérebros eletrônicos da Frota Estelar, além de ser a enfermeira Christine Chapel e a então namorada e futura esposa de Gene Roddenberry.

(1) Quando o seriado passava na tevê, a “velocidade warp” era traduzida por “fator de dobra” e “dobra espacial”. Também os phasers eram chamados ora de “fases” (em português), ora de “defasadores” (a tradução correta), ora de feisers mesmo. Com o sucesso dos filmes no cinema, passou a prevalecer nas dublagens mais recentes os termos que os legendadores da tela grande escolheram.

A Seguir: Depois de tanto estresse e tanta porradaria nesses episódios todos, a tripulação bem que precisa tirar "A Licença"

Bukowski para o Povo

Causa e Efeito

os melhores frequentemente morrem por suas próprias mãos
só para se afastarem
e aqueles deixados para trás
nunca compreendem
por que alguém
iria jamais querer
se afastar
deles

(tradução instantânea minha a partir do original abaixo:)


the best often die by their own hand
just to get away,
and those left behind
can never quite understand
why anybody
would ever want to
get away
from
them

Descontração