setembro 29, 2009

Não Acredite em Tudo que Você Lê nas Colunas de Futebol

Estava eu a ler o meu Globo de domingo, meus senhores, quando me deparo com uma de suas colunas esportivas. Fernando Calazans, a respeito da atuação do Fluminense da Copa Sul-Americana, diz que só a assiste a partir das quartas-de-final!

Pois vejam só, meus senhores! Um jornalista, não de um blogue qualquer da Internet, não de algum pasquim desses que vêm e vão, mas do Globo! O Globo onde já escreveu Nelson Rodrigues, esta lenda da crônica esportiva! Pois não é que no Globo hoje em dia seus colunistas nem ao menos se sentem na obrigação de... ver jogos?

É por isto que a crônica esportiva de hoje é tão difícil de se ler. É por isto que a crônica esportiva tornou-se esta crônica pragmática, interessada apenas em manter leitores. Onde estão o encanto e o conhecimento do futebol de um Mário Filho, um João Saldanha, um Sandro Moreyra? Como se pode levar a sério a opinião de alguém que nem ao menos se dá ao trabalho de ver jogos de futebol?

É por isto que cada vez mais o jornalismo impresso vai perdendo mais e mais leitores. É por isto que os jornais estão em crise e perdendo seu público. Não há organização, não há preocupação com o conteúdo, apenas com o resultado. É por isto que grandes jornais cariocas como O Dia e o Jornal do Brasil encontram-se em situação tão desesperadora na tabela e sem perspectivas de salvação pela frente.

Tudo bem, isso aí em cima é um pastiche do próprio Fernando Calazans. Não o conheço, mas dizem que pessoalmente ele é MUITO gente-boa, o que se sobressai ainda mais num meio com tanto interesse escuso intrometido. Pelo menos sabemos que ele não faz coisas como, por exemplo, perseguir laterais esquerdos porque eles tiveram um caso com a mulher dele. Mas é esse tipo de pensamento, de não acompanhar jogos, que fode com a crônica esportiva e o próprio pensamento do torcedor. O torcedor não é desafiado a pensar, já que o colunista que não vê jogos acaba caindo sempre nos mesmos clichês, "tem que atacar pelas pontas" e "o futebol hoje em dia está muito defensivo e a tradição brasileira é atacar". Desde os anos 40, quando Flávio Costa e os irmãos Moreira começaram a criar a marcação por zona que os jornalistas defendem essa tradição do ataque. Em 1958 a semifinal do Brasil punha frente a frente o melhor ataque contra a melhor defesa - e a melhor defesa era a do Brasil, primeiro time a jogar com QUATRO ZAGUEIROS (todo mundo jogava com três) e marcar por zona.

Essa coisa de não assistir a jogo é terrível. Quantas vezes nos anos 80 e começo dos 90 já não vimos técnicos de seleção convocarem um sujeito porque ele marcou um golaço no fim de semana e apareceu no Gol do Fantástico? Em 1998, o Zagallo convocou pra lateral direita Zé Carlos, que era MAIS UMA revelação do São Paulo, jogava pra burro e merecia vaga no escrete. Quando ele chegou, Zagallo levou um susto quando soube que ele tinha 29 anos! Cacilda! Zagallo não via ele jogar, não?

Outro dia o Mourinho apareceu no Sportv. Mourinho é aquele técnico português que foi campeão europeu com o Porto, com o Chelsea e agora está na Inter de Milão, que passeou no campeonato italiano. Logo de cara ele fez uma brincadeira com os repórteres, "minha mulher odeia vocês". "Por quê?" "Porque eu fico vendo os jogos que vocês passam". Um europeu assistindo os jogos do Brasil. Não é à toa que ele costuma acertar nas contratações. Vocês imaginam o Joel Santana acompanhando as partidas europeias pela tevê? Ou o Renato Gaúcho?

Quem acompanha aqui no Brasil é o PVC. Ele é capaz de dizer se qualquer jogador vagamente conhecido no mundo joga bem ou não. Ele é capaz de desfiar os esquemas das equipes e dizer porque ganharam ou perderam sem apelar para "fechou muito o jogo pelo meio" ou "tinha só um atacante isolado" ou "recuou muito depois do gol". Assistir aos comentários dele - e de outros, como Tostão - é aprender mesmo sobre o esporte, como ele funciona. Pra maioria dos comentaristas, futebol é que nem pelada de rua, todo mundo partindo pro ataque e no máximo um gordo lento na defesa. Curiosamente, sempre que um time de pelada tem um ou outro zagueiro que entenda do assunto, ganha as partidas todas.

setembro 27, 2009

Festival do Rio 2009

Bad Lieutenant

Port of Duty: New Orleans

de Werner Herzog


O total e completo desespero é o primeiro passo para a verdadeira fé. Não me lembro de quem disse isto, mas os personagens do Abel Ferrara estão sempre próximos de dar esse primeiro passo. Desde seu longa de estreia, “O Assassino da Furadeira”, o diretor povoa a tela com sujeitos que de sua vida em meio à jornada acharam-se em selva tenebrosa, tendo perdido a verdadeira estrada, desde a supracitada criatura com a ferramenta mortífera - que busca a redenção pela arte e, falhando, pela morte (a princípio dos outros) - até o tenente mau do filme cult de 92, que tem uma epifania e acaba dando mesmo o primeiro passo e encontrando finalmente a tal da fé.

Contando a saga de um policial tão perdido em seus vícios e instintos que nem nome tem, insensibilizado pela sua profissão e tentando preencher seu vazio com todos os tipos de drogas, abusos e comportamentos autodestrutivos, Abel Ferrara concatenou provavelmente a fita americana religiosa mais surpreendentemente sincera desde “Barrabás”. A estrada para a redenção do tenente mau começa quando ele encontra uma bela e jovem freira, estuprada (até com um crucifixo) por dois rapazes. Ela sabe quem eles são, mas não dirá seus nomes porque os compreende e perdoa. Daí que Herzog refilmar esta história deixou todo mundo embatucado: além da aparente desnecessidade de uma nova versão pruma produção recente, cult, visceral e pessoal, e de estar trabalhando com um roteiro alheio, o alemão sempre esteve mais para o lado dos ateus, embora não necessariamente materialista. O que ele ia fazer com essa história de salvação nas mãos?

Bem, diz o Herzog que sua obra não é uma refilmagem ou adaptação da anterior. Que por ele o filme se chamaria só “Port of call: New Orleans”, mas alguém na produção detinha os direitos pro título “Bad Lieutenant” e queria meio que começar uma franquia. Tá bom. Vai ver esse alguém na produção viu que estava trabalhando numa história sobre um tenente de polícia drogadão, que assedia sexualmente menores, que tem problemas com apostas e que até mesmo trafica drogas e disse, “ei, eu já vi isso antes!”

Só que ele teve a vantagem de ver com o Harvey Keitel. O tira perdido da vez é o Nicolas Cage. Que começa o filme já no meio de um monte de referências bíblicas: uma serpente e um dilúvio. Ele é apenas mais um tira corrupto e cruel como seu parceiro Val Kilmer (Val Kilmer num Herzog?), mas em vez de levar a sério uma aposta sobre quando um prisioneiro vai se afogar na cela trancada durante a enchente do Katrina, ele acaba mergulhando na inundação pra salvar o vivente. Garante seu lugar no recomeço pós-diluviana, promovido a tenente, mas ganha em consequência um problema crônico de coluna.

Com a sutileza que lhe é característica, Nicolas Cage passa o filme todo torto e com as omoplatas encolhidas, num andar que rapidamente destruiria qualquer resquício de coluna vertebral. Tudo bem que não tem ele chorando nu e crucificado como fez o Harvey Keitel 17 anos atrás, mas com uma postura que imediatamente lhe garantiria dispensa até de um emprego de testador de colchões, é muito estranho que um bando de argutos policiais não perceba a óbvia metáfora para o peso do mundo que ele parece carregar. Como o tenente sem nome do filme do Abel Ferrara, o tira de Nova Orleans se afoga em drogas, descarrega sua frustração com abusos de poder, e frequenta prostitutas. Na verdade, não, namora uma prostituta de luxo. Mas a diferença entre os dois tiras e os dois cineastas fica clara logo na primeira sequência: o do Herzog tem um nome.

É porque o alemão é mais humanista do que teísta e a estrada para a salvação de Terence McDonugh começa quando ele investiga a morte de uma família africana com três crianças, inclusive uma assassinada logo depois de escrever um poema sobre seu amigo peixe, que olha para ele enquanto ele dorme. Torto, sem dormir, sentindo-se dimunuído frente aos clientes ricos de sua namorada, consumindo drogas à vista dos espectadores o tempo todo, o tenente mau ainda assim mostra inesperada perícia em seu trabalho. Pois ele acredita que solucionar o crime e levar o mais mau ainda chefão das drogas local à cadeia irá redimi-lo.

Herzog bota a fita de pé sem muito de suas costumeiras imagens líricas, mas quando estas aparecem, botam pra quebrar, como no assassinato dos capangas que acaba num espetáculo de street dance (não pergunte). Infelizmente, um tom corriqueiro num thriller policial não é o mesmo que um tom corriqueiro numa trama sobre uma expedição ao Amazonas no século XVI – é o que as séries de tevê gringas gostam fazem desde os anos 70. Mas o Werner é um cineasta que sabe tudo do ofício e rola a história com fluência e naturalidade sem precisar, graças aos céus, usar uma câmera tremendo como se segura por um atacante brasileiro na véspera da final contra a França em 98. Com toda a estabilização de imagem eletrônica, aparelhos cada vez mais leves e até mesmo a maior familiaridade de todo mundo com as cada vez mais onipresentes câmeras de vídeo, as únicas criaturas que ainda filmam tremendo como se estivessem com mal de Parkinson são os diretores de fotografia americanos (e alguns brasileiros).

E assim, sob esta sólida cinematografia, o corrupto Terry vai se afundando cada vez mais na mediocridade, assumindo mais e mais responsabilidades – a certa hora ele tem o carro cheio com um cachorro, uma prostituta e uma testemunha jogadas sobre suas frágeis costas - sem esboçar uma reação, apenas se deixando levar pelos acontecimentos. Até que eles fogem completamente de seu controle. E é aí que surge a diferença entre os dois cineastas de tenentes maus. O tira do Herzog vai tomar a tenebrosa estrada para o inferno e, como num livro de autoajuda às avessas, tenta reassumir o controle de sua vida – e sua identidade – quebrando até mesmo seu controvertido código de ética e desprezando todas as convenções. Este é o caminho para a excepcionalidade, a fuga a todas as trivialidades e futilidades burguesas que povoam a eternidade inútil do Nosferatu do cineasta. Associando-se aos assassinos da família africana, armando resultados de jogos, participando até de assassinatos, o homem, que a um ponto aceitou que sua namorada desse pra dois capangas pra se livrar de uma enrascada, consegue finalmente a solução para suas dívidas, para seus casos pendentes e para a promiscuidade de sua garota (Eva Mendes! Uau!).

Novamente de posse de sua vida – e de sua arma, uma Magnum 357, o revólver do Dirty Harry, o óbvio símbolo de sua masculinidade, que ele deixa o tempo todo à vista mal enfiada em sua virilha - ele consegue uma promoção, uma casinha com jardim e uma namorada grávida, uma prostituta casta. O sonho americano. Mas, escondido de todos, ele continua achacando menores e cheirando adoidado, até reencontrar o prisioneiro que salvou no começo da fita e os dois vão parar no aquário municipal. Apesar de tudo, Terry continua procurando alguém que olhe por ele enquanto ele dorme. Por um instante, parece que Herzog andou abraçando se não alguma religião, pelo menos um pensamento místico oriental. Até que Nicolas Cage, sutil como sempre, sorri, como se percebendo que nada daquilo faz sentido. E fade. Fim. Para Herzog, vem para todos.

setembro 26, 2009

Se Eu Fosse Uma Turista Inglesa Obesa de Meia Idade no Caribe Jogando Palavras Cruzadas (Hoje Conhecido como Scrabble)...




Tudo que eu quereria seria uma celebridade doidona esfregando os peitos no meu braço e dando palpites como se me conhecesse há tempos.

Ela Continua Depilando Lá Embaixo


A sempre confiável Britney Spears.

Quando o Rio de Janeiro foi Reconstruído

Foi um monte de vezes, mas o que nós conhecemos é este cheio de arranha-céus e de onde foram banidas as casas dos bairros do Centro pra Zona Sul. Botafogo, que ainda tinha muitas em bom estado, está sendo posto abaixo neste momento. Desde que me mudei para a rua Fernandes Guimarães (uma das primeiras daqui!), perto da rua da Passagem, já vi subir oito prédio nos quarteirões adjacentes. Mais dois vão ser construídos.


Às vezes, vendo fotos nem tão antigas assim, do rio até os anos 50, mesmo anos 60, a cidade, apesar de grande, tinha outro perfil (lembrem-se que estou falando da área mais valorizada da cidade - os subúrbios ainda têm muitas casas, mas, embora sua densidade populacional ainda seja bem menor, elas estão sendo substituídas por prédios, ainda que mais baixos em suas contrapartes mais caras). Vendo fotos de prédios históricos ou bonitos ou mesmo tão alienígenas quanto o do Elixir de Nogueira (no cartão postal obviamente fora de escala), sempre ficamos pensando como puderam derrubar tais verdadeiros monumentos.

Pois é fácil descobrir o porquê: acabo de assistir ao blu-ray (chique, hein?) do épico em Cinerama (a imagem é espetacular, mesmo com as distorções de perspectiva) A CONQUISTA DO OESTE. Após seguir a saga de uma família, termina mostrando a terra prometida aonde o progresso nos levou: vias expressas cheias de automóveis e uma megalópole cheia de arranha-céus colados uns nos outros. Estávamos na era áurea do sonho americano - bigger is better. Acreditávamos no carro como o grande salvador e criamos Brasília como um monumento a esta máquina poluidora e egoísta. E ainda a transplantamos para a Barra.

O progresso iria nos levar a morar em torres altas cercadas de amplas áreas ajardinadas e o automóvel venceria essas distâncias para nos levar aonde quiséssemos em avenidas largas e sem sinais, pois não haveria pedestres. Tente caminhar de um condomínio para o outro na Barra. Logo de cara cria-se um fetichismo pelo automóvel que vai acabar descambando para o materialismo. Sem falar no isolamento, na falta de contato com pessoas de outras classes, credos, maneiras de viver e encarar a vida... Gente como Jane Jacobs começou a mudar esse jeito de ver as urbes nos anos 60, como em sua grande obra MORTE E VIDA DAS GRANDES CIDADES, onde aponta que os urbanistas que criaram esse conceito viveram nas horrorosas metrópoles do século XIX movidas a cavalo, fedendo a merda de cavalo, que se transformava na onipresente e malcheirosa lama. Esses sujeitos na verdade odiavam a vida metropolitana - a diversidade, a multiplicidade, as oportunidades, os encontros casuais - e foram eles que vieram com a ideia da cidade perfeita.

E é assim que a visão otimista e futurista de um filme dos anos 60 termina com uma vista aérea de uma horrorosa metrópole, depois de mostrar homogêneas e intermináveis planícies aradas sem viv'alma à vista e minas escavadas nas belezas naturais da terra. Bigger is better e parecia que nada poderia deter o homem. A não ser a destruição do planeta, os ecologistas e os neomalthusianos.

setembro 24, 2009

The Planet on the Table

Wallace Stevens

Ariel was glad he had written his poems.
They were of a remembered time
Or of something seen that he liked.

Other makings of the sun
Were waste and welter
And the ripe shrub writhed.

His self and the sun were one
And his poems, although makings of his self,
Were no less makings of the sun.

It was not important that they survive.
What mattered was that they should bear
Some lineament or character,

Some affluence, if only half-perceived,
In the poverty of their words,
Of the planet of which they were part.

Felicidade

Felicidade é tomar um sundae do Bob´s no sofá de casa só com as luzes do pisca-pisca iluminando a sala vazia. Eu era criança, mas me lembro disso até hoje. A sensação de conforto era tão grande que até hoje adoro o Natal e as festas de fim de ano.

Felicidade é você na praia à noite pescando, com a primeira namorada ao lado te dando uns amassos e você pegando no peitinho dela. Tudo é novo, tudo é felicidade e você está apaixonado e a sensação de liberdade e de não estar preocupado com alguma coisa que venha depois ou que tenha vindo antes é maravilhosa.

E felicidade é você amando sua mulher e descobrir que sexo pode ser tão transcendental quanto na época de sua primeira grande paixão. É você olhar nos olhos dela e perceber que a consciência não é tudo, a individualidade não é tudo, o eu não é tudo. É estar a um passo da salvação, da epifania e chegar a pensar em dar este passo.

Mas felicidade é fugidia, porque estar vivo é, como já dizia Carlos Pena Filho, é entrar no acaso e amar o transitório. A ordem absoluta é o reino das pedras, dos planetas, das translações universais e da morte. O caos e a entropia negativa regem a vida.

Eva Mendes


Ou porque uma mulher bonita de calcinha rendada é mais sensual do que uma mulher nua.

setembro 21, 2009

A Fronteira Final - A Primeira Temporada de Star Trek - A Série Original



Primeiro Comando

Já não basta Spock perder tudo que é jogo de xadrez tridimensional pro Kirk, ainda por cima quando tem seu primeiro comando, durante uma emergência na Galileo, nave auxiliar da Enterprise, é obrigado a confessar que não tem a mínima ideia do que fez de errado – todas as suas decisões foram lógicas e racionais e ainda assim ele perde dois homens e complica cada vez mais a situação.

Este episódio devia ser analisado pelo filósofo predileto deste saite (sorry, Sílvio Rabaça), Antônio Rogério da Silva, especialista em Teoria dos Jogos. O que acontece quando uma abordagem racional, em posição de desvantagem, encontra um desafio completamente irracional? A Enterprise manda uma equipe na Galileo estudar um daqueles fenômenos galáticos que acontecem toda hora em “Jornada nas estrelas” e a naveta despiroca e cai num planeta que, descobre-se depois, está cheio de homens da caverna gigantes e agressivos. E, como sempre, o mesmo troço cósmico que eles queriam estudar interfere com os sensores de Kirk e sua turma. Está tudo nas mãos do pessoal que caiu lá embaixo, chefiados por Spock, em seu, como ressalta McCoy, primeiro comando.


É claro que, como sempre, há uma corrida contra o tempo, pois a Enterprise tem que levar medicamentos necessários para debelar uma epidemia num sistema distante. A Galileo precisa ser reparada e não tem energia suficiente pra levar todo mundo de volta – dois vão ter que ficar. Quando o frio vulcano diz que não fará um sorteio, mas escolherá pessoalmente quem permanecerá no planeta, começam suas desavenças com o grupo. E nós espectadores ficamos pensando qual o problema: uma vez chegando na Enterprise, por que eles simplesmente não diriam onde encontrar quem ficou lá embaixo?


A resposta é que o mundinho é habitado por humanóides gigantescos na Idade da Pedra que eliminam logo um camisa-vermelha. Spock recusa-se a tentar matá-los com os phasers, preferindo assustá-los com tiros a esmo, já que a superficie parece toda recoberta com gelo seco e torna difícil a visualização dos nativos. Só que eles não ficam assustados muito tempo e logo acabam com outro sujeito. E o vulcano tem que tomar uma difícil decisão quando Scott informa que a única chance deles é usar a energia dos phasers para abastecer a naveta. Um artifício de roteiro, diga-se de passagem, simples e elegante, distante do que teríamos na “Nova geração” (“tive uma ideia, Geordi, se ligarmos em linha os solenóides neutrônicos dos phasers, talvez pudéssemos induzir uma reversão protônica nos cristais de dilitium e iniciar uma reação em cadeia”).


Com dois mortos – o número perfeito pra Spock não ter que escolher quem ficará no planeta – e cercados por humanóides gigantes, o vulcano tem que enfrentar a rebeldia de sua pequena tripulação, que por pouco não se amotina. Quem principalmente parece culpar o sr. Spock por tudo é o tenente Boma, o que soa injusto, já que ele é interpretado por Don Marshall, o futuro copiloto de “Terra de gigantes”. Tudo bem que Roddenberry queria enfatizar a multiculturalidade em sua série, mas dado o que acontece com ele aqui e no seriado de Irwin Allen, seu pé frio deveria ser mantido longe da ponte de comando de qualquer nave do Universo!


Embora o suspense seja bem construído mecanicamente pelo roteiro e pela direção, que se vale bem de seus parquíssimos recursos, o episódio peca na caracterização dos personagens. O Spock que conhecemos pode não ter emoções (ha, ha, ha), mas respeita as dos outros e jamais se abrogaria o direito de escolher quem vive ou quem morre – a não ser que pretendesse ser um dos deixados para trás. Afinal de contas, a própria série aponta que este teria sido o grande pecado de Kodos, o Executor, no espetacular “A consciência do rei”. Também a unidade da tripulação da Enterprise, como imaginada na utopia de Roddenberry, dificilmente entraria em colapso por tão pouco. E tudo bem que Kirk fosse amigo pessoal de Spock e McCoy, mas depois de tanto esforço despendido tentando resgatá-los, ele é comunicado da morte de um sujeito do grupo de busca e nem parece se importar muito. Esse absurdo favorecimento pessoal pouco tem a ver com o positivismo igualitário vendido pelo resto do seriado.
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Enfim, este programa tem altos e baixos e desperdiça a chance de criar mais um momento memorável de “Jornada nas estrelas”. Sua apologia à criatividade frente a desafios inesperados reflete o individualismo americano, sem maiores novidades quanto ao que se produzia na época pra tevê, o que não é típico da melhor série de ficção científica já feita. Mas, para nos lembrar desse status, sobra o roteiro com uma situação de tensão crescente e suspense e uma direção que cumpre sua função mesmo tendo para trabalhar apenas pedras de isopor, gelo seco e uns extras altos com peruca, filmados de longe.

Digno de nota:

- Contagem de corpos: três tripulantes.
- Por que o médico de bordo e o engenheiro-chefe estão num grupo para pesquisar fenônemos cósmicos esquisitos?
- No final, Spock faz um gesto desesperado: solta o combustível e o incendeia, para sinalizar à Enterprise. Ficam as perguntas: com que oxigênio o combustível queimou? Se a nave é movida a algum tipo de energia eletromagnética, como se deduz por usar phasers para decolar, que combustível é aquele? O que tem de tão desesperado em morrer dois minutos antes se sua ideia não der certo, já que eles iam cair do mesmo jeito?
- Avistamentos de tenente Leslie: na ponte de comando, preocupado com o grupo de busca.

Pronto, Já Dei um Jeito






Enviadas pelo Minhoca. Não sei o linque original.

A Blitzkrieg Alemã Parte III

A primeira parte deste artigo está aqui, em uma nova janela.

E aqui está a segunda parte.

A I Guerra acabara, embora na época eles ainda não soubessem que tinha sido só a primeira. Os alemães tiveram que embarcar numa onda que lhes era completamente alheia: a democracia. Os vencedores voltaram a seus afazeres, não mais sábios, porém mais pobres, com exceção dos Estados Unidos da América - a nova e emergente superpotência - agora mais experientes, embora também não mais sábios. Apenas a França imaginou que a Alemanha não iria ficar muito tempo quieta sem querer dominar o mundo, afinal, falando uma língua com declinações você só pode filosofar ou conquistar o planeta. E, como Nietzsche tinha unido as duas vertentes no final do século XIX...

O problema com os gauleses é que mesmo sendo mais espertos que os outros vencedores, ainda assim também não eram tãããããão mais espertos. E se prepararam não para lutar o conflito vindouro, mas para lutar a guerra de 1914-18, que tinham acabado de vencer, embora tivessem se preparado não para lutá-la, mas para lutar a guerra franco-prussiana de 1870... percebem um padrão aí?

Tudo bem que é fácil criticar olhando retrospectivamente, mas depois de se prepararem para uma guerra de movimento em 1914, os franceses estavam convencidos de que a próxima porradaria novamente seria um confronto de entrincheirados artilhados e quem tivesse a melhor trincheira ganharia. Daí construíram as gigantescas fortificações da Linha Maginot que virariam sinônimo para "maior mico" em história militar.

O problema é que quem bolou essa estratégica conservadora foi o Pétain e seus auxiliares, tudo militar. E, como já diz um velho ditado, guerra é um assunto sério demais pra ficar nas mãos dos militares. H. G. Wells previu em sua "História Universal" que o conflito avizinhando-se seria travado por máquinas blindadas, o que pôde ser visto na adaptação cinematográfica de seu livro (que não li) "The Shape of Things to Come". Mas Wells era um escritor, não um guerreiro. Embora tudo que é filme condene a lavagem cerebral que os recrutas sofrem quando em treinamento, há que se lembrar que nem todo mundo está disposto a morrer pela sua pátria, portanto é melhor fazer os caras agirem por reflexo e irem pra linha de frente sem parar pra pensar, "peraí, isso aí é bala de verdade! Que que eu tô fazendo aqui? Eu quero ir pra casa!" E uma vez tão bem treinado pra não raciocinar, é difícil abandonar o hábito.

Mas voltemos à linha Maginot. Quem a ideou foi Pétain, que venceu em Verdun com um pensamento radical para os generais da época: evitando o desperdício de vidas e mantendo uma defesa bem postada. Daí que quando se tornou Ministro da Defesa botou pilha pra fazer na fronteira com os germanos uma parede fortificada, um série de supertrincheiras. O velho marechal tinha visto a carnificina de 14-18 em primeira mão e sua obsessão com fortalezas advinha de uma genuína preocupação com a vida de seus subordinados, mas infelizmente a dinheirama gasta com o projeto comprometeu os gauleses com a guerra de posição e quando os avanços tecnológicos dos anos 30 tornaram o tanque a indisputável estrela do campo de batalha, os franceses, com exceção de De Gaulle, preferiram se aferrar à sua blindagem imóvel.

E tão obcecados eles ficaram que nem se importaram quando os belgas, tentando se apegar à sua neutralidade, não permitiram que a linha Maginot se estendesse por dentro de seu território. Em 1914, justamente para se desviar da infantaria e das fortificações francesas, os alemães tentaram flanquear os gauleses com um avanço pelas planícies da Bélgica, e já ensaiaram nos quatro anos que ficaram lá as atrocidades que fariam a partir de 1938 (na Tchecoeslováquia). Mas nem isso comoveu Alberto & os belgicanos. Uma muralha frontal que não se estende até a parede lateral não costuma ser boa proteção, mas Pétain não conseguia enxergar nada além da necessidade de se entrincheirar. Além do mais, em caso de conflito, a Bélgica se aliaria à França e à Inglaterra e os três exércitos se concentrariam nas planícies de Flandres.

Já do outro lado da fronteira, os alemães, como perdedores da guerra, chegaram à conclusão que era preciso pensar então em outra maneira de conquistar o mundo. Como foi contra eles que os tanques foram usados pela primeira vez, e em quantidade, eles acabaram desenvolvendo muito mais respeito pela arma do que os aliados, que nunca tinham lutado contra blindados - os germanos tinham construído só 20 monstros mecânicos, lentos demais, pesados demais, mal armados demais, grandes demais. Como a tecnologia de motores dos anos 10 não permitia aos mastodontes de aço mobilidade e confiabilidade suficentes, pra maior parte dos generais vencedores aquelas máquinas não compensavam o trabalho que davam. Mas os prussianos tinham-nos visto pelo outro lado e sabiam como era apavorante mesmo para o seu soldado, o mais bem treinado e mais disciplinado do mundo, encarar aqueles leviatãs à prova de balas.

O último comandante supremo dos exércitos alemães na I Guerra tinha sido Ludendorff (extra-oficialmente; nominalmente o chefe era Hindenburg), que declarou depois do conflito que se tivesse homens suficientes pra produzir os tanques, tê-los-ia alistado. Ludendorff não imaginou que os blindados poderiam economizar vidas, tão comprometido estava com a guerra de posições e a ideia de que o país que tivesse o último soldado de pé seria o vencedor. Esse raciocínio ficaria obsoleto com a tecnologia. Com a derrota, o exército alemão seria desbaratado e, quando Hitler o montou novamente, teve que lançar mão de vários generais jovens (para o cargo, é claro), que tinham sido oficiais de linha de frente nas trincheiras e que sabiam o valor do carro de combate.

Blonde Bombshell (Reprise)


Minha irmã no Museu Aeroespacial de Campo dos Afonsos

Descontração em Barcelona










O Caderno de Caligrafia

Cada pessoa um imprevisível fantasma
Com carne e voz
Cada objeto uma manifestação
do divino e do sobrenatural
A mãe é a bruxa a rainha
A fada madrinha
O pai é o monstro o soberano o príncipe
O mago com um plano

Até que a alfabetização sufoca
A esquizofrênica imaginação
E cada criança se torna uma repetição
Numa linha de caderno de caligrafia

Um velho já ressecado e rabugento
Esperando lentamente seu disfarce cair
E revelar seu verdadeiro e previsível
E decadente e mortal eu

setembro 20, 2009

Os Mais Belos Poemas de Amor

When You're Old, de William Butler Yeats

When you're old and grey and full of sleep
And nodding by the fire take down this book
Read slowly and dream of the soft look
Your eyes had once; and of their shadows deep

How many men loved your moments of glad grace
And loved your beauty with love false or true
But one man loved the pilgrim soul in you
And loved the sorrows of your changing face

And now bending down beside the glowing bars
Murmur, a little sadly, how love has fled
And took its pace the mountains overhead
And hid its face amid a crowd of stars

Livre tradução minha:

Quando você for velha e grisalha e cheia de sono
E assentindo junto ao fogo pegar este livro
Leia-o devagar e sonhe com o suave olhar
Que seus olhos tiveram um dia; e com suas sombras profundas

Quantos homens não amaram teus momentos de adorável graça
E amaram sua beleza, com amor falso ou verdadeiro
Mas um homem amou a alma peregrina em ti
E amou cada tristeza do teu rosto que mudava

E agora, curvando-se sobre as barras incandescentes
Murmuras, um tanto melancólica, como o amor voou
E tomou seu caminho pelas montanhas acima
E escondeu seu rosto entre uma multidão de estrelas

Três Filmes Que, Se Feitos Hoje em Dia, Ia Todo Mundo Preso (+ um Duvidoso)

1.A Menina do Lado

O título remete ao “A Mulher do Lado”, do Truffaut. E Alberto Salvá também mostra a influência do grande gaulês ao contar com tanta delicadeza uma historinha de amor (incluindo muito sexo) que a gente até esquecia que tinha ido ao cinema pra ver ninfetinha pelada, a Flávia Monteiro, que chegaria ao auge da fama com “Chiquititas” e uma capa da Playboy... quase 20 anos depois dessa fita. Sim, porque ela tinha 14 anos quando primeiro tirou as roupas para uma câmera. Em conformidade com a legislação da época, só víamos os peitos e a bundinha da mocinha ao lado do Reginaldo Faria nu se esfregando nela simulando sexo.

E Flávia Monteiro não era aquela sua vizinha gostosa de 14 anos que parece mais velha. Com um rostinho infantil até hoje (o que a ajudou em “Chiquititas”) e um corpo magrinho com pernas finas que não tinha nada a ver com a recém-balzaquiana que posou pra Playboy, ela parecia até mais nova como Alice, a menina de 13 anos que se apaixona por um sujeito trinta anos mais velho (uma fantasia de muitos quarentões).

Mas, como eu já disse antes, a coisa toda é contada com tanta delicadeza, a Flávia Monteiro está tão bem na fita e a personagem que ela faz é tão interessante que até as cenas de sacanagem fluem naturalmente. Ajuda bastante que o enredo é a história real do diretor Alberto Salvá e da coprodutora Elisa Tolomei (Elisa, Alice, sacaram?). Os dois se conheceram em Búzios lá por volta de 75, quando a cidade realmente era deserta o suficiente prum escritor querendo isolamento se internar e pruma ninfetinha andar com os peitos de fora na praia o tempo todo, mas já em 1987, mesmo na baixa temporada, este hábito já parecia ficção científica.

A Playboy nesta época publicava menores de idade (algumas só peitos e bundas, como Verônica Rodrigues, outras despudoradamente completamente nuas, como Luciana Vendramini,
Andréa Cardoso e Marianne, que completava a edição de junho de 1991 com Isadora Ribeiro), mas depois que lançaram um livro com aspirantes a modelo de até 12 anos seminuas e fazendo caras e bocas, o infame “Anjos Proibidos” (que o blogueiro chegou a ver num sebo), proibiram essa semvergonhice.

2.Fulaninha, de David Neves

David Neves também tinha excelente mão para botar de pé filmes sem muita trama e ainda torná-los interessantes para os espectadores. Aqui basicamente ele conta o cotidiano de três quarentões solitários que estão sempre tomando umas e outras num pé-sujo em Copacabana, sendo que um deles, um diretor de cinema, é meio obcecado com uma adolescente gostosinha que tá sempre passando por ali. Pra dar profundidade e vida a essa ninfetinha, David Neves mostra ela várias vezes trepando com o namorado no terraço do prédio. Ajudou certamente na bilheteria mostrar a neta de 16 anos do Vinícius, a Mariana de Moraes, sem roupa, e tanto era este o gancho do filme que a garota na época do lançamento ainda andou indo pegar um sol em Ipanema sem sutiã, o que garantiu fotos em vários jornais e revistas.

Mas Mariana de Moraes tinha uma voz chata, chata, e estava longe de mostrar o carisma de Flávia Monteiro na tela, daí que a cena que o blogueiro melhor lembra da fita é quando o diretor, Cláudio Marzo, esbarra na mãe da adolescente, Kátia d'Angelo, engatam casualmente uma conversa e marcam um encontro à noite e, mais tarde, saindo do banho, quando toca o telefone, ele exclama consigo mesmo, “droga, é ela desmarcando”. De qualquer forma, o longa é bastante simpático e agradável e as cenas em que Mariana entra nua e sai pelada aumentam sobremaneira o interesse do público masculino.

3.Beau Pére, de Bertrand Blier

Passou no Brasil com esse título mesmo, em francês. O prestigiado diretor Bertrand Blier analisa a vida emocional de um artista de 30 anos que precisa assumir responsabilidades quando sua esposa morre e sua enteada de 14 anos vai morar com ele. Sua vida não parece estar indo a lugar nenhum, ele parece se recusar a crescer ainda assim e por isso, quando a ninfetinha diz que quer dar pra ele, ele primeiro fica embatucado, mas no final os dois acabam ficando juntos. Ariel Besse mostra os peitos generosamente, mesmo tendo apenas 15 anos e a fita trata toda a história com leveza, descartando a perversão que está na base da obsessão de Humbert Humbert. Robert A. Heinlein e Rubem Fonseca (e um monte de pedófilos) aprovam essa visão positiva de sexualidade infantil (Heinlein abunda de adolescentes sexualmente ativas em suas ficções científicas e Rubem Fonseca tem um conto em que um quarentão é amante de uma menina de 13 anos e cita estudos psicológicos que mostram que adolescentes sexualmente precoces teriam na verdade mais maturidade).

E, por fim, o que seria isso hoje em dia?


Com Licença Eu Vou à Luta

Na época essa história de uma garota de uns 14 anos que tinha um caso com um sujeito casado e bem mais velho, contra a vontade da família conservadora, foi considerada um exemplo de ousadia, de valentia e de independência da mulher. Com o atual cerco à pedofilia será que esta fita seria produzida e depois disso ainda vendida como uma lição de vida para as adolescentes apaixonadas? Se bem que vem aí um filme sobre a Bruna Surfistinha que é capaz de ser igual às novelas “rurais” da Globo no final dos anos 80, início dos 90, em que prostituição era mostrada como sendo uma vida divertida e recompensadora, ao contrário da caretice das mulheres velhas e feias da cidade.

Grandes Obras de que Todo Mundo Gosta, Menos Eu

O Jogo de Amarelinha, de Cortázar

Cortázar é o meu escritor argentino preferido. Nunca tive muita paciência com a erudição abstrata de Borges. É bem verdade que li muito pouco dele, mas meu gosto pessoal sempre foi por artistas mais humanistas e menos dedicados à forma ou ao esteticismo e a literatura do Cortázar neste aspecto é mais emocionante do que a do cegueta.

Mas quando pela primeira vez fui encarar um romance dele, foi um sofrimento. Foi o seu clássico, “O Jogo de Amarelinha”. Só o efeito especial que tornou o livro famoso já devia ter me deixado precavido, a história de que os capítulos podiam ser lidos em determinada ordem, ou em outra, ou poderiam ser lidos capítulos extras, ou pulados, ou mesmo postos em qualquer ordem. Ooops, o troço não tem começo e nem fim, ninguém aprende nada e vamos ter uma narrativa circular. Tudo bem, Beckett fez seu nome assim e sua trilogia Molloy/Malone Morre/O Inominável é do caralho. Mas ele teve o bom senso de não tentar contar historinha de amor.

O que dizer? Tudo bem que o portenho não tem culpa nenhuma, mas o primeiro problema com “Amarelinha” é que é obviamente o modelo pra muuuuuuuitos imitadores contistas brasileiros modernos. E romancistas também. Quantos e quantos artistas que não têm muito o que dizer, que são pessoas extremamente sensíveis (mas só em relação ao que acontece a eles) não encheram páginas e páginas com prosa tortuosa e angustiada, meio mágica e meio poética pra expor um romance que tiveram com uma mulher maluca, como se fosse algo único e inesquecível. Qualquer sujeito que goste da coisa e tenha feito uma faculdade de humanas ou um curso de teatro já passou por isso umas três vezes só no primeiro semestre. Como esse povo normalmente não tem emprego ou contas a pagar no fim do mês veem uma intensidade na coisa que só pode levar aquela turma que já comeu as três no primeiro semestre a pensar, “que manés”.

Mas o pior são os efeitos especiais. Como uma historinha de amor entre dois adolescentes (às vezes tardios) com suas briguinhas idiotas e o que eles pensam ser ousadia normalmente não tem incidentes que realmente interessem a outras pessoas (e os autores raramente estão a fim de REALMENTE serem confessionais e abrirem MESMO o coração porque têm medo de se expor), então dá-lhe mistura de estilos, parágrafos enormes, técnicas cinematográficas, rubricas teatrais e tudo o mais que puder distrair o leitor da falta de conteúdo.

Mas, como eu disse anteriormente, o Cortázar não tem culpa dos seus imitadores. Ele tem uma vida mais interessante, mas em “Amarelinha”, assim como os caras acima, não se dispõe realmente a abrir seu coração. Apenas quer que projetemos as maluquinhas pelas quais fomos apaixonados na Maga. A ideia de nunca marcarem um encontro e sempre acabarem se encontrando pode parecer poética e cármica, a menos que você se lembre que antes de todo mundo constituir família, você sempre encontra as mesmas pessoas nos lugares aonde vai à noite.

Mas onde o Cortázar me perde e praticamente onde eu parei a leitura foi quando ele começou com o papo de que só ele realmente entendia Louis Armstrong. Que os burgueses tinham passado a gostar do Satchmo justamente quando ele já não era tão bom, só ele e a Maga compreendiam o que ele significava. Foi por causa de uma dessas que me perdi grande parte do meu interesse em Rubem Fonseca, quando em “Agosto” ele conta que o delegado realmente entendia ópera, ao contrário dos ricos que tinham a grana pra ir ao Muncipal e não eram verdadeiros adoradores de ópera.

Essa atitude é indesculpável. Cada vez que leio uma tentativa de agregar valor cultural dessas, lembro de cara daquela história do Fritz the Cat, em que os artistas iam pra praça com seus instrumentos tentar comer mulher e ficavam discutindo, cada um berrando cada vez mais alto “a minha alma é muito mais genuinamente sensível do que a sua”. É insincero. É o caminho para a perdição (cf. “Os Demônios”, Dostoievski. Se você não entender o que tem a ver, é porque só eu realmente compreendo o russo genial). É uma adulação ao leitor, que sorri consigo mesmo e pensa “só nós dois, né, Cortázar, sabemos admirar a verdadeira arte”, enquanto for a da biblioteca um monte de gente está admirando verdadeiramente a verdadeira vida. E, à Woody Allen (que em breve ganhará um imenso capítulo nesta série), joga a culpa por fracassos numa humanidade desumana sem sensibilidade para os diferentes.

Bem, e foi assim que larguei “O Jogo de Amarelinha”. Perdi o livro na mudança. Não faz mal. Ainda tenho “Todos os Fogos o Fogo”. Cortázar é maneiro.

setembro 08, 2009

Os Melhores Não Têm Medo de se Apregoar Como Tal


Personal Consultant

Bernard Madoff foi preso. Pra sobreviver por trás das grades, contratou um personal trainer especializado em prisões para ensiná-lo como viver vendo o sol nascer quadrado. Não, não estou brincando. Clique aqui e veja o anúncio da empresa, especializada em assistência a criminosos de colarinho branco e ex-executivos de Wall Street.

setembro 07, 2009

Ivan o Artista




Private joke.

Careta



Aniversário do Serginho Parte II

Role o blogue abaixo para a primeira parte...















Do Nosso Enviado Especial, o Panameño:

JUSTIÇA NOS EUA DECIDE: ESPERMA MASCULINO UMA VEZ EJACULADO DURANTE RELAÇÃO SEXUAL PASSA A SER PROPRIEDADE DA MULHER!


Usar esperma para engravidar sem autorização do homem não caracteriza roubo porque uma vez ejaculado, o esperma se torna propriedade da mulher.

O entendimento é de uma corte de apelação em Chicago, nos Estados Unidos, que devolveu uma ação por danos morais à primeira instância para análise do mérito.

Nela, o médico Richard Phillips acusa a colega Sharon Irons de traição calculada, pessoal e profunda ao final do relacionamento que mantiveram há seis anos. Sharon teria guardado o sêmen de Richard depois de fazerem sexo oral, e usado o esperma para engravidar.

Richard Phillips alega ainda que só descobriu a existência da criança quando Sharon ingressou com ação exigindo pensão alimentícia.

Depois que testes de DNA confirmaram a paternidade, o medico processou Sharon por danos morais, roubo e fraude.

Os juízes da corte de apelação descartaram as pretensões quanto à fraude e roubo afirmando que a mulher não roubou o esperma.

O colegiado levou em consideração o depoimento da médica.

Ela afirmou que quando Richard Phillips ejaculou, ele entregou seu esperma, deu de presente.

Para o tribunal, houve uma transferência absoluta e irrevogável de título de propriedade já que não houve acordo para que o esperma fosse devolvido.

Ou seja, agora é oficial: Os homens não mandam mais em porra nenhuma!

O Colunismo Arte

Li a coluna de Fernando Calazans no Globo de segunda-feira. Novamente
ele reclamava e enaltecia o passado. Pois é, leitor... Temos que
conviver hoje com colunistas sem imaginação, burocráticos, que
repetem o mesmo texto coluna após coluna. Isto, amigos, no jornal O
Globo, na imprensa carioca. Imprensa carioca que nos deu nomes
como João Saldanha, Nelson Rodrigues, Mario Filho... Imprensa carioca
em cujos jornais se liam crônicas de Sandro Moreyra, Armando Nogueira
etcetcetc

(De um amigo)

setembro 03, 2009

Poesia Picareta

Nariz enorme
Cara pequena
Pele de cor errada
Cabelos embaçados

Web quem?

Os Fantasmas (início de um projeto...)

Os fantasmas são os piores. Porque eles existem, eu sei, mas o resto das pessoas não sabe, então eu não posso chegar pra minha médica e dizer que ultimamente tenho me sentido pior porque os fantasmas andam me seguindo pra tudo que é lado, até quando eu tô trepando - e alguns não entendem porra nenhuma das cordas e dos prendedores de mamilo - aí é que ela ia me internar mesmo, mas não é isso, não é a cabeça, eles estavam por perto muito antes do resto, eles já estavam por perto quando eu era garota, eu só não sabia quem eles eram, eles sim, eles é que sempre souberam quem eu era, sempre, mesmo que eu, eu mesma, eu mesma não saiba até hoje.

São três dias, três dias já, nunca levou tanto tempo, nem em nenhuma menstruação, nem quando eu perdi a virgindade e eu nem sei, já nem sei do que eles estão atrás, de que sangue eles estão atrás, que sangue eles querem, qual sangue, se eles querem meu sangue, terão o meu sangue, verão o meu sangue só no fim, já até joguei as agulhas fora, mas eles continuam me seguindo, não, não é verdade, eles não vêm me seguindo, eles só pairam, só ficam por aqui, aqui pelo prédio, rodando pelo prédio, pelos corredores, pela escada, no elevador, no hall, na entrada do apartamento, na sala, no banheiro, no quarto, no meu quarto, sobre a minha cama, sobre a minha cama na hora de dormir, não é a hora de dormir, não, não é, eu não durmo, eles não deixam, eu não durmo, eles só ficam olhando, olhos nos olhos, abertos ou fechados, não adianta eu fechar que eles continuam olhando, eu continuo olhando, eu continuo olhando mesmo com os olhos fechados, sem dormir, sem sonhar, sem alucinar.

Só vendo aqueles fantasmas.

Aniversário do Serginho Parte I