setembro 12, 2006

A Blitzkrieg Alemã

Em 1939, a Alemanha de Hitler, muito menos armada do que a lenda faz acreditar, fez um arrastão na Europa, atropelando todos os exércitos que via pela frente, alguns deles com ampla superioridade numérica e outros com mais e melhores armas. Por três anos, a Wermacht fez milhões de prisioneiros, assenhoreou-se de dezenas de países e destroçou exércitos e reputações, até os generais adversários descobrirem que podiam usar o mesmo conceito contra os alemães - e se você acha que três anos é tempo demais para se chegar a esta conclusão, precisa ver o que as maiores inteligências militares do planeta fizeram durante a Primeira Guerra, de 1914 a 1918. Este conceito era a blitzkrieg - a guerra-relâmpago.
Enquanto os generais aliados, vencedores em 1918, prepararam-se para lutar na década de 1940 a mesma guerra outra vez, fazendo planos para uma espécie de Grande Guerra 2 - Desta Vez é Pessoal, os alemães, reconstruindo um exército praticamente abolido quando da assinatura do tratado de paz, criaram um conceito de combate muito mais avançado, em que uma vanguarda móvel, protegida por blindagem - tanques - apoiada por aviões e infantes motorizados levava o som e a fúria através das linhas inimigas, semeando o caos e a confusão. Après moi, le déluge. Contado assim, não parece nada revolucionário, o segredo está nas sutilezas e na forma pela qual o poderio industrial - as máquinas e motores - não eram usados. Além disso, surgindo numa época e continente que passaram mais de quinhentos anos aperfeiçoando a luta a pé, com fileiras cerradas de soldados avançando lentamente lado a lado e que valorizava como principal instrumento da vitória a disposição do sujeito em atravessar centenas de metros debaixo de balas bem empertigado, tendo como uma única proteção um tecido de cores berrantes e espalhafatosas e, se possível, cantando o hino do regimento (que, pelo jeito da coisa, devia ser algo como "atire em mim... atire em mim... atire em mim").
Para entender perfeitamente o impacto dessa forma de lutar, é preciso recuar para cem anos antes. Por volta de 1850, o campo de batalha ainda era dominado pelas mesmas armas do começo da era da pólvora. Os canhões eram pesados tubos de bronze sobre carretas de madeira, que pulavam assustados para trás com cada disparo. Os infantes portavam mosquetes que funcionavam pelo mesmo princípio. Para cada tiro devia se limpar o cano, derramar pólvora para impulsionar a bala, socá-la, pôr a bala, socá-la também e encher um pequeno compartimento com mais um pouco de pólvora. Uma mecha, nos canhões e uma cápsula, nos fuzis, ateava fogo neste punhado de pólvora, que levava a chama até aquela no cano e a inflamava explosivamente, impelindo o projétil. Depois disso tudo, no caso da artilharia, os soldados ainda teriam que empurrar a carreta de volta à sua posição original, dado o recuo. Já um bom atirador, muito bem treinado, daria três tiros por minuto. Em pé, pois precisava derramar tudo para o tiro pela boca da arma.
Com esse mecanismo de disparo, a bala partia cerca de um segundo depois de pressionado o gatilho. Não havia mira, os soldados eram treinados a apontar diretamente para a sua frente, na massa compacta de inimigos que avançavam ombro-a-ombro. Os atacantes alcançavam os defensores no intervalo da recarga e lutavam corpo-a-corpo. Tendo que atirar em pé, defensores e atacantes se encotravam em campo aberto. Em se tirando a substituição de batalhões de mercenários por exércitos nacionais de soldados-cidadãos, consequência da Revolução Francesa, a luta se desenvolvia como no século XVII e as armas que dominavam o campo de batalha eram a artilharia e a baioneta, aquela lâmina que se atarraxava na boca do cano dos mosquetes, mais leves, precisos e que já haviam perdido o péssimo hábito de explodir na cara dos atiradores, mas ainda longe de aproveitarem tudo que a Revolução Industrial pusera à disposição. O primero sinal de que o tempo ia fechar foi a invenção da bala Minié.
A bala Minié, inventada por um oficial francês chamado - dã - Minié, tinha um formato tal que se achatava na hora do disparo, dilatando-se para os lados, o que a fazia encaixar-se em pequenos canais no cano - as estrias. Estas, em espiral, faziam o projétil girar e davam um alcance e precisão anteriormente somente à disposição dos batalhões de Caçadores, que sabiam como forçar balas em canos estriados sem destruir nenhum dois dois. Qualquer um a quatrocentos metros de um infante armado passou a ser um alvo móvel. Na Guerra Civil Americana, um franco-atirador confederado matou a setecentos e trinta metros de distância um general ianque que havia se posto de pé na trincheira a gritar "dessa distância não acertaríeis sequer um elefante". A seguir, veio o rifle de carga pela culatra.
Podendo enfiar a bala por trás do cano, o soldado podia atirar deitado. Qualquer vala podia proteger um homem. Os primeiros desses fuzis usavam cartuchos de papel e percussores de agulha, o que os limitava a um disparo por vez, mas logo em seguida foi adotado o cartucho metálico de latão e o mundo finalmente conheceu os rifles que disparavam até vinte tiros em seguida. Imagine você, num campo de batalha, tendo que enfiar uma bala, fazer mira, disparar, sair de posição, abrir a culatra, pegar outra bala, enquanto um inamistoso sujeito já deu sete tiros sem precisar alterar a posição. Devia ser bastante incômodo. Desagradável. Mas podendo atirar deitado, protegido numa trincheira, em rápida sucessão e, logo depois, com o apoio da metralhadora e dos canhões de tiro rápido, o infante podia trucidar a linha de sujeitos cantantes que vinha em sua direção. Foi a era da indefinição da guerra (curiosamente, no mar, a introdução do couraçado também tornou quase impossível afundar um navio. Antes do surgimento dos grandes canhões de fogo rápido, durante alguns anos o abalroamento do inimigo voltou a ser uma tática válida!!!!).
E agora? Como enfrentar de peito aberto - e mágoas no coração - um inimigo com alto volume de fogo e proteção? Vejam na segunda parte deste artigo.

1 comentário:

eduardo disse...

Amigos, saudações!!
Estou pesquisando para meu mestrado em história na UFPR e gostaria que alguém me indicasse fontes sobre o uso dos Fuzis Dreyse, a Minié e a Tige na campanha contra Oribe e Rosas perpetrada pelo Império do Brasil entre os anos de 1851/52.
Se algém puder me ajudar eu agradeço de coração.
Meu e-mail é:
edualex10@gmail.com