janeiro 27, 2009

Os 25 Culpados pela Crise Mundial

Cansou das listinhas de 25 melhores personagens do cinema (todos americanos e de filmes da década de 70 pra cá) e dos quadrinhos (idem)? Lista boa é esta aqui, da série do The Guardian, "Road to Ruin" (Estrada para a Perdição). Está em inglês e arrola os 25 culpados pela crise mundial, desde o público americano e Bush a Clinton.

A lista também contém "Seis sujeitos que avisaram que ia dar merda", entre eles George Soros e Warren Buffet, que disseram, um que o mercado de derivativos era incompreensível até pra ele, e outro que era "puro Mal". Mas o melhor é Andrew Lahde, que se aposentou em outubro passado após ficar rico apostando contra a bolha especulativa imobiliária. Ao abandonar o mercado financeiro, ele mandou uma nota pra imprensa, agradecendo os idiotas que o fizeram milionário, explicando como odiava o negócio de investimentos, como o povo que aplicou em derivativos era indigno dos pais que pagaram a maior grana preles estudarem em Harvard e afins, como ia curtir a vida a partir dos 38 anos em vez de se preocupar em juntar mais dinheiro do que podia gastar e viver estressado por não saber se divertir e termina tudo pedindo a legalização da maconha. Putz, taí um cara a quem eu entregaria meu dinheiro. Por que são sempre os piores que estão cheios de apaixonada intensidade?

Dica do blogue do Jorge

Piada Pronta

Um livro sobre bissexualidade chamado OS PÁSSAROS VÃO MORRER NO PERU não pode ser sério.

Romance "Da vida dos pássaros" trata de paixões, drogas e bissexualidade na década de 1970
Inspirado por um filme intitulado Os pássaros vão morrer no Peru, um jovem brasileiro viaja para Lima e lá passa a viver no limite.

Total falta de compromisso com o amanhã, desejo de aventura e busca incondicional do autoconhecimento, misturando liberdade e libertinagem, impulsionam Alexandre, um brasileiro de 19 anos, a viajar para Lima, no Peru, a fim de descobrir a América do Sul. Ali ele conhece Michael, que se tornará seu grande companheiro, e Pilarsita, que disputará com ele o amor de Alexandre. Essas e outras personagens ricas e marcantes, ao lado de um contexto histórico muito peculiar, criam uma história original e envolvente. Da vida dos pássaros (184 p., R$ 39,90), romance de Alexandre Ribondi, lançado pelas Edições GLS, mergulha na paixão, na sexualidade e até na contravenção enquanto retrata o panorama político durante a vigência dos regimes ditatoriais do continente sul-americano (...)

janeiro 25, 2009

Sílvia Machete canta "Carlos, Erasmo"


O Sesc de Copacabana está apresentando uma trinca de shows com o nome de "Off-Tropicália" com artistas diversos fazendo um verdadeiro "cover" de discos brasileiros do final dos anos 60 e início dos 70. O blogueiro prefere ouvir o próprio Artista Anteriormente Conhecido Como Jorge Ben tocando coisas como "Bebete Vãobora" em um de seus frequentes shows no Circo Voador e nem conhecia "Build Up" de Rita Lee, julgando que o primeiro disco solo dela fosse "O primeiro dia do resto de sua vida", que também não ouviu, mas sempre foi fã de Roberto e Erasmo Carlos e quando soube que iam tocar a íntegra de "Carlos, Erasmo", bandeou-se para os lados da Princesinha do Mar doido para reencontrar a sonoridade hippie do álbum, que, tecnicamente, está mais para o som pós-tropicalista de Walter Franco e Sérgio Sampaio do que para o movimento original.


Esta fila é pra comprar ou pra entrar?


A primeira surpresa foi a dificuldade para adquirir ingresso. Protegido pela sorte, o blogueiro pegou o antepenúltimo lugar vago no teatro. A própria cantora, Sílvia Machete, reconheceu que os seus shows não costumam estar tão cheios. Não sendo ela exatamente uma superstar e nem o disco exatamente um clássico da MPB, à sua época um produto algo inesperado para os fãs da Jovem Guarda apresentado por um artista então desprezado pela intelligentsia, a presença de tanta gente para assistir ao espetáculo só pode ser creditada ao lado bom da era dos downloads, já que o álbum não é exatamente fácil de achar.

Isso não deveria estar vazio?

E justamente por isso a idéia desses shows é ótima - com exceção daquele dedicado a Benjor, que toca músicas do disco selecionado até hoje - já que Rita Lee e Erasmo Carlos enveredaram por outros caminhos e hoje em dia raramente incluem faixas desses álbuns em apresentações ao vivo. Mantiveram-se os arranjos, o andamento e a instrumentação originais (o que, incidentalmente, faz curtos os espetáculos mesmo com a adição de algumas canções extras). E por isso mesmo uma resenha desse projeto certamente inclui uma apreciação da obra original.

"Meus shows não costumam ser assim"


"Carlos, Erasmo" é um tremendo disco. A Jovem Guarda esvaziara e Ronnie Von, por exemplo, já lançara discos psicodélicos acompanhado em estúdio por uma desconhecida banda chamada Mutantes. Erasmo viu seu parceiro e amigo de fé Roberto enveredar pelo soul e seguiu seu exemplo, mas enquanto o Rei era mais romântico e confessional, Erasmo resolveu ser mais hippie mesmo. Gravou os tropicalistas irmãos Valle, Taiguara, Caetano e Jorge Ben com arranjos mais roqueiros e ainda compôs com Roberto canções que jamais entrariam num disco deste, como a sutilmente intitulada "Maria Joana", com versos como "eu quero Maria Joana, só ela me traz beleza nesse mundo de incerteza" ou "Eu vejo a imagem da Lua, Refletida na poça da rua, E penso da minha janela, eu estou bem mais alto que ela". Quando logo depois, no arranjo bem largadão, ele canta que o amor (por ela) vem como nuvem de fumaça só resta imaginar o quê exatamente os caras da censura estavam pensando quando deixaram passar isso. Deviam estar todos doidões.


É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo


Se ainda fosse a única, mas o ótimo blues riponga típico da época "É preciso dar um jeito, meu amigo", tem coisas como "Eu estou envergonhado com as coisas que eu vi, mas não vou ficar calado, no conforto acomodado, como tantos por aí, descansr não adianta, quando a gente se levanta, tanta coisa aconteceu". Se gravado por algum artista engajado ia dar a maior merda. Mas a censura é o de menos, difícil é imaginar que a crítica desprezasse completamente os Carlos por causa de sua alienação. O que só mostra que crítico ou gosta de falar mal do que nem sequer ouve ou tem o QI de um censor.



Ninguém Chora Mais

Da dupla ainda há a pesada "Mundo deserto" e "Sodoma e Gomorra", uma doideira misturando culpa cristã com a idéia de Erich "Eram os deuses astronautas?" von Daniken de que o relato bíblico descrevia um ataque atômico alienígena. A própria Sílvia Machete conta que "esta música me dá medo", o que soa como elogio, já que em algum lugar do horror acusatório ali dentro se esconde uma metáfora da Guerra Fria - e quem estava lá, mesmo na infância, sabe o que era viver à sombra da bomba.



Mundo Deserto


Apesar da sombria tenebrosidade dessa canção, a sonoridade hippie pós-tropicalista da época se destaca pelo entusiasmo. Mesmo sob uma ditadura, a música brasileira estava cheia de apaixonada intensidade. Os refrões convocam os ouvintes a mudar sua vida, repetem-se cheios de vigor mesmo em baladas como "Gente aberta" (eu vou! Eu vou! Eu vou!), com coros em destaque e instrumental agudo e distorcido, e mostram porque o misticismo grassava entre os hippies - afinal eles estavam cheios de fé, na humanidade, num futuro melhor, na liberdade que viria. Após a suave (e não das melhores) "Não te quero santa", Sílvia encaixa uma composição sua que teria feito em resposta e o contraste entre as épocas salta aos olhos - a primeira, no clima (embora não na qualidade) do resto do disco em tempos de revolução sexual é um pedido a não se prender a valores tradicionais. A segunda conta a história de uma mulher chegando bêbada em casa arrependida depois de umazinha, num tom cínico típico de "Radical Chic" (a personagem do Miguel Paiva, não o termo do Tom Wolfe) ou "Sex & the City" e é quase um caso de estudo de como a busca da felicidade através da libertação de obrigações com o que os outros pensam acabou levando à libertação de obrigações com os outros em geral e a um egocentrismo materialista que faz a farra dos analistas, gurus, bispos e neoliberais.



Em Busca da Canção Perdida II

Sílvia Machete é uma excelente cantora em ascensão e, sob os arranjos originais, compensa o vigor áspero (em algumas faixas) de Erasmo com maior técnica e extensão, conseguindo os mesmos efeitos emocionais sem problemas. Na semana em que o blogueiro assistiu ao show, ela estava também se apresentando no Rival com outro repertório, mas mesmo isso não é desculpa para seu único (e grande) erro na apresentação - ela cantou lendo as letras (ou pelo menos assim parecia), o que a levou a, num teatro de arena, passar virtualmente todo o espetáculo de costas para metade da platéia. Para engordar o tempo de duração, Sílvia adiciona ao final duas versões de Roberto & Erasmo, a genial "Sou uma criança, não entendo nada", em arranjo cabaré (não funciona bem) e a brilhante "Ilegal, imoral ou engorda" em versão "big band" de bolso - imagine aquelas orquestrações de Simonal (fica maneira). Seu timbre lembra realmente as artistas da época, inclusive Mariana Fossa, que no álbum original reparte os vocais de "Masculino feminino" e casa muito bem com as músicas. Pra quem gosta desse som pós-tropicalista daquele povo cabeça daquela época em que vivíamos sob uma ditadura, mas tínhamos esperança, é um achado. Pro resto, também.





Sílvia Machete repete o show no Sesc Copacabana neste sábado, dia 31. O blogueiro talvez até volte lá.

janeiro 22, 2009

Ainda Por Cima É Canhoto


"Temos uma trágica falha em nossa preciosa constituição e não sei o que podemos fazer para corrigi-la. O problema é que só malucos querem concorrer à presidência" (Kurt Vonnegut)

Nomes Têm Poder

Em magia, saber um nome confere poder. Saber o nome de um demônio significa poder invocá-lo, saber o nome de um adversário significa poder usá-lo num encantamento... por isso feiticeiros e membros de ordem secreta em geral ganhavam nomes quando de sua formatura.

Mas isso era antigamente e neste nosso moderno mundo de patrocínio, as coisas estão ficando cada vez mais doidas. Os times de futebol americano, por exemplo venderam o nome de seus estádios a seus mecenas e eles agora têm nomes de empresas. Só que o campo lá dentro também tem seu próprio nome! E assim caminha a humanidade. Com tanta gente tentando lucrar e as multinacionais aparentemente sem ter (pelo menos antes da crise) onde gastar sua grana, parecia que todos os espaços já haviam sido explorados. Nem todos.

Aqui você pode acessar o blog de uma mãe grávida que está vendendo os direitos de nomear seu mais novo rebento pela módica quantia de 4.050 dólares. Propaganda na sala de aula, na creche, no refeitório, nas brincadeiras infantis... será que isso não vale 4 pilas, hein, pessoal de mercadologia?

E com a crise cada vez pior, o Obama cada vez mais precisando raspar o cofre pra socorrer as empresas e os bancos, quanto tempo até, como sugeriu o Tuesday Morning Quarterback, pra começar a se vender publicidade nos caças de combate americanos e no Força Aérea Um?

janeiro 21, 2009

Os Mais Belos Poemas de Amor

Pena, Éramos uma Invenção Tão Boa

Eles amputaram
Suas coxas de meus quadris
Ao que eu saiba
São eles os cirurgiões. Todos eles.

Eles nos desatarraxaram
Um do outro
Ao que eu saiba
São eles os engenheiros. Todos eles.

Pena. Éramos uma tão boa
E adorável invenção
Um aeroplano feito de homem e esposa.
Com asas e tudo.
E pairávamos sobre a terra.

E até mesmo ganhamos os céus.

Yehuda Amichai

Filmagem Aqui em Casa






Do curta de ficção científica do Zé José. Eu fiz o Homem-Robô, minha irmã fez a agente russa...

Amigos Reunidos


Acredite se quiser, para jogar Wii...

janeiro 20, 2009

Preparando-se para a filmagem





Prepara-se para ver no featurette do DVD minhas declarações de que todo dia tinha que ficar três horas na cadeira de maquiagem para receber os apliques do homem-robô, que pesavam mais de vinte quilos...

janeiro 18, 2009

Centro da Cidade


Panorâmica do Centro obtida com quatro fotos. Clique nela pra ampliar.

janeiro 17, 2009

Hoje Tem Filmagem Aqui em Casa

Do curta de ficção científica do Zé José. O seu blogueiro irá fazer o papel do Homem-Robô, assim como já fez ontem. Abaixo, uma foto de um figurante.

Eu Gosto de Ter a Imaginação Fértil, Mesmo que Só pra Blogar

Nesta postagem viajei na maionese elocubrando uma partícula quântica temporal, o cronion, que seria correspondente ao menor intervalo possível: o tempo que a luz leva para percorrer a menor partícula existente.

Esta matéria (em inglês) explica que talvez o Universo seja na verdade um holograma. E um holograma com relativa baixa resolução, o que é pior. Deus nem sequer usou uma máquina digital cara na hora da Criação. E fala sobre a possível existência dos quanta temporal - o menor intervalo possível, a distância de Planck (o comprimento da menor partícula que existe) dividido pela velocidade da luz...

A Anac Americana Libera as Gravações da Cabine Pouco Antes do Pouso no Rio Hudson

"Use the Force, Luke"
(Esta imagem, capturada com um celular no momento da amerrissagem por um popular, já tem meu voto para foto do ano)

Sobre Como o Conar Inglês Vai Decidir se Deus Existe ou Não

A Inglaterra também tem os seus bispos e crentes e eles andaram pregando cartazes em ônibus e metrôs avisando algo como "aceite Jesus ou encare a danação eterna". Uma ateia irritada com a agressividade desses povo resolveu montar uma campanha e levantou a grana pra também afixar seus posteres no transporte público com o conselho "Deus provavelmente não existe. Agora para de se preocupar e vá curtir a vida" (1).

Só que a turma das chamas eternas (bela maneira de se vender uma ideia de amor universal (2)) não gostou e acionou o Conar lá de Albion alegando que os ateus estão fazendo uma afirmação sem provas e, portanto, ferindo o código de propaganda, o que significa que um grupo de publicitários vai ter que dar uma palavra final sobre a existência ou não de um Ser Supremo a fim de avalizar uma campanha publicitário. De alguma forma, eu sempre soube que a sociedade de consumo se encaminhava para isto.


(1) Se Deus não existe, tudo é permitido. Mas, afinal de contas, se Deus existe, tudo é permitido.

(2) Lembrando muito o Klaatu d´"O dia em que a Terra parou" original, de 1951, que no discurso final paga geral pro planeta inteiro: "vocês são muito agressivos, violentos e dados a guerras e conflitos hostis. Se não pararem com isso, viremos com nossa gigantesca e bem-armada esquadra estelar usar nossos poderosíssimos canhões laser e torpedos fotônicos para destruir seu planeta e matar todos vocês".

O Globo, o Avião e as Aves

Infelizmente estou sem a foto aqui, mas hoje, por causa daquele acidente nos EUA em que o piloto fez um pouso de emergência no rio Hudson espetacular e ninguém morreu, o Globo publicou na capa, embaixo da manchete sobre o não-sinistro, "enquanto isso no Rio", em que um avião parece estar no meio de uma esquadrilha de aves. Quem me chamou a atenção pra ela foi um amigo, que até falou, "olha só, tem um pássaro que tá pousado em cima da asa". Depois de chamar a atenção para a óbvia impossibilidade disso, expliquei a ele que os bípedes emplumados parecem ser consideravelmente grandes em relação ao aeroplano. Claramente os primeiros estavam mais próximos do fotógrafo do que a imensa máquina voadora.

Além disso, a fotografia foi obviamente tirada com uma teleobjetiva, uma lente que aproxima as coisas, "chapa" os planos. É a que se utiliza para fotografar uma multidão e dar a impressão de que estava tudo muito cheio, é o contrário da grande angular, em que os tamanhos relativos são exagerados e um homem próximo do fotógrafo parece muito maior do que a montanha lá atrás. Logo, os pássaros não só estavam mais próximos do jornalista, estavam MUITO mais perto do que o avião.

E, por último, o que sugere o jornal? O extermínio das aves? O que eu sei é que o governo tem planos de privatizar o aeroporto Tom Jobim e quando a Azul, a nova companhia aérea que está aparecendo, quis operar no Rio no Santos Dumont, lhe foi negada e sugerido o Tom Jobim, o que certamente aumentaria o lucro de quem vier a ter a concessão dele.

janeiro 15, 2009

Love the One You´re With!











Ipanema no Verão Causticante







Sinopse de uma Aventura no Nordeste no início do século XX

Um homem cheio de pó e desilusão caminha pelo Sertão em tempos particularmente inclementes. Um outro viajante junta-se a ele. O primeiro homem, Samuel, vai lhe contando que está fugindo de sua cidade natal. Envolveu-se numa confusão envolvendo, é claro, uma mulher.

Samuel reparte sua pouca comida com o estranho enquanto os dois perseveram debaixo do Sol causticante e conta sua história. De como era apaixonado por Isabel, que era desejada por Jeremias, o chefe dos jagunços do maior dono de terras da região, Sebastião. Com medo dele, o pai da moça, Antônio, ordena a ela que se afaste de Samuel e aceite se casar com Jeremias. Isabel, entretanto, tenta fugir com Samuel. Os dois são rastreados pelo capanga rejeitado, que dá a Antônio a honra de liquidar com o miserável que levou sua filha. Entretanto, mesmo pego de surpresa, Samuel consegue reagir e mata Antônio. Isabel fica horrorizada e, cercado, o rapaz é obrigado a fugir.

O estranho discute com Samuel sobre as traições que ele cometeu ou contra ele foram perpetradas e sobre a natureza dos homens. O viajante crê que o ódio é mais forte do que o amor e Samuel discorda, lembrando que repartira com ele sua comida, mesmo sem o conhecer. É então que o misterioso companheiro revela ser o Diabo e, concordando que realmente lhe fora feito um favor, oferece a Samuel também um presente: se algum dia ele desejasse que seus inimigos morressem, mais do que qualquer outra coisa, assim aconteceria, com uma ressalva, porém: se ele aceitar este oferecimento, estará aceitando o ponto de vista do demônio e condenando sua alma ao Inferno. Além disso, conta-lhe que está reservada para sua vida mandar muitos outros para as trevas e que, por isso, deseja ardentemente que Samuel junte-se a ele no Érebo, como um general de suas tropas. Samuel recusa, diz que jamais usará a dádiva e vai rodar o mundo e aprender, para algum dia voltar e lidar com Sebastião, Jeremias e quem mais fez mal a ele e à sua gente.

Muitos anos depois, Samuel realmente volta à sua terra. Tem agora fama de milagreiro e conhecedor de muita coisa deste mundo e do outro. Jeremias ainda é o capataz e jagunço do poderoso da região, também chamado Antônio, filho do primeiro. Isabel casara realmente com Jeremias, mas morrera logo, ao dar à luz a filha deles, Maria. O capanga conseguiu casá-la com Antônio. Um bando de cangaceiros independentes se aproxima e o apático Antônio não sabe se deve enfrentá-los ou acoitá-los. Jeremias prefere a segunda opção e o imaturo rapaz resolve assim o fazer. Depois, manda chamar o disfarçado Samuel, que chegou à região a pedido dele.

Samuel encontra o rapaz, que lhe revela o que julga ser a fonte de sua apatia e covardia: ele vem sofrendo de impotência. Se esta notícia se espalhar, juntamente com sua decisão de acoitar o bando de cangaceiros, ele perderá todo o respeito que o povo lhe tem, desconhecedor que é de sua personalidade. Samuel lhe faz um preparado e lhe dá conselhos sobre a vida. Depois, sai e encontra a prostituta que era a preferida de Antônio, já que os votos matrimoniais nada lhe significavam e lhe paga o suborno exigido - foi ela, sob ordens de Samuel, que drogou-o com um estranho elixir que é a verdadeira causa de seus problemas.

O preparado de Samuel cura o rapaz, que passa uma noite de amor com sua bela e vivaz esposa, ficando patente que ele a oprime e não a ama. Os cangaceiros começam a viver na cidade, festejando e movimentando o comércio. Antônio, numa dessas festas, junto com alguns cangaceiros, toma uma prostituta, mas não consegue consumar o ato. Sua esposa aparece e ele, irracionalmente, a culpa por ter sugado sua virilidade e chega mesmo a ofertá-la ao cangaceiro. O bandoleiro demonstra tremendo entusiasmo com a proposta, mas ela se rebela e se recusa e vai embora. Antônio discute com o líder do bando.

Mais tarde, Samuel procura Antônio, dizendo-se inteirado do que aconteceu e lhe oferece outra dose do preparado, dizendo que tem efeito temporário. Antônio toma a nova dose e vai festejar com prostitutas trazidas de fora especialmente para a ocasião, convidando os cangaceiros, mas o chefe deles não aparece, dizendo que não quer festejar com um indivíduo que trata daquela maneira sua esposa.

Furioso com esta atitude e sentindo-se inebriado de poder ao receber a notícia de que Maria estava grávida, Antônio decide mandar expulsar os cangaceiros da cidade, mesmo contra os conselhos do fiel Jeremias. A notícia do massacre de seus homens lhe chega justamente quando comemorava a gravidez de sua esposa e o elixir começava a perder seus efeitos. Pateticamente, acreditando que, se fosse viril o suficiente para liderar seus jagunços, mudaria o resultado do confronto, Antônio vai procurar Samuel e exigir que este lhe dê um grande estoque do preparado. O milagreiro responde que dadas as propriedades químicas e místicas de sua poção, é impossível preparar uma grande quantidade de uma vez. Os dois discutem e Antônio agride Samuel. No entrevero, o primeiro acaba morrendo. Testemunhas atestam que o curandeiro agira em legítima defesa.

Na qualidade de sogro de Antônio e avô de seu filho, Jeremias assume os bens do rapaz morto e negocia a paz com os cangaceiros, oferecendo-lhes metade das reses. Manda também convocar Samuel, que ele ainda não reconheceu como seu antigo rival, tentando fazê-lo passar para o seu lado. Samuel finge aceitar, mas incita as prostitutas locais a espalharem a notícia da impotência do falecido latifundiário e a gente da cidade, lembrando-se da noite em que este ofereceu Maria ao chefe dos bandoleiros, começa a falar que é este o verdadeiro pai da esperada criança.

A maledicência chega aos ouvidos de Jeremias. Coberto de ridículo e desonrado, expulsa furioso de casa Maria, que ele conservava como a única lembrança do grande amor de sua vida, a derradeira crença que ele possuía. Desiludido, ele a trata com requintes de crueldade. Estas notícias alcançam o chefe dos cangaceiros que, desde aquela outra noite, sentia-se atraído pela jovem. Ele procura Jeremias e exige a mulher. O velho jagunço concede-a, com ela ressentido, sem o menor pudor.

O líder dos cangaceiros leva Maria e tenta possuí-la à força. A jovem reage e agride seu raptor, o que o faz mudar da ternura para a irritação e os dois acabam se engalfinhando. O homem a agride violentamente e ela acaba perdendo seu filho. Ele abandona a mulher em dores à piedade dos moradores locais e, como compensação pela rejeição que sofreu, resolve saquear a cidade.

Neste ínterim, Samuel leva à gente local as notícias das negociações de Jeremias e de como ele cedeu sua filha - que eles adoram - ao cangaceiro. As pessoas se revoltam com as novas que, somadas ao destempero ainda recente de Antônio, levam-nos a se rebelar contra o terratenente e os cangaceiros que, surpresos com a reação, fogem do lugar.

O aborto de Maria lhe causa uma profunda infecção, mas Jeremias, ao ouvir a notícia, não lhe presta atenção. Ele vai procurar Samuel, que percebe ter tramado toda a situação contra ele e pergunta por que ele o fez perder tudo que tinha. Samuel finalmente lhe revela a identidade. Jeremias então parte para cima dele, para terminar o trabalho de décadas atrás. Samuel diz que de nada irá lhe adiantar, pois já está morto há anos. Os dois lutam. Jeremias morre e Samuel é gravemente ferido. Aparece então o Diabo para Samuel, com quem vez por outra ele discutia durante a peça, para lhe cobrar afinal o que ele acha mais forte - o amor ou o ódio. Samuel diz que fez tudo isso por amor à sua gente e à lembrança de Isabel, mas o Capeta argumenta que ele fez apenas por vingança. Samuel rejeita o ponto de vista do demônio, até que este lhe revela que a mulher que está morrendo de infecção é na verdade sua filha. Isabel casou-se grávida com Jeremias e o enganou para esconder sua virgindade perdida. Samuel está agonizante. Sua única chance de se vingar contra o líder do bando de cangaceiros é usar a dádiva que o Tinhoso lhe deu. Samuel não acredita no príncipe das mentiras e diz que precisa ver com seus próprios olhos.

Cambaleante e moribundo, o milagreiro se arrasta até onde está Maria, agonizante pelo ferimento. Os presentes se afastam, assustados. Ele se aproxima da cama de sua filha, observado pelo Príncipe das Trevas. Segura a mão dela e conversa com ela, até se convencer que ela é sua filha, ou de que, pelo menos, gostaria que sua filha fosse daquele jeito. Ele lhe fala que o futuro deve libertar-se das amarras do passado. O Senhor das Moscas pede a ele que use sua oferenda e vingue-se dos culpados de sua enfermidade. Samuel aperta mais a mão da filha e cai, exausto ao chão. Maria abre completamente os olhos e fala que se sente melhor. O médico se aproxima e constata que sua febre, milagrosamente, passou. Todos olham para Samuel, querendo saber que milagre ele fez. "Nenhum", ele responde, apenas usara o dom que o Diabo lhe dera - "Eu matei meus inimigos. Mais do que qualquer outro homem já enfrentou". Os cinco bilhões de germes que infestavam o corpo e a ferida de sua menina. Destruindo os micróbios, livrou o corpo dela da infecção e ela agora pode se recuperar. Satanás urra, furioso, revelando sua verdadeira identidade e diz que, de qualquer forma, Samuel aceitara a intervenção demoníaca. O trato se completara e a alma dele era agora do Demônio. Samuel diz pouco se importar, já que sua filha pode agora viver numa cidade que nada deve a ninguém. O Demo, entretanto, é interrompido quando começa a guiar Samuel à condenação. Isabel aparece, resplandescente. Ela é uma enviada dos Céus e o sacrifício feito por Samuel mostrou que, apesar de tudo porque passara, ainda era capaz de amar e honrar a memória de seu grande amor. Pesados os prós e os contras, ele não merecia o Inferno e sua condenação era injusta. O Diabo, furibundo, tenta argumentar, mas Isabel vem sob ordens de Deus, escoltada por dois anjos e ele nada pode fazer. Ela toma Samuel e, finalmente, os dois amantes se reencontram e partem para a Cidade Prateada.

janeiro 13, 2009

Grandes Pragas Chinesas

1. Que todos os seus desejos se realizem.

2. Que você viva em tempos épicos.

Os Tempos Mudam

E as piadas passam. Vocês já repararam que a maioria das piadas de português foi coopatada pela loura-burra? É claro que a recuperação econômica de Portugal, que praticamente acabou com a vinda de lusitanos semianalfabetos e miseráveis fugindo do corporativismo salazarista medieval pra tentar a vida aqui tem a ver com isso. Dificilmente alguém vai encontrar um tramontano de bigodões calçando tamancos e camiseta encardida quase sem instrução e puxando um burro-sem-rabo. Já moças bonitas (ou pretendentes a bonitas) fúteis e que desvalorizam os estudos tem às pencas desde que o neoliberalismo atiçou o consumismo a níveis nunca antes na história deste país alcançados.

E é uma pena, pois a piada de português (meu avô era de lá) é uma tradição com a qual crescemos e está praticamente a caminho da exceção, seguindo o caminho da noiva-que-já-não-é-mais-virgem, enterrada pela revolução sexual. Imagino contar anedotas sobre tal personagens para pré-adolescentes possa hoje em dia desencadear reações do tipo "mas vem cá, eles iam casar sem transar antes? Como iam ficar sabendo se iam se entender na cama? Isso não é esquisito?" E, é claro, essa sexualidade precoce também está acabando com o Juquinha (que a esta altura também já deve estar no quarto casamento, tem cinco filhos e vive com problemas de depressão devido à sua sexualidade pervertida e problemas com pensão).

janeiro 12, 2009

Juventude, de Domingos de Oliveira

Crítica que fiz do filme para a Zé Pereira quando do Festival do Rio:

Hope I die before I get old! (Talking 'bout my generation)

Pois é, o Pete Townshend alcançou a fama com esse verso aí em cima. Quando ele chegou lá pelos sessentinha, alguém perguntou, “e aí, e aquele papo de preferir morrer a envelhecer?”, ao que o escrevinhador de “Tommy” respondeu, “ué, mas eu AINDA prefiro morrer a envelhecer!”

Antigamente as coisas eram mais fáceis. Você era rico e passava a vida espezinhando os inferiores, dormindo com a mulher dos menos favorecidos e festejando, até a gota, a arterosclerose, os parasitos e as doenças infecto-contagiosas transformarem-no numa ruína, quando então descobria sua espiritualidade e sabedoria e esperava a morte que chegava logo, ou você era pobre e trabalhava feito um condenado até, na provecta idade de trinta e cinco anos, ser um ancião. Tudo simples. Mas aí veio a Revolução Industrial, a classe média apareceu e a expectativa de vida começou a subir.

Era mais fácil lidar com a decadência e a morte. Não existiam UTIs ou asilos. Os clãs viviam todos na mesma casa e cuidavam dos parentes mais velhos, bem anciãos (alguns com quase setenta anos!). Quando chegava a hora deles, normalmente após uma longa doença, as crianças eram levadas junto à cama para se despedirem. No século XX, com o crescimento das cidades e o surgimento do apartamento, bem como dos eletrodomésticos que dispensavam a enorme criadagem necessária anteriormente, as famílias se separaram. Em cada residência passou a morar apenas a família nuclear – o pai, a mãe, os filhos (muitas vezes até sem um dos pais). Até a empregada passou a ser diarista. Sem crescerem lidando com a morte (até porque é uma idéia abominada pela sociedade de consumo) e relacionando-se com um número bem menor de parentes (o que agrava os complexos de édipo e outras neuroses surgidas no âmbito familiar), começou a surgir a o perfil da personalidade neurótica de classe média globalizada sensível que fez a fama de Woody Allen.

A princípio eram os jovens que chegavam ao fim de seus estudos e não sabiam bem o que queriam da vida, não se casavam e se enquadravam imediatamente. Esses jovens cresceram e lá pelo final dos anos 70, início dos 80, fez sucesso uma série americana, “Thirty-something”, enfocando o pessoal que mesmo depois dos trinta ainda não sabia muito bem o que fazer quando crescer (curiosidade: o elenco de “trintões” hoje em dia seria escalado pra representar gente do lado de cima dos quarenta). E hoje seriados como “Desperate Housewives”, “Once and Again” e afins ganham prêmios e público falando do pessoal de quarenta anos que não sabe muito bem o que fazer quando crescer. Adiantando-se à tendência, Domingos de Oliveira mostra neste Festival do Rio “Juventude”, contando a história de três sessentões que não sabem muito bem o que fazer quando crescer.

O ditado clássico diz “the spirit is willing, but the flesh is weak”, o espírito até quer, mas a carne é fraca. Hoje em dia está completamente desatualizado, deveria ser “the spirit is willing, but the flesh is strong”, o espírito até quer, mas a carne é forte. Até o começo do século XX, depois dos quarenta anos, suas artérias entupidas, o cigarro, a alimentação ruim, as lesões acumuladas em longas infecções ao curso de décadas cobravam seu preço. Ano após ano, mais e mais se fazia alguma coisa pela última vez. Dificuldade de locomoção, de concentração, impotência (ainda mais porque a mulher, depois de cinco, seis filhos seguidos, parecia um barril), a vida era como uma casa da qual um a um iam sendo retirados todos os móveis e objetos, até que se tornava apenas um espaço vazio e sombrio e não restava nada a não ser a porta da saída.

Mas os avanços da medicina, a melhor alimentação, os antibióticos, drogas anti-colesterol, ênfase na malhação, mudaram tudo. Com o barateamento do Botox, do lifting, do implante de seios, de cabelos, da injeção de silicone contra rugas, até a aparência pode se manter quase indefinidamente na maturidade. Na própria fita em questão, Domingos, apesar de seus setenta e dois anos, tem uma cara que poderia levá-lo a ser escalado tranquilamente como um sujeito de 45 anos. Somando-se a isso a revolução sexual, o fim do casamento para sempre e a disponibilidade de parceiras, quem é que quer assumir a velhice e a proximidade da morte?

E esse é o cerne de “Juventude”. A idade que antigamente delimitava a vida (depois era lucro) foi empurrada dos 60 para os 80 anos (para gente de classe média pra cima, é claro). Numa sociedade capitalista onde perdeu-se completamente o vínculo com o sistema produtivo (o que vocês acham de um sujeito que ganha a vida escrevendo sobre entretenimento?), a alienação em relação ao funcionamento da sociedade traz também uma ausência de senso de responsabilidade. Num mundo em que qualquer sujeito de classe média leva uma vida bem mais luxuosa do que qualquer príncipe pré-revolução industrial (sem o poder, é claro), secularizado e consumista, esse povo que não precisa trabalhar o tempo todo para viver acaba com uma certa sensação de vazio, uma ansiedade que antigamente acabava com a adolescência quando a preocupação passava a ser pagar as contas no fim do mês e arrumar o leitinho das crianças (que hoje também chegam só depois dos trinta). E assim a adolescência pode ser empurrada adiante com a barriga, cada vez mais para longe.

O filme? Divertidíssimo. Domingos de Oliveira bebe há mais de 50 anos com gente interessantíssima. Tem histórias boas pra contar pra filme e peça que não acaba mais. A fita fica com esse clima de papo de amigos interessantes contando velhas histórias até mesmo no final. Porque esses papos não são arcos dramáticos, eles normalmente acabam sem mais nem menos, com o pessoal do bar virando as cadeiras e jogando água no chão, senão iam noite adentro. E o mesmo acontece com o filme, encerrado meio de sopetão, meio arbitrariamente. Como esta crítica.

janeiro 11, 2009

Se Eu Escrevesse Poesia pra Comer Mulher nos Anos 70, Seria Mais ou Menos Assim

Ame-me
Amém.

Blogue sem Lei XII

Matar ou Morrer
(High Noon, 1951, de Fred Zinnemann)

“Matar ou Morrer” é um sólido faroeste, com uma megaestrela no topo do elenco e outra em ascensão fazendo o papel de sua noiva, e é também uma experiência cinematográfica que mexe com tempo real e edição a metrônomo. Junte a isso um subtexto (modo de dizer, não há nada de “sub” nesse texto) antimacartista e antiamericano e eis um dos grandes favoritos de todo o mundo da sétima arte.

Menos entre o povo mais novo que não suporta preto-e-branco, é claro, já que aparentemente a produção, depois de juntar o casal Gary Cooper e Grace Kelly, o diretor Fred Zinnemannn, o roteirista Carl Foreman, e ainda suportá-los com Katy Jurado, Lloyd Bridges, Thomas Mitchell e Lee van Cleef, ficou sem grana pra filmar em technicolor, o que era comum pra quem tinha um nome de tanto peso encabeçando o elenco. Rodado numa cidade cenográfica já veterana, com iluminação plana e uma direção de arte pouco inspirada (o que não incomoda muito porque a imagem monocromática não chama a atenção para as paredes vazias), o longa só não tem um ar televisivo graças à direção inspirada e aos rostos conhecidos.

A história virou um clássico e já foi refilmada até mesmo como ficção científica (com Sean Connery, em "Outland - Comando Titânio"): marginais mal-intencionados atemorizam um bilheteiro (início que seria homenageado por Sergio Leone em "Era uma vez no oeste") e confirmam que o trem chegará ao meio-dia, trazendo Frank Miller, não o quadrinista, mas um bandido que acaba de ser solto da cadeia. O funcionário da estação corre até a cidade para avisar ao xerife responsável pela prisão do elemento anos antes. E o empregado da ferroviária chega às dez pra onze, bem na hora em que Gary Cooper está se casando com uma quacre pacifista encarnada por Grace Kelly e deixando o cargo, que só será preenchido em alguns dias.A partir daí, quase sempre com um relógio ao fundo, Gary Cooper vai tentar arregimentar ajuda para enfrentar os celerados fora-da-lei que querem ajustar as contas. E só recebe negativas, a maioria por pura covardia, disfarçada por racionalizações. Na igreja, quando parece que alguns voluntários vão se apresentar, seu melhor amigo faz um discurso dizendo que um tiroteio poderia afastar os investidores externos (é sério) e a solução seria Cooper ir embora para outro condado (nós, brasileiros, temos por um instante a sensação que Mitchell vai sugerir aumentar os juros).

Mas há outros motivos. O ex-ajudante de Cooper, Lloyd Bridges antes do acqualung de Mike Nelson, se põe à disposição desde que Cooper o nomeie seu sucessor. É claro que nosso herói irá recusar a chantagem, o que deixa Bridges furioso, achando que é porque ele é quem come agora a ex-namorada de Cooper, Katy Jurado. Katy Jurado é uma mulher muuuuito mais interessante que a noiva chatíssima que fica insistindo pra Cooper deixar tudo pra lá e passar o resto da vida se escondendo. Mas é mexicana e não é virgem. Quando sabe que Bridges contou a Cooper que eles estão juntos, ela dispensa o rapaz, dizendo que ele nunca será um homem como Cooper, que seria mais digno do elogio se não tivesse se prendido à tradição e arrumado uma loirinha WASP novinha e ainda selada pra casar. Jurado só trai o ressentimento que sente por esta decisão quando um de seus clientes sugere poder botar uns homens aramdos do lado do xerife se ela quiser, mas ela prefere que não e se manda da cidade.

A montagem cortada a metrônomo é sensacional. Os cortes são feitos em cada batida do marcador de ritmo (embora obviamente não houvesse necessariamente um corte a cada batida). A tensão vai se acumulando sensivelmente até o paroxismo da montagem da chegada do trem. O apito coroa a sequência quase como um orgasmo - a chegada enfim de Frank Miller é quase um alívio, melhor resolver logo o assunto do que toda aquela expectativa. Também contribui para a ansiedade a filmagem sob um inclemente sol de meio-dia e as janelas e portas fechadas enquanto o xerife caminha pelo meio das ruas desertas. Uma ou outra cortina se levanta rapidamente para vê-lo passar. A planície desértica, o amplo céu e a câmera baixa ressaltando tudo isso aumentam a sensação de solidão de um homem abandonado até pela própria noiva.

Cooper constrói um xerife durão, viril, mas que, ao contrário dos personagens de John Wayne, por exemplo, sente medo. O ator havia acabado de sair de uma operação de úlcera e alguns esgares de dor e desconforto adicionam muito ao clima da fita. A falta de cor contribui para a atmosfera de abandono e talvez não tenha sido causada unicamente por motivos financeiros, afinal.

E é graças a essa atmosfera e à atuação nuançada de Cooper que Zinnemannn consegue nos empurrar a mensagem nada sutil de Carl Foreman. O juiz vai embora da cidade e aconselha o xerife a fazer o mesmo enquanto dobra a bandeira americana e guarda a balança da Justiça. Cooper está tão só como os acusados por McCarthy, como o pessoal da lista negra. Piorando a solidão de Cooper está o ar civilizado que envolve seu abandono. Miller não é um homem de fronteira sujo chegando com seus irmãos do rancho no Cudujudas, mas um sujeito bem-vestido vindo de trem, que está no horário. Os cidadãos estão preocupados com os investidores externos. Relógios abundam no cenário, marcando a hora com exatidão. Não temos aqui um confronto entre as forças civilizadoras e a barbárie. Esta faz parte do sistema, faz parte daquela. Boa parte dos valores americanos - não-interferência, a busca da felicidade pessoal, a preocupação com a prosperidade - são usados como desculpa para evitar o confronto com os perigosos meliantes. Todos apontam como solução a fuga de Cooper. Honra, afinal, é um conceito medieval pré-capitalista. A ideologia da livre-empresa e individualismo também é da indiferença. Partidários da guerra do Iraque costumam comparar a derrubada de Saddam Hussein ao combate contra Hitler, esquecendo que foi este quem declarou guerra aos EUA, logo depois que os japas tomaram a iniciativa atacando Pearl Harbor. Quem partiu pro confronto logo de cara foram os franceses, trazendo os ingleses a reboque.

Mas Grace Kelly vai acabar se provando digna de seu homem, tomando seu partido no duelo final, na verdade, pouco emocionante e relativamente fácil, depois de tanta falação sobre a ameaça daquele bando. Foreman realmente devia estar puto dentro das calças, já que a atitude da loiríssima WASP pacifista e americaníssima para ajudar seu macho é atirar escondida num sujeito pelas costas. Tanta bile tinha o roteirista que concatenou um antológico final, quando depois de matar todo mundo e ver os cidadãos finalmente aparecerem para cumprimentá-lo, Cooper atira a estrela com nojo no chão e se manda, fazendo o público vibrar catarticamente, voltar pra casa e reeleger McCarthy.

O Predador e a Presa


Estranho Pássaro no Aterro

Perto do Monumento aos Mortos da II Guerra encontrei esses pássaros. Eles caminham em suas pernas altas e a única coisa parecida que eu conheço é o bip-bip (que realmente existe, mas vive nos EUA).






Depois descobri que eles adoravam posar.






Estranhíssimos são os seus olhos vermelhos de quem quer sangue.




Alguém sabe que bicho é esse?

A Culpa é do Eurico

O Vasco contratou Carlos Alberto e Léo Lima. Isso não é reforço, isso é formação de quadrilha.

janeiro 09, 2009

Heráclito

É impossível se banhar duas vezes
no mesmo rio

Por isso sempre beba
da água em que mergulhar

E carregue sempre por todos os rios por vir
Os rios que por você passaram

janeiro 07, 2009

"Não é mais possível aceitar os benefícios da civilização e ao mesmo tempo negar a fundação sobrenatural sobre a qual ela é baseada"
(Evelyn Waugh, sobre a civilização ocidental, explicando sua conversão ao catolicismo)

janeiro 06, 2009

Eu Tenho Leitores...

De João A. Oliveira, comentando na postagem sobre o termo "solução de continuidade" usado nas Mil & Uma Noites para descrever o feminino absoluto:

A CATEDRAL DO AMOR É UMA RIMA E UMA SOLUÇÃO

Acepções pouco conhecidas de palavras comuns podem guardar mistérios maravilhosos...

solução - divisão, interrupção, quebra, hiato, separação das partes de um todo, separação de coisas que antes estavam unidas ou que são naturalmente unidas

rima - pequena abertura, fenda, sulco, greta, rachadura, fissura ou abertura alongada estreita entre duas partes simétricas

(Aurélio & Houaiss)

janeiro 04, 2009

Blogue Sem Lei XI

O Último Pôr-do-Sol
(The Last Sunset, 1961, de Robert Aldrich)


Gracinha no começo do filme: Hudson descreve o sujeito que está perseguindo como alguém com um furinho no queixo.

O ano virou e, por mais que seja ótimo ficar na praia de papo pro ar, está na hora de retomar as tarefas, ainda mais quando finalmente aparece um leitor pedindo uma postagem sobre um dos faroestes prediletos dele, “O último pôr-do-sol”. Nem sei mais se neste ano pôr ainda tem acento (provavelmente não) ou se escreve pordossol em vez de tascar uns hífens aqui e ali, mas o blogueiro ainda está muito ressacada pra começar a pesquisar saites com a nova ortografia e, além disso, é o que vem escrito na capa do DVD.


Se bem que também vem escrito que o formato da fita é fullscreen, 4 x 3, o formato das velhas tevês de tubo, mas na hora de em que o disquinho começou a rodar, ele preencheu perfeitamente a tela 16 x 9 da plasma de 50 polegadas. Ou ninguém nem assistiu ao filme antes de preencher as informações ou resolveram mesmo partir pro engodo, sabedores que a imensa maioria das pessoas ainda não entrou na era do widescreen e odeia as famigeradas faixas pretas em cima e embaixo.


Mas apesar da transcrição respeitar o formato original, a imagem não é grande coisa, embora a culpa provavelmente seja mais dos negativos coloridos Eastmancolor, então de paupérrima qualidade. É visível a competência do diretor de fotografia – com exceção de alguns interiores e cenas noturnas de estúdio, a fita não tem em momento algum aquele ar televisivo que iria alastrar-se nas décadas de 60 e 70. Embora longe de uma produção B, com uma estrela então no auge, Rock Hudson, além de Kirk Douglas, cuja companhia foi co-produtora, é claro que não se está diante de um orçamento gigantesco como o esforço anterior de Douglas, “Spartacus”. Aliás, este longa foi rodado durante a pós-produção do épico dirigido por Kubrick, deixando claro seu status secundário.


Mas, como falávamos, a fotografia consegue deixar bem claro que esta é uma película cinematográfica e não televisiva, e que foi rodada em autênticas locações mexicanas, apesar da pobreza do negativo não colaborar. Credite na conta de Robert Aldrich, esplêndido diretor raramente levado em conta quando se fala de cinema americano, apesar de ter subvertido vários gêneros em sua carreira, com obras originais e pessoais – o filme de guerra com “Os doze condenados”, o filme noir com “A morte num beijo”, o filme de terror com “O que aconteceu com Baby Jane?” e o próprio bangue-bangue com “Vera Cruz”, precursor do faroeste-espaguete. No entanto, apesar da solidez desta fita, a direção dele não é inspirada e, em certos momentos, há cortes terríveis, como se a edição tivesse sido feita correndo. Em meia dúzia de cenas há um salto de uma câmera que enquadra um ator sorrindo pra outra onde o mesmo sujeito está sério, ou de quando ele está sentado pra outra em que ele está em pé, ou no meio de um movimento que ele não estava fazendo, a começar pela sequência inicial de Rock Hudson. Kirk Douglas tinha se desentendido com Anthony Mann no começo da trabalhosíssima filmagem de “Spartacus” e pra seu lugar tinha contratado um jovem talentoso com quem tinha trabalhado havia pouco e que ele achava que não fosse lhe dar dor de cabeça, um garoto que certamente iria se curvar à vontade dele, um tal de Stanley Kubrick. Depois dos dois quase se matarem ao levar para as telas um de seus grandes momentos, Douglas queria alguém menos exigente, perfeccionista e com menos pretensões artísticas para reger seu próximo projeto, mas Aldrich realmente queria o posto e fez juras de subserviência a Douglas para consegui-lo, apenas para irritar sua estrela quando este descobriu que Aldrich levara para as locações cinco roteiristas para trabalhar concomitantemente em suas próximas produções.


Vez por outra reconhecemos os toques de Aldrich, como por exemplo quando os dois protagonistas primeiramente se encontram, com seus cavalos frente a frente, ou na morte de Joseph Cotten, mas principalmente na condução dos atores. De 1961 pra cá Rock Hudson ficou famoso como ícone do movimento gay e já naquela época tinha granjeado reputação de canastrão sem talento, portanto é com surpresa que se percebe que em duas ou três cenas já se está completamente convencido de que ele é um caubói durão e violento, apesar de bronco – inclusive moralmente, seu personagem tem um código de conduta conservador por visivelmente nunca lhe ter passado pela cabeça questionar o que lhe foi ensinado como certo. Com um mandado de prisão contra Kirk Douglas, ele participa de uma longa jornada conduzindo gado ao lado do próprio, esperando chegar em território americano e voltar a ter poderes legais. Quando ele chega, para sua própria admiração, não tem mais vontade de prender o sujeito – na verdade matá-lo, pois sabe que ele resistirá – porque não consegue ter raiva de alguém que passou a conhecer.


E ele certamente deveria ter raiva de Douglas. Tanto ódio, que o faz persegui-lo além da fronteira e conduzir o gado com ele até chegar aos bons e velhos Estados Unidos da América, provém de um duelo onde Douglas matou o cunhado de Hudson. Numa das noites da jornada, Douglas, irritado por ser chamado de assassino, conta a Hudson que a irmã dele dava pra todo mundo e o cunhado era um famoso corno. Hudson então completa que sua irmã, alguns dias depois da morte do marido, se enforcou com uma correia de couro, para transtorno de Douglas.
Sim, porque o personagem de Kirk Douglas não é um simples pistoleiro malvado sempre pronto a matar alguém numa bebedeira num salloon apenas pela diversão. Poético, boêmio, sedutor, charmoso, bom de briga, ele está mais para um herói romântico, um mosqueteiro, um Zorro, um Pimpinela Escarlate. Dalton Trumbo, porém, não lhe fornece uma revolução, uma insurreição, um posto oficial ou uma fortuna para dar vazão a seus instintos e sonda o que vai na alma de um sujeito assim. O leitor que pediu esta postagem diz que curtia esta fita nas matinês de sua adolescência. Com um protagonista perverso e derrotista, quase saído de um filme noir, gostar desse filme parece ser coisa de alguém que foi um adolescente conturbado.


Assim como foi Kirk Douglas. Em sua juventude, ele se apaixonou por uma garota rica. Ao vê-la num baile, deslumbrante em um vestido amarelo, ao invés de pedi-la para dançar, arrumou uma briga – arrancou as flores do traje e saiu na porrada com o acompanhante. Dezessete anos depois, de sua vida em meio à jornada, achou-se em selva tenebrosa, tendo perdido a verdadeira estrada. Sem tostão, família, fracassado como poeta e amante, com uma visão quase mística da natureza, tem que enfrentar o fato de que foi o responsável pela morte pelo menos do cunhado de Hudson, o que vai contra suas crenças e sua auto-imagem de um artista romântico e cavalheiresco. Explicando-se, ele diz que se não fosse a vontade de Deus, ele não teria matado ninguém, pois não é Deus, afinal, todo-poderoso?


E é amargando essa culpa que ele abre o filme chegando à fazenda de sua ex-amada dezessete anos depois de seu último encontro, para encontrá-la casada e com uma filha de... dezesseis anos (já fez as contas?). Seu marido é Joseph Cotten (1), um decadente nobre alcoólatra que tentou criar gado, por incompetência fracassou e quer vendê-lo no Texas para ter algum lucro. Douglas, que é informado que está sendo perseguido, oferece-se para ser a escolta armada, ao preço de um quinto da manada e... da esposa de Cotten. Que só ri e aceita. Nenhum dos dois sabe nada sobre bois, daí a brilhante idéia do pistoleiro: vai convencer o caubói que está atrás dele a conduzir a boiada. Idéia completamente estapafúrdia de alguém com nenhum senso prático e um tremendo desejo de agradar e de morrer.


A garotinha fica apaixonada de cara por Douglas. Seu pai fala sobre técnicas para uso de revólveres em duelos, mas todos sabem que é “delicado” demais para se meter em qualquer conflito. Douglas, aos 45 anos, se dá ao luxo de aparecer sem camisa enquanto conta para ela que prefere Derringers – aquelas pistolas pequenininhas que jogadores levavam na manga - aos Colts porque têm um cano pequeno e dá pra sacar mais rápido. E ele não usa cartucheira, leva as armas no cinto, porque “gosta de senti-las o tempo inteiro junto ao corpo”. Elas são a metáfora para sua fúria, que vai sempre impedi-lo de ser um poeta ou um cavalheiro romântico, sempre à flor da pele e sempre prestes a irromper. Como com a própria mãe, quando em vez de pedi-la para dançar partiu para a agressão. Sua fachada bonachona esconde uma enorme frustração e, quando tem a chance de deixar Rock Hudson afundar na areia movediça, joga para ele uma corda, traindo seu desejo de agradar a figuras de autoridade. Trumbo não precisa explicar uma infância de abusos, deixa aos especatdores a tarefa de ligar os pontos e imaginar como se formou a personalidade carente dada a acessos de violência e que tenta aumentar sua auto-estima criando uma imagem falha de romântico cavalheirismo.

É por causa dessa tentativa de cavalheirismo que ele promete que não irá balear Hudson pelas costas antes de cruzarem a fronteira e o mandado de prisão voltar a valer. Hudson aceita para tê-lo por perto e porque a mulher de Joseph Cotten é Dorothy Malone, 17 anos depois de estrear nas telas como a bibliotecária atirada que dá pra Humphrey Bogart enquanto ele vigia a livraria da frente, ou seja, era aquela criatura inumanamente bela que fez Douglas se apaixonar. A covardia de Cotten leva-o a ser baleado pelas costas no começo da jornada, deixando-a disponível para o xerife caretão, mas que ao invés de coisas boêmias e técnicas para duelo, sabe como conduzir gado, lidar com índios, achar o norte ou mesmo dar uma nova mãe a um bezerro perdido. Logo Malone começa a pender para o futuro ícone gay, enquanto as esperanças de Douglas vão se despedaçando e, sem que ele mesmo perceba, começam a se desviar para a filha dela.

A garota está completamente apaixonada porque Douglas não sabe se relacionar com mulheres de outra forma que não seja seduzindo-as. Por causa disso, por sua falta de senso prático, sua frustração que se transforma em fúria, sua subserviência a figuras de autoridade e sua carência doentia, adolescentes, moças com arroubos românticos ou vadias como a irmã de Hudson são as únicas que ele consegue ganhar. E outro dos motivos para isso, sua baixa auto-estima, fica aparente quando aceita quase tranquilamente que Malone prefira Hudson.

Também quando ele perde os 20% da manada a que tinha direito, ao balear sem nenhuma provocação um índio que se aproximou. Hudson pega o corpo do nativo americano e diz que vai tentar dar um jeito. Volta horas mais tarde com outros integrantes da tribo, que levam a percentagem da boiada que seria de Douglas – Douglas, aliás, para tentar impressionar Hudson, fizera questão de contar-lhe que um quinto daqueles ruminantes eram seus. Douglas, em vez de um de seus ataques de fúria, apenas sorri e disse que nunca gostou de vacas. Por trás daquele sorriso, por trás de seu romantismo, por trás de toda sua habilidade com armas, está um sujeito tão derrotado, frustrado e sem respeito por si próprio que no fundo sempre soube que não conseguiria embolsar sua parte no trato.

E age como se para perder mesmo sua parte. Douglas se sente culpado, não tem auto-estima, não tem dinheiro, não tem nada a não ser o encontro marcado com Hudson para acertar as contas – consigo mesmo: ou morre de uma vez ou vai ganhar ainda mais motivo para se auto-torturar com o assassinato de um homem que respeita e admira. Mas a garotinha dá uma animada no espírito quando, ao fim da viagem, aparece para a comemoração com o mesmo vestido amarelo com que sua mãe pela primeira vez surgiu aos olhos do então jovem pistoleiro. É demais para ele. Eles dançam e, quando ela o procura mais tarde ele resiste mas acaba cedendo e beijando-a – e, como essa ainda é a Hollywood clássica, fica a cargo do espectador pensar no que mais rolou.

Todo mundo que já assistiu a mais de meia dúzia de capítulos de novela, de animê, ou leu mais de dois livros, já sabe que homem+mulher que não se vêem há dezessete anos+garota de 16 anos que se parece com o sujeito igual a... isso mesmo. Parece que o poeta Douglas não é tão letrado assim, mas quando Malone conta a ele para impedir de fugir com ela, ele responde, “você acha que, mesmo seu eu não soubesse, não reconheceria a minha própria filha”. Ela apenas fica calada e ele é obrigado a reconhecer que sua sexualidade imatura na verdade o impeliu a comer a própria prole. Não há mais saída para ele além de passar um belo papo na menina dizendo que já volta depois de resolver uns assuntos e partir para enfrentar Hudson com as armas descarregadas.

“O último pôr-do-sol” é portanto uma fita perversa do começo ao fim. Aldrich, apesar de ser mais do que capaz de dirigir clássicos doentios – todos os já citados “O que aconteceu a Baby Jane”, “A morte num beijo”, “Os doze condenados” e “Vera Cruz” são todos filmes com um ar psicopata – entrou como diretor de aluguel e nunca foi um entusiasta da cor, preferindo a iluminação mais paranóica e neurótica dos negativos monocromáticos bem mais sensíveis e flexíveis do que o Eastmancolor desta película. A própria cena final, do crepúsculo derradeiro do título, mostra o astro-rei se recolhendo por trás de montanhas e corta para Douglas e Hudson sob um inclemente (e inegável) sol de meio-dia, sem sombras e sem a puxada para vermelho que poderia ter sido conseguida pelo menos no laboratório.

Embora Trumbo construa um personagem interessante, perverso, imaturo, derrotista, frustrado – um pacote Woody Allen+o pior de Errol Flynn – e Douglas, produtor da fita, se esforce no papel, falta uma direção mais convicta e até um pouco mais de ação. É de surpreender que um adolescente tenha apreciado este longa. Uns bandidos de meia-tigela – Jack Elam entre eles – aparecem meio sem motivo pra tentar estuprar as mocinhas pra prover alguma aventura durante a longa jornada em que nada acontece a não ser a tensão entre Hudson, Douglas, Malone e Miss Douglas Jr. “O último pôr-do-sol” é um western interessante, original e diferente, mas longe de um clássico.

(1) Cotten conta que seu personagem era um bêbado, corno, incompetente e covarde, com um ferimento na bunda provando indelevelmente que ele fugia quando foi baleado e, por isso, só aceitou o papel com o compromisso dos produtores de que o filme não estrearia na cidade de sua mãe enquanto ela fosse viva.

O Natal da Panelinha