janeiro 15, 2009

Sinopse de uma Aventura no Nordeste no início do século XX

Um homem cheio de pó e desilusão caminha pelo Sertão em tempos particularmente inclementes. Um outro viajante junta-se a ele. O primeiro homem, Samuel, vai lhe contando que está fugindo de sua cidade natal. Envolveu-se numa confusão envolvendo, é claro, uma mulher.

Samuel reparte sua pouca comida com o estranho enquanto os dois perseveram debaixo do Sol causticante e conta sua história. De como era apaixonado por Isabel, que era desejada por Jeremias, o chefe dos jagunços do maior dono de terras da região, Sebastião. Com medo dele, o pai da moça, Antônio, ordena a ela que se afaste de Samuel e aceite se casar com Jeremias. Isabel, entretanto, tenta fugir com Samuel. Os dois são rastreados pelo capanga rejeitado, que dá a Antônio a honra de liquidar com o miserável que levou sua filha. Entretanto, mesmo pego de surpresa, Samuel consegue reagir e mata Antônio. Isabel fica horrorizada e, cercado, o rapaz é obrigado a fugir.

O estranho discute com Samuel sobre as traições que ele cometeu ou contra ele foram perpetradas e sobre a natureza dos homens. O viajante crê que o ódio é mais forte do que o amor e Samuel discorda, lembrando que repartira com ele sua comida, mesmo sem o conhecer. É então que o misterioso companheiro revela ser o Diabo e, concordando que realmente lhe fora feito um favor, oferece a Samuel também um presente: se algum dia ele desejasse que seus inimigos morressem, mais do que qualquer outra coisa, assim aconteceria, com uma ressalva, porém: se ele aceitar este oferecimento, estará aceitando o ponto de vista do demônio e condenando sua alma ao Inferno. Além disso, conta-lhe que está reservada para sua vida mandar muitos outros para as trevas e que, por isso, deseja ardentemente que Samuel junte-se a ele no Érebo, como um general de suas tropas. Samuel recusa, diz que jamais usará a dádiva e vai rodar o mundo e aprender, para algum dia voltar e lidar com Sebastião, Jeremias e quem mais fez mal a ele e à sua gente.

Muitos anos depois, Samuel realmente volta à sua terra. Tem agora fama de milagreiro e conhecedor de muita coisa deste mundo e do outro. Jeremias ainda é o capataz e jagunço do poderoso da região, também chamado Antônio, filho do primeiro. Isabel casara realmente com Jeremias, mas morrera logo, ao dar à luz a filha deles, Maria. O capanga conseguiu casá-la com Antônio. Um bando de cangaceiros independentes se aproxima e o apático Antônio não sabe se deve enfrentá-los ou acoitá-los. Jeremias prefere a segunda opção e o imaturo rapaz resolve assim o fazer. Depois, manda chamar o disfarçado Samuel, que chegou à região a pedido dele.

Samuel encontra o rapaz, que lhe revela o que julga ser a fonte de sua apatia e covardia: ele vem sofrendo de impotência. Se esta notícia se espalhar, juntamente com sua decisão de acoitar o bando de cangaceiros, ele perderá todo o respeito que o povo lhe tem, desconhecedor que é de sua personalidade. Samuel lhe faz um preparado e lhe dá conselhos sobre a vida. Depois, sai e encontra a prostituta que era a preferida de Antônio, já que os votos matrimoniais nada lhe significavam e lhe paga o suborno exigido - foi ela, sob ordens de Samuel, que drogou-o com um estranho elixir que é a verdadeira causa de seus problemas.

O preparado de Samuel cura o rapaz, que passa uma noite de amor com sua bela e vivaz esposa, ficando patente que ele a oprime e não a ama. Os cangaceiros começam a viver na cidade, festejando e movimentando o comércio. Antônio, numa dessas festas, junto com alguns cangaceiros, toma uma prostituta, mas não consegue consumar o ato. Sua esposa aparece e ele, irracionalmente, a culpa por ter sugado sua virilidade e chega mesmo a ofertá-la ao cangaceiro. O bandoleiro demonstra tremendo entusiasmo com a proposta, mas ela se rebela e se recusa e vai embora. Antônio discute com o líder do bando.

Mais tarde, Samuel procura Antônio, dizendo-se inteirado do que aconteceu e lhe oferece outra dose do preparado, dizendo que tem efeito temporário. Antônio toma a nova dose e vai festejar com prostitutas trazidas de fora especialmente para a ocasião, convidando os cangaceiros, mas o chefe deles não aparece, dizendo que não quer festejar com um indivíduo que trata daquela maneira sua esposa.

Furioso com esta atitude e sentindo-se inebriado de poder ao receber a notícia de que Maria estava grávida, Antônio decide mandar expulsar os cangaceiros da cidade, mesmo contra os conselhos do fiel Jeremias. A notícia do massacre de seus homens lhe chega justamente quando comemorava a gravidez de sua esposa e o elixir começava a perder seus efeitos. Pateticamente, acreditando que, se fosse viril o suficiente para liderar seus jagunços, mudaria o resultado do confronto, Antônio vai procurar Samuel e exigir que este lhe dê um grande estoque do preparado. O milagreiro responde que dadas as propriedades químicas e místicas de sua poção, é impossível preparar uma grande quantidade de uma vez. Os dois discutem e Antônio agride Samuel. No entrevero, o primeiro acaba morrendo. Testemunhas atestam que o curandeiro agira em legítima defesa.

Na qualidade de sogro de Antônio e avô de seu filho, Jeremias assume os bens do rapaz morto e negocia a paz com os cangaceiros, oferecendo-lhes metade das reses. Manda também convocar Samuel, que ele ainda não reconheceu como seu antigo rival, tentando fazê-lo passar para o seu lado. Samuel finge aceitar, mas incita as prostitutas locais a espalharem a notícia da impotência do falecido latifundiário e a gente da cidade, lembrando-se da noite em que este ofereceu Maria ao chefe dos bandoleiros, começa a falar que é este o verdadeiro pai da esperada criança.

A maledicência chega aos ouvidos de Jeremias. Coberto de ridículo e desonrado, expulsa furioso de casa Maria, que ele conservava como a única lembrança do grande amor de sua vida, a derradeira crença que ele possuía. Desiludido, ele a trata com requintes de crueldade. Estas notícias alcançam o chefe dos cangaceiros que, desde aquela outra noite, sentia-se atraído pela jovem. Ele procura Jeremias e exige a mulher. O velho jagunço concede-a, com ela ressentido, sem o menor pudor.

O líder dos cangaceiros leva Maria e tenta possuí-la à força. A jovem reage e agride seu raptor, o que o faz mudar da ternura para a irritação e os dois acabam se engalfinhando. O homem a agride violentamente e ela acaba perdendo seu filho. Ele abandona a mulher em dores à piedade dos moradores locais e, como compensação pela rejeição que sofreu, resolve saquear a cidade.

Neste ínterim, Samuel leva à gente local as notícias das negociações de Jeremias e de como ele cedeu sua filha - que eles adoram - ao cangaceiro. As pessoas se revoltam com as novas que, somadas ao destempero ainda recente de Antônio, levam-nos a se rebelar contra o terratenente e os cangaceiros que, surpresos com a reação, fogem do lugar.

O aborto de Maria lhe causa uma profunda infecção, mas Jeremias, ao ouvir a notícia, não lhe presta atenção. Ele vai procurar Samuel, que percebe ter tramado toda a situação contra ele e pergunta por que ele o fez perder tudo que tinha. Samuel finalmente lhe revela a identidade. Jeremias então parte para cima dele, para terminar o trabalho de décadas atrás. Samuel diz que de nada irá lhe adiantar, pois já está morto há anos. Os dois lutam. Jeremias morre e Samuel é gravemente ferido. Aparece então o Diabo para Samuel, com quem vez por outra ele discutia durante a peça, para lhe cobrar afinal o que ele acha mais forte - o amor ou o ódio. Samuel diz que fez tudo isso por amor à sua gente e à lembrança de Isabel, mas o Capeta argumenta que ele fez apenas por vingança. Samuel rejeita o ponto de vista do demônio, até que este lhe revela que a mulher que está morrendo de infecção é na verdade sua filha. Isabel casou-se grávida com Jeremias e o enganou para esconder sua virgindade perdida. Samuel está agonizante. Sua única chance de se vingar contra o líder do bando de cangaceiros é usar a dádiva que o Tinhoso lhe deu. Samuel não acredita no príncipe das mentiras e diz que precisa ver com seus próprios olhos.

Cambaleante e moribundo, o milagreiro se arrasta até onde está Maria, agonizante pelo ferimento. Os presentes se afastam, assustados. Ele se aproxima da cama de sua filha, observado pelo Príncipe das Trevas. Segura a mão dela e conversa com ela, até se convencer que ela é sua filha, ou de que, pelo menos, gostaria que sua filha fosse daquele jeito. Ele lhe fala que o futuro deve libertar-se das amarras do passado. O Senhor das Moscas pede a ele que use sua oferenda e vingue-se dos culpados de sua enfermidade. Samuel aperta mais a mão da filha e cai, exausto ao chão. Maria abre completamente os olhos e fala que se sente melhor. O médico se aproxima e constata que sua febre, milagrosamente, passou. Todos olham para Samuel, querendo saber que milagre ele fez. "Nenhum", ele responde, apenas usara o dom que o Diabo lhe dera - "Eu matei meus inimigos. Mais do que qualquer outro homem já enfrentou". Os cinco bilhões de germes que infestavam o corpo e a ferida de sua menina. Destruindo os micróbios, livrou o corpo dela da infecção e ela agora pode se recuperar. Satanás urra, furioso, revelando sua verdadeira identidade e diz que, de qualquer forma, Samuel aceitara a intervenção demoníaca. O trato se completara e a alma dele era agora do Demônio. Samuel diz pouco se importar, já que sua filha pode agora viver numa cidade que nada deve a ninguém. O Demo, entretanto, é interrompido quando começa a guiar Samuel à condenação. Isabel aparece, resplandescente. Ela é uma enviada dos Céus e o sacrifício feito por Samuel mostrou que, apesar de tudo porque passara, ainda era capaz de amar e honrar a memória de seu grande amor. Pesados os prós e os contras, ele não merecia o Inferno e sua condenação era injusta. O Diabo, furibundo, tenta argumentar, mas Isabel vem sob ordens de Deus, escoltada por dois anjos e ele nada pode fazer. Ela toma Samuel e, finalmente, os dois amantes se reencontram e partem para a Cidade Prateada.

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