abril 06, 2010

A História da Copa do Mundo IV

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AS PRIMEIRAS TÁTICAS DO FUTEBOL:

O Penta sempre que pega a bola tenta driblar todo mundo. Infelizmente até a trave consegue desarmá-lo. Dizem alguns que a linha do círculo central também já conseguiu tomar a bola dele. Mas quando o futebol surgiu essa era a tática. Qualquer jogador à frente da bola estava impedido, logo virtualmente não existia o passe. A única instrução tática nos manuais era que quem perdesse a bola tinha que correr atrás do sujeito que a pegou. O jogo era tão chato que mudaram a regra em 1866 e o jogador só estava impedido se estivesse à frente da bola e tivesse menos de três adversários entre ele e o gol.

Em pouco tempo os atletas começaram a descobrir o passe. A princípio curto, porque ninguém nunca tinha visto nada parecido e a imaginação deles ainda não tinha se alargado tanto. Mesmo assim os jogadores tiveram que começar a pensar onde ficar em campo, para evitar - ou usar - essa nova arma dos atacantes. E, em 1883, o Blackburn foi o campeão da Copa da Inglaterra massacrando os adversários porque descobriu que podia usar o passe longo. Principalmente para inverter a jogada de uma ponta para outra. Parece que os oponentes corriam todos para o sujeito com a bola, ele mandava para o outro lado do campo e os defensores, irados, iam perguntar para o juiz, "ei, isso não é antiesportivo, mandar a bola para longe de nós?"

Não, não era. Em pouco tempo os jogadores de futebol tinham que saber dar passes, lançamentos, dominar uma bola no peito, pelo alto, na corrida, ou, no caso do beque, interceptar e cortar essas jogadas. E os times começaram a se organizar no sistema que dominaria o mundo até princípios dos anos 50. A pirâmide, ou 2-3-5.



A princípio, olhando para o esquema, parece quase uma pelada. Dois beques para marcar cinco atacantes? Até o Penta poderia organizar um time melhor. Mas é preciso lembrar que para um jogador não estar impedido ele precisava ter entre ele e o gol pelo menos dois zagueiros além do goleiro. E se estivesse na mesma linha que eles também era impedimento. Ou seja, se qualquer um dos dois defensores na última linha se adiantasse um pouquinho, os atacantes todos ficavam sem condições de jogo.

Além disso, a "linha média" não era um meio-campo de verdade. Era uma espécie de primeira linha de defesa, totalizando cinco defensores. Cada um marcava o seu, a marcação "homem-a-homem". Os médios esquerdo e direito marcavam os pontas, os beques marcavam os meias e o centromédio marcava o centroavante. Os atacantes evitavam jogar entre as duas linhas de defesa porque poderiam ficar impedidos facilmente.

Ninguém tinha muito preparo físico e coisas como antibióticos, raios-x e cápsulas de vitaminas ainda não tinham sido inventadas. Então todo mundo jogava muito parado e o jogo funcionava assim: o beque pegava a bola e passava para os médios, que lançavam um dos atacantes, que cruzava para a área. Este sistema foi criado na Inglaterra e até hoje os britânicos preferem jogar com bolas altas em lançamentos longos e cruzamentos.

Como o centromédio ficava no meio ele podia lançar tanto pela esquerda quanto pela direita, o que o tornou o principal organizador do time e deu-lhe mais liberdade para avançar. Como ele também marcava o atacante mais perigoso, o centroavante, ele logo se tornou o grande jogador em campo. Foi a época de ouro do centromédio atacante, posição que no Brasil consagrou Fausto, "a Maravilha Negra" e Danilo, "o Príncipe" (e que, além de bater um bolão, inventou o corte de cabelo "príncipe Danilo". É sério).

Mas em 1925, depois de anos e anos com a média de gols caindo mundo afora, a regra do impedimento foi mudada novamente. Com apenas dois jogadores entre ele e o gol um atacante não estava mais impedido. No primeiro campeonato inglês com o novo regulamento foram marcados 60% a mais de gols. E o técnico do Arsenal, Herbert Chapman, resolveu estudar o caso. Após muita pesquisa, descobriu que o centroavante, o atacante que jogava mais perto da meta, era quem mais estava marcando gols. E, provavelmente após mais longos e demorados estudos, chegou à brilhante conclusão de que alguém precisava marcá-lo.

Tudo bem, não parece uma dedução difícil ou uma conclusão brilhante, mas aquele era um tempo em que ninguém ainda tinha aprendido a falar, pelo que se vê nos filmes da época. De qualquer forma, Chapman conseguiu contar suas idéias e criou no Arsenal a primeira mudança no futebol: o W-M, que, pelos padrões modernos, seria conhecido como 3-4-3, ou, mais exatamente, 3-2-2-3.



Chapman recuou o centromédio para a última linha de defesa, com a missão de marcar o centroavante. Seus companheiros, os laterais, deveriam marcar os pontas adversários. A nova formação dava mais solidez à defesa, pois se o ataque viesse pela direita, o lateral marcaria o atacante em seu setor e o centromédio poderia ficar na sobra, enquanto o outro lateral cobria o meio.

O novo defensor, agora chamado de "stopper", "beque parado" ou "zagueiro central" (denominação herdada até hoje) mudaria a forma do jogo. O centroavante leve e técnico como Matthias Sindelar, tão magro que era conhecido como "homem de papel", daria seu lugar a um mais forte fisicamente, capaz de dividir a bola ou disputar um cruzamento com seu marcador. A nova linha média, agora encarregada de marcar os meias, ficou com apenas dois jogadores, pouco para criar as jogadas para os cinco atacantes. Assim, Chapman, para equilibrar a armação, recuou os meias, formando o primeiro meio-campo de verdade de que se tem notícia.

Com esse novo meio-campo a criação de jogadas de ataque foi dividida pelos meias e as distâncias ficaram menores. Uma vez com a bola, a defesa passava-a para os médios, que passavam para os meias, que passavam para os atacantes. Jogadores capazes de lançamentos longos ou de carregar a bola desde a defesa até o ataque, os centromédios atacantes, já não eram mais tão fundamentais para o time. Era o começo da tática sobrepondo-se à técnica.

Se enfrentasse uma equipe que usasse a pirâmide, o time em WM poderia usar os meias enfiados entre as duas linhas de defesa adversária e, quando perdesse a bola, teria quatro jogadores para marcar a criação adversária. Como já vimos, no 2-3-5 quem realmente armava o time era o centromédio atacante e, quando ele recebesse a bola, sofreria combate dos dois meias. Ao avançar teria os médios pela frente para atrapalhá-lo. Ou seja, quem usasse o WM estaria em vantagem tanto no ataque quanto correndo atrás da bola. No caso de um jogo contra outro WM a marcação seria homem-a-homem, com cada atleta tendo um oponente para marcar exatamente em sua posição.

Entre 1927 e 1938 o Arsenal, usando o WM venceria cinco vezes a Liga Inglesa e duas vezes a Copa da Inglaterra, na época os melhores campeonatos do mundo. No final dos anos 30 a tática de Herbert Chapman seria o padrão nas ilhas britânicas, espalhando-se pelo planeta nos anos 40. No Brasil, os primeiros a usá-la foram o húngaro Dori Krueschner, no Flamengo e Gentil Cardoso, no Bonsucesso.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não existe nenhuma foto do jogador Danilo usando esse corte de cabelo. Esse corte, na minha opinião, teve origem no personagem Príncipe Danilo do filme americano A Viúva Alegre, de 1925.