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A EVOLUÇÃO TÁTICA - O FERROLHO SUÍÇO:
Retranca. Correria. Jogadores "polivalentes", que podem desempenhar várias funções, todos preocupados com a marcação. Não, não estamos falando do futebol-força nascido na década de 1960. Muito antes disso os suíços lançaram as sementes dessa idéia ao criar o "ferrolho", tática que não teve o destaque merecido por ter nascido na Suíça, país sem tradição no esporte, e por ser um sistema um tanto teórico, difícil de ser aplicado na prática por estar anos à frente de seu tempo.
Na pirâmide (2-3-5) a segunda linha de defesa era ao mesmo tempo o meio-campo. O WM dividiu as funções dessa linha média entre os meias-defensores e os meias-atacantes. Cada um tinha que marcar seu oposto do time adversário e os lances eram criados em embates individuais. O sistema funcionava, mas era rígido e exigia disciplina e dos jogadores, que eram exaustivamente treinados para se tornarem especialistas nas limitadas funções de sua posição, o que era bastante condizente com o profissionalismo que surgia, com atletas dedicados exclusivamente ao esporte.
Karl Rappan, um treinador tão fascinado pela teoria do jogo quanto Pozzo, não tinha esses profissionais ao seu dispor. Seus jogadores eram amadores com outros empregos, sem muito tempo para treinar. Ele criou então uma tática com maior mobilidade - e maiores responsabilidades - para os atletas.
Quando tinha a posse da bola, seu time se desdobrava em campo com os três defensores do WM, um beque e dois laterais; uma linha média semelhante à da pirâmide, completa com centromédio atacante, e uma linha de quatro no ataque, como no 4-2-4 do futuro. Atacando, as três linhas avançavam bastante, com a defesa chegando quase até o meio-campo. Uma vez perdida a bola, o adversário não tinha a opção do contra-ataque imediato porque, com os defensores tão adiantados, qualquer atacante enfiado estaria impedido. E naquele tempo todo mundo jogava enfiado porque os beques do WM e da pirâmide nunca saíam lá de trás.
Mas não era essa a grande novidade defensiva do Ferrolho. O que o tornava único e precursor do jogo contemporâneo é que quando perdiam a bola, os dez jogadores voltavam para marcar, mudando o desenho tático.
Os quatro atacantes deveriam atrapalhar a armação do jogo, dando tempo para os médios e os beques recuarem. O centromédio atacante volta mais do que seus companheiros direito e esquerdo e assume a posição do beque central do WM. Por sua vez, o beque central recua ainda mais, sem ter a missão de marcar ninguém. Ele fica atrás de todos os outros jogadores, na sobra, ou para corrigir erros dos companheiros, com liberdade para correr horizontalmente de um lado para o outro da defesa. Como um ferrolho, pata trancar o ataque adversário, daí o nome.
Este esquema abria mão do domínio de meio-campo. Assim, não tentava igualar os quatro jogadores que o WM desdobrava nesse setor, mas concentrava-se na defesa. Um adversário confrontado com esse sistema tinha a tendência a tocar a bola de um lado para o outro sem ter como penetrar na grande área, parecendo ter o domínio do jogo, mas na verdade sem opções e sujeito a contra-ataques velozes, facilitados pelo desenho tático que mudava rapidamente ao se recuperar a posse de bola.
O esquema exigia jogadores velozes, inteligentes o suficiente para compreenderem seus papéis e versáteis, porque até os atacantes tinham funções de marcação. Ninguém a usou fora da Suíça, mas sua mobilidade e versatilidade era o caminho para o futuro e o futebol contemporâneo, caminho que os brasileiros explorariam ao criar o 4-2-4.
abril 25, 2010
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