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ANDRADE
Preto, pobre e centromédio, poderia ser este o slogan de José Leandro Andrade. Nascido em Montevidéu em 1901, Andrade saiu da miséria para o mundo e se tornou o primeiro astro negro internacional. Os europeus o descobriram nas Olimpíadas de 1924, quando o Uruguai, único país sul-americano no torneio do bárbaro esporte bretão, foi o campeão. Eles nunca haviam visto um negro jogar e causava-lhes surpresa que ele desarmasse os adversários apenas com sua agilidade, sem lhes tocar o corpo, ao contrário da maneira que se jogava no Velho Mundo, com muita força e contacto físico, tradição herdada dos tempos em que rugby e futebol compartilhavam regras.
Também era novidade para os europeus as fintas e dribles de Andrade e seus companheiros. Segundo uma testemunha da época, o jogador da seleção alemã Richard Hoffman, "ele era um sujeito alto com movimentos elásticos, que sempre preferiu o jogo direto e elegante, sem contacto físico, e estava sempre vendo vários lances à frente. Ele visivelmente se divertia jogando (...) mesmo durante o jogo estava sempre distribuindo sorrisos amigáveis". Foi com Andrade e a seleção uruguaia que se cunhou a distinção entre o jogo sul-americano, bonito e cheio de improviso, e o europeu, disciplinado taticamente, físico e eficiente.
Em suas viagens pelo mundo Andrade ficou conhecido como um consumidor desenfreado e frequentador da noite, chegando a ensinar passos de tango a Josephine Baker em Paris. Mas sua carreira acabou em 1938 e o futebol ainda estava nos primórdios do profissionalismo. Em 1956 um jornalista conseguiu localizá-lo morando num porão, cego de um olho e doente, acompanhado apenas por sua bela e leal esposa. No ano seguinte ele faleceria. Suas únicas posses eram uma velha cama, uma cômoda e uma caixa de sapatos repleta de medalhas.
A EVOLUÇÃO TÁTICA - O "MÉTODO" ITALIANO
Para se opor à tradição herdada dos britânicos, de passes longos, correria, cruzamentos e cabeçadas, eles criaram um jogo de passes curtos, para a frente, para trás e para o lado, não importava, o que importava era fazer a bola rodar de pé em pé, escondê-la do adversário até aparecer a chance de marcar um gol. Era o futebol de "toque de bola". E quem eram eles? Os brasileiros? Não. Eram os austríacos do wunderteam, o "time maravilhoso", que teve tanto sucesso que influenciou também os húngaros e outros países do Leste Europeu, que mantêm a tradição até hoje.
Taticamente a seleção austríaca não apresentava novidade, usava a mesma pirâmide (2-3-5) da década de 1880. O que a diferenciava era apenas o toque de bola curto e rasteiro. Vittorio Pozzo, técnico da seleção italiana, com grande interesse em táticas, gostava do estilo, mas faltavam-lhe os jogadores para adotá-lo, principalmente um habilidoso "centromédio atacante", pivô e cérebro do time. Só se ele somasse os dois que tinha à disposição para conseguir um igual ao austríaco. E foi assim que ele fez.
Pozzo tirou os meias da frente e os puxou para o meio-campo. Assim ele criou um sistema misto. Na frente parece o "w" do WM e atrás parece o ápice da pirâmide, ou o 2-3. Os três médios, incluindo o centromédio, passaram a ter funções quase exclusivamente de defesa. A criação de jogadas ficou a cargo dos meias recuados. E assim estava criada a tradição defensiva italiana, mantida até hoje. Os zagueiros marcavam implacavelmente e saíam em contra-ataques velozes até o gol adversário. Exatamente como a Squadra Azzurra - conhecida assim pela cor de seu uniforme - faz até hoje.
Pozzo chamou o seu sistema de "Método" e seu time foi praticamente o único a adotá-lo. Mas funcionou. Como dito na época, "os adversários atacam o tempo todo, mas os italianos é que ganham o jogo". A Itália dominou a década de 30 assim como o Uruguai o fez na década de 20, ganhando as Copas de 1934 e 1938, eliminando no caminho até o Wunderteam, e a Olimpíada de 1936.
abril 21, 2010
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