O filme, não o ano. Essa fita atrai um culto tão cego que seus fãs mais radicais adoram contar a anedota de que o Oscar de maquiagem lhe foi negado porque a Academia achou que os macacos da sequência inicial eram de verdade e, assim, as não tão perfeitas máscaras de "Planeta dos Macacos" teriam levado o prêmio.
Pra começar, não existia Oscar de maquiagem até 1981. Planeta dos Macacos levou um Oscar honorário por inovação artística em maquiagem. E nunca foi objetivo dos criadores do longa fazer seus atores parecerem macacos de verdade, mas sim antropomorfizados. A genuína inovação, que tanto impacto causou, foi o fato de que as máscaras eram extremamente flexíveis e permitiam que os sujeitos usando-as pudessem ATUAR. Seus cenhos se movem, seus olhos são expressivos, os cantos de suas bocas permitem esgares.
Já as máscaras de 2001 têm excelente e realistas bocas dentro da maquiagem, mas seus cenhos e faces são imóveis. O que não é demérito, já que seus hominídeos não precisam atuar, apenas berrar e usar muita expressão corporal, como semibestas que são. Talvez sejam os quarenta anos de efeitos especiais cada vez mais realistas e sofisticados, mas provavelmente apenas crianças poderiam achar que aqueles antropoides são macacos de verdade. As proporções dos membros e dos troncos são claramente humanas. A maneira como as criaturas se sentam e agacham - e pior, andam -traem claramente que são bípedes tentando simular quadrúpedes(1). Os pelos das fantasias claramente ombreiam com os de Konga, a Mulher Gorila.
Nada disso é problema para 2001. Seus hominídeos aparecem quase sempre em contraluz ou no escuro, não atuam, apenas berram e somem depois de 15 minutos de fita. Planeta dos Macacos contou com um maneiríssimo design para suas criaturas e máscaras que nos permitem acompanhar os personagens por duas horas com interesse em suas emoções. Kubrick era sensacional, mas não era deus, portanto parem com essa história ridícula.
(1) Os hominídeos, sabe-se hoje em dia, primeiro tornaram-se bípedes e depois humanos. Os macacoides de Kubrick são claramente bípedes tentando andar como quadrúpedes, o que não faz sentido nenhum do ponto de vista evolucionário. É muito mais cansativo pra quem tem os ossos do quadril como os nossos andar curvado ou utilizar os braços para auxiliar na locomoção. Kubrick preferiu no caso uma licença poética para que aqueles australopitecos parecessem bem primitivos para o público médio, que provavelmente acharia estranho antropoides andando como gennte (a primeira vez que vi num documentário no Discovery também achei).
abril 06, 2010
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