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DOMINGOS DA GUIA
Elba de Pádua Lima, o Tim, jogou na Copa de 1938 pelo Brasil e foi um dos maiores dribladores do nosso futebol, tornando-se mais tarde técnico vitorioso e festejado. Numa mesa-redonda de tevê nos anos 80, ele contou:
- Olha, dizem que já me viram fazendo, mas eu mesmo não me lembro de alguma vez ter driblado o Domingos. Eu jogava olhando para ele. Se ele estivesse deste lado, eu driblava para o outro. Se ele vinha para cá, eu driblava para lá. O negócio era fugir dele.
E os atacantes fugiam dele, mas não adiantava. A bola acabava sempre nos pés de Domingos. Todo mundo corria de um lado para o outro, até os fotógrafos desesperados, tentando não perder o toque rápido e mortal de um Leônidas, por exemplo. Mas quando Domingos entrava no lance, a partida parecia ficar em câmera lenta. Ele parecia não suar a camisa, parecia não correr, mas a bola acabava sempre em seus pés.
E os atacantes tinham sua razão para temer Domingos. Na Copa Rio Branco de 1931, em que o Brasil derrotou os uruguaios por 2 x 0, o ponta-direita campeão do mundo, Dorado balançou as redes, gritou gol e seus companheiros correram para abraçá-lo e comemorar. E quando procuraram pela bola para levá-la ao meio de campo, ela não estava lá. Estava com Domingos.
Seu futebol impressionou tanto os campeões olímpicos e mundiais que foi contratado pelo Nacional de Montevidéu, onde ganhou o apelido de "Divino Mestre", com a idade de 20 anos. Foi-lhe oferecida a cidadania uruguaia para que ele pudesse se juntar à seleção celeste.
Centromédio deslocado para a zaga, Domingos, apesar de sua elegância e sobriedade em campo, não tinha temperamento fácil. Reservado e introvertido, com um estilo quase pedante de jogar, apesar de admirado não era idolatrado como Leônidas. Em campo às vezes se enervava com as provocações, como quando parou a bola a dois metros do gol aberto de seu time, num Botafogo e Flamengo e chamou os adversários para tomarem a bola dele. E eles vieram. Ele driblou um, dois, três, quatro, cinco, em fintas milimétricas, para em seguida esticar um lançamento de 50 metros. Depois de um longo silêncio de preocupação e estupefação, foi aplaudido de pé pelo estádio.
Domingos nasceu em 1912 e jogou também pelo Bangu, Boca Juniors, Vasco da Gama e, no melhor período de sua carreira, no Flamengo. Do rubro-negro saiu para o Coríntians em 1944, na mais cara transação até a época. Encerrou a carreira no Bangu, em 1949. Seu filho Ademir da Guia comandou a "Academia" do Palmeiras nos anos 70, e participou da Copa de 1974, sendo o único caso brasileiro de pai e filho que jogaram em Copas do Mundo.
LEÔNIDAS DA SILVA
O colunista inglês Mike Gibbons o descreve como provavelmente o melhor jogador da história do futebol antes de 1945. Alguns de seus contemporâneos chegaram a dizer que se o Brasil tivesse ganho a Copa de 1938 sua lenda seria tão grande ou maior do que a de Pelé. Principalmente ele mesmo. Leônidas da Silva, o "Diamante Negro" foi indiscutivelmente em sua época um fenômeno de popularidade tão grande quanto Pelé, Romário ou Ronaldo, o primeiro a ter sua imagem explorada pela publicidade. Simpático, acessível e bem-humorado, o "Diamante Negro" foi o maior ídolo que aquela nação doida por futebol já vira.
Nascido em 1913, filho de um marinheiro português e uma cozinheira, Leônidas entrou para o juvenil do São Cristóvão aos 13 anos e começou a se destacar no futebol comandando a linha de frente do Bonsucesso em 1931. Armado por Gentil Cardoso no então moderno WM, o time pequeno teve o ataque mais positivo do campeonato, mesmo chegando em sexto. Leônidas foi convocado para a seleção carioca, para o campeonato brasileiro, então disputado por seleções estaduais. O titular Nilo, que jogara a Copa de 1930, estava na Europa com o Vasco. Quando voltou havia perdido a vaga.
Leônidas fazia coisas em campo que nunca tinham sido vistas antes, como plantar bananeira com a bola nos pés, antes de terminar a jogada com uma cambalhota. Acrobático e rápido, participava do jogo muito mais do que os atacantes anteriores, indo atrás da jogada buscar a bola, em vez de ficar esperando-a, como Nilo e os outros atacantes da época. Nilo, aliás, fora o autor dos dois gols do histórico triunfo sobre o Uruguai em 1931. Na revanche, em 1932, sua posição já era de Leônidas, que também marcou os dois gols da vitória brasileira. Um dos gols foi de "bicicleta" (em que o jogador se joga no chão com as costas e, com as pernas para o alto, bate na bola), cuja invenção é creditada a ele, embora o próprio "Diamante Negro" atribuísse a honra a Petronilho, dizendo que apenas aperfeiçoara o lance.
A atuação lhe valeu a contratação pelo futebol profissional dos campeões do mundo, mas fracassou no Peñarol e voltou para o Brasil, para passagens sem muito brilho no Vasco e no Botafogo antes de se fixar por cinco anos no Flamengo, entre 1936 e 1941. Foi quando sua carreira atingiu o auge, tornando-se o maior ídolo da história do esporte. A famosa marca de chocolate "Diamante Negro" foi lançada para explorar sua imagem e existe até hoje. Grande parte da popularidade do Flamengo foi conquistada por sua causa, principal estrela de um time que contava também com Domingos da Guia, "o Divino Mestre" e Fausto, "a Maravilha Negra", três negros numa época ainda de preconceitos.
Em 1938 foi eleito o melhor jogador da Copa após marcar oito gols em quatro jogos e ganhou o apelido de "Homem de Borracha". Ele não participou da única derrota brasileira no torneio, contra a Itália por conta de uma história mal contada, tão misteriosa até hoje quanto a participação de Ronaldo na final de 1998. Na volta desfilou pelas ruas em carro aberto, antecipando as paradas dos futuros campeões mundiais.
Sem outras chances de disputar outros campeonatos mundiais por causa da II Guerra, ele saiu do Flamengo em 1942 para o São Paulo, onde jogou até 1950, ainda ganhando vários títulos. Largou o futebol nesse ano, após ser cortado da seleção que treinava para a Copa por Flávio Costa, com quem sempre teve desavenças. Tornou-se comentarista e locutor esportivo e faleceu em 2004.
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