abril 12, 2010
Praia de Botafogo
Muita gente não sabe, mas a Praia de Botafogo tal como existe hoje (bem como a do Flamengo) são artificiais. Sim, claro, têm que ser, afinal foi feito um aterro ali, mas o que quero dizer é que elas não existiam antes. A praia do Flamengo era um minúsculo areal na foz do Rio Carioca (onde hoje há uma estação de tratamento no Aterro, ficava em frente à rua Barão do Flamengo). E a Praia de Botafogo também era só um pequeno trecho, na foz do rio Berquó - que ainda hoje pode ser vista, se você caminhar pela grama no fim da praia até atrás do posto de gasolina no começo do Aterro. Repare nesta foto de 1935 o começo da invasão da Baía da Guanabara: uma piscina de água salgada invade as águas protegidas e há um trampolim para saltos. O sal aumenta a flutuação e nesta piscina muitos recordes foram "quebrados" por brasileiros.
Na foto de cima, se você clicar e ampliar, vai ver que no lugar onde hoje é a praia existe só uma amurada e pedras, como na maior parte da Urca. Já em 1953-1954, data dessas fotografias, uma grande modificação havia sido feita em cima do aterro inicial que construíra a rua Praia de Botafogo no começo do século XX: foi criada uma via expressa que saía da Oswaldo Cruz, passava por baixo do então favelizado Morro do Pasmado (pelo recém-aberto Túnel do Pasmado) e seguia, sem sinais de trânsito (havia uma passagem subterrânea que ficava no meio do caminho, antes do Rio-Sul a ampliar bastante), até o então recentemente duplicado Túnel Novo. A piscina do Clube Guanabara dançou e tanto ele quanto o Botafogo estavam reconstruindo suas sedes, que haviam sido desapropriadas. Repare que do Edifício Pimentel Duarte (na esquina da Marquês de Olinda, onde hoje fica o Caemi) até a Sears, só havia casas - estava sendo levantado um prédio comercial do lado do grande magazine americano. Inexplicavelmente, uma orla com uma das mais belas e mundialmente reconhecíveis paisagens em todo o mundo foi preenchida com favelões como o Edifício Coral e o Rajá e em 15 anos todo esse trecho havia sido emparedado por verdadeiros cortiços verticalizados com áreas mínimas (o Coral pelo menos tem a desculpa de ter sido originalmente planejado como prédio comercial), quitinetes que foram apinhadas de pessoas tentando subir de vida nos anos 60. A Freda, como boa francesa socialista, acha que com isso foi democratizada a moradia no litoral às classes menos favorecidas - pura ingenuidade, não era esse o pensamento dos construtores.
Em 1964, a Praia de Botafogo já virando um caos. Agora, a parte interna que restava e a área relativamente preservada em torno da minha rua, na Fernandes Guimarães/Álvaro Ramos/Arnaldo Quintela, que durante muito tempo foi ignorada pelas construtoras, está sendo barbarizada, já que o que desvalorizava a região, as eternas obras do metrô, com tapumes e mais tapumes, que permitiam até o funcionamento de bocas de fumo e transformavam num caos o urbanismo, acabaram há cerca de oito anos. Mudei-me para cá há sete e desde então subiram uns doze prédios nos quarteirões adjacentes, inclusive dois na minha pequena rua de dois quarteirões e muitos sobrados.
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