dezembro 06, 2010

Navalha de Occam

O campeonato brasileiro acabou e, no Vasco, PC Gusmão, que após bela recuperação tirando o time da zona de rebaixamento e levando-o à beira do G-4 para a Libertadores, teve o cargo ameaçado porque depois dessa bela campanha no final do primeiro turno e início do segundo, teve uma série de empates e derrotas, com muitos - muitos mesmo - adversários anotando seus gols nos últimos cinco minutos de cada partida.

PC fez uma espécie de mea culpa, dizendo que não soube administrar a boa campanha e deixou a equipe relaxar depois que o fantasma do rebaixamento foi afastado. No entanto, uma rápida análise das efemérides do certame nos leva a perceber que o começo da queda do Vasco, por uma incrível coincidência, deu-se quando da estreia de Felipe, Zé Roberto e Eder Luís.

A Navalha de Occam é uma ferramenta lógica. Basicamente diz que, se há várias explicações para um fato, a mais simples é a mais correta. Então que tal descartarmos que a queda de rendimento do Vasco foi mera coincidência? Apesar de medíocres, os garotos e desconhecidos que recuperaram o Vasco, fazendo uma longa sequência de empates fora de casa/vitórias no Rio, eram jovens, precisando ainda se firmar e, portanto, mais dispostos a correr até o fim, mesmo que os salários não estivessem em dia. Felipe, Zé Roberto e, menos, Éder Luís, chegaram fora de forma, ficaram meses sem jogar esperando a janela de transferência e Felipe já está sofrendo os efeitos da idade, que lhe tirou a explosão e seu mais característico drible, jogar a bola na frente e sair correndo atrás depois de fintar o marcador.

Sim, há mais jogadas bonitas, melhor articulação na saída de bola, mas continua a falta de objetividade no ataque e, principalmente, aparece falta de gás no fim dos jogos. Locutores de futebol às vezes parecem não ter jogado nem umas fanáticas peladinhas: todo mundo sabe que as últimas partidas são disputadas sem nenhuma organização, com os caras em melhor forma física parecendo que jogam muito mais só porque conseguem sair correndo e passando por todos os seus marcadores já com a língua de fora e pensando na cervejinha com a galera. Times que desmontam no fim, após correr o tempo todo com um a menos, ou ter chegado de uma longa viagem, ou de ter feito vários jogos, são dados como "demolidos" pelo adversário, mesmo que em 70 minutos tenham sido páreo duríssimo. O inverso também acontece: equipes que sofrem marcação por pressão inclemente, levam dois ou três gols e depois, quando o adversário cansa, equilibram as ações e fazem um ou dois gols, fazem-no por "terem encontrado seu jogo" e não porque seus oponentes cansaram!

É por isso que comentarista esportivo, ao contrário do que acha o Matinas Suzuki Jr., não só tem que ter time, pra acompanhar futebol desde moleque, como também tem que ter jogado muito rachão e, se possível, ainda disputar um casados x recasados ou tarimbados x veteranos de vez em quando. Como em qualquer atividade, é fazendo que se aprende.

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